Tudo que Nunca Dissemos
Original:Everything We Never Said Ano:2024•País:EUA Autor:Sloan Harlow•Editora: Seguinte |
Já dizia o ditado: “Nunca julgue um livro pela capa” e, nesse caso, nem pelo título. Tudo que Nunca Dissemos, publicado pela editora Seguinte, é um daqueles livros que a sinopse diz uma coisa, enquanto a capa e o título transmitem outra. Se ele está listado na categoria de suspense, acredite, tem uma razão para isso.
Ella é uma adolescente que vivia uma vida comum e sem grandes preocupações, até que sua melhor amiga, Hayley, morreu em um trágico acidente de carro. Além de toda a dor do luto, a jovem precisa lidar constantemente com o sentimento de culpa, pois ela quem dirigia o carro no momento do acidente e, pior ainda, não se lembra de absolutamente nada do dia da fatalidade. No colégio, olhares curiosos de pena e julgamento são dirigidos a ela, seus amigos – amigos de Hayley, na verdade – preferem manter distância. Entre momentos de solidão e vulnerabilidade, encontra conforto em Sawyer, o único que entende perfeitamente e está sofrendo tanto quanto ela, afinal era namorado de sua melhor amiga. O problema começa quando os dois viram mais próximos a cada dia, fazendo Ella ficar dividida entre ainda mais culpa e a empolgação, porém, ao ler o diário de Hayley, descobre segredos terríveis que sua melhor amiga escondeu durante meses, que podem ser fatais. O perigo está mais próximo do que Ella imagina.
Nos primeiros capítulos do livro, a primeira coisa que pensamos é que certamente ele foi listado na categoria errada, ou marcaram como suspense apenas pela morte de Hayley e a falta de memória de Ella – que, em um primeiro momento, não é relevante para a trama -, já que todo o tom da narrativa é de drama e, em seguida, de romance. Mas tenha calma. Acredite quando digo que isso não é mais um drama romântico.
Assim que a protagonista começa a ler o diário, um mistério começa a se formar e a história dá uma guinada totalmente diferente do que parecia ser no início. O suspense começa a se tornar crescente, os segredos são cada vez maiores e a tensão é constante. A autora nos engana mais de uma vez ao longo do enredo, e faz com que a apreensão de Ella seja palpável através das palavras. Os personagens principais possuem complexidade e são falhos, o que deixa mais fácil desconfiarmos deles e, ao mesmo tempo, parecerem completamente inocentes, apenas com decisões burras (o que é esperado, afinal, são adolescentes). Os plot twists não são exatamente surpreendentes, especialmente para quem já está acostumado com esse tipo de leitura e estilo narrativo, mas é construído lentamente em camadas, de forma a prender o leitor. Possivelmente fãs mais ávidos do gênero vão descobrir o desfecho rapidamente e vão encontrar alguns furos aqui e ali – tenha em mente que não é o maior ou melhor suspense que vai ler -, mas, ainda assim, Tudo que Nunca Dissemos proporciona uma leitura fluida e agradável.
Sloan Harlow fala de temas sensíveis como violência e negligência domésticas, abuso, luto, manipulação e relacionamentos tóxicos de uma forma necessária e sem romantizar nada, mas que pode servir de gatilho para algumas pessoas. O fato da autora intercalar o ponto de vista de três personagens ajuda a entendermos melhor tudo que se passa na vida dos protagonistas – e como cada um sofreu diferentes abusos ao longo da vida – sem nos prendermos a apenas um narrador não-confiável, ao passo que é feito para confundir. Será mesmo que aquela pessoa que parece tão íntegra é na verdade alguém terrível?
Tudo que Nunca Dissemos é um bom suspense de estreia de Sloan Harlow, e mostra que a autora tem grande potencial para escrever obras surpreendentes no futuro. Apesar da previsibilidade e algumas conveniências narrativas, é bem escrito e com bom desenvolvimento, conseguindo prender a atenção até mesmo daqueles que já imaginam o desfecho, tratando de temas fortes de forma delicada.