Boa Vs Python – As Predadoras (2004)

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Boa Vs Python (2004)

Boa Vs Python - As Predadoras
Original:Boa Vs Python
Ano:2004•País:EUA, Bulgária
Direção:David Flores
Roteiro:Chase Parker, Sam Wells
Produção:Jeffery Beach, Phillip J. Roth
Elenco:David Hewlett, Jaime Bergman, Kirk B.R. Woller, Adamo Palladino, Angel Boris Reed, Marianne Stanicheva, Griff Furst, Velizar Binev, Jonas Talkington

Subgênero pavorosamente ruim surgido nos anos 90, as produções sobre o ataque de cobras gigantes atingiram o ápice da mediocridade em 2004, quando o canal de TV a cabo Sci-Fi Channel produziu Boa Vs Python. Depois que você vê o exagerado e divertido Serpentes a Bordo, qualquer história com animais assassinos (gigantes ou não) que se leve a sério parece perder o propósito. Ainda mais quando tal história junta num mesmo balaio duas cobras gigantes que saem na porrada (não literalmente, é claro), enquanto brincam para ver quem devora mais o elenco humano.

Qualquer idiota iria perceber o potencial que um roteiro como este teria para se transformar num “bom filme ruim”. Qualquer idiota, menos os idiotas que escreveram, produziram e dirigiram Boa Vs Python, bem entendido. Porque estes, sabe-se lá por que motivo, resolveram levar o projeto a sério. O resultado é uma enfadonha trama onde as duas cobras, verdadeira razão de ser da película, não passam de meras coadjuvantes, ainda por cima produzidas em péssimo CGI.

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O filme é uma espécie de continuação/cruzamento de outras produções com cobras gigantes feitas anos antes: a série Python (composta pelo divertido Python, dirigido por Richard Clabaugh em 2000, e pelo horrível Python 2, que L.A. McConnell pariu em 2002) e o filme Terror em Alcatraz, assinado por Phillip J. Roth em 2002, que traz uma gigantesca cobra jibóia (“boa”, em inglês). Inclusive o roteiro de Boa Vs Python faz citações explícitas a estes filmes, como quando um agente da CIA informa que as operações da agência com cobras gigantes foram suspensas na Rússia (conforme foi visto em Python 2). Não por acaso, os produtores de Boa Vs Python são os mesmos dos outros “horrores ofídicos“, que devem estar faturando alto com esse subgênero – ou então não têm criatividade para criar outro tipo de monstro além das cobras gigantes!

A trama deste confronto de titãs é absurda, ridícula e inverossímil, o que novamente me faz questionar por que motivo, razão e circunstância foi levada tão a sério: Broddick (Adam Kendrick), um milionário entediado e amante de caçadas, resolve “importar” uma gigantesca cobra python mutante de 25 metros de comprimento para realizar um safári particular com um grupo de amigos. Detalhe: embora o ricaço tenha grana o suficiente para mandar desenvolver o monstrengo, e embora possua seu próprio avião (com o nome dele escrito na fuselagem e tudo mais), ele precisa alugar os serviços de uma transportadora (!!!) para levar o contêiner com a python até o local da caçada – o que, claro, vai acabar mal.

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Como é esperado, a serpente foge do contêiner, devora os homens responsáveis pelo transporte e se esgueira pela tubulação de água e esgoto de uma cidade. Como o caminhão onde a cobra era transportada acabou explodindo no processo de fuga do réptil, a CIA entra em cena para investigar a possível ligação com algum atentado da Al-Qaeda (pós-11 de setembro, sabe como é…). E não demora para o agente Sharpe (Kirk B.R. Woller) concluir que uma serpente gigante está à solta, principalmente quando os cadáveres começam a se amontoar.

É aí que a trama começa a ficar mais improvável: Sharpe e a especialista em animais marinhos (hã?) Monica, que vem a ser uma loira gostosa e siliconada (Jaime Bergman, infelizmente vestida o tempo inteiro), descobrem que existe outra serpente gigante nas redondezas, uma imensa jiboia-vermelha de 20 metros criada por um especialista em cobras, o dr. Emmett (David Hewlett, que teve tempos melhores em Scanners 2 e Cubo). O cientista, acredite se quiser, mantém a cobrona trancada numa salinha apertada de seu laboratório (!!!), e deixou-a gigante para poder “pesquisar a cura para os venenos das serpentes”, depois que sua irmã foi morta por uma cobra em Buenos Aires (!!!). Por que uma cobra de 20 metros ajudaria na descoberta da cura dos venenos das serpentes é algo que foge à minha compreensão, pois todos sabemos que tamanho não é documento… Por outro lado, também não consigo entender como é tão fácil gerar cobras gigantes, então vamos deixar pra lá!

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O plano de Sharpe e Monica é fantástico de tão implausível: colocar sensores de movimento, câmeras e sistema de GPS na jiboia de Emmett (epa, nada de maliciar!), e soltá-la nos esgotos da cidade para caçar a python. O plano seria fantástico, se as duas cobras não começassem a devorar todo o elenco humano antes de propriamente saírem no pau entre elas – o que acontece apenas na conclusão, depois que quase todos os personagens já foram comidos ou partidos no meio. Paralelamente, Broddick (o milionário fã de caçadas, lembra?) convida um montão de caçadores excêntricos de todo o mundo para participar do safári e caçar a python…

Boa Vs Python desperdiça os melhores detalhes do seu roteiro medíocre, como os caçadores envolvidos no “safári” em busca da cobra gigante. E todas as boas cenas são lamentavelmente estragadas pelo cineasta de primeira viagem David Flores (editor de Python 2 e Terror em Alcatraz). O ponto alto da película, por exemplo, é uma cena de sexo no banco de trás de um carro, entre um casal de adolescentes; eis que a python ataca no auge de uma sessão de sexo oral que o garoto fazia na moça, devora o garanhão e enfia a própria língua na garota, que vai à loucura sem perceber a diferença entre a língua humana e a língua descomunal do réptil (!!!). O problema é que esta cena edificante foi filmada de maneira tímida, e a pobre mocinha nem aparece nua – há uma cena de trepada interrompida por cobras muito mais interessante e caliente em Serpentes a Bordo.

Outra furada gigantesca de David Flores está na conclusão: quando a jiboia e a python se encontram numa festa rave, onde coincidentemente também aparece um pelotão do exército, qualquer cineasta mais experiente faria miséria. Imagine as serpentes devorando a rapaziada, sangue e membros decepados espalhados por toda a parte, tiros e explosões a rodo, o som tecno rolando no fundo, luzes piscando, etc etc… E o que faz David Flores? Primeiro evacua rapidamente o recinto para que as duas serpentes possam brigar sozinhas (!!!), depois corta imediatamente (e de maneira absurda) para uma estação de metrô, sem qualquer explicação!

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O roteiro de Chase Parker e Sam Wells perde muito tempo com os personagens humanos, e as pobres serpentes quase nunca aparecem. Se bem que, com a qualidade dos efeitos de computação gráfica, é até melhor que elas apareçam pouco! E a qualidade do texto da dupla também é de chorar, ainda mais quando eles tentam dar profundidade aos personagens (o pobre dr. Emmett, que perdeu a irmã em…hahahaha, Buenos Aires, a especialista em vida marinha que aprendeu, com os golfinhos, a respirar por longos minutos debaixo d’água…). Até mesmo frases com alto potencial cult-trash (do tipo “Die, you slithering piece of shit!“, gritada por um sujeito que tenta torrar a gigantesca jiboia usando um lança-chamas!) acabam perdidas num conjunto que tenta soar sério, quase shakesperiano.

E se o filme tenta ser apelativo às vezes (como ao mostrar a gostosa Angel Boris completamente pelada em um demorado banho de banheira, e na já citada cena de sexo oral com uma python de 25 metros), na maior parte do tempo chega a ser inocente, com uma ausência quase completa de violência e sangue. Os ataques das cobras praticamente não são mostrados (quase sempre vemos apenas a câmera se aproximando das vítimas, como se fosse a visão subjetiva dos monstros), e as duas únicas cenas mais sangrentas mostram pessoas sendo partidas ao meio (de longe, e por computação gráfica). É uma pena, porque um trashaço desses apenas se beneficiaria com mais mulher pelada, sangue e tripas – vejam o exemplo do divertidíssimo e infinitamente superior Frankenfish.

Em 1h30min de enrolação, a única cena mais gore de Boa Vs Python, e que me deixou com um sorriso de satisfação estampado no rosto, foi o sangrento destino da python – é de se mijar de rir!

No fim, o espectador fica se sentindo um bocó, porque o título e a capinha (mostrando as duas serpentes lutando no meio da cidade enquanto um helicóptero dispara mísseis contra elas, algo que NÃO acontece no filme) anunciam um confronto trash de dimensões épicas, mas na verdade as duas serpentes raramente aparecem, raramente se encontram e raramente lutam – e, quando isso acontece, é sempre em lugares fechados, nunca no meio da cidade, como mostra o cartaz.

Boa Vs Python é a prova de que fazer filmes ruins é muito fácil. Fazer bons filmes ruins, entretanto, é muito mais complicado. E, neste caso, o que sobra é apenas um “ruim filme ruim”.

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Felipe M. Guerra

Jornalista por profissão e Cineasta por paixão. Diretor da saga "Entrei em Pânico...", entre muitos outros. Escreve para o Blog Filmes para Doidos!

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