Fear the Walking Dead – 2ª Temporada (2016)

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Fear the Walking Dead (2016) – 2×07: Shiva

Fear the Walking Dead (2016) (2)

Fear the Walking Dead: Monster
Original:Fear the Walking Dead: Monster
Ano:2016•País:EUA
Direção:Andrew Bernstein
Roteiro:David Wiener
Produção:Pablo Cruz, Avram 'Butch' Kaplan, Alan Page, Arturo Sampson
Elenco:Kim Dickens, Cliff Curtis, Frank Dillane, Alycia Debnam-Carey, Colman Domingo, Mercedes Mason, Lorenzo James Henrie, Rubén Blades, Arturo del Puerto, David Warshofsky, Catherine Dent, Jeremiah Clayton, Aria Lyric Leabu, Jake Austin Walker, Michelle Ang, Brendan Meyer, Marlene Forte

O termo “cliffhanger” denomina um recurso do roteiro que consiste em levar os personagens ao seu extremo, no ápice de sua tensão emocional. Traduzido literalmente seria “à beira do abismo” – o que justifica o momento crucial de uma produção de ficção. Nas séries de TV, poderia ser traduzido como “gancho” entre temporadas, estimulando o espectador a ansiar pelo retorno com a expectativa de saber o que virá a seguir. Como a franquia The Walking Dead costuma se dividir em duas mini-temporadas, passeando por dois anos, o spinoff Fear the Walking Dead também resolveu adotar a fórmula, a partir da ampliação do número de episódios. Shiva veio com essa proposta, a de buscar uma pausa contundente na série para seu retorno em agosto. Infelizmente, o tal cliffhanger não soou plenamente satisfatório: como se o abismo fosse a própria série e não seus personagens.

O primeiro sintoma de que a tensão não seria suficiente para estimular o espectador a esperar a continuação da temporada se deve a tardia apresentação da comunidade comandada por Célia (Marlene Forte), não permitindo um envolvimento do público com o “incêndio da fazenda“. Se o fim da morada de Hershel na série original foi capaz de chocar o espectador, acostumado à casa segura como se fosse sua própria fortaleza, a sequência final de Fear the Walking Dead não se conduziu como deveria. Ora, quem se importa com a destruição de um local que nem teve tempo de conhecer adequadamente?

Apesar de Daniel (Rubén Blades) justificar a própria loucura como consequência do solo místico onde estão, o modo como os eventos aconteceram não foi convincente. Um personagem que até então era a razão da série, agindo com mais consciência do que Madison (Kim Dickens) e Travis (Cliff Curtis), de repente, começa a evidenciar insanidade ao rever a falecida esposa, recordando Rick em seus momentos mais tediosos. Diferente aconteceu com Chris (Lorenzo James Henrie), que teve a sua destruição apresentada aos poucos, sentindo-se culpado por suas decisões ingênuas, com a soma do modo como perdera a mãe. Ainda assim, a despeito do elogio de sua atuação, ele continua sendo um dos personagens mais irritantes do seriado, colecionando bobagens e expressões de dor e desespero.

Ao ser flagrado com uma faca nas mãos no dormitório, sem uma explicação plausível para essa coincidência mórbida, ele resolve se ausentar “para não ferir mais ninguém“. Travis o persegue até os lugares mais distantes da comunidade, encontrando-o num refúgio provisório em uma disputa psicológica vazia. Já o outro jovem, Nick (Frank Dillane), parece enfeitiçado por Célia “devido a sua força interior” e sente um certo fetiche em se camuflar entre os mortos. Também aparenta um estado de loucura crescente Strand (Colman Domingo), pela perda do amado Thomas Abigail (Dougray Scott), culpando-se (e sendo culpado) pelo adiantamento da morte do parceiro. Somente Madison nutre algum carinho por ele, como se houvesse mais sentimentos escondidos ali do que apenas afeição.

Fear the Walking Dead (2016) (1)

Já as garotas – Ofelia (Mercedes Mason) e Alicia (Alycia Debnam-Carey) – estão sobrando entre tantos dramas. Enquanto a filha de Daniel apenas lamenta os questionamentos do pai, Alicia apenas mostra sua indecisão entre voltar ao barco para fugir do local e preocupar-se com as ações de Chris. Alycia Debnam-Carey é uma atriz em ascensão, carismática e atraente, desperdiçada em um papel irrelevante. Estava sendo mais bem aproveitada em The 100, como uma guerreira apaixonada pela protagonista.

Deixando algumas dúvidas sobre o destino de alguns personagens, a certeza que fica é que Fear the Walking Dead se dividirá em núcleos, alternando as narrativas no barco e no que sobrou da comunidade – algo que sempre me incomodou profundamente em The Walking Dead. Uma meia temporada irregular com poucos momentos que justificam seu relacionamento com a série original, Fear the Walking Dead abandonou os zumbis, camuflando-os em subtramas supérfluas e diálogos rasos. É a literal aproximação do abismo, condenando seu futuro, caso agosto não traga boas novas.

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Marcelo Milici

Professor e crítico de cinema há vinte anos, fundou o site Boca do Inferno, uma das principais referências do gênero fantástico no Brasil. Foi colunista do site Omelete, articulista da revista Amazing e jurado dos festivais Cinefantasy, Espantomania, SP Terror e do sarau da Casa das Rosas. Possui publicações em diversas antologias como “Terra Morta”, Arquivos do Mal”, “Galáxias Ocultas”, “A Hora Morta” e “Insanidade”, além de composições poéticas no livro “A Sociedade dos Poetas Vivos”. É um dos autores da enciclopédia “Medo de Palhaço”, lançado pela editora Évora.

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