Killer Crocodile (1989)

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Killer Crocodile
Original:Killer Crocodile
Ano:1989•País:Itália
Direção:Fabrizio De Angelis
Roteiro:Fabrizio De Angelis, Dardano Sacchetti
Produção:Fabrizio De Angelis
Elenco:Richard Anthony Crenna, Pietro Genuardi, John Harper, Sherrie Rose, Ann Douglas, Ennio Girolami, Van Johnson, Bill Wohrman, Gray Jordan, Amilcar Martins

Filmes com animais assassinos eram um gênero bastante popular e divertido entre os anos 70 e 80, quando praticamente todo tipo de animal se transformou em assassino, de famintos crocodilos e gigantescos tubarões a minúsculas abelhas e inofensivas formigas. Nos últimos anos, este tipo de produção voltou à moda. Mas, tirando meia dúzia de saudáveis exceções, filmes de animais assassinos agora são um sinônimo de bomba, principalmente quando trazem o logotipo do estúdio Nu Image.

Com uso indiscriminado de efeitos (sempre fraquíssimos) de computação gráfica e quase nenhum suspense e/ou sangue e violência, bombas como Crocodilo, de Tobe Hooper, e Tubarões (que usa cenas de documentários da National Geographic) só provocam bocejos. Volta-e-meia aparece algo mais exagerado, intencionalmente trash e divertido, como o primeiro Python e Frankenfish. São raras as exceções num oceano de mediocridade.

Com esta breve introdução, chegamos a Killer Crocodile, filme na linha bom de tão ruim, que nunca foi lançado no Brasil. Trata-se de uma produção baratíssima feita por produtores italianos em 1989, quando a indústria de filmes baratos made in Italy já estava em plena decadência. Killer Crocodile é um curioso (e atrasado) aproveitamento dos filmes Tubarão, de Steven Spielberg, e Alligator, de Lewis Teague, ambos feitos 10 anos antes. E nem é necessariamente uma novidade, pois já existia uma produção barata feita na Itália e envolvendo um crocodilo assassino, chamada Il Fiume del Grande Caimano (ou Big Alligator River, no mercado americano), dirigida por Sergio Martino em 1979, com Claudio Cassinelli e Barbara Bach.

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É claro que nada disso importou para o produtor italiano Fabrizio De Angelis, responsável por algumas das obras-primas do cinema de horror europeu da época (sua produtora, a Fulvia Films, financiou Zombie e The Beyond, de Lucio Fulci, só para citar dois exemplos mais famosos). De Angelis achou que ainda era hora para fazer filmes com gigantescos crocodilos assassinos, e saiu-se com essa pérola trash que só pode ser recomendada para quem adora as tralhas italianas no período – embora seja muito, mas muito superior a ruindades tipo o Crocodilo de Tobe Hooper. Animado com o projeto, De Angelis ajudou o famoso roteirista italiano Dardano Sacchetti na criação da história e até resolveu assumir ele mesmo a cadeira de diretor, escondido atrás de seu pseudônimo americano, Larry Ludman.

Killer Crocodile conta a história de um grupo de ecologistas que está em busca de provas de que uma poderosa empresa anda poluindo os pântanos de uma vila de pescadores, em algum lugar da América Latina que nunca é identificado – só se sabe que é pobre e povoado por negros que falam espanhol; provavelmente é Santo Domingo.

O grupo é formado por típicos estereótipos do cinema americano, apesar de ser um filme italiano: o líder da expedição, Kevin (Anthony Crenna, que não tem muitos outros créditos), é o típico herói de bom coração, sempre pronto a arriscar o próprio pescoço para salvar os amigos; o topetudo Mark (Julian Hampton) é o fotógrafo impulsivo que não hesita em botar a vida dos companheiros em risco para tirar uma foto; Pamela e Jennifer (Sherie Ross e Ann Douglas) são as mocinhas em perigo; Bob (John Harper) é o responsável por comandar o barco e o elemento dispensável que logo vai ser morto, e por aí vai.

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Eles chegam até um ponto do rio onde descobrem um depósito clandestino de lixo nuclear – que se resume a meia dúzia de tambores de óleo diesel com a inscrição Radioactive na frente. Após colher amostras da água contaminada, eles partem de volta para a vila. Mas, no caminho, uma das coadjuvantes da expedição, Conchita, sai para uma caminhada noturna atrás do seu cachorrinho (sim, ela levou um cachorrinho numa expedição no meio do pântano!!!!) e é prontamente abocanhada por um gigantesco crocodilo, que sai de surpresa do rio.

Os companheiros acham que Conchita desapareceu, e no dia seguinte voltam à vila para alertar as autoridades. Porém, o lugar não tem polícia, apenas um juiz corrupto interpretado por Van Johnson (que foi galã do cinema americano nos anos 50 e 60, mas, depois que envelheceu, acabou em podreiras italianas como esta). O problema é que o tal juiz é pago por Folley (Wohrman Williams), o dono da tal empresa poluidora, para deixar o assunto por baixo dos panos, e por isso ele não dá qualquer ajuda aos ecologistas.

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É então que o gigantesco crocodilo aparece na margem da vila, espalhando o pânico e devorando rapidamente dois dos moradores do lugar. Um dos manés teve a infelicidade de ficar com a perna presa num buraco no cais; pois não é que o crocodilo abocanha o pé do sujeito e puxa ele pelo buraco, fazendo jorrar um rio de sangue? E o heroico Kevin logo se atira no rio para enfrentar a fera no muque e salvar uma criancinha que ia ser a próxima a cair na pança do réptil. Para impedir a tragédia iminente, o corajoso rapaz crava uma enorme estaca na goela do bicho (ai!). Ele então se resigna a voltar para o fundo do pântano e esperar para fazer novas vítimas. Obviamente que o monstro ficou tão grande por causa do lixo tóxico depositado no rio por Folley e sua turma – embora o filme não se preocupe em explicar o fato.

A algazarra atrai a atenção de Joe (o veterano Thomas Moore, ou melhor, Ennio Girolami, pai do cineasta Enzo G. Castellari). Ele tem uma mágoa especial contra crocodilos, pois traz no peito diversas cicatrizes de um ataque dos carnívoros répteis. Alguém pensou no capitão Ahab, do livro Moby Dick? Pois é… E anos depois Jon Voight faria um personagem parecidíssimo em Anaconda! Bem, Joe fará de tudo para deter a ameaça, mesmo que o juiz e Folley tentem encobrir o caso para que ninguém descubra sobre o lixo tóxico depositado no pântano.

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Porém, no momento mais ridículo do roteiro, o grupo de ecologistas resolve proteger o crocodilo, dizendo que não existe em qualquer lugar do mundo uma espécie tão grande (o bichão mede uns 20 metros), e que ele deve ser preservado, e não exterminado. Tá bom… Mas não se preocupe que eles vão mudar de ideia quando outros membros da expedição forem parar na pança do crocodilo! hehehehe.

Killer Crocodile é um típico filme italiano barato: o roteiro tem vários momentos chupados de outros filmes e muitas vezes os diálogos soam constrangedores – isso sem contar a dublagem em inglês, que às vezes é totalmente fora de sincronia com o movimento da boca dos atores italianos.

De Angelis é um produtor, não um diretor, e isso se percebe na mão pesada com que ele conduz a trama, que tem vários momentos enfadonhos e praticamente nenhum suspense ou tensão. Seus outros filmes são todos de ação, inclusive a trilogia Thunder (aquela do índio imitador de Rambo). O cara fazendo suspense ou terror é de uma nulidade fantástica, e assim o filme simplesmente salta de um ataque sangrento do crocodilo para outro, sem grandes emoções.

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Mas sou obrigado a assumir que De Angelis faz um trabalho caprichado em alguns (poucos) momentos, como nas cenas em que usa câmera subjetiva aquática para representar a visão do crocodilo (o que também não é nenhuma novidade). Outros ângulos de câmera do diretor são no mínimo curiosos, como ao filmar através de uma máscara de mergulho, para representar o ponto de vista de um mergulhador, e ao posicionar a câmera dentro da boca do crocodilo, numa cena em que ele vai abocanhar uma vítima desprevenida! São pequenos momentos que salvam o trabalho do cineasta da mediocridade.

Além disso, Killer Crocodile é valorizado pela trilha sonora nota 10 do especialista Riz Ortolani (o mesmo que compôs as populares trilhas de Cannibal Holocaust, Mondo Cane e vários westerns italianos). Ele imita a música composta por John Williams para Tubarão, mas aparentemente ninguém contou para os executivos da Universal, já que a Fulvia Films nunca foi processada por plágio.

O filme tem também a maquiagem de um expert em sua área, o famosíssimo Giannetto de Rossi, amigão de Lucio Fulci. Giannetto criou e desenvolveu o monstruoso crocodilo, que é feito de borracha, totalmente inexpressivo, mas mesmo assim muito melhor que o monstro digital do filme de Tobe Hooper. Na verdade, o crocodilo está até bom demais, considerando a pobreza geral da produção. E Giannetto ainda brinda o espectador com diversas cenas gore, como o monstro arrancando o braço de uma vítima e o próprio destino do réptil, abatido com a hélice do motor de um barco, fazendo estrago semelhante a uma serra elétrica!!!

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É claro que eu não poderia recomendar Killer Crocodile para quem gosta de filmes normais: a produção é trash até a medula, com o crocodilo mudando de tamanho de uma cena para a outra (em alguns takes parece ter cinco metros de comprimento; em outros, aumenta para 20 metros!). Além disso, o monstro consegue levantar de pé (!!!) para atacar um sujeito na proa de um barco.

Mas o pior é a cena em que Joe descarrega tirambaços com cartuchos para matar elefante no couro do bicho e não lhe provoca um mínimo arranhão (!!!); desesperado, ele acha que a melhor solução é pular em cima do crocodilo (!), ficar de pé sobre a sua carcaça (!!) e tentar cravar-lhe um arpão no couro (!!!). Prepare-se para rolar de rir. São momentos como esses que fazem desta tralha não um filme de horror arrepiante, mas uma aventura barata e muito engraçada.

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Além disso, o roteiro de Sacchetti e De Angelis segue à risca todas as normas do Livro de Clichês para Filmes com Animais Assassinos Aquáticos. A saber:

1. O ataque do monstro, seja crocodilo ou tubarão, deve ser anunciado com uma música que imite os acordes da trilha de John Williams para Tubarão.

2. O crocodilo ou tubarão pode arrebentar o fundo ou lateral de um barco com a boca para fazê-lo afundar.

3. O corpo retalhado de pelo menos uma das vítimas deve aparecer boiando para que os heróis saibam com o que estão lidando.

4. Ao analisar o tal corpo retalhado, o legista deve necessariamente dizer a frase: Isso provavelmente foi feito pelo motor de um barco.

5. As autoridades não devem dar bola para a ameaça do crocodilo ou tubarão – até ser tarde demais…

6. O crocodilo ou tubarão deve atacar em um cais, abalando a estrutura para que as pessoas rolem para dentro da água.

7. Aliás, durante todo filme as pessoas devem cair na água por qualquer motivo, para que as cenas de suspense e morte possam se desenrolar.

8. Deve haver pelo menos uma cena onde o mocinho nada sendo perseguido pelo crocodilo ou tubarão, enquanto seus amigos gritam: Mais rápido! Ele está logo atrás de você!.

9. Pelo menos um animal de estimação deve ser morto pelo monstro.

10. Se o monstro foi criado por experiências genéticas ou lixo radioativo, os vilões responsáveis por seu surgimento devem necessariamente ser mortos pelo próprio monstro, como forma de justiça poética.

E como picaretagem pouca é bobagem, enquanto Killer Crocodile era filmado por De Angelis, o maquiador Giannetto de Rossi aproveitava os intervalos para rodar cenas alternativas, que dariam origem a uma sequência (!!!), Killer Crocodile 2, lançada no ano seguinte (1990), e novamente estrelada por Anthony Crenna (no segundo dos dois filmes da sua carreira) e Ennio Girolami. A sequência inclui várias cenas em flashback, aproveitando material filmado por De Angelis, e também permanece inédita no Brasil. Na Europa a história é outra: os dois filmes foram lançados em DVD, e há até uma edição para colecionador (!!!) com os dois filmes em uma única caixinha. Vá sonhando com algo assim por aqui…

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Killer Crocodile é tão mal-feito que se torna engraçado, e neste caso todo os pontos ruins do filme se transformam em qualidades. Se você é fã de filmes trash, não pode deixar de dar uma olhada. Se gosta de filmes com animais assassinos, deixe as bobagens modernas com crocodilos assassinos, como Dinocroc e Surf Sangrento, mofando nas prateleiras da sua locadora e procure por esta tralha italiana. Agora, se o seu negócio é, digamos, mais sério, o negócio é esquecer Killer Crocodile e optar por algo mais convencional, tipo um Pânico no Lago ou Morte Súbita.

Mas pense só por um minuto: em que outro filme você vai ver um crocodilo explodir (!!!) e pegar fogo (!!!) sem qualquer motivo aparente?

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Felipe M. Guerra

Jornalista por profissão e Cineasta por paixão. Diretor da saga "Entrei em Pânico...", entre muitos outros. Escreve para o Blog Filmes para Doidos!

3 thoughts on “Killer Crocodile (1989)

  • 05/07/2019 em 10:12
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    Só peça por ter a clássica norma de que um animal de estimação morre. Eu assisto filmes com gore numa boa mas fico puto quando tem maldade com animais e deficientes mentais (aliás parece outra regra ” todo deficiente mental morre nos filmes”.
    Mas valeu, uma bagaceira é sempre bem vinda em minha televisão de tubo.

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  • 06/02/2016 em 10:46
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    Divertido.
    Trash assumido. Mesmo assim, um dos melhores filmes do Cinema de Terror Italiano.

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  • 26/01/2016 em 10:00
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    Um filme legal pra caramba!
    Divertido e sangrento.
    Como todo filme de terror italiano desse período.
    Divertido.

    Resposta

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