BRIGA DE FOICE: 1972 VERSUS 2009
(ATENÇÃO: Muitos SPOILERS adiante! Só leia se já tiver visto os filmes Aniversário Macabro e A Última Casa)
Embora A Última Casa tenha se revelado um remake bastante interessante e acima da média, o filme de Wes Craven, Aniversário Macabro, continua imbatível. Eu jamais colocaria o The Last House on the Left original entre os meus filmes preferidos, mas é uma obra que eu aprendo a respeitar mais e mais a cada vez que reassisto.
E, definitivamente, é uma das coisas mais doentias que o cinema “exploitation” gerou naqueles famigerados anos 70. De tão grotesco para a época do seu lançamento, o filme foi mutilado ao ponto de volta-e-meia aparecerem cenas inéditas que eram consideradas perdidas.
Minha proposta agora é discutir as principais mudanças e semelhanças entre original e refilmagem, para tentar avaliar o que ficou melhor, o que ficou mais ou menos e o que acabou piorando nessa versão “século 21” do pesadelo setentista de Wes Craven.
Comecemos, obviamente, pela ambientação dos dois filmes. Aniversário Macabro, o original, só tem esse nome no Brasil porque o tenebroso destino de Mari (Sandra Cassel) e sua amiga Phyllis (Lucy Grantham) acontece na véspera do aniversário de 18 anos da primeira, o que torna o estupro e morte de Mari ainda mais dramáticos – principalmente porque as cenas de violência contra a garota são intercaladas por momentos em que seus pais preparam a festa de aniversário para a filha.
Como essa subtrama foi descartada na nova versão, os tradutores nem puderam utilizar o mesmo título em português para a refilmagem. Já a nova subtrama criada para o remake, envolvendo a morte do outro filho da família Collingwood, não faz a menor diferença no rumo que as coisas tomam, e talvez só sirva para justificar o excesso de zelo dos pais em relação a Mari.
Os atores que interpretam os pais de Mari no filme de 1972 (Richard Towers e Cynthia Carr) aparentam ser bem mais velhos e “gente comum” que o casal de 2009 (Tony Goldwyn e Monica Potter). Além disso, a família Collingwood vivia na “última casa à esquerda” no filme de Craven, enquanto no remake o imóvel é apenas um local para passar as férias. O nome da mãe também mudou de Estelle, em 1972, para Emma em 2009.
Neste quesito em particular, eu gostei mais dos atores da nova versão, que encarnam a fúria vingativa dos pais de uma maneira bem mais interessante que o fraco casal de atores da versão original. Embora, é claro, a utilização de caras conhecidas, como Monica Potter no remake, inviabilize a reprodução de cenas mais “delicadas“, tipo o “boquete mortal” que Cynthia Carr pagou no filme de Craven!
Talvez a grande furada de A Última Casa seja a escolha dos atores que interpretam os “bad guys“. Fala sério: quem é que consegue engolir Garret Dillahunt, com aquele jeitão de “Veja, mamãe, eu sou modelo!“, no papel de Krug? Repare que o sujeito até tenta fazer umas caras de malvado e uns olhares psicóticos, mas não chega nem a um pálido arremedo do insano psicopata interpretado por David Hess em Aniversário Macabro. Pior: não perde uma oportunidade de aparecer sem camisa, como se estivesse num comercial de jeans.
Lá nos anos 70, o Krug interpretado por Hess provocava terror só com o olhar (tipo na cena do “Eu quero que você mije nas calças agora!“). Já o novo Krug, mesmo falando grosso e acertando mais porrada no dr. Collingwood do que o vilão do filme de Craven, em nenhum momento passa aquela imagem de figura ameaçadora. É apenas mais um garotão fazendo pose de “bad boy“.
O mesmo vale para Aaron Paul no papel de Francis, o braço direito de Krug. O cara não só é todo “bonitinho“, como parece muito novo para ser um bandidão sanguinário, ao contrário do maníaco sexual tão bem personificado pelo ator e diretor de filmes pornôs Fred J. Lincoln em 1972 (cujo personagem se chamava Weasel).
Somente a namorada de Krug, Sadie (Jeramie Rain no original, Riki Lindhome no remake), ficou mais ou menos igual nas duas versões.
Mas foda mesmo é suportar o que fizeram com o filho de Krug no remake. Enquanto no original ele se chamava Junior e era interpretado por Marc Sheffler (um sujeito mais feio que acidente de caminhão), agora ele virou um menino problemático com cara de nenê e jeitão de emo chamado Justin, e interpretado por Spencer Treat Clark.
Ora, em Aniversário Macabro Junior era um pobre coitado viciado em heroína, que atraía Mari e Phyllis ao quarto de hotel onde estava seu pai e o resto da gangue mesmo sabendo do triste destino que as garotas teriam, mas de olho numa recompensa – uma dose de heroína, claro.
Ele não participava ativamente da violência contra a dupla, mas depois, ao descobrir que estão hospedados na casa dos pais da finada Mari, passava mal pela culpa, sem, porém, jamais entregar Krug e seus comparsas para os Collingwood. No filme de Craven, era a mãe da vítima que descobria o que aconteceu, porém acidentalmente, ao ver, no pescoço de Junior, o colar que Mari havia ganhado de presente de aniversário.
Já em A Última Casa, Justin é um rapaz bonzinho que não tem culpa de ter pai bandido. Ele não concorda com os atos de Krug e seus asseclas, e inclusive só leva Mari (Sara Paxton) e Paige (Martha MacIsaac) para o hotel porque acredita que o resto da gangue ainda vai demorar a voltar. Ele também não se envolve na violência contra as garotas, mas depois se arrepende e dá um jeito de avisar os Collingwood sobre o que aconteceu – deixando à mostra, na cozinha, o colar que Mari levava, e que tinha sido presente do seu falecido irmão. Não bastasse ser dedo-duro, o rapaz depois até ajuda a família em sua vingança contra o próprio pai!
No filme de 1972, Junior jamais dava uma de “Madalena arrependida“, e, na única vez que tentou se colocar no caminho do pai Krug, foi forçado a cometer suicídio, explodindo os próprios miolos com um tiro – o que só comprovava o poder de persuasão do vilão de Craven. Em 2009, Justin não só ajuda os Collingwood na vingança, como ainda ataca o próprio pai, é quase morto por este, mas sobrevive para um inacreditável final feliz, quando é mostrado fugindo da casa ao lado de Mari e seus pais. Desconfio que ele irá tomar o lugar do falecido filho do casal. Impossível de engolir, pelo menos para mim.
Ah, amiguinhos, vocês não leram errado: no remake, Mari SOBREVIVE no final!!!! Essa para mim é a grande furada da versão 2009, pois evidencia que os realizadores se acovardaram. Após o estupro, Mari tenta fugir nadando (afinal, ela é uma nadadora experiente, conforme vimos no começo do filme), toma um tiro nas costas, mas consegue se arrastar até sua casa, onde é tratada pelo pai, sobrevivendo sem maiores sequelas.
O fato de a moça sobreviver, creio eu, tira boa parte do impacto do remake, e especialmente da vingança dos pais contra os bandidos (eles podiam muito bem pegar a filha ferida, levar ao hospital e chamar a polícia para cuidar dos vilões, enquanto no original, com a morte da filha, era questão de honra que o próprio casal resolvesse a questão).
Tudo é mais limpinho e menos chocante no ataque às garotas em A Última Casa. No filme de 1972, as coitadas Mari e Phyllis sofrem bem mais, já que elas passam uma noite inteira no quarto de hotel dos vilões (sofrendo sabe-se lá que abusos), e depois ainda são torturadas e estupradas na floresta no dia seguinte. O grande foco de Aniversário Macabro, inclusive, é a violência contra as duas garotas, que ocupa a maior parte dos 84 minutos do filme.
Além da tortura psicológica (Krug obriga Phyllis a urinar nas calças) e física (Krug escreve seu nome com um punhal no peito de Mari), as duas garotas são estupradas, em cenas bem mais sujas e realistas que o estupro “limpinho e higienizado” da versão 2009 – onde o máximo de violência que Mari aparece sofrendo é Krug apertando seus seios POR BAIXO DA BLUSA, sem a clássica cena do nome escrito a faca na pele. Mesmo o estupro de Mari, milagrosamente mantido no remake, é muito mais “soft” e “de bom gosto” do que aquele filmado por Craven.
O assassinato da amiga de Mari também é mais brutal e chocante em Aniversário Macabro. Se em A Última Casa Paige leva umas espetadas de faca no peito, e é deixada para morrer lentamente enquanto se contorce no chão, no filme de 1972 Phyllis sofria uma morte horrível, sendo diversas vezes apunhalada por Weasel e depois por Sadie, que praticamente abria um rombo no peito da garota para arrancar-lhe os intestinos (uma cena que acabou cortada na edição, mas foi recuperada nas edições especiais lançadas em DVD nos Estados Unidos). Depois, a dupla ainda decepava uma das mãos da moça para assustar Mari!
Resumindo: tudo que falta de sangue e truculência no ataque às garotas mostrado no remake sobra na versão de 1972 – que quase deixa o espectador se sentindo culpado por estar testemunhando aquela agressão covarde e realista.
Tanto Aniversário Macabro quanto A ÚLTIMA CASA apelam para arrepiantes cenas fortes envolvendo partes sensíveis da nossa anatomia.
No original, Weasel tinha um pesadelo (fetiche do diretor Craven) em que era “operado” pelo dr. Collingwood, e este usava martelo e formão para arrancar os dentes do vilão – uma cena não-explícita, já que Weasel acordava bem na hora da martelada, mas ainda assim arrepiante.
No remake, o “momento ternura” é a cena em que o dr. Collingwood “opera” o nariz de Francis, quebrado após um acidente de carro, antes de descobrir a identidade daqueles forasteiros. Primeiro, o médico bota o nariz quebrado “no lugar” com um torção, e depois costura o corte em close, para arrepiar quem odeia essas cenas de suturas explícitas.
Ah, outra cena arrepiante de A Última Casa é aquela em que o pai opera a própria filha para estancar o sangramento do buraco de bala nas costas.
A coisa mais legal do final do remake é que o dr. Collingwood e sua esposa realmente encarnam a fúria vingadora de pais que tiveram a filha atacada por malfeitores (imagine se Mari tivesse morrido, como no original…). Pois Tony Goldwyn e Monica Potter botam a mão na massa e dão o troco com muita porrada e golpes baixos, descartando as armadilhas bobinhas que o casal fazia no original de 1972 (outro fetiche do diretor Craven). A cena do ataque a Francis é ótima, embora eu ainda prefira o “boquete mortal” em Weasel.
No caso do castigo a Krug, adorei a forma como tanto o vilão quanto o médico parecem regredir a homens das cavernas, espancando-se de maneira bastante realista durante intermináveis minutos (os dublês devem ter se machucado MUITO para filmar essas cenas).
Mas é uma pena que a serra elétrica não tenha sido usada na cena final. O dr. Collingwood do remake prefere despachar Krug usando um micro-ondas para explodir a cabeça do vilão, uma cena que achei muito fantasiosa e exagerada. Se um pai furioso tem o algoz da sua filha ao seu alcance, e devidamente imobilizado, acredito que poderia divertir-se fazendo coisas bem mais dolorosas com uma série de outras ferramentas domésticas. Agora, usar um forno ia ser a última coisa que qualquer um iria pensar… Para mim, pelo menos, soou como algo muito Jogos Mortais, e nada realista.
Por fim, mas não menos importante, me incomodou bastante a falta de ousadia dos realizadores do remake em comparação com o que aquela trupe de doidos fez em 1972 com um mínimo de recursos. Afinal, se é para refilmar um exploitation da pesada como Aniversário Macabro e de repente mostrar-se cheio de pudores, então era melhor deixá-lo intacto e, sei lá, remasterizar e relançar o original nos cinemas.
Como escrevi antes, o ataque a Mari e Paige em A Última Casa é muito rápido e pouco chocante em comparação às cenas escabrosas filmadas por Craven na década de 70. É só perceber que o máximo de “ousadia” da refilmagem é um estupro com roupas e o fato de uma das moças aparecer só de sutiã, enquanto em Aniversário Macabro havia até um momento em que os vilões despiam totalmente Mari e Phyllis e obrigavam as garotas a fazer sexo uma com a outra!
De tão pesada, essa cena do “estupro lésbico” acabou cortada na edição, entre muitas outras, e ficou perdida por décadas até ser restaurada numa edição especial de The Last House on the Left lançada na Inglaterra há alguns anos (você pode ver um fotograma desse momento “romântico” aí em cima). Será que um remake lançado comercialmente nos EUA e distribuído pela Universal poderia ter uma cena parecida? No way!!!!
E é por essas e por outras que, na comparação, o The Last House on the Left de 1972 continua imbatível como um dos filmes mais brutais e apelativos da história, enquanto o remake de 2009 no máximo acabará se confundindo com as dezenas de filmes “rape and revenge” lançados periodicamente.
E embora A Última Casa tenha seu valor, e seja um bom filme, fica aquela velha dica: prefira SEMPRE o original.
Gosto desse remake só que não tem jeito, o original é bem superior e com bem mais ousadia e com um clima mais pesado (e olha que o filme tinha aquela trama boba dos policiais patetas), os vilões também eram mais assustadores no original.
este remake é nota 10, o original é um lixo
o cara que escreveu esse texto é maluco
vai fazer uma terapia irmão sai fora
“nem mesmo na cena de estupro, que tem mais roupa do que qualquer outra cena de estupro já mostrada pelo cinema”. Ainda bem , pq se a pessoa quer ver mulher nua vai ver filme pornô e não filme de violência sexual.
Você devia procurar um psicólogo, quer ver mulher pelada sem estuprada por mais tempo? Isso tornaria o filme melhor? Doente
Concordo !!!
Honestamente, os pontos que você usou para falar que o original é melhor, são meio preocupantes e aconselho você a procurar um médico, mas falando sobre o filme, o remake é muito bom. Não tem como dizer que esse filme não é um dos melhores no quesito, vingança. O original é perturbador e eu não consigo entender com as pessoas acham esse tipo de diversão macabra uma obra prima. As vezes, o menos é mais. O remake trabalhou com isso. Sabemos o que as duas jovens passaram, mesmo as cenas não sendo tão “longas e explicitas”, o objetivo foi atingido. Não quero passar duas horas vendo meninas inocentes morrerem, quero passar duas horas vendo os caras que maltrataram elas morrem e como você disse, o remake se foca nisso e é muito bom. Pra mim, o único defeito do filme é o garoto se redimir, fora isso, daria 4/5 caveiras fácil.
Eu gostei que o filho não era um menino ruim. Ele é só um coitado que deu azar de ter essa família e com certeza deve ter muitos problemas psicológicos por viver nisso! Quanto ao resto, concordo com tudo.. A intenção era ver os caras pagando pelo que fizeram e não ver o que eles estavam fazendo! Inclusive quem escreveu esse “ resumo “ deveria mesmo procurar ajuda, pois achei bastante preocupante.
“Por que é que todo mundo tem que ser bonito e sarado, inclusive os vilões?”. Esse é o mal do cinema moderno pós 2000
Não gostei deste filme nem da primeira versão e nem da segunda eu achei um lixo e odiei o filme pelas cenas pesadas que mostram nele não gosto de filmes assim.
Para ser sincero, eu curti mais esse remake do que o original de 1972. A situação de um grupo de criminosos estuprar e matar uma garota e, por mera coincidência, irem se hospedar exatamente na casa dela para enfrentar a fúria dos pais é algo muitíssimo improvável de acontecer. Só em filme mesmo… Mas, relativizando esse detalhe, eu gostei muito mais do modo como essa refilmagem foi feita do que do filme que lhe deu origem.
No filme de Wes Craven, o que mais me incomodava era a patetice da dupla de policiais que, para mim, mais atrapalhava o andar da trama do que qualquer coisa. Ainda bem que isso foi eliminado no longa de 2009. Quanto à trilha sonora de 1972, eu achei interessante. Talvez porque eu goste daquele estilo de música. Mas, é preciso entender que aquela música era contemporânea à época de realização e exibição do filme. Estamos acostumados a trilhas sonoras de terror compostas para criar um clima apoteótico e aquela trilha funcionava como um anticlímax, mas não chegava a atrapalhar, na minha opinião.
O Justin da primeira versão era um abobalhado, na verdade. Era meio retardado, até… É o que parece. Este novo Justin surge como um adolescente oprimido e reprimido pelo pai patife e, não é que ele seja bonzinho, ele apenas não se sente confortável naquele ambiente de criminalidade e tenta resistir a isso. Em algumas cenas, percebe-se que ele vive um conflito interno muito grande. De tanto sofrer humilhações, ele está sempre vacilante. Mas, há um momento decisivo para que ele decida se posicionar no meio de tudo isso.
Deixar a Mari viva foi algo inovador e não sei se isso acrescentou algo no filme. Além disso, o destino final de Krug, na última cena, foi absolutamente desnecessário. Na minha opinião, serviu para conferir uma aura de maior perversidade a John Colingwood, igualando-o ao vilão do filme nesse quesito.
Era pra ser uma crítica ou uma saga sobre refilmagens?! Texto longo cansativo , desculpa a crítica da crítica , mas quem quer ler a crítica realmente quer logo o assunto e não ficar em conjecturas sobre criações de remakes se devem ou não ser feitos ou se foram ou não bem construídos.
Verdade, concordo ??
Nossa, o jeito que vc enaltece os acontecimentos do filme original é BEM preocupante. Eu vim nesse site apenas para tentar entender o que aconteceu no final com o justin ( que não tinha culp da família que tinha ) e vou sair com raiva desse post. Procura um psicólogo e um psiquiatra para se tratar. Parece que achou pouco tudo que aconteceu na versão nova. Sem condições! Não tenho nem como descrever. Queria poder nem ter entrado aqui
Eles estupram a menos bonita não dá para entender kkk
E desde quando se estupra por causa da beleza? Acho que seu perfil feminino é fake
Eu curto demais o remake !
” The Last House On The Left ” de 2009 é lógico que está na minha coleção !
Sou do time que adorou o remake!!! E o filme original de Craven perdeu pontos pra mim por causa dos dois policias babacas!