O Assassino da Furadeira (1979)

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(6)

O Outro Assassino da Furadeira

Se você achou que Reno Miller negou fogo em O Assassino da Furadeira, e ficou decepcionado com o fato do filme de Abel Ferrara focar mais no suspense psicológico do que no terror sangrento, então acho que está na hora de você conhecer um outro “driller killer“. Talvez influenciado pelo “sucesso maldito” de O Assassino da Furadeira, talvez não, o slasher movie classe B The Slumber Party Massacre foi lançado em 1982 e apresentou, também, um psicopata usando uma furadeira como arma. Mas são muitas as diferenças. Russ Thorn (Michael Villella), o “driller killer” desta obra, é um matador fugido do hospício que tem tara por brocas (até segura a ferramenta como se fosse um símbolo fálico), e não um artista plástico frustrado, como no filme de Ferrara. Ao contrário de Reno Miller, que fica longos minutos destilando sua filosofia barata, Thorn não fala nada, apenas mata, e muito.

O que surpreende em The Slumber Party Massacre é o fato da equipe envolvida na produção ser predominantemente feminina. Além dos personagens principais (com exceção do assassino, é claro) serem garotas com hormônios em ebulição, que promovem uma festinha do pijama na casa de uma delas, também há mulheres na direção (Amy Holden Jones, que atualmente vive de escrever novas continuações da série Beethoven, aquela do cachorro são-bernardo), no roteiro (escrito pela feminista Rita Mae Brown, uma furiosa defensora dos direitos das mulheres), na edição (Wendy Greene Bricmont), na direção de arte (Francesca Bartoccini) e até na função de assistente de direção (Carol Frank, que em 1987 dirigiria seu próprio slasher movie, chamado Sorority House Massacre).

Ou seja, é como se o “Clube da Luluzinha” tivesse se reunido para fazer um filme, e o resultado está na tela: os homens são todos uns pamonhas ou então um pervertido que quer matar as meninas; já as personagens principais são mulheres fortes e independentes, que assumem sua sexualidade e enfrentam o assassino de igual para igual. Diz a lenda que Rita Mae Brown escreveu apenas o primeiro tratamento do roteiro, como uma espécie de sátira à série Sexta-Feira 13, com garotas gostosas sendo atacadas pelo psicopata assassino (mais de 10 anos antes de Todo Mundo em Pânico). Mas os produtores não queriam saber de sátira e resolveram transformá-lo em filme sério, sem a interferência da feminista Mae Brown nas várias alterações realizadas no roteiro.

Comparando com O Assassino da Furadeira, este The Slumber Party Massacre também é muito mais dinâmico: não há as doideiras de Abel Ferrara para ficar arrastando o filme entre uma morte e outra, e nos curtinhos 77 minutos de projeção o assassino Russ Thorn protagoniza um verdadeiro banho de sangue, com direito a furadeira atravessada no pescoço, olhos perfurados, mão decepada e por aí vai. Tudo bem sangrento e explícito, como convém ao gênero. E com muita mulher pelada, obviamente. Mesmo que a produção tenha sido levada a sério pelos realizadores, é impossível, hoje em dia, não se mijar de rir com o excesso de clichês e de situações forçadas, que inclui os tradicionais “sustos falsos“, o assassino que não morre jamais e sempre volta, os corpos caindo de seus esconderijos, etc etc. Resumindo: The Slumber Party Massacre é um filme bem divertido, certamente muito mais comercial e acessível que o enfadonho e pretensioso The Driller Killer.

Lançado em VHS no Brasil com o ridículo título Slumber Party – O Massacre (por que não Massacre na Festa do Pijama???), esta produção teve um orçamento de apenas 250 mil dólares – quando ainda era possível fazer filmes com esta miséria – e se pagou muitas vezes, pois foi um relativo sucesso naquela época áurea das salas de cinema de rua, muito antes dos multiplex atuais. A grande bilheteria animou os produtores, que em 1987 realizaram o ainda mais famoso Slumber Party Massacre 2 (lançado no Brasil como Massacre, só para confundir a cabeça do espectador). Este segundo filme adiciona um tom sobrenatural e de sátira à história, colocando como vilão um roqueiro-fantasma armado com uma guitarra em forma de broca (!!!), que parece uma versão musical de Freddy Krueger. Novamente, a equipe técnica é toda feminina (a diretora e roteirista é Deborah Brock).

Slumber Party Massacre (1982)

Finalmente, em 1990, saiu Slumber Party Massacre 3, esse ainda inédito no Brasil, mantendo a tradição da série: é dirigido por Sally Mattison com roteiro de Catherine Cyran e um novo psicopata usando furadeira. A novidade é que a identidade do dito cujo é mantida em segredo até o final, seguindo o esquema que depois se tornaria clichê com o sucesso de Pânico, de Wes Craven. E em 2003, direto para o mercado de vídeo, foi filmada uma terceira seqüência, Slumber Party Massacre 4, dessa vez com homens no comando (Jim Wynorski na direção e Lenny Juliano como roteirista). Vai ver que o toque masculino na série avacalhou com a coisa, e por isso este derradeiro filme, também nunca lançado por aqui, acabou tendo o nome trocado no lançamento nas locadoras americanas, transformando-se em Cheerleader Massacre.

Quem sabe o DVD nacional de O Assassino da Furadeira não se torne um sucesso de vendas e faça com que alguma outra distribuidora descubra a existência desta divertida série de slasher movies, lançando também os quatro Slumber Party Massacre em DVD no Brasil… Sonhar não custa nada.

E quanto à furadeira em si… Bem, ela nunca alcançou a mesma fama e popularidade de sua companheira, a serra elétrica. Descontando O Assassino da Furadeira e a série Slumber Party Massacre, as brocas só aparecem muito raramente no cinema. Dois exemplos de como uma furadeira pode provocar estragos estão no genial PI, de Darren Arronofsky, e no filme B de ação Vingança, estrelado por Jean-Claude Van Damme, onde mafiosos usam a ferramenta para torturar um desafeto, numa cena de arrepiar…

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Um infernauta com talentos sobrenaturais convidado a ter seu texto publicado no Boca do Inferno!

4 thoughts on “O Assassino da Furadeira (1979)

  • 12/11/2021 em 23:49
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    Senti desconforto assistindo esse filme. Ele tem uma boa dose de terror psicológico na minha opinião(e para o meu gosto). Todo esse ambiente tóxico e confuso que cerca o protagonista nos contamina. A arte daquele quadro que ele pinta, o lugar que ele mora, os problemas financeiros/amorosos, as pessoas que se relacionam com o Reno. Parece que ninguém presta nesse filme. É todo mundo bizarro e feio(em um sentido amplo).
    Esse filme me deixou tão desconfortável quanto, por outras razões, “O terror da serra-elétrica”. São dois filmes que acho que nunca mais vou reassistir na minha vida.
    Estou prestes a comprar o volume 8 da coleção “Slashers” da Versátil, e ele tem esse filme. Vou passar bem longe dele, é só isso que posso dizer…

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  • 26/08/2017 em 19:59
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    Acabei de assistir e vi muito do clima dos filmes citados por você no texto. Felipe pretende voltar com o blog “filmes pra doidos” ?

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  • 26/05/2017 em 01:45
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    Eu curto essa doideira !
    ” The Driller Killer ” é um dos Video Nasties na versão SEM CORTES que está na minha coleção !
    Não é filme pra todos os gostos !

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