O Menino que Desenhava Monstros (2016)

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O Menino que Desenhava Monstros
Original:The Boy Who Drew Monsters – A Novel
Ano:2016•País:EUA
Autor:Keith Donohue •Editora: Darkside Books

Crianças têm uma imaginação fértil. Conforme crescemos, muitas vezes perdemos esta capacidade de imaginar e, por consequência, de nos conectarmos com os mundos criados na cabeça de uma criança. Em O Menino que Desenhava Monstros, de Keith Donohue, o jovem Jack Peter Keenan faz mais do que imaginar: ele desenha seus monstros, e as criaturas ganham vida no mundo real, algo com que seus pais têm muita dificuldade de acreditar e lidar.

Jack Peter, ou JP, ou Jip, é um garoto de dez anos portador da Síndrome de Asperger, condição funcional do espectro do autismo que faz com que ele se torne um recluso, com medo de colocar os pés para fora de casa. Sua condição se agravou três anos antes, quando JP quase se afogou no mar em sua cidadezinha costeira do Maine, junto com seu único amigo, Nick. Desde então, o garoto passou a ter diferentes obsessões – jogos de tabuleiro, guerras de bonecos –, chegando finalmente aos desenhos de monstros. Mas suas criações passam a assombrá-lo e à sua família: sua mãe, Holly, ouve coisas e busca ajuda na igreja local, enquanto o pai, Tim, se machuca seriamente na tentativa de perseguir o monstro que pensa ter visto na neve. Mas nenhum dos dois está disposto a dar ouvidos ao que JP sabe…

O Menino que Desenhava Monstros é um terror psicológico que se desenvolve lentamente. São poucos personagens e a história se passa em um período que começa pouco antes do Natal e se estende quase até o Ano Novo, quando os pais de Nick partem em um cruzeiro e o garoto fica, à contragosto, na casa de JP, em uma cidadezinha costeira do Maine tomada pela neve do inverno e quase sem habitantes nessa época. Por conta do ambiente, o livro pode ficar um pouco repetitivo às vezes, com ações parecidas, que se diferenciam apenas pela intensidade – como a paranoia cada vez pior de Holly, por exemplo. A história ainda se intercala com flashbacks que, aos poucos, explicam o que aconteceu na ocasião do afogamento de JP.

O Menino que Desenhava Monstros (2016)

Um dos destaques de O Menino que Desenhava Monstros é a humanidade das personagens. Lidar com JP muitas vezes requer muita paciência. Sua condição não o mantém apenas preso dentro de sua própria casa, mas também seus pais, e suas reações a toda essa situação são bastante reais. Tim vive em constante negação de que a condição de seu filho é permanente, vivendo convencido de que ele pode “voltar ao normal”. Já Holly se refugia na igreja e procura manter certa distância, saindo de casa sempre que possível, evitando ter de discutir com o marido por seus pontos de vista diferentes e chegando até a perguntar ao Padre Bolden se é pecado odiar o filho. Até mesmo Nick, uma criança doce, mostra um lado sombrio quando não aguenta mais a presença de JP. Como seres racionais aprendemos sobre tolerância, e como pais espera-se que sejamos sempre perfeitos, mas sabemos que a realidade não é assim e que escorregamos muito pelo caminho, e Donahue soube mostrar este lado de seus personagens.

A maior falha do livro fica por conta dos personagens do Padre Bolden e da Srta. Tiramaku, que servem como apoio, mas poderiam ser mais bem desenvolvidos. A camareira do padre é uma personagem misteriosa, mas toda sua aura sombria não leva a lugar algum. A questão do naufrágio do navio Porthleven, por qual Holly fica obcecada, e a lenda dos fantasmas yurei, contada pela Srta. Tiramaku, poderiam render uma história interessante, mas acabam sendo deixadas de lado.

A edição da DarkSide Books é belíssima, em capa dura, e traz algumas páginas para que o leitor libere sua imaginação: no final você pode desenhar seus monstros, suas angústias, suas lembranças. Um detalhe bastante simpático que estreita a conexão do leitor com o livro.

O Menino que Desenhava Monstros atraiu a atenção de James Wan, responsável pelo sucesso Invocação do Mal, e será adaptado para os cinemas. Ainda não há data definida para o início da produção, mas, em se tratando de Wan, podemos esperar novidades em breve.

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Silvana Perez

Escolheu alguns caminhos errados e acabou vindo parar na Boca do Inferno em 2012. Apresenta o podcast do site, o Falando no Diabo, desde 2019. Fez parte da curadoria e do júri no Cinefantasy. Ainda fala de feminismos no Spill the Beans e de ciclismo no Beco da Bike.

3 thoughts on “O Menino que Desenhava Monstros (2016)

  • 19/06/2017 em 19:50
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    Amei esse livro! Confesso que quando o comprei não coloquei tanta fé, até porque garotos que desenham monstros são coisas clichês! Porém, vidrada nele do começo ao fim! A história nos prende por completo além de deixar aquela tensão que nem todos escritores conseguem. O fato de acrescentar outras culturas deu um toque todo especial na trama. Jack, com sua síndrome e sua fobia nos revela uma coragem para poucos. Em nenhum momento do enredo imaginei um final tão criativo e surpreendente!
    Recomendo a todos que gostam de um suspense e um terror literário!

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  • 25/09/2016 em 10:24
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    Ótima Critica!
    Recém terminei de ler o livro e concordo que ele tem uma idéia muito interessante. Realmente acho que ele peca em não desenvolver mais o naufrágio e a historia por tras da Sr. Tiramaku.

    Me surpreendi com o capitulo final…. hehe

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      26/09/2016 em 09:30
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      Obrigada, William 🙂
      Foi surpreendente mesmo, haha! Um final bem-vindo.

      Resposta

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