Mensageiro da Morte
Original:When A Stranger Calls
Ano:1979•País:EUA Direção:Fred Walton Roteiro:Fred Walton, Steve Feke Produção:Doug Chapin, Steve Feke Elenco:Charles Durning, Carol Kane, Colleen Dewhurst, Tony Beckley, Rachel Robertson, Ron O'Neal, Rutanya Alda |
Quando ocorreu o lançamento do remake Quando Um Estranho Chama nos cinemas brasileiros, tornou-se necessária uma revisão do filme original, produzido em 1979 e lançado em VHS no Brasil não com a tradução literal do título (“When a Stranger Call“), como aconteceu com a refilmagem, mas sim com o ridículo nome O Mensageiro da Morte – sendo que já existem outras duas produções com o mesmo título nacional, uma aventura com Charles Bronson e outro slasher dirigido por William Lustig. O Mensageiro da Morte aproveita-se de uma popular lenda urbana americana – a da babysitter que recebe ligações ameaçadoras e descobre que elas vêm de dentro da casa – para conceber uma fantástica sequência de introdução, digna de figurar em qualquer relação dos momentos mais arrepiantes do cinema de horror (não por acaso, o filme aparece em 28º lugar na lista dos 100 filmes mais assustadores, feita pelo canal de TV a cabo Bravo).
Esta sequência inicial mostra a jovem babá Jill Johnson (Carol Kane, de Um Dia de Cão) sendo contratada pelo casal Mandrakis para cuidar de seus dois filhos pequenos, que, gripados, já estão na cama dormindo. Como os pimpolhos estão fora de ação, Jill tem todo tempo para ficar zanzando pela casa ou fofocando pelo telefone, conversando com uma amiga sobre o rapaz do colégio que ela acha bonitão, etc etc. Mas o horror começa quando alguém telefona para a casa dos Mandrakis e diz, com voz tétrica: “Você já foi olhar as crianças?“. Inicialmente, a babysitter pensa tratar-se do sr. Mandrakis, mas logo percebe que a coisa é mais grave quando o misterioso interlocutor passa a ligar diversas vezes seguidas, sempre pronunciando a misteriosa frase: “Você já foi olhar as crianças?“.
Com medo, Jill resolve telefonar para a polícia, onde lhe orientam a trancar bem as portas e janelas e manter o interlocutor na linha pelo maior tempo possível, para que possam rastrear a ligação. Quando a misteriosa voz liga novamente, a garota pede o que ela quer, e recebe a ameaçadora resposta: “Seu sangue… Todo sobre mim!“. Assustada, a babá desliga o telefone e recebe uma nova ligação. Desta vez, da polícia. “Nós rastreamos a ligação e ela vem DE DENTRO DA CASA!!! Saia daí agora!“, grita o policial. Jill mal tem tempo de aproximar-se da porta da casa quando vê a sombra do misterioso invasor na escada ao seu lado… Que medo!
Tais cenas correspondem aos primeiros 20 minutos de O Mensageiro da Morte, mas sei que o remake preferiu esticar esta situação por 1h30min (uma loucura, por assim dizer). No caso do filme original, infelizmente, após este início verdadeiramente assustador, a trama se perde em uma hora do mais terrível tédio. Sem medo de cometer uma injustiça, é exatamente como se você estivesse vendo um excelente filme de horror e de repente começasse a ver qualquer porqueira no Supercine. A história dá um salto de sete anos no tempo e ficamos sabendo que o misterioso invasor da casa dos Mandrakis matou as duas crianças que estavam na cama, fazendo-as em pedaços com as próprias mãos, e também iria matar a babá caso a polícia não tivesse chegado a tempo. Então, também ficamos sabendo que o maluco, um inglês desequilibrado chamado Curt Duncan (Tony Beckley, que morreu de câncer no ano seguinte), acabou de fugir do manicômio e está em liberdade.
O policial responsável pelo caso há cinco anos, John Clifford (o veterano Charles Durning), está aposentado e trabalha como detetive particular. Pois ele é contratado pelo dr. Mandrakis (Carmen Argenziano) para localizar e matar Duncan, uma espécie de vingança pelo maluco ter esquartejado os filhos do médico sete anos antes. A partir de então, o filme se transforma numa longa perseguição, com Clifford procurando pelo vilão enquanto o vilão fica zanzando sem rumo pelas ruas de Los Angeles, como mendigo, já que não tem um puto no bolso nem conhece ninguém.
Olhando por este lado, O Mensageiro da Morte pelo menos tenta ser um filme realista, ao mostrar o psicopata completamente desamparado na cidade grande, fazendo coisas prosaicas como tomar café e dormir em albergues, sendo obrigado a mendigar para conseguir dinheiro. É uma abordagem bem diferente da mostrada pelo gênero – onde os assassinos andam sem problemas pelas ruas mesmo quando usam máscaras, e nem se preocupam com “detalhes” como comer e dormir. Até podemos dizer que Curt Duncan é uma completa desmistificação do papel do assassino: enquanto ele age apenas por chamadas telefônicas ameaçadoras (no início), parece a verdadeira encarnação do demônio; mas quando o vemos mendigando pelas ruas e até apanhando de um valentão no bar, é como se o roteiro quisesse apresentar o psicopata não como o Mal Absoluto, mas sim como uma pessoa normal, que poderíamos encontrar na rua – e aí você vai pensar: “Mas eu estava com medo deste mané?“.
Voltando ao filme: durante a tal uma hora de tédio que vem logo depois da assustadora sequência inicial, absolutamente NADA acontece além de vermos o detetive seguindo os passos de Duncan, que nem mata mais ninguém, o que transforma o filme numa chatice insuportável. Para piorar, Clifford é burro que nem uma porta e desperdiça todas as suas chances de agarrar logo o assassino e dar um fim nele. As coisas só começam a melhorar aos 87 minutos de filme. Pois é nos 10 minutos finais que o roteiro retoma a situação inicial, e mostra Duncan decidindo ir atrás da babá que havia aterrorizado no passado, e que agora, sete anos depois, está casada e com um casal de filhos. O reencontro de Jill e Duncan rende mais uma cena incrivelmente bem feita e assustadora, daquelas que o público nos cinemas, lá nos anos 70, deve ter pulado e gritado muito alto – isso, claro, antes de tal cena transformar-se em um dos maiores clichês dos slasher movies.
Com um início e um final interessantíssimos, é espantoso como o roteiro perde a mão durante praticamente 60 minutos. Inclusive sugiro que os produtores façam um relançamento simbólico do filme, cortando tudo o que está sobrando, e que aproveitem os 20 minutos iniciais e os 10 finais para fazer um extraordinário curta-metragem de horror, suprimindo a lenga-lenga esquecível que é o segundo ato do filme.
O Mensageiro da Morte foi dirigido por Fred Walton, um nome que para muitos não diz nada, mas que é responsável por três bons filmes de suspense dos anos 80: Armadilha da Morte (aquele do casal preso num prédio de alta segurança com um maníaco), Eu Vi o que Você Fez e Sei Quem Você é (aquele das meninas que passam trote para um assassino) e A Noite das Brincadeiras Mortais (aquele do psicopata que mata um grupo de jovens no 1º de abril). Pois Walton mostra muito talento na condução do clima de medo e ameaça no começo e no final, que se passam em casas escuras e silenciosas, sem mostrar uma única gota de sangue; o diretor só perde o rumo quando a história joga o assassino nas ruas movimentadas e barulhentas da cidade grande. Ainda que não seja possível fazer um filme inteiro com a babá dentro da casa sendo ameaçada pelo assassino (o remake tentou fazer isso e se deu mal), o roteiro (escrito por Walton e Steve Feke) poderia ter criado uma forma mais criativa de manter o interesse do espectador até a conclusão – como, por exemplo, mostrar o assassino matando outras pessoas antes de voltar a perseguir a babá do início, e não apenas perambulando como mendigo pelas ruas de Los Angeles.
Ironicamente, O Mensageiro da Morte não foi concebido para ser uma história isolada, mas sim uma sequência de Black Christmas, o famoso slasher movie dirigido pelo canadense Bob Clark em 1974. Como se sabe, Halloween, de John Carpenter, surgiu de um roteiro que também estava sendo concebido como sequência de Black Christmas, e O Mensageiro da Morte seguiu a mesma trilha, sendo lançado como filme independente ao invés de continuação. Porém, quase 15 anos depois, em 1993, o próprio Fred Walton voltaria ao tema com Um Estranho à Minha Porta (When a Stranger Calls Back), seqüência direta de O Mensageiro da Morte, feita para a TV em 1993. Na trama, uma nova babá (interpretada pela sumida Jill Schoelen, de PopCorn) é ameaçada por outro maníaco e Carol Baker volta como sua personagem Jill Johnson para ajudar a vítima – Charles Durning também reprisa seu papel de John Clifford, em participação menor.
Acho que sou uma das poucas pessoas que gostou do remake de Quando um Estranho Chama kkkkkkkk
Eu achei divertido também, é um bom filme que apesar de clichê tem um jogo de câmeras dinâmico com enquadramentos legais, é uma boa fotografia (gostei bastante como mostraram o psicopata, sempre nas sombras) é assistivel.