4.2
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It: Bem-Vindos a Derry
Original:It: Welcome to Derry
Ano:2025•País:EUA, Canadá
Direção:Andy Muschietti
Roteiro:Andy Muschietti, Barbara Muschietti, Jason Fuchs, Guadalís Del Carmen, Jasmyne Flournoy, Stephen King
Produção:Cherie Dimaline, Lyn Lucibello, Sarah Rath
Elenco:Jovan Adepo, James Remar, Stephen Rider, Matilda Lawler, Amanda Christine, Clara Stack, Blake Cameron James, Arian S. Cartaya, Miles Ekhardt, Mikkal Karim Fidler, Taylour Paige, Jack Molloy Legault, Matilda Legault, Chris Chalkm Rudy Mancuso, Alixandra Fuchs, Dmitry Chepovetsky, Eli Katz

O massacre no cinema pode servir de simbologia para a transposição de uma produção, popular na literatura e na tela grande, para os streamings. O primeiro episódio de It: Bem-Vindos a Derry mostrou que poderia expandir as cenas grotescas, admiradas nas duas versões, para a televisão. Bastava saber como seria o ritmo a partir do segundo capítulo, The Thing in the Dark, exibido antecipadamente na noite de Halloween. Mais uma vez dirigido por Andy Muschietti, o episódio apresentou as consequências da tragédia e como ela afetou as sobreviventes Ronnie Grogan (Amanda Christine) e Lilly Bainbridge (Clara Stack).

A primeira viu seu pai, Hank (Stephen Rider), ser preso após a indução do depoimento de Lilly. O chefe de polícia Clint Bowers (Peter Outerbridge) se viu pressionado em prender o rapaz para trazer um alento à população e expor o preconceito evidente na Derry dos anos 60. Com a morte das crianças, novos personagens foram apresentados, enquanto outros, vistos em relance, passaram a se destacar. O Major Leroy Hanlon (Jovan Adepo) recepciona a esposa Charlotte (Taylour Paige) e o filho gênio Will (Blake Cameron James), que terá importância no novo grupo de adolescentes e também futuramente no filme It: A Coisa. Além de Will, o pequeno Rich (Arian S. Cartaya) atrai olhares, principalmente por sua paixão por Marge (Matilda Lawler), amiga de Lilly e que está na dúvida se segue as garotas populares ou fica com a considerada insana.

Outro que ganha mais importância é o aviador Dick Hallorann (Chris Chalk), personagem conhecido do livro O Iluminado, por ter ajudado o garotinho Danny e também possuir poderes de telepatia e visões assombrosas. Ele é advertido pelo Coronel Fuller (Thomas Mitchell) sobre a necessidade de encontrar algo que está enterrado no passado de Derry. Mas o que chama a atenção é o horror que já atormenta as sobreviventes do cinema em dois momentos assustadores: no primeiro, Ronnie se vê puxada para o ventre infernal de sua mãe morta; e em outro, Lilly tem uma visão de seu pai morto, desmembrado e em conserva, durante sua ida ao mercado. Seu surto ocasiona o retorno temporário ao hospital psiquiátrico Juniper Hill.

Sem a mesma intensidade do primeiro episódio, The Thing in the Dark manteve o interesse pela qualidade da série (ambientação, direção e fotografia) e a proposta de resgate a uma entidade envolta em medo. Já o terceiro episódio, Now You See It, foi conduzido por Andrew Bernstein, e teve a exibição no último domingo, durante o encerramento do Festival Boca do Inferno XII. Começa em 1908 — para quem não se lembra, é uma data importante em Derry, comentada no primeiro filme (mais detalhes em breve) —, com o jovem Francis Shaw (Diesel La Torraca) visitando um parque de diversões itinerante nas atrações de um freakshow. Lá, entre gêmeas siamesas e aberrações, ele vê um velho com um dos olhos vazados que diz o título do episódio: “Agora você vê.

Quando seu pai, Monty (Justin Mader), o está levando pra casa, o carro quebra próximo a uns jovens vendendo água. Ele se aproxima da nativa Rose (Violet Sutherland) e dá a ela seu estilingue, estabelecendo uma amizade de verão. Francis novamente é perseguido pelo velho na mata, desta vez numa caracterização ainda mais monstruosa em efeitos especiais pavorosos. A Rose de 1962, interpretada por Kimberly Guerrero, está preocupada com as escavações, assim como sua comunidade, pelo fato de envolver um local sagrado de seus ancestrais. O garoto assustado do passado é exatamente quem está por trás da busca de algo poderoso por lá, já apresentado na série como o General Francis Shaw (James Remar).

Descobre-se que o carro encontrado enterrado, visto no final do episódio anterior, pertenceu a Al Bradley, durante um massacre de gangues, ocorrido em 1935 (outra data importante na cidade). E Dick acompanha um voo de helicóptero, com Leroy e o Capitão Pauly (Rudy Mancuso), somente para ter uma visão do espetáculo itinerante e sua avó morta. No núcleo adolescente, Lilly sai de Juniper Hill e tenta se aproximar de Ronnie, buscando provas de que algo sobrenatural ronda Derry. Para tal, se unem a Will, esperto em revelação de fotografias, e Rich, que conhece um ritual para despertar entidades.

Eles então vão ao cemitério da cidade para um ritual que ocasiona correria, os fantasmas dos garotos mortos no cinema e zumbis, além de uma aparição rápida e especial, registrada em foto. As cenas noturnas combinam gravações e estúdio e externas, e permitem uma atmosfera aterrorizante para os jovens em suas bicicletas. No entanto, os efeitos visuais e especiais deixam a desejar, assim como outros já mostrados como o bebê-demônio voador, o pai em conserva e o velho caolho.

A série caminha para seu meio de temporada, já com a segunda assegurada, e dá mais ênfase aos personagens adultos. Se os jovens mantêm sua caracterização perdedora, sofrendo bullying na escola, por outro lado não são frutos de pais problemáticos. Há todo um interesse pelo contexto que envolve a cidade maldita em todas as suas épocas, e uma trama que costura núcleos de maneira orgânica, explorando ambientações anteriormente vistas no longa It – A Coisa. Também foi corrigida uma situação que estava causando estranhamento no enredo da série, sobre pouco do que aconteceu no passado ter sido mencionado no longa-metragem. E o esquecimento faz parte da maldição que ronda Derry, como bem pontuou Rose para Shaw.

Por outro lado, a ausência de Pennywise continua bastante sentida. O palhaço dançarino já devia ter aparecido na série, mesmo quando suas versões monstruosas assombraram os personagens. Em a It – A Coisa, ele aparecia nas cenas do ataque do zumbi viciado, no pesadelo da biblioteca e na casa sobre o poço. Aliás, quando iremos vê-la em cena, além de outros ascendentes dos garotos de 1989? Será que testemunharemos a tragédia da boate de 1962, um dos acontecimentos mais marcantes da cidade na época? Até o momento, It: Bem-Vindos a Derry segue interessante, mesmo tendo brecado a ousadia e sem a graça de Pennywise.

It: Bem-Vindos a Derry: The Pilot

It: Bem-Vindos a Derry
Original:It: Welcome to Derry
Ano:2025•País:EUA, Canadá
Direção:Andy Muschietti, Andrew Bernstein
Roteiro:Andy Muschietti, Barbara Muschietti, Jason Fuchs, Guadalís Del Carmen, Jasmyne Flournoy, Stephen King
Produção:Cherie Dimaline, Lyn Lucibello, Sarah Rath
Elenco:Jovan Adepo, James Remar, Stephen Rider, Matilda Lawler, Amanda Christine, Clara Stack, Blake Cameron James, Arian S. Cartaya, Miles Ekhardt, Mikkal Karim Fidler, Taylour Paige, Jack Molloy Legault, Matilda Legault, Chris Chalkm Rudy Mancuso, Alixandra Fuchs, Dmitry Chepovetsky, Eli Katz

Entre os lugares do assombrado Maine de Stephen King, existe uma cidade tão maldita quanto Jerusalem´s Lot e Ludlow, tão claustrofóbica quanto Chester’s Mill e insana como Castle Rock e Haven. Derry é o território de um dos monstros mais aterrorizantes da mente criativa do autor, o local onde habita um ser que se popularizou com a alcunha de Pennywise, o palhaço dançarino. Aprendemos com It que ele se alimenta do medo, escondendo-se nos lugares mais sombrios e desérticos da cidade, atraindo jovens com seu carisma macabro e balões vermelhos. Você imaginaria essa criatura ocasionando um massacre em um cinema, destroçando crianças, a partir de sua versão bebê monstro gigante?

Derivados andam em teto de vidro porque mexem com produções que não foram constituídas para esse fim. Quando a minissérie It: Uma Obra-Prima do Medo foi realizada, em 1990, o palhaço mostrou seus dentes afiados e desejo por um horror psicológico tão intenso ao ponto de desenvolver traumas e até ocasionar suicídios. A mesma ideia foi trabalhada, em uma época diferente, com It – A Coisa e It – Capítulo Dois, mais uma vez tendo Pennywise como metáfora de pais abusivos e famílias problemáticas. Assim como a péssima Alien Earth, a proposta aparente de It: Bem-Vindos a Derry é mostrar os primeiros passos do palhaço, talvez mudando seu modo de operação a partir das consequências de sua ação no cinema.

De toda forma, o primeiro episódio foi realmente um soco no estômago. Com direção de Andy Muschietti, a partir de um roteiro de Jason Fuchs e Barbara Muschietti para um argumento de Guadalís Del Carmen e Jasmyne Flournoy, a ideia foi subverter todos os conceitos determinados nas adaptações. Assim, colocaram os holofotes sobre adolescentes que possuem o mesmo estereótipos já vistos antes: o nerd, o pressionado pelos pais religiosos, a meiguinha e curiosa, além da traumatizada, manipulando o espectador como se propusse uma refilmagem ou nova adaptação do livro.

Começa em 4 de janeiro de 1962, com a fuga do cinema do garoto da chupeta Matty Clements (Miles Ekhardt), flagrado pelo lanterninha durante a exibição do musical Vendedor de Ilusões (The Music Man, 1962). Ele é ajudado pela jovem Ronnie Grogan (Amanda Christine), e depois por uma família assustadoramente estranha e feliz, que o leva de volta a Derry mesmo com seu insistente pedido para não voltar. Quando a família diz uníssona “Fora“, a matriarca dá a luz a um bebê demônio com asas, para selar o destino do garotinho, enquanto a chupeta amarela boia nos esgotos da cidade.

Quatro meses depois, dois soldados chegam à base aérea local, após combate na Coreia: o Capitão Pauly Russo (Rudy Mancuso) e o Major Leroy Hanlon (Jovan Adepo). Conversas sobre arsenal nuclear e o receio de que possa avançar até ali são intercaladas com algum aprofundamento de Hanlon, convocado pelo General Shaw (James Remar) para pilotar um B-52: trabalhou como aviador de lavouras e aparenta ser corajoso para não se intimidar com dois intrusos que, durante a noite, querem detalhes sobre o comando do mesmo avião.

Ao mesmo tempo, acompanhamos um grupo de jovens ainda abalado pelo desaparecimento de Matty. Seu amigo tímido e do cabelo estranho Teddy Uris (Mikkal Karim Fidler) confessa que Matty não tinha muitos amigos e que era pago para frequentar suas festas, mas tinha uma afeição por ele, enquanto Phil Malkin (Jack Molloy Legault) das teorias conspiratórias o tranquiliza, ainda que não acredite que o desaparecido possa estar se comunicado pelos canos do banheiro, conforme presenciou Lilly Bainbridge (Clara Stack), que perdeu o pai em um acidente de fábrica, um ano antes, e sabia que Matty tinha um certo interesse por ela.

Parece que o incidente de Matty possa ter relação com o cinema, uma vez que a música “Ya Got Trouble” do filme é constantemente lembrada no clamor das tubulações. E é exatamente a busca por respostas que conduzirá todos a uma visita a Ronnie, que também anda tendo uma experiência estranha com a mesma canção.

Como episódios pilotos precisam convencer investidores no desenvolvimento da série, eles realmente costumam ser agressivos e impactantes. Apesar dos efeitos não tão bons do bebê monstro, a ousadia é o motor condutor desse primeiro episódio, sabendo desenvolver personagens carismáticos, fazer uso de um humor ácido e trazer o que os fãs de horror mais querem mesmo em um produto para a TV: sangue em profusão, gore e violência. It: Bem-Vindos a Derry começa bem, ainda que não tenha apresentado o seu fio condutor. Pode-se dizer que o episódio é o típico prólogo de uma produção de horror, tendo a morte inicial antes dos créditos como o ponto de partida para o elenco principal.

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