O Monstro do Pântano (1982)

4.2
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O Monstro do Pântano
Original:Swamp Thing
Ano:1982•País:EUA
Direção:Wes Craven
Roteiro:Wes Craven, Len Wein, Bernie Wrightson
Produção:Benjamin Melniker, Michael Uslan
Elenco:Louis Jourdan, Adrienne Barbeau, Ray Wise, David Hess, Nicholas Worth, Don Knight, Al Ruban, Dick Durock, Ben Bates, Nannette Brown, Reggie Batts, Mimi Craven, Karen Price

Uma dúvida que me assombra toda vez que escrevo sobre Wes Craven: será que o sujeito é um mestre com várias derrapadas na sua filmografia, ou apenas um cineasta medíocre que às vezes dá sorte? Porque para cada Quadrilha de Sádicos há um Quadrilha de Sádicos 2, para cada A Maldição dos Mortos-vivos há um A Maldição de Samantha, e para cada A Hora do Pesadelo há um Shocker – 100 Mil Volts de Terror. E os filmes fracos – alguns realmente medíocres – que infestam a filmografia de Craven são tão ou mais numerosos que os bons!

E embora eu ainda não tenha chegado a nenhuma conclusão, O Monstro do Pântano, uma quase esquecida adaptação de quadrinhos que Craven escreveu e dirigiu quando adaptação de quadrinhos ainda não estavam tão na moda quanto hoje, é um belíssimo argumento para quem considera o velho Wes um charlatão que às vezes, mas só às vezes, acerta..

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Lançado em 1982, O Monstro do Pântano foi (quem diria!) o segundo personagem dos quadrinhos da DC Comics a ganhar adaptação para o cinema até então, depois do Superman e um bom tempo antes de Supergirl, Batman e Lanterna Verde (para ficar nos mais conhecidos). O curioso é que, na época, a revista dO Monstro do Pântano sequer era publicada por baixa vendagem.

A “Coisa do Pântano” foi criada originalmente como criatura de uma aventura só, para o nº 92 da revista da DC “The House of Secrets“, publicado em julho de 1971 (capa ao lado).

Len Wein escreveu e Bernie Wrightson desenhou o que viria a ser a gênese do personagem, uma história curta de horror (com apenas oito páginas) sobre como o cientista Alex Olsen explode junto com seu laboratório em uma trama urdida pelo próprio colega, Damian Ridge, que queria matá-lo para ficar com sua esposa, Linda Olsen.

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Só que a mistura dos produtos químicos do laboratório com as plantas do pântano nas proximidades ressuscitam o cientista na forma de uma criatura vegetal que, ao contrário do que aconteceria posteriormente com o personagem, não conseguia falar. Assim, após vingar-se de Damian, ele não tinha como explicar para Linda quem era, sendo obrigado a voltar solitário para o pântano enquanto a esposa fugia de horror ao ver aquele monstro feito de plantas! E embora o Monstro fosse o “narrador” da história, ele só aparecia nas últimas duas páginas.

A história única fez tanto sucesso que a redação da DC Comics começou a receber cartas de todo país pedindo a volta da criatura. Com cifrões nos olhos, os editores chamaram Wein e Wrightson de volta para trabalhar numa série regular do personagem, mas a dupla preferiu esquecer a criatura criada para “The House of Secrets” e inventar um novo personagem, também cientista, chamado Alex Holland, que viria a se transformar no novO Monstro do Pântano.

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Esta nova série, publicada entre 1972 e 1976 (quando foi cancelada), trazia histórias misturando horror e aventura, em que O Monstro do Pântano enfrentava bandidos comuns, mas também feiticeiros, monstros e ameaças sobrenaturais. A história que contava sua origem, chamada “Gênese Sinistra“, saiu em “Swamp Thing” nº 1, em novembro de 1972. (Este material do início da carreira do personagem foi republicado no Brasil pela Editora Panini num álbum chamado “Clássicos dO Monstro do Pântano: Raízes – Volume 1“, que vale o investimento.)

Finalmente, no começo dos anos 1980, os produtores Benjamin Melniker e Michael E. Uslan adquiriram os direitos para fazer um filme do personagem. Deve ter custado bem baratinho, considerando que o gibi do Monstro tinha sido cancelado anos antes, e ainda poderia dar um bom retorno financeiro – vide a experiência bem-sucedida de Superman – O Filme, dirigido por Richard Donner em 1978.

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A DC também deve ter ficado faceira, já que um filme com O Monstro do Pântano poderia gerar zunzunzum suficiente para apresentar o personagem a toda uma nova geração e ressuscitar o seu gibi mensal. Enfim, era aquela situação em que os dois lados envolvidos só tinham a ganhar!

Mas e como é que um cara tipo o Wes Craven acabou envolvido nesse imbróglio?

Bem, O Monstro do Pântano surgiu num período complicado da carreira do diretor: ao mesmo tempo em que ajudou a redefinir o horror norte-americano moderno com pedradas tipo Last House on the Left (1972) e Quadrilha de Sádicos (1977), Craven não conseguia boas ofertas de trabalho além de bicos como diretor de fotografia em comédias eróticas e até filmes pornográficos (como Kitty Can’t Help It, de 1975, e Sweet Cakes, de 76).

 

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Em 1978, depois de uma produção para a TV que pouca gente viu e até hoje é difícil de encontrar (Stranger in Our House, com Linda Blair), os convites para dirigir ficaram bem escassos. Por isso, quando dois projetos com orçamentos razoavelmente grandes surgiram quase ao mesmo tempo, Craven se agarrou a ambos com unhas e dentes: um era o horror Bênção Mortal, de 1981; o outro era O Monstro do Pântano, que foi lançado no ano seguinte.

O diretor tinha grandes expectativas em relação ao filme do Monstro, já que seria seu primeiro trabalho com classificação PG (praticamente o mesmo que censura livre, mas alertando os pais de que há material não-recomendado para crianças pequenas). Era a garantia de que um público maior veria o seu trabalho. Se acertasse, era o mesmo que carimbar seu passaporte para a primeira divisão, tipo o colega Tobe Hooper, que na mesma época tinha saído dos filmes baratos e independentes de horror para Poltergeist – O Fenômeno, produzido por Steven Spielberg!

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O problema é que Craven passou bem longe de acertar. Em defesa própria, ele costuma dizer, nas raras entrevistas em que é questionado sobre O Monstro do Pântano, que o orçamento inicial foi sendo reduzido (acabou em US$ 3 milhões, segundo o IMDB) e, por causa disso, ele tinha que mudar o seu roteiro “muito mais ambicioso” quase que diariamente. Mesmo dando esse desconto ao diretor, ainda assim o resultado é medíocre e vergonhoso – e um péssimo portfólio para quem sonhava com o “mainstream“.

O Monstro do Pântano começa com a agente Alice Cable (Adrienne Barbeau, uma das grandes musas da época) sendo levada de helicóptero até o laboratório do cientista Alec Holland, que está trabalhando num projeto secreto do governo nos pântanos da Carolina do Sul. Sua missão é ajudar a proteger o complexo científico dos ataques de um grupo de mercenários liderados por Anton Arcane, um ambicioso industrial que planeja roubar a nova criação do cientista.

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Holland (interpretado por Ray Wise, que ficou eternizado como o pai de Laura Palmer no seriado Twin Peaks) está trabalhando numa fórmula de crescimento rápido de “superplantas“, que permitiria o cultivo de vegetais até no mais inóspito dos desertos. Sua parceira de laboratório é a irmã Linda (Nannette Brown), e a tal fórmula é um líquido verde-limão fluorescente que lembra muito o reagente criado por Herbert West em Reanimator (feito três anos depois).

O problema é que a chegada de Alice coincide com um ataque em larga escala dos homens de Arcane, liderados pelo sádico Ferret. O bandidão é interpretado por ninguém menos que David Hess, que parece repetir seu papel como Krug em Last House on the Left, também de Craven. Malvado ao extremo (Ferret chega a usar uma cobra para torturar e matar um infeliz), Hess tem um papel de relativo destaque na trama, mas nem ele consegue salvar o filme.

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Ainda durante o ataque ao laboratório, descobrimos que o próprio Arcane já estava infiltrado no local como se fosse um dos funcionários – chega a ser engraçada a cena que ele tira uma máscara com o rosto do tal funcionário, num momento digno de Scooby-Doo. O papel de grande vilão coube ao ator francês Louis Jourdan, que foi astro nos anos 40-50 e depois de velho só conseguia papéis desse tipo (no ano seguinte, ele repetiria a dose em 007 Contra Octopussy). Visivelmente de má vontade, Jourdan tem seu nome creditado antes de todo mundo no início!

Ferret e seus mercenários matam todo mundo no complexo, inclusive Linda, enquanto Holland acidentalmente é atingido pela própria fórmula e pega fogo, correndo em direção ao pântano e desaparecendo nas águas. É até curioso lembrar que um destino semelhante seria reservado a uma das grandes criações de Wes Craven, o vilão Freddy Krueger, em A Hora do Pesadelo, produzido dois anos depois.

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A única sobrevivente do massacre é Alice, que falhou na sua missão de proteger o laboratório e o cientista, mas pelo menos conseguiu guardar consigo o livro contendo a tal fórmula, que é cobiçado por Arcane e seus homens. A partir de então, a moça começará a ser perseguida implacavelmente pelos pântanos, recebendo a ajuda do novo alter-ego monstruoso de Alec Holland – resultado da fusão do cientista queimado com sua fórmula e as plantas do pântano!

Os primeiros 40 minutos de O Monstro do Pântano são razoavelmente fiéis à aventura de estreia do personagem, “Gênese Sinistra“, embora Craven tenha tomado algumas grandes liberdades poéticas. Por exemplo: Alice Cable é a versão feminina de Matthew Cable, o agente que falhava em salvar os Holland no gibi; deve ter sido uma maneira de criar um interesse romântico para o Monstro, já que a esposa de Alec Holland nos quadrinhos aqui foi transformada em sua irmã.

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A maior mudança, entretanto, foi ter transformado o grande arqui-inimigo dO Monstro do Pântano nos gibis, Arcane, em um vilão mais “normal“. Acontece que, nos quadrinhos, o personagem era um feiticeiro e criador de monstros, que vivia num castelo e sonhava com a vida eterna – com o andar da carruagem, acabaria até se transformando em demônio! Craven passou a borracha em tudo isso e optou por um rival “humano” e burocrático. Sorte dele que era uma época em que não havia tantos nerds chatos choramingando por mudanças em seus quadrinhos preferidos!

Outra mudança para pior de O Monstro do Pântano foi ter criado um chatíssimo e desnecessário sidekick mirim para Alice, o moleque Jude (Reggie Batts, em seu último filme), que acaba se envolvendo na trama ao ajudar a mocinha quando ela foge dos mercenários pela milésima vez. Moleque em filme desse tipo geralmente é um porre, mas esse em particular ultrapassa todos os limites da encheção de saco!

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De resto, Craven seguiu as bases da aventura de estreia do Monstro nos quadrinhos, onde já havia toda a ideia do laboratório no pântano, da fórmula de crescimento de plantas e do ataque ao complexo, embora em menor escala: nos quadrinhos, dois capangas chamados Ferret e Bruno (que também aparecem no filme, mas transformados em mercenários) atacam o local, matam a esposa de Holland e explodem tudo com uma bomba, dando origem à mutação do cientista em monstro. Eles agem a mando de um vilão chamado “Mister E.“, que no filme foi transformado em Arcane.

Um dos maiores problemas de O Monstro do Pântano (embora certamente não o único) é o visual pobre do personagem-título: Ray Wise sai de cena aos vinte e poucos minutos e dá espaço para o falecido dublê Dick Durock vestindo uma ridícula roupa verde e emborrachada, que em nada lembra um monstro vegetal, e ainda dobra e enruga toda vez que o ator se mexe!

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A bem da verdade, O Monstro do Pântano de Craven se parece mais com o Toxic Avenger, da famosa série podreira da Troma, do que com sua cara-metade dos quadrinhos!

Consta que o traje oferecia problemas constantes, já que a acidez da água do pântano corroía o material durante as filmagens e obrigava a equipe de efeitos a fazer constantes consertos. Além disso, era para o próprio Wise interpretar o Monstro, mas sua altura não era a mesma do dublê Durock, e não havia dinheiro para fazer dois trajes com tamanhos diferentes.

Assim, resolveram priorizar o dublê, já que ele iria participar das cenas de ação, e Wise ganhou férias antecipadas (e ainda escapou do mico de usar aquele traje horroroso durante o resto do filme!).

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Embora seja um filme sobre um monstro, fica mais do que evidente que Craven está se esforçando para fugir da sua zona de conforto (os filmes de horror violentos) e atingir um público mais amplo. Por isso, O Monstro do Pântano privilegia a ação, com muitas correrias e tiroteios pelo pântano, e até uma cena em que a criatura destrói os barcos usados pelos capangas de Arcane. Mas tudo com um mínimo de sangue, porque, lembre-se, a censura é PG!

Os quadrinhos também não mostravam violência explícita (por causa da censura imposta pelo Comics Code), mas os textos deixavam bem claro que o Monstro era impiedoso com seus algozes e não tinha muita frescura na hora de matá-los (“Frágeis ossos e cartilagens se estraçalham ao impacto de um punho coberto de limo“, diz um quadro). No filme, por outro lado, os bandidos devem morrer ao cair de mau jeito no chão, ou então de ataque cardíaco por medo do Monstro, já que nunca levantam para continuar lutando e nem vemos a criatura acabando com eles!

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Já questões mais “sérias” dos quadrinhos, como os conflitos internos de Holland (de homem transformado em monstro), ficam em segundo plano. Não consigo encarar o Monstro de Craven como um “herói trágico“, e, se era esse o objetivo do diretor, digamos que errou feio. Uma das poucas boas sacadas do filme é quando Ferret decepa um dos braços da criatura com um facão e ela precisa “germinar” um novo (pena que os jurássicos efeitos da época não ajudem muito).

Para piorar, o diretor-roteirista inventou um novo superpoder para seu anti-herói que não existia nos quadrinhos: no filme, ele tem o poder de curar ferimentos e até ressuscitar os mortos apenas com o toque! Isso torna várias cenas completamente dispensáveis, já que personagens “bonzinhos” que são mortalmente atingidos pelos bandidos acabam facilmente ressuscitados pelo Monstro minutos depois. Ele até poderia criar uma igreja evangélica em pleno pântano, curando peregrinos e ressuscitando os mortos em troca de um dízimo bem caro…

Mas nada pode preparar o espectador para a ruindade do terceiro ato, que foi totalmente criado por Craven e não tem nenhuma relação com os quadrinhos. Nele, o Monstro é finalmente capturado e levado até a fortaleza de Arcane, onde rola uma orgia com direito a peitinhos e dança sensual (coisas que não se encaixam muito bem num filme censura PG e que, até então, estava praticamente inofensivo).

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Arcane resolve usar a fórmula de Holland para criar um exército de “super-seres“. A primeira cobaia é o capanga Bruno (interpretado por Nicholas Worth), mas a experiência dá errado e o musculoso mercenário acaba reduzido a um anão com cara de rato. Corajoso, o próprio vilão resolve testar a fórmula, e acaba virando um bizarro monstro peludo com rosto e olhos imóveis – uma máscara tão tosca e vagabunda que dá dó!

Assim, O Monstro do Pântano termina num lamentável duelo entre o Monstro e a “Besta-Arcane” em pleno pântano, e tudo que vemos são dois manés em roupas emborrachadas saindo na porrada. O nível é tão pobre que as lutinhas do Spectremen contra aqueles monstros mambembes do começo dos anos 70 parecem bem menos piores na comparação!

Mas Craven leva a coisa a sério, filmando seu “duelo final” como se fosse algo épico e emocionante (não é um e nem outro), ao invés de tentar esconder os trajes toscos com cortes rápidos e planos mais fechadinhos, ou então criar um conflito mais sutil, ou então esquecer toda a ideia de transformar Arcane em monstro-javali e inventar um outro final!

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E a verdade é que o filme todo é bem ruim. Por ter escrito também o roteiro, o velho Wes é duplamente culpado pela tragédia: a trama nunca consegue transformar O Monstro do Pântano num personagem minimamente interessante, e o espectador apenas acompanha entediado enquanto ele pula de uma cena de “ação” nada memorável para outra (Alice tem mais destaque na história do que o personagem-título).

O roteiro também não sabe exatamente o que fazer com o Monstro, já que ele é muito poderoso para o tipo de adversário que enfrenta. Quando fica claro para o espectador que balas não podem ferir o anti-herói, qualquer tentativa de criar suspense ou perigo vai para o beleléu. Arcane tampouco é um adversário à altura, mesmo quando se transforma em monstro-javali. Aí fica difícil…

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O que se salva nesse desastre chamado O Monstro do Pântano são David Hess como vilão secundário (eclipsando até o apagado Arcane) e a mocinha Alice, apresentada como uma mulher forte que sai na porrada com os vilões homens e até mata um deles com uma metralhadora, ao invés de gritar por socorro sempre que está em perigo.

Menos mal que Craven brindou o espectador com um pouco de nudez gratuita de Adrienne Barbeau: a moça mostra, em riqueza de detalhes, os “atributos peitorais” que escondeu em diversos outros filmes, numa cena em que toma banho no pântano. Acho que, no fim, Adrienne pelada é o único motivo para dar uma olhada nessa tranqueira, mesmo que a cena dure alguns poucos segundos.

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Uma grande curiosidade do filme é a trilha sonora assinada por Harry Manfredini, o mesmo responsável pelo lendário tema da série Sexta-feira 13. Pois as músicas dos dois filmes são tão parecidas que você vê o filme todo imaginando que o Jason vai pular de trás de uma árvore a qualquer momento, ao invés dO Monstro do Pântano!

Vale ressaltar que Manfredini é reincidente: a trilha que ele fez para o mesmo Craven no posterior Quadrilha de Sádicos 2 também remetia diretamente ao tema de Sexta-feira 13, comprovando que o compositor é artista de um trabalho só!

Se O Monstro do Pântano ficou bem ruim, tanto como filme quanto como adaptação de quadrinhos, pelo menos ajudou a dar uma segunda vida ao personagem nos quadrinhos: a DC lançou uma nova revista, chamada The Saga of the Swamp Thing, em maio de 1982, e aproveitou para publicar até uma adaptação do filme.

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O problema é que as novas histórias do personagem, escritas por Martin Pasko, não eram tão boas quanto as originais de Len Wein, que prestavam tributo aos clássicos quadrinhos de horror da EC Comics. A revista do Monstro corria o risco de ser novamente cancelada pelas baixas vendas quando, em janeiro de 1984, um certo inglês chamado Alan Moore entrou no time e ganhou carta branca para fazer o que quisesse com o personagem.

A partir do número 20 de The Saga of the Swamp Thing, Moore transformou o anti-herói em um monstro vegetal com as lembranças do falecido Alec Holland (e não uma criatura meio homem, meio planta, como se imaginava até então). Mais tarde, introduziu nas aventuras do “novoMonstro um mago inglês chamado John Constantine, para ajudá-lo a entender seus poderes. Constantine ficou tão popular que ganhou seu título próprio, Hellblazer, poucos anos depois.

Com tramas mais adultas e filosóficas, em que não raras vezes O Monstro do Pântano era relegado a mero coadjuvante, esta foi a melhor fase do personagem (publicada no Brasil pela Editora Abril nos anos 90). Num mundo justo, esta fase de Alan Moore à frente do personagem é que daria origem para um filme mais adulto e perturbador, e não aquela bobagem dirigida por Craven.

Em 1989, o Monstro retornou numa sequência ainda mais vagabunda (porém mais divertida) dirigida por Jim Wynorski, A Volta dO Monstro do Pântano, com o retorno de Dick Durock e Louis Jordan como o Monstro e Arcane respectivamente, e introduzindo a personagem de Abby Arcane (Heather Locklear), filha do vilão, que tem papel de destaque nos quadrinhos.

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O anti-herói também ganhou uma série de TV de relativo sucesso, com cerca de cem episódios transmitidos entre 1990 e 1993, e novamente com Durock no papel de Monstro do Pântano.

Depois do fiasco de O Monstro do Pântano, Craven viu suas pretensões de virar um diretor de primeiro escalão escoarem pelo ralo. “[O filme] foi uma chance de escrever algo, de manter minha carreira cinematográfica em andamento. Mas como o resultado não ficou bom, meio que afundou minha carreira pelos próximos três anos. Ben e Mike eram produtores muito inexperientes, e não sabiam como fazer um filme pelo orçamento que tinham para fazê-lo. Tivemos problemas terríveis. Foi muito, muito difícil“, disse, em entrevista ao livro “The Man and His Nightmares“, de John Wooley.

Durante dois anos, o diretor não recebeu nenhum outro chamado para trabalhar. A situação estava tão feia que ele aceitou fazer Quadrilha de Sádicos 2 em 1984 só porque precisava de dinheiro, adicionando assim mais uma bomba à sua filmografia. Menos mal que, no mesmo ano, ele também faria uma pequena obra-prima do horror de baixo orçamento chamada A Hora do Pesadelo, que o tornaria mundialmente famoso e apagaria o gosto amargo deixado por O Monstro do Pântano. Pelo menos até a próxima bomba, é claro…

E embora esta seja a única adaptação de quadrinhos feita por Wes Craven, ele quase teve uma segunda chance alguns anos depois: em 1987, foi sondado para dirigir Superman 4 – Em Busca da Paz para a Cannon Films, já que era conhecido exatamente por fazer muito com pouco dinheiro. Só que o finado Christopher Reeve, que interpretava o Superman e também era um dos produtores da aventura, não quis saber do diretor (em seu lugar, entrou o inexpressivo Sidney J. Furie).

Será que Reeve tinha visto O Monstro do Pântano e não queria pagar um mico parecido? Não que Superman 4 seja um grande filme (é o pior da série), mas confesso que seria no mínimo curioso ver como Craven colocaria David Hess ou Michael Berryman para enfrentar o Homem de Aço. E será que o Superman teria pesadelos?

PS: Embora tenham quebrado a cara aqui, os mesmos produtores Melniker e Uslan deram a sorte grande com outra adaptação de quadrinhos da DC em 1989: um tal de Batman, dirigido por um tal de Tim Burton!

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Felipe M. Guerra

Jornalista por profissão e Cineasta por paixão. Diretor da saga "Entrei em Pânico...", entre muitos outros. Escreve para o Blog Filmes para Doidos!

3 thoughts on “O Monstro do Pântano (1982)

  • 04/02/2020 em 20:44
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    Acabei de ver o filme. Se fosse ler antes, não teria assistido. De fato, o filme é muito fraco, nem sabia que era do Craven. Vamos ver se a continuação é de fato divertida.

    Obrigado pelo ótimo texto como sempre!

    Abraço

    Resposta
  • 22/02/2015 em 14:27
    Permalink

    Excelente texto sobre o filme do Monstro do Pântano e também sobre as HQs … parabéns!

    Resposta
  • 12/02/2015 em 21:58
    Permalink

    Hilária e ótima crítica com a chancela de qualidade “Felipe M. Guerra”.

    Resposta

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