O Colecionador (2018)

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O Colecionador
Original:The Collector
Ano:2018•País:EUA
Autor:John Fowles •Editora: Darkside Books

É uma situação já bem conhecida das mulheres. Homens que acreditam que têm direitos sobre nossos corpos, independentemente das nossas vontades. São olhares, comentários, toques, que nos fazem perceber que não somos tão livres quanto deveríamos. Mas, em O Colecionador, a história é um tanto mais extrapolada. Escrito por John Fowles, o livro foi publicado pela primeira vez em 1963. Neste ano, foi lançado por aqui pela DarkSide Books, com tradução de Antonio Tibau.

Em O Colecionador conhecemos dois personagens. Frederick Clegg é um homem comum, simples, invisível. Colecionador de borboletas, ele vive com uma tia e uma prima e tem um emprego banal. Por muito tempo ele observa Miranda Grey, sua vizinha da frente, uma bela estudante de artes, mas nunca tem coragem de se aproximar dela. Miranda se muda para Londres e, depois de ganhar na loteria, Clegg faz o mesmo para continuar a observá-la, enquanto monta um plano meticuloso: ele compra uma casa isolada no campo, prepara um quarto “confortável” no porão e, em uma noite, sequestra a moça, mantendo-a no subsolo, longe de qualquer contato com outras pessoas que não ele.

“Retraído, inculto, não-amado.”

A primeira parte de O Colecionador é contada por Clegg, que considera Miranda sua convidada, não uma vítima, completamente alheio à natureza do que está fazendo, o que torna seu comportamento mais assustador. Ele quer ser amado por Miranda, e acredita que tratá-la bem fará com que isso aconteça, fará com que ela perceba o cara legal que ele é. Ele lhe dá roupas, discos, quadros, traz tudo o que ela pedir. Se ela tem tudo o que precisa, como pode ser tão ingrata? Às vezes ela o trata bem, sim, diz que eles são amigos e que gostaria de ajudá-lo e ter sua confiança, mas também caçoa dele e até tenta fugir. Ingrata.

“É quando eu saio da linha que ele me odeia.”

A segunda parte do livro vem em formato de diário, escrito por Miranda em seus dias de confinamento. Enquanto ela tenta passar a Clegg uma imagem confiante, é através do que escreve que ficamos sabendo de seu desespero e acompanhamos sua deterioração, e passamos a conhecê-la melhor. Miranda fala muito de G.P., um homem mais velho com quem se relacionava e admirava, e que influenciava muito sua forma de pensar. O que Miranda revela de sua personalidade não permite quaisquer pensamentos mais otimistas sobre seu destino. Ela é inexperiente, sonhadora e uma pacifista, sempre se segurando ao máximo para não partir para a violência com Clegg, mesmo nas circunstâncias em que se encontra.

O Colecionador é claustrofóbico e agoniante. Com uma história que se passa quase inteira em uma única casa, o sentimento de desesperança fica presente ao longo de todo o livro. Ainda que tenha sido escrito nos anos 1960 na Inglaterra, o livro é um retrato de situações que estão presentes na vida das mulheres todos os dias, em maior ou menor grau, até hoje. John Fowles, intencionalmente ou não, escreveu uma obra atemporal que pode dar muito espaço para se pensar, independentemente de gênero.

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Silvana Perez

Escolheu alguns caminhos errados e acabou vindo parar na Boca do Inferno em 2012. Apresenta o podcast do site, o Falando no Diabo, desde 2019. Fez parte da curadoria e do júri no Cinefantasy. Ainda fala de feminismos no Spill the Beans e de ciclismo no Beco da Bike.

One thought on “O Colecionador (2018)

  • 02/05/2019 em 08:22
    Permalink

    Porra !
    li esse livro. tenho uma edição que comprei num sebo. acho que paguei 2 reais. Muito bom mesmo! poucas pessoas conhecem…
    Ótima dica!

    Resposta

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