Dia dos Mortos 2 – O Contágio (2005)

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Dia dos Mortos 2 (2005)
O filme que faz House of the Dead parecer um clássico!
Dia dos Mortos 2: O Contágio
Original:Day of the Dead 2: Contagium
Ano:2005•País:EUA
Direção:Ana Clavell, James Glenn Dudelson
Roteiro:Ryan Carrassi, Ana Clavell
Produção:James Glenn Dudelson
Elenco:Laurie Baranyay, Stan Klimecko, John F. Henry II, Justin Ipock, Julian Thomas, Stephan Wolfert, Samantha Clarke, Joe C. Marino, Jackeline Olivier, Andreas van Ray, April Wade, Kevin Wetmore Jr., Mike Dalager

Defenestrado por uma legião de críticos, pseudo-críticos e amantes de cinema ao redor do mundo (inclusive este que vos escreve), o cineasta alemão Uwe Boll já pode sair de casa de cabeça erguida, nariz empinado e com um largo sorrisão no rosto. Aconteceu o improvável, o impossível, o inimaginável: alguém conseguiu a “façanha” de fazer um filme de zumbis pior, mas muito pior que House of the Dead, a bomba de proporções bíblicas dirigida por Boll em 2001. No caso, dois incapazes mentecaptos, chamados James Glenn Dudelson (Jim Dudelson, para os íntimos) e Ana Clavell, uniram forças e fizeram Dia dos Mortos 2 – O Contágio, sem sombra de dúvidas a pior produção sobre mortos-vivos que já tive o desprazer de assistir (e olha que eu gosto até de bombas como Zombie
Lake, de Jean Rollin, A Morte, de J.R. Bookwalter, e Oasis of the Zombies, de Jess Franco!).

Eu tinha prometido jamais escrever um artigo sobre Dia dos Mortos 2, até para não gerar curiosidade entre os fãs de horror – sempre tem aqueles que dizem: “Ah é? Pois vou assistir só para ver se é tão ruim como tu diz!“. Acredite: tudo que você já ouviu ou leu sobre a ruindade dessa produção paupérrima é verdade. Aliás, se dependesse de mim, todas as cópias existentes seriam rastreadas e queimadas (só que, parafraseando um comentário que li na internet, “queimar este filme seria um insulto ao fogo!“. hahahaha). E como a Anchor Bay fez o favor de lançá-la em DVD nos Estados Unidos, e o selo nacional Flashstar, por sua vez, trouxe a bomba para o Brasil – isso com tanto filme bom para lançar… -, me vejo na obrigação de defenestrar publicamente o trabalho de Dudelson e Clavell. Até como uma forma de me redimir por ter falado tão mal de House of the Dead na época do seu lançamento. Sim, porque perto da ruindade de Dia dos Mortos 2, o trabalho de Boll é um clássico, uma maravilha, poderia muito bem ser colocado ao lado dos clássicos de George A. Romero. Sem exagero. Depois de ver Dia dos Mortos 2, juro, passei a gostar de House of the Dead. Um filme injustiçado.

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Dia dos Mortos 2 é um projeto que começou a tomar forma em 2003. Mas foi em 2004, com o lançamento do remake de Dawn of the Dead (o bem-sucedido Madrugada dos Mortos), que passaram a pipocar as notícias de uma improvável sequência para o Dia dos Mortos original, aquele dirigido por George Romero em 1985. Ironicamente, também em 2004, começou a produção da sequência oficial de Dia dos Mortos, que vem a ser Terra dos Mortos, do próprio Romero, lançado em 2005! Argh!!! Entendeu agora a confusão? Imagine então quem tem pouco conhecimento e confia nos títulos: vai pensar que Dia dos Mortos 2 é a verdadeira seqüência, e não Terra dos Mortos!!!

Mas a verdade, pura e simples, é que Dia dos Mortos 2 não tem a menor relação com a obra de George A. Romero além do título sem vergonha. O que aconteceu é que a dupla Dudelson e Clavell obteve os direitos sobre o título “Dia dos Mortos“, podendo fazer o que bem quisessem com ele – não lembra a galera da Itália, tipo o Bruno Mattei, que chamou seu Shocking Dark de Terminator 2? Aliás, a julgar pelo nível de picaretagem de Dudelson e Clavell, não duvide se logo eles lançarem um Dia dos Mortos 3 ou um Dia dos Mortos – O Capítulo Final, de olho numa graninha fácil… O pior é que quando o projeto ainda estava em desenvolvimento, os produtores declararam que seria, ao mesmo tempo, uma “prequel” e uma sequência do clássico de Romero, além de um tributo à sua obra. “Cuma?“, perguntaria meu ídolo Didi Mocó. Como é que um filme pode ser “prequel” e “sequel” ao mesmo tempo? Tá certo que isso não é tão impossível, considerando que O Poderoso Chefão 2, de Francis Ford Coppola, contava as origens de Dom Corleone em flashback ao mesmo tempo em que continuava a trama da primeira parte. Mas longe de mim comparar O Dia dos Mortos 2 com O Poderoso Chefão 2!!! A verdade é que o filme de Dudelson e Clavell não é sequência porcaria nenhuma, embora até tente estabelecer algum vínculo como “prequel“.

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O roteiro escrito por Ana Clavell simplesmente ignora os fatos apresentados em A Noite dos Mortos-Vivos e Dawn of the Dead (bela “prequel“, não é?), e tenta dar a sua própria justificativa para o surgimento da epidemia zumbi que devastou o mundo onde os personagens viviam no Dia dos Mortos original. Tanto que a frase no cartaz do filme diz: “Todo dia tem um começo“. Sentiu a responsabilidade dos caras? Eles não apenas quiseram reinventar o universo da franquia mais famosa do gênero “mortos-vivos“, como também dar uma explicação para o surgimento dos mortos, coisa que George Romero sempre evitou nas suas obras “oficiais“. Até aí, tudo bem. Só estou tentando entender como é que Dia dos Mortos 2 pode ser também uma sequência do original se os eventos mostrados na trama são obviamente anteriores à trama do Dia dos Mortos oficial… Enfim, não adianta queimar as pestanas tentando entender o que os produtores quiseram fazer: Dia dos Mortos 2 simplesmente não tem lógica nem relação com a obra de Romero (felizmente!), seja como “prequel“, como “sequel” ou como tributo. Mas porra, se os caras conseguiram os direitos sobre o título, será que não podiam pelo menos tentar fazer alguma coisa com um mínimo de relação com o original????

Enfim, vamos em frente: a história (se é que podemos chamar assim) começa em 1968, o mesmo ano em que foi lançado o clássico A Noite dos Mortos-Vivos, num instituto militar chamado Ravenside, na Pensilvânia. As portas do inferno se abriram sobre o local: enquanto médicos e enfermeiros cobertos de sangue tentam segurar na cama o que parece ser um paciente russo, mortos-vivos andam cambaleando pelos corredores do hospital, sem que ninguém pareça dar muita importância. Um enfermeiro chamado Dale DeLuca (Michael Moon) percebe que a coisa não vai bem e resolve se mandar dali. Antes, de curioso, afana um estranho cilindro metálico que estava num dos laboratórios, e o esconde no interior da garrafa térmica da sua marmita. Enquanto DeLuca escapa, o Exército chega ao local para “controlar a situação“. Ou seja: exterminar todo mundo e explodir o local. DeLuca também é morto e sua garrafa térmica, com o conteúdo secreto, cai no meio de um matagal, perdendo-se, aparentemente, para sempre. “Bum“, e lá se vai o instituto numa pavorosa explosão feita em computação gráfica.

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Só através deste prólogo, que dura uns 10 minutos e antecede os créditos iniciais, o espectador já tem uma bela ideia do que esperar de Dia dos Mortos 2: qualidade cinematográfica zero, valor artístico inexistente e amadorismo total e completo de toda a equipe, dos atores à direção, do operador de câmera ao técnico de efeitos especiais, do responsável pelo cenário ao figurinista. Eu poderia gastar linhas e linhas descrevendo a quantidade de problemas e erros só nestes 10 minutos iniciais, mas, para não estender demais o artigo, nem estourar o saco do leitor, vou citar apenas os principais, e por alto:

– Numa cena em que aparece uma multidão de zumbis, apenas os quatro ou cinco em primeiro plano têm um mínimo de maquiagem (leia-se rosto pintado de cinza e sangue na roupa). Os outros todos são apenas pessoas “normais” fazendo cara de songomongo.

– Enfermeiras usam um uniforme dos mais clichês, com chapéuzinho branco e uma cruz vermelha bordada, coisa que nem em teatrinho de colégio devem utilizar mais…

– Os soldados têm pistolas modernas (isso que são soldados de 1968), e são armas de plástico, e não aquelas que disparam tiros de festim. Logo, vemos os soldados apontando as armas contra a câmera e disparando, BANG! O efeito sonoro sai, mas não o fogo pelo cano da arma! Os produtores nem se deram ao trabalho de adicionar um clarão por computação gráfica, ou pelo menos não filmar as armas tão em close, já que elas simplesmente não atiram! Tente segurar o riso…

– Um zumbi toma um tiro na cabeça e o sangue esguicha por trás dele na parede, mas não vemos nenhum buraquinho de bala na sua testa (a não ser que a bala tenha entrado pela narina, aproveitando o buraco já existente…

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– Em todas as cenas de zumbis tomando tiros na cabeça, exceto a citada acima, percebe-se claramente que o sangue é atirado contra os figurantes, talvez com uma arma de paintball ou mesmo com uma mangueira. No momento mais grosseiro, percebe-se o esguicho de sangue falso atravessando a tela, vindo a vários centímetros, antes de atingir a cabeça do “zumbi“!!! Se quiser ficar com a barriga doendo de tanto rir, passe a cena em câmera lenta – dá até pra ver o “zumbi” fechando os olhos para não ser atingido pela meleca!

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– Agarrado pelos mortos-vivos, um dos soldados se suicida com um tiro na cabeça. Ouvimos o som do disparo, mas, assim que aparece um close na cabeça do sujeito sendo devorado pelos zumbis, não se percebe qualquer buraco onde ele se deu o tiro! A não ser que o projétil tenha entrado pela orelha, lógico…

E por aí vai. O que importa é que, após os créditos, a trama dá um salto no tempo até os dias atuais, ou, mais especificamente, “cinco dias atrás“, conforme informa o letreiro. O local explodido no final do prólogo transformou-se em um hospital psiquiátrico, o Ravenside Memorial Hospital. Em um dos setores, a “Ala Romero” (uma homenagem a George A. Romero; tenho certeza que ele deve ter a-do-ra-do a citação!), convivem os pacientes menos perigosos, que estão em trabalho de ressocialização. Entre eles, os quatro amigos Boris (Steve Colosi), Sam (Julian Thomas), Jackie (John F. Henry III) e Isaac (Justin Ipock), este último um chato de galocha que nunca muda a expressão do rosto (parece estar em estado vegetativo); ele está para receber alta e passa o filme inteiro lendo em voz alta um livro sobre a morte (que original!). Isaac é apaixonado por Emma (Laurie Maria Baranyay, que, vejam só, foi “pintora de texturas” em O Exorcista – O Início!!!), uma maluquinha que tentou o suicídio várias vezes, e ambos sonham em casar. Também existe um médico boa-praça do tipo amigão, que dorme, come e convive junto com os pacientes, o dr. Donwynn (Stephan Wolfert, que parece um Luciano Huck envelhecido, inclusive no narigão).

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Certa tarde, Donwynn leva os quatro malucos anteriormente citados para recolher lixo num bosque próximo ao hospital – sim, aparentemente o trabalho faz parte das atividades terapêuticas do manicômio. E Sam encontra a tal garrafa térmica perdida por DeLuca no início do filme. Acredite se quiser, mas o negócio está jogado na superfície, coberto por meia dúzia de galhos, e, mesmo assim, em 40 anos ninguém encontrou-a antes!!! Pior que tal fato, apenas o detalhe de Sam ficar obcecado em abrir a garrafa, cuja tampa está enferrujada. Quer dizer, o que será que o sujeito espera encontrar numa velha garrafa térmica enferrujada além de café frio feito 40 anos antes ou água suja? Num daqueles clichês típicos do gênero, Isaac fica apreensivo: “Alguma coisa ruim vai acontecer se abrirem isso“, diz (será um parente distante do Crazy Ralph, da série Sexta-Feira 13?). Alheio à recomendação, Sam leva seu “precioso achado” de volta para o hospital e, na madrugada, o invejoso Jackie afana a garrafa térmica e se esconde no banheiro, onde abre o recipiente e encontra o cilindro escondido por DeLuca em 1968. Chegam seus amigos, mais o dr. Donwynn e Emma, e então o cilindro cai no chão, libertando uma misteriosa substância em forma de bolinhas coloridas flutuantes (leia-se “péssimo CGI“). E você que sempre imaginou mil-e-uma mirabolantes teorias para o surgimento dos mortos-vivos da série criada por Romero, hein? Pois, segundo o brilhante roteiro de Ana Clavell, tudo começou com um idiota sentado no vaso do banheiro e uma garrafa térmica enferrujada! Argh!!!!!!!!!!

Bem, o que importa é que todos os que estavam no banheiro foram imediatamente contaminados pelo misterioso vírus do cilindro. E, no dia seguinte, eles acordam doentes, com os olhos pretos e a pele descascando. Espere só para ver o “efeito especial” (ou será defeito especial?) da pele descascando: sabe quando você passa cola branca Tenaz na mão e deixa secar, e depois arranca devagarzinho aquela fina camada de cola dura? Pois é, foi assim mesmo que os caras fizeram no filme! Puxa, os efeitos especiais devem ter custado uma fortuna! Cola branca Tenaz é tão cara…

Ah, sim: além dos olhos pretos e da pele descascando, o principal efeito colateral da contaminação é que os seis infectados ficam conectados por uma espécie de “elo telepático” (argh!), à la Scanners, de maneira que um vê e ouve o mesmo que os outros, e se algum deles é ferido todos os outros sentem a mesma dor! Pode? Preocupado, Donwynn entra na internet e envia um e-mail para um pesquisador em busca de informações sobre o misterioso cilindro – tente resistir à tentação de quebrar a tela da TV quando o ator DITA o e-mail, de forma espaçada, para o espectador!!! Enquanto isso, o estado dos infectados vai piorando, com os doidões vomitando na hora do café e depois comendo o lanche misturado com vômito, como se nada tivesse acontecido – num momento digno de Fome Animal. Nesta cena, também percebemos como os médicos do hospital se importam com seus pacientes, já que eles estão literalmente apodrecendo vivos e vomitando na própria comida, mas nenhum médico vai checar o estado dos sujeitos! Assim, logo logo eles estarão espalhando a contaminação, quando Emma morde um enfermeiro abusado chamado Marshall (Joe C. Marino).

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Entra em cena o Dr. Heller (Andreas Van Ray), médico-chefe do manicômio. Ele percebe o que está acontecendo e imediatamente se lembra do episódio de 1968; por isso, resolve entrar em contato com o Exército. Mas depois pensa melhor e tenta cuidar ele mesmo da situação, colocando o hospital em quarentena e dando ordens para que os guardas atirem na cabeça dos pacientes caso eles se rebelem. Só que, mesmo com a quarentena, mesmo com os guardas armados e mesmo com o caos instalado no local, eis que de repente surge o contato de Donwynn pela internet e entra calmamente no hospital, sem precisar se identificar para ter acesso à ala dos pacientes nem nada disso!!! O sujeito se chama Jerry (Kevin Wetmore Jr.), e vem a ser filho do enfermeiro DeLuca, aquele morto no começo – quer dizer, qual a probabilidade disso acontecer na vida real? Apesar da cara de nerd, Jerry sabe tudo sobre o acontecido em 1968 e sobre o vírus, que deveria ser algo secretíssimo. Ele conta que o vírus reconstrói o DNA humano em um novo formato, e que foi obtido através de um piloto russo abatido lá na década de 60. Entram imagens em flashback que praticamente repetem tudo aquilo que vimos no prólogo. Talvez Dudelson e Clavell pensem que todo mundo é idiota como eles, por isso precisam explicar tudo tintim por tintim…

Então, só resumindo, para que vocês tenham uma ideia do roteiro delirante (no mau sentido) escrito por Ana Clavell, existem três tipos de criaturas. Aquelas diretamente infectadas pelo vírus (Isaac, Emma e seus companheiros), que vão se transformando lentamente em zumbis devoradores de carne humana, porém capazes de raciocinar e falar. As pessoas mordidas diretamente pelos infectados anteriormente citados transformam-se em criaturas híbridas, uma espécie de zumbi-mutante (!!!), com a pele toda deformada e o mesmo apetite por carne humana, mas mais força, agilidade e até alguma capacidade de fala e raciocínio. Por fim (está acompanhando?), a terceira classe de criaturas são os zumbis burros e pouco ágeis mais tradicionais, que não falam e nem pensam, e são aquelas pessoas mordidas e/ou feridas pela segunda categoria de criaturas, os zumbis-mutantes. Entendeu ou vou ter que explicar tudo de novo? Aliás, se você achar essa explicação complicada, espere só até ver como a ideia é apresentada no filme!!! E espere só para ver os tais “zumbis que raciocinam“, e devoram carne humana enquanto conversam animadamente e fazem gracinhas. Aaaaaaaaargh!!! E eu que me queixava dos zumbis maratonistas de Madrugada dos Mortos

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O roteiro enrola durante mais de uma hora até finalmente colocar os zumbis em cena. Durante a maior parte do tempo, ficamos acompanhando as transformações nos seis personagens centrais, aqueles diretamente infectados pelo vírus quando o cilindro foi aberto. E o enfermeiro Marshall, que foi mordido por Ema, se transforma lentamente no tal zumbi mutante e deformado. Quando o monstruoso Marshall escapa da cela onde estava confinado, é ele quem espalha a praga que dá início a uma horda de mortos-vivos ao estilo tradicional (ou seja, mudos e cambaleantes), mas isso só acontece… segure o riso… aos 80 minutos de projeção!!! Até então, o espectador é bombardeado com enfadonhas cenas pretensamente dramáticas, como a relação amorosa entre Isaac e Emma e o amor lésbico que outra paciente, Patty (April Wade), nutre pela jovem; a misteriosa gravidez de Emma desde que ela foi infectada pelo vírus (não adianta tentar entender, o roteiro não explica tal fenômeno); e os conflitos entre o “doutor gente boa” Donwynn e o “doutor carrasco nazista” Heller.

E quando você acha que o roteiro não pode ficar pior, ele avança empilhando mais e mais abobrinhas, como uma vacina para curar a zumbificação e o fato do grupo de seis infectados pelo vírus se dividir, com uma parte assumindo sua porção vilanesca (e passando a matar para comer carne humana), e a outra parte mantendo seu “lado humano” e lutando contra os agora malvados ex-companheiros!!! Argh!!!!!!!!! Dudelson e Clavell deveriam ser enforcados em praça pública só pela cena em que os infectados-malvados agarram os infectados-bonzinhos gritando: “Somos uma grande família!“. Ninguém merece… E olha que o roteiro até tem um detalhe muito interessante: enquanto na maioria das produções sobre mortos-vivos a história é focada nos humanos que fogem dos zumbis, este aqui prefere enfocar o drama dos infectados transformando-se lentamente em mortos-vivos, e tendo até que resistir à vontade de devorar carne humana. Pena que a ideia é trabalhada de forma tão precária e chinfrim…

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Resumindo a ópera, Dia dos Mortos 2 acaba com o contágio saindo do hospital psiquiátrico e se espalhando pelo mundo, o que de certa forma justificaria o planeta devastado que vemos no Dia dos Mortos original. A última cena chega a ser patética e quase cômica: uma equipe de TV filma os zumbis avançando pela rua e não consegue correr a tempo, sendo devorada pelos mortos, enquanto a câmera cai no chão e deixa de transmitir (A Bruxa de Blair, alguém?). E convenhamos: tem que ser muito burro para filmar mortos-vivos em close ao invés de ficar bem longe dele…

Se tivesse qualquer outro título – como Hospital dos Mortos-Vivos -, talvez Dia dos Mortos 2 seria apenas um filmeco medíocre e descartável, daqueles que a gente vê e logo esquece, amaldiçoando todos os envolvidos. Mas é a picaretagem dos responsáveis, tentando forçar um elo de ligação com o filmaço de George A. Romero, que choca e incomoda – até porque essa porcaria está mais para Um Estranho no Ninho do que para a franquia dos mortos concebida por Romero. Será que o mundo precisava de uma bomba com o nome Dia dos Mortos 2 só para difamar a fantástica obra de Romero? Será que os fãs de horror precisavam saber que existe um Dia dos Mortos 2, e que muita gente desavisada vai alugar pensando realmente estar diante de uma sequência oficial do clássico de 1985? Será que as locadoras precisavam de mais um filme ruim de zumbis para empilhar nas prateleiras? Simplesmente não existe justificativa para tamanha atrocidade, tamanho amadorismo cinematográfico.

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Aliás, a ruindade transpira em cada frame de Dia dos Mortos 2, me fazendo pensar seriamente se não foi mal-feito de propósito. Os produtores alegam ter gasto 9 milhões de dólares nesta bomba, 40% da bolada nos efeitos especiais, mas não se vê nada disso na tela, e sim uma produção mambembe, que parece ter sido filmada na garagem de alguém, com maquiagem constrangedora e uma total ausência de efeitos elaborados e cenas mais violentas. A maquiagem dos zumbis, com raríssimas exceções, é bisonha, resumindo-se ao rosto do figurante pintado de cinza com meia dúzia de feridas feitas com látex. As cenas de violência são castas e tímidas, limitando-se aos tiros na cabeça (todos mal-feitos) e ao rápido take de um zumbi arrancando as tripas de uma vítima – saudades de Tom Savini… Sinceramente, já vi produções nacionais amadoras, filmadas direto em vídeo, com efeitos bem melhores e mais convincentes. Inclusive as obras do catarinense Petter Baiestorf, feitas no fundo do quintal dele, parecem superproduções de Steven Spielberg perto de Dia dos Mortos 2. Duvido que a produção tenha custado mais de 500 mil dólares, e alguém deve estar muito feliz gastando os milhões desviados do orçamento…

Novamente, não vejo necessidade de entrar em muitos detalhes sobre a ruindade do filme, mas certos detalhes precisam ser destacados. Um deles é o fato do operador de câmera sofrer de epilepsia. Não tenho nada contra “câmeras que sacodem“, desde que o efeito seja bem utilizado (não é o caso dos filmes de Tony Scott, por exemplo). Em Dia dos Mortos 2, entretanto, a câmera não sacode para criar tensão ou ação, mas sim porque o operador é um jumento que não tinha um tripé à disposição! A edição é amadoríssima, abusando de cortes rápidos nas cenas de violência para que o espectador não possa ver como os efeitos especiais e a maquiagem são ruins – mas não funciona, porque mesmo assim podemos ver a pobreza estampada em cada cena. E o editor ainda cometeu um erro grosseiro: no meio do filme, em uma cena onde os pacientes estão tomando café da manhã, há um take de um aparelho de TV, e a tela está cheia de manchas de sangue; este take deveria ter sido mostrado apenas no final, quando os zumbis tomam conta do manicômio – ou será que um televisor todo manchado de sangue é algo normal num hospital psiquiátrico?

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Ruim, chato e mal-feito, Dia dos Mortos 2 nem ao menos consegue ser engraçado. Lembra que no meu artigo de House of the Dead eu havia ficado revoltado com o fato de um dos zumbis assobiar “Love Me Tender“? Pois Dia dos Mortos 2 tem cenas ainda mais constrangedoras, com os zumbis fazendo piadinhas e, pasmem, até o símbolo da paz (com os dedos médio e indicador!!!). Arghhh!!!! E para não serem acusados de plágio, os produtores foram obrigados a cortar uma das principais cenas do final, aquela em que o bebê-zumbi de Emma nascia – pois já havia uma cena assim em Madrugada dos Mortos, que foi lançado antes.

É uma pena, portanto, que a edição lançada aqui pela Flashstar não traga nenhum extra: no DVD da Anchor Bay, tem uma faixa de comentário com James Dudelson e Ana Clavell que eu ADORARIA ouvir, só para saber o que esta dupla de jumentos têm a dizer sobre o desastre. Pois, veja só, numa entrevista que li com ambos, feita na véspera do lançamento do lixo em DVD nos Estados Unidos, Dudelson declarou-se inspirado em Hitchcock e Ana em Orson Welles!!! E disseram, também, não ligar para as críticas que tentaram macular seu “trabalho“!!! “Dia dos Mortos 2 foi, para nós, um trabalho feito com amor“, diz Clavell, “O filme enfoca temas adultos com um fundo social, e foi inspirado diretamente no terrível universo que George A. Romero criou.” Hahahaha. Alguém atire na cabeça dessa zumbi, pelo amor de Deus!!!!!

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Enfim, me dói no coração o fato de não termos filmes como Junk, Nightmare City e Stacy em nossas locadoras, mas bombas como Dia dos Mortos 2… Se essa porcaria serviu para alguma coisa, foi para me reconciliar com o pessoal da videolocadora que freqüento. Há alguns meses eu fiquei meio revoltado quando o balconista quis me convencer a levar o DVD de A Caverna, dizendo que era “ótimo“, sem saber que eu já havia visto no cinema e odiado. Dia dos Mortos 2 eu já havia visto numa versão baixada pela internet, mas quis reassistir legendado em português para ter uma segunda opinião (sim, eu sou um mártir). Quando coloquei aquele maldito DVD no balcão, o cara da locadora me olhou como se eu fosse louco e disse com toda a sinceridade: “Olha, eu não vou te deixar locar isso“. E eu saí com o DVD debaixo do braço, sabendo que iria ter que sofrer uma segunda vez para o bem dos leitores da Boca do Inferno, e ao mesmo tempo feliz, sabendo que ainda existe gente boa e honesta no mundo, como o balconista de videolocadora que assume a ruindade de uma bomba como Dia dos Mortos 2 e prefere perder dinheiro a deixar seu cliente sair com “aquilo“.

Porque, meus amigos, Dia dos Mortos 2 tem um efeito colateral gravíssimo: te faz ficar mais burro a cada vez que se assiste. E Dudelson e Clavell fez depois um novo pesadelo: Creepshow 3!!! Tenha medo, tenha muito medo…

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Felipe M. Guerra

Jornalista por profissão e Cineasta por paixão. Diretor da saga "Entrei em Pânico...", entre muitos outros. Escreve para o Blog Filmes para Doidos!

4 thoughts on “Dia dos Mortos 2 – O Contágio (2005)

  • 10/07/2014 em 13:34
    Permalink

    Brother o filme é ruim mesmo, mas oque estou procurando é o nome do livro que isaac lê durante o filme.
    Se alguém souber chama la no whats vlw.
    997445516

    Resposta
  • 15/04/2014 em 13:02
    Permalink

    Eu sempre esperei o site publicar esta critica para mim escrever aqui “PÉSSIMO, HORRÍVEL, DETESTÁVEL, LIXO!!!!!”, pior filme de mortos vivos que assisti na minha vida!!! e olha que ja assisti muita coisa ruim, bem que você citou, eu fiquei intrigado com aquele Sam fazendo de tudo pra abrir a merda da garrafa. E os efeitos especiais? Perdem feio para filmes da decada de 80. Um completo lixo me arrependo ate hoje de pegar o dvd pirata emprestado do meu primo pra assistir hehe.

    Resposta

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