Colheita Maldita 666 – Isaac Está de Volta (1999)
![]() Colheita Maldita 666 - Isaac Está de Volta
Original:Children of the Corn 666: Isaac's Return
Ano:1999•País:EUA Direção:Kari Skogland Roteiro:Stephen King, Kari Skogland, Tim Sulka Produção:Bill Berry, Jeff Geoffray, Walter Josten Elenco:Natalie Ramsey, Gary Bullock, Alix Koromzay, Stacy Keach, John Franklin, Paul Popowich, Sydney Bennett, Nancy Allen |
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Em 1999, exatamente quinze anos após o lançamento do A Colheita Maldita original (em 1984), a Dimension Films voltou às raízes e produziu a sequência mais fiel ao primeiro filme, tentando dar um basta no vale-tudo que a franquia virou a partir da terceira parte. Todos os envolvidos no projeto estavam bem-intencionados, conseguindo trazer de volta à cena até mesmo o ator John Franklin, que interpretou o maligno Isaac no primeiro filme e aqui chegou a ajudar a escrever o roteiro. Milagrosamente, apesar de estar mais velho, Franklin continua com a mesma cara de hobbit que tinha no primeiro filme da série. Então, tinha tudo para dar certo. Mas de boas intenções o inferno está cheio – como muito bem sabe o Uwe Boll, de House of the Dead e Alone in the Dark. E assim, esta “sequência fiel” feita direto para o mercado de vídeo, e batizada A Colheita Maldita 666 – Isaac está de Volta (“Isaac’s Return”, no original), é uma das piores de uma série que, por si só, já é ruim.
Incrivelmente, este sexto filme não tem qualquer qualidade, ainda que seja realmente bastante fiel como sequência do original. Acredito que deveria, até mesmo, ter sido a primeira continuação, e não a quinta. Pela primeira vez na história da franquia, um ator/personagem de filmes anteriores (no caso, John Franklin) retorna numa sequência. Isso porque nos capítulos anteriores, a série sempre deu preferência para histórias independentes ou mantendo um vínculo bem pequeno com o original. Descobrimos que este sexto filme se passa exatos 19 anos depois dos acontecimentos vistos em A Colheita Maldita. Depois do massacre dos adultos em Gatlin, o pequeno pregador Isaac Chroner (Franklin, que tinha 17 anos na época do original e 32 neste sexto filme) entrou em estado de coma profundo. Só não se sabe como, porque isso não aparecia no primeiro filme – que terminava com Isaac voltando dos mortos e quebrando o pescoço de seu assecla traidor, Malachai, lembram?
Aparentemente, durante os 19 anos que separam as histórias dos dois filmes, Isaac permaneceu deitado em uma cama no hospital de Gatlin. Aí já entra a primeira incongruência do “roteiro” escrito a quatro mãos pelo próprio Franklin e Tim Sulka: tendo sido Isaac o responsável por um massacre de centenas de pessoas que repercutiu em todo o país (inclusive os personagens citam ter encontrado informações sobre isso na Internet), ele não deveria ter sido recolhido a uma instituição para prisioneiros com problemas mentais ou a um hospital do governo, ao invés de ficar dando sopa no hospital de uma cidadezinha sem qualquer segurança, livre para fazer o quiser no caso de algum dia acordar?
Sempre havia me recusado a ver A Colheita Maldita 666, consciente da ruindade deste episódio – que acumula críticas negativas na Internet. Minha contribuição para a série, até então, tinha encerrado na divertida parte 5. Mas minha análise desta franquia rural para o Boca do Inferno não ficaria completa se eu não encarasse também esta sequência, que ainda leva o número do demônio no título. Então, armado de muita coragem e disposição (além de um tanto de sadomasoquismo), fui à locadora e peguei o filme – antes, tive que retirar a crosta de poeira que cobria a capinha, de tanto tempo que a fita devia estar mofando na prateleira da locadora. É uma pena que o Marcelo, webmaster do Boca do Inferno, não me pague um adicional por insalubridade, pois o ato de ver filmes ruins como este às vezes me faz questionar a validade do “trabalho” que eu realizo para o site… Mas tudo bem: é assim que se forjam os mártires!
Em A Colheita Maldita 666, a personagem central é a bela Hannah (interpretada pela gata Natalie Ramsey, que não teve melhores chances no cinema). Ela é uma adolescente que completará 19 anos e resolveu voltar a Gatlin para descobrir mais sobre o seu passado, pois tudo que ela sabe é que sua mãe biológica era de lá e a entregou para adoção. Os pais adotivos sempre esconderam a verdade, temendo que em Gatlin ela descubra algo sobre seu horripilante passado – sim, ela foi concebida em meio à chacina dos adultos do primeiro filme. No caminho até a cidadezinha, Hannah dá carona para um sinistro padre (Gary Bullock, que tinha interpretado um homem no bar no filme anterior, A Colheita Maldita 5). Ao saber que o nome da motorista é Hannah, o sacerdote abre a Bíblia e conta a história da “Hannah bíblica“, dizendo que ela teve um filho que chamou de Samuel, e sugerindo que a garota também batize assim o seu filho quando o tiver. Dito isso, o homem desaparece misteriosamente do banco do carro de Hannah, assustando tanto a garota que ela sai da estrada e entra com carro e tudo no milharal. Este aparecimento/desaparecimento do padre não tem lá muito sentido além de um susto rápido, e nunca fica claro se ele é um fantasma, um demônio, uma visão da garota, uma premonição ou o quê, mas ele reaparece mais para a metade do filme, em outra alucinação, desta vez pendurado numa árvore com a garganta cortada.
Logo depois do acidente no milharal, chega a lei na forma da “xerifa” Cora (Alix Koromzay, que interpretou a prostituta morta em O Principal Suspeito). Ela aborda furiosa a garota da “cidade grande“, porém fica mais calminha ao saber quem ela é. Acontece que Cora e boa parte da cidade integram o culto demoníaco de Isaac, que continua firme mesmo que seu líder esteja em coma. E existe uma profecia, nunca bem explicada pelo roteiro, de que a moça voltaria à cidade para ressuscitar Isaac e lhe dar um filho, que seria o novo líder das crianças do milharal – ou algo assim; confesso que peguei no sono várias vezes ao longo do filme e posso ter perdido alguma informação importante.
A policial imediatamente leva Hannah ao hospital, onde ela conhece o esquisito dr. Michaels (Stacy Keach, pagando mico em visível fim de carreira) e o misterioso Gabriel (Paul Popowich), que a ajuda na busca de respostas sobre seu passado. Também encontra o quarto onde Isaac é mantido em coma – onde não há nem enfermeiros nem médicos para impedir a entrada de curiosos, e a porta nem ao menos está trancada!!! Ao tocar instintivamente na mão do vilão, Hannah desperta o pregador assassino, que abre os olhos repentinamente. A partir de então, ele trata de reorganizar seu culto, descobrindo que tem um filho (sabe-se lá como!) chamado Matt (John Patrick White), que se revelará o completo oposto do papai. Alguém mais achou esta parte da história parecida com a relação entre Dr. Evil e Scott na comédia Austin Powers??? hahahaha. E Hannah, claro, vai descobrindo mais sobre a profecia e percebe que não tem como escapar do seu destino.
Além da figura de Isaac, A Colheita Maldita 666 tem outro detalhe que remete ao original de 1984: a personagem aqui interpretada por Nancy Allen (estrela dos anos 80 que também está visivelmente em fim de carreira) se chama Rachel Colby, e é a “versão adulta” de uma garota que apareceu em A Colheita Maldita, interpretada então pela atriz Julie Maddalena. No original, Rachel era namorada de Amos, um jovem que foi sacrificado para “Aquele que Anda por Trás do Milharal” ao atingir a “idade maldita” (18 anos). Antes do sacrifício, porém, Amos engravidou Rachel, e o resultado é Hannah, a heroína deste sexto filme. Era esta verdade terrível que os pais adotivos da garota não queriam que ela conhecesse…
Curiosamente, a “ressurreição” de Isaac é aceita com a maior naturalidade possível. Num intervalo de cinco segundos, ou da noite para o dia, como mostra o filme, toda a cidade de Gatlin já caiu nas graças dele novamente, parando imediatamente tudo o que fizeram até então para voltar a idolatrar seu amo e senhor. Porra, e isso que o cara estava em coma há 19 anos e toda uma geração da cidadezinha nem o conheceu, mas mesmo assim já estava venerando o homem igual a um novo Jesus Cristo! Mas este nem é o maior problema do filme, que carece de uma total falta de lógica e de objetivo. Aliás, prolixo é o melhor adjetivo para defini-lo. Parece que, como roteirista, o ator Franklin quis encher o filme com cenas em que seu personagem caminha pelo milharal falando baboseiras filosóficas. São longos minutos de closes na expressão “reflexiva” de Isaac. E estes sermões do vilão não ajudam em nada, atravancando o filme e deixando ainda mais parado o que já é sonolento… ZZZZZZZZZZZZZZZZZ.
Lá pelas tantas, A Colheita Maldita 666 vira um “samba do milharal doido“. Apesar de ter poderes sobrenaturais no primeiro filme, o envelhecido Isaac agora mais parece um padre normal, andando para lá e para cá falando coisas sem sentido e sem nunca demonstrar seus poderes malignos – quando tem que matar uma assecla traidora, ele usa um facão ao invés de conjurar raios e trovões, por exemplo. Também é muito estranho como as coisas mudaram desde A Colheita Maldita de 1984: se antes sua seita era formada apenas por crianças, agora ela é composta por adolescentes visivelmente mais velhos, acima dos 18 anos (nesta idade, pela lógica dos filmes anteriores, todos deveriam estar sendo sacrificados para o deus maligno do milharal). O próprio Isaac agora é um adulto, então a história das “crianças do milharal” perde toda a sua lógica. Ainda que os membros do culto sejam filhos das crianças do filme original, já não se respeita mais a ideia de que a seita seria formada apenas por crianças. Isso, somado ao fato de a distribuidora nacional transformar “Aquele que Anda por Trás do Milharal” em “Aquele que Anda por Trás das Rosas” nas legendas (será que o demônio desmunhecou?), afundam de vez qualquer possibilidade de levar o filme a sério.
A conclusão é ainda mais forçada, com Hannah confrontando Isaac e Gabriel mostrando sua “verdadeira identidade“, num total desrespeito à inteligência do espectador. A tal revelação normalmente me faria rir, mas quase me fez chorar, tamanha a idiotice. Lá pelas tantas, aparece até “Aquele que Anda por Trás do Milharal“, em forma humana, querendo matar Isaac. Mas por que, se o pregador hobbit dedicou toda a sua vida ao ingrato demônio, pregando sua palavra e até perpetrando massacres em seu nome? Simplesmente não tem lógica, e não adianta tentar achar explicações para o fato! Para piorar, a história se conclui sem qualquer explicação sobre o que acontecerá com os personagens a partir de então, no manjado esquema “o Mal continua à solta“, graças à imbecilidade de Hannah – que, às portas do século 20, resolve transar com um estranho sem camisinha! Quem viu o filme vai entender…
E olha que o filme até tinha certa chance de dar certo, hein? Os elementos que deram certo no original estavam todos ali, na mão dos produtores (Isaac, a musiquinha sinistra com coro de crianças, o sinistro milharal…). Até tinham uma diretora competente nas mãos, a primeira mulher no comando de um filme da série, Kari Skogland. Com certa prática em filmes e seriados para a TV (inclusive a série La Femme Nikita), Kari mostra um bom domínio técnico para dar conta desta sequência, brindando o espectador com alguns dos melhores planos de toda a franquia – destaco, principalmente, a câmera que praticamente voa sobre o carro conversível de Hannah no início do filme, entrando e saindo do veículo quando ela dá carona ao padre-fantasma. Infelizmente, a câmera ágil de Kari está a serviço de uma trama ridícula, e isso afunda qualquer bom trabalho que a cineasta quisesse realizar…
Resumindo: A Colheita Maldita 666 é simplesmente o ponto mais baixo da série e a história mais frustrante – embora o sétimo episódio seja ainda pior. Econômica em sangue e violência (vai mais de meia hora até a primeira morte) e desnecessariamente complicada, a história também carece de um objetivo. O espectador jamais se sente motivado a acompanhar a investigação de Hannah, muito menos tem simpatia por qualquer um dos personagens – a pior coisa que pode acontecer em um filme de horror. Por mim, podiam ter morrido todos eles! E ainda passa uma eternidade até que alguma coisa minimamente interessante aconteça. O próprio personagem de Isaac é totalmente sub-aproveitado, e isso que trouxeram ele de volta do primeiro filme com a proposta de dar um “novo rumo” à série. Só se o “novo rumo” for terminar de vez com a franquia, afundando-a no poço do esquecimento…
Pelo menos, o título A Colheita Maldita 666 permite uma piadinha irônica: a série é tão chata e interminável que a impressão é que realmente existem outros 665 filmes anteriores a este. hehehehehe. Hã… Tá, foi sem graça! Mas este filme também é.
NÚMEROS DA COLHEITA:
– Nota: 0/10
– Mortes: 6 on-screen
– Astros: 2 (Stacy Keach e Nancy Allen)
– Atores mais ou menos conhecidos: zero
– Número de mulheres nuas: a gata Natalie Ramsey aparece apenas em roupas íntimas (ô seriezinha mais casta!)
– Número de cenas em milharais: o filme praticamente só se passa em milharais
– Quantos filmes o diretor fez além deste: 15, mais episódios de várias séries de TV
– Melhor morte: uma traidora do culto de Isaac tem a cabeça partida ao meio pelo próprio pregador, usando um machete.
VOCÊ SABIA QUE…
– …esta é a única das seis sequências que realmente tenta continuar o filme original?
– …John Franklin é o único ator a retornar numa continuação da série, fazendo o único personagem (Isaac) que aparece em mais de um filme da franquia?
– …outra personagem do filme original que volta é Rachel, porém interpretada por outra atriz?
– …a frase no cartaz (que se revelaria mentirosa) era: “O último e mais aterrorizante capítulo“? Mentirosa porque não é o último e muito menos o mais aterrorizante…
– …o diretor de fotografia, Richard Clabaugh, também trabalhou em A Colheita Maldita 4 e dirigiu o trash Python em 2000?
A FRASE DO FILME
“Boa noite. Bem-vindos ao programa ‘Esta é a Sua Morte’.”
Gabriel (Paul Popowich), imitando um apresentador de programa de auditório ao lutar contra Isaac
PÉSSIMO
Acho que essa crítica caberia muito bem para o 5.
Filme ruim , concordo com certeza .
” Colheita Maldita 666 – Isaac está de volta ” está na minha coleção porque quando eu comprei o VHS eu imaginava que seria bom , então como eu não o tinha assistido antes vi que me enganei .