Blair Witch (2019)

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Blair Witch
Original:Blair Witch
Ano:2019•País:Polônia
Desenvolvedora:Bloober Team•Distribuidora: Lionsgate Games

A Bruxa de Blair tem de longe uma das trajetórias cinematográficas mais fascinantes da história do horror. A “mentira bem contada” em 1999 sobre três jovens que partem para uma floresta na realização de um documentário e desaparecem no meio de uma maldição fez um sucesso marcante na história do cinema, dando o pontapé de popularização do gênero found footage. Hilariamente, mesmo sendo um verdadeiro acontecimento, nada que levou o nome A Bruxa de Blair funcionou após seu filme original. A própria ousadia de querer fazer uma continuação já soava como absurdo, com a baixa qualidade de O Livro das Sombras (2000) e Bruxa de Blair (2016) sendo quase ofensivas à obra original. Assim, sua mitologia parecia marcada a desaparecer… até este ano, quando não com o lançamento de um filme, ou uma série, mas com um jogo, Blair Witch conseguiu nos surpreender.

Desenvolvido pela Bloober Team, a mesma produtora dos muito bem recebidos Layers of Fear e Observer, o jogo Blair Witch se passa em 1996, quando mais uma criança desaparece na floresta de Black Hills, o mesmo lugar onde os estudantes de cinema Josh, Mike e Heather perdem suas vidas, o mesmo lugar onde no passado crianças foram mortas por um homem num porão, levadas em dupla, onde uma ficava virada para a parede paralisada de medo, enquanto a outra era brutalmente assassinada.

Obviamente, o desaparecimento gera uma gigantesca comoção. A força policial local em peso realiza uma força tarefa para encontrar Jake, o garoto perdido. E no meio de tudo isso, passamos logo de cara a controlar Ellis, um ex-policial afastado por problemas psiquiátricos que procura provar sua recuperação encontrando o menino com uma arma secreta poderosíssima: seu cachorro e amigo fiel Bullet.

Blair Witch é um jogo totalmente em terceira pessoa e com progressão linear. Voltado ao terror psicológico, não temos aqui momentos de ação ou armas à disposição. Ainda assim, suas opções de jogabilidade são bem diversificadas e razoavelmente inovadoras até mesmo quando comparada a jogos da mesma pegada, como Outlast, sendo o principal destaque o controle de Bullet.

A simplicidade que funciona

A relação de Ellis com Bullet é de longe o ponto alto do jogo. Além de várias formas de interação de acordo com cada momento que você se encontra na jornada, o carisma do protagonista e seu cão são grandes, gerando sentimentos diversos ao longo da campanha. Além disso, os comandos possíveis a Bullet são variados, indo desde a ordem de que ele vasculhe por objetos no cenário, a fixá-lo em um ponto estratégico, ou simplesmente fazer um carinho ou repreendê-lo (felizmente, algo que nunca precisei usar).

Ademais, não há muitos comandos, mas há soluções interessantes. Na mochila de Ellis ainda temos uma lanterna de extrema eficiência, um rádio, e um celular que mesmo em 1996 funciona muito bem dentro de uma floresta densa como Black Hills, com o protagonista recebendo ora ligações de sua ex-mulher cuja relação se mostra cada vez mais complexa e problemática, ora recebendo mensagens SMS de origens cada vez mais duvidosas, ou simplesmente sendo útil para jogar o jogo da cobrinha. Sim, ele está presente, e pode ser viciante.

Além disso, o jogo possui um sistema de som binaural que é infinitamente bem mais aproveitado com o uso de fones. Jogue no escuro, sozinho (ou apenas na presença do seu cachorro) e com os fones, e a experiência será realmente completa.

Mas é justamente após o estranho início, logo após encontrarmos uma câmera de vídeo em um acampamento abandonado numa clareira, que o terror de Blair Witch realmente começa, com fitas para serem coletadas e assistidas que alteram a realidade e aos poucos afundam a mente de Ellis.

A Bruxa de Blair está presente. E ela sabe que tem uma presa psicologicamente frágil para se alimentar.

Um terror crescente

É no desenvolvimento da campanha de Blair Witch que está seu verdadeiro trunfo. Se no começo do jogo temos um homem e seu cão fazendo parte da busca de um garoto desaparecido, avançamos em pouco tempo para descobrir que Jake na verdade foi vítima de um sequestro e em seguida para entender que aquilo era o tempo todo uma questão de sobrevivência.

O que começa como uma chance de Ellis se retratar com a polícia local e ganhar um novo voto de confiança passa a ser uma jornada aterrorizante cujo único objetivo é simplesmente sair dali. Mergulhado no meio da maldição, Ellis começa a cair, com sua frágil sanidade mental sendo completamente atacada, onde não sabemos mais o que é real ou não, e o tempo e o espaço deixam de ser lineares.

Aliás, entender que Blair Witch é linear em sua campanha, mas não em seu enredo é outro dos trunfos do jogo. A trama, por mais simples que possa ser no começo, ganha ares mais complexos, onde o passado, o presente e o futuro de Ellis passam a se encontrar no mesmo lugar, como uma roda que não para de girar.

As mudanças de ambientes mesmo dentro da floresta são marcantes. E puzzles que parecem simples, mas bem construídos completam o envolvimento. Leia os documentos encontrados, destrua os marcantes símbolos de madeira que paralisam até mesmo Bullet e colecione fotos assustadoras de pessoas viradas para uma parede para entender como funciona a maldição da bruxa.

Assim, de forma crescente, Blair Witch se mostra grandioso como jogo de terror em seus momentos finais. A inserção de um misterioso vilão humano, o desfecho de Bullet e o inevitável encontro de Ellis com uma casa abandonada no meio da floresta de Black Hills são momentos simplesmente épicos no fechamento do quebra-cabeça da macabra trama.

Só faltaram alguns detalhes

Ainda que eficiente naquilo que se propõe, Blair Witch tem suas limitações e são elas que pesam como pontos negativos do jogo. Vagar por Black Hills deveria ser uma experiência mais aberta, mas notavelmente a falta de recursos diminuíram essa possibilidade. Há ainda um certo tipo de espírito maligno que deve ser combatido com a lanterna e Bullet que, sinceramente, é muito desnecessário e irritante, inclusive quebrando o clima de terror psicológico.

E o desfecho em si é um problema. Mais uma vez a falta de recursos limitou a experiência, resumindo o final a uma cutscene, quando um jogo com uma construção tão bem feita poderia ter algo mais memorável.

Mesmo assim, pelo conjunto da obra e numa era da indústria do entretenimento onde convergência de mídias se torna cada vez mais comum, principalmente em franquias, ver que o terror criado por A Bruxa de Blair ganhou sua sobrevivência no mundo dos games foi um verdadeiro presente para os fãs do gênero.

Blair Witch está disponível para Xbox One e PC.

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Samuel Bryan

Jornalista, acreano, tão fã de filmes, games, livros e HQs de terror, que se não fosse ateu, teria sérios problemas com o ocultismo. Contato: games@bocadoinferno.com.br

One thought on “Blair Witch (2019)

  • 17/12/2019 em 23:43
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    Gostei da análise e já tinha visto algumas gameplays do jogo! Fiquei animado para jogar!

    Resposta

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