Les Revenants – 1ª Temporada (2012)

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Les Revenants – 1ª Temporada
Original:Les Revenants – First Season
Ano:2012•País:França
Direção:Fabrice Gobert, Frédéric Goupil, Frédéric Mermoud
Roteiro:Nathalie Saugeon, Nicolas Peufaillit, Camille Fontaine, Emmanuel Carrère, Robin Campillo, Fabrice Gobert
Produção:Caroline Benjo, Jimmy Desmarais, Barbara Letellier, Carole Scotta
Elenco:Anne Consigny, Clotilde Hesme, Frédéric Pierrot, Céline Sallette, Grégory Gadebois, Guillaume Gouix, Pierre Perrier, Yara Pilartz, Jean-François Sivadier, Ana Girardot, Jenna Thiam, Swann Nambotin


Nem sempre quando os mortos resolvem voltar à vida estão em busca de cérebro humano ou carne fresca. Como bem mostrou Érico Veríssimo, às vezes eles voltam para se vingar, reclamar uma posição na sociedade ou simplesmente resgatar a velha rotina, e aprendem que permanecer morto pode ser o melhor caminho. Veio da França um dos melhores exemplos de mortos conscientes, uma produção que carrega dramaticidade sobrenatural, com elementos intrigantes e muito mistério, tornando-se um dos maiores sucessos de 2012, e a consagração com o Emmy de Melhor Série Dramática. Les Revenants é uma criação de Fabrice Gobert, levemente baseada em um longa homônimo de 2004, dirigido por Robin Campillo, e que contou com 8 episódios, exibidos em sessões duplas, tendo a première em 26 de novembro de 2012 no Canal+.

A premissa básica envolve uma pequena comunidade francesa, com um belo pano de fundo montanhês, marcada por duas grandes tragédias: a destruição de uma barragem, que causou uma grande inundação e muitas mortes 35 anos atrás; e um acidente com um ônibus escolar que culminou com a morte de várias crianças, quatro anos antes dos eventos atuais. Com a lembrança ainda amarga, os pais que perderam seus filhos organizam encontros semanais e planejam um memorial para as vítimas, sem imaginar que distante dali um dos pequenos está desorientado a caminho de casa.

Camille Séguret (Yara Pilartz) retorna para seu lar, sem qualquer lembrança do acidente. Passado o susto inicial, sua mãe Claire (Anne Consigny), separada de Jerôme (Frédéric Pierrot, que participou do filme de 2004), pensa que talvez seja melhor esconder a filha dos demais cidadãos para evitar um assédio exagerado e questionamentos sobre a razão de somente ela ter voltado. Nem todas as pessoas irão recebê-la bem, como aconteceu com sua irmã gêmea Lena (Jenna Thiam), com 19 anos, que parece culpá-la pela tragédia, embora sua raiva seja decorrente da dificuldade em aceitar todas as lágrimas despejadas. Mas, não foi apenas Camille que voltou.

O músico Simon (Pierre Perrier) estava prestes a se casar com a amada Adèle (Clotilde Hesme), quando morreu a caminho da igreja, dez anos antes. Ela, que estava grávida de Chloé (Brune Martin), está em um novo relacionamento, com o capitão Thomas (Samir Guesmi), mas vive com a sombra do fantasma do falecido namorado, em visões que sempre a perturbaram. Com a volta de Simon, ela demora a aceitar a nova situação, mas é orientada pelo padre da cidade a tentar se aproximar daquilo que a incomoda em busca de respostas para suas dores.

Também está de volta o estranho garoto Victor/Louis (Swann Nambotin), morto 35 anos antes. Sem falar muito, ele se aproxima da enfermeira Julie Meyer (Céline Sallette), sobrevivente de uma tentativa de assassinato, ocorrido há sete anos. O crime, cometido pelo serial killer morto-vivo Serge (Guillaume Gouix), afastou-a da namorada e transformou sua vida em um inferno depressivo, melhorada com a chegada do menino. Julie cuida do senhor Michel Costa (Claude Leveque), recentemente abalado pelo retorno da esposa, Viviane (Laetitia de Fombelle), morta na mesma época. Apesar dos cuidados, ele não conseguirá aceitar a pressão e se jogará da barragem, depois de queimar a residência com ela dentro.

Serge (Guillaume Gouix) é um terrível assassino, que costumava atacar suas vítimas na passagem por um pequeno túnel. Além de esfaquear as jovens que cruzavam seu caminho – como a garçonete Lucy Clarsen (Ana Girardot) -, ele tinha como hábito devorar o fígado delas. Seu retorno incomoda seu irmão Toni (Grégory Gadebois), preocupado com a possibilidade de que ele possa retornar à rotina, algo que não demorará a acontecer.

Todos esses personagens afetarão o dia-a-dia da pequena cidade. Mas, além dos questionamentos sobre a razão pela qual voltaram, eles trarão ainda mais dúvidas, como a respeito da garçonete que tem habilidade de prever o futuro, durante atos sexuais, assim como a sinistra e fria Viviane. Por que o menino influenciou o acidente de ônibus, e qual seria a razão de seu retorno? Ao invés de abrandar a dor dos vivos, os “retornados” trarão mais dores e problemas por todos os lados, assim como a ameaça de que algo grande esteja próximo de acontecer.

Embora a linguagem seja lenta e melodramática, a edição eficiente torna todo o processo dinâmico e curioso. Contribuem para a plasticidade de seu conteúdo, a boa direção de Fabrice Gobert, Frédéric Goupil e Frédéric Mermoud, e a fotografia de Patrick Blossier, principalmente na sequência final quando todos os mortos, em sombras como os fantasmas de A Bruma Assassina, resolverem reclamar por aqueles que voltaram. Comparada aos mistérios de Twin Peaks, Les Revenants fez tanto sucesso que inspirou uma refilmagem americana, The Returned, desenvolvida por Carlton Cuse, e promoveu uma segunda temporada, exibida apenas três anos depois, em 2015.

Para aqueles que gostam de tudo mastigado, a primeira temporada não responderá a todas as perguntas, deixando grande parte das respostas para o próprio público, entre reflexões e teorias. De qualquer maneira, nem era preciso mesmo responder; assim como alguns cidadãos da cidade francesa, há dúvidas que deveriam ser mantidas mortas e enterradas.

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Marcelo Milici

Professor e crítico de cinema há vinte anos, fundou o site Boca do Inferno, uma das principais referências do gênero fantástico no Brasil. Foi colunista do site Omelete, articulista da revista Amazing e jurado dos festivais Cinefantasy, Espantomania, SP Terror e do sarau da Casa das Rosas. Possui publicações em diversas antologias como “Terra Morta”, Arquivos do Mal”, “Galáxias Ocultas”, “A Hora Morta” e “Insanidade”, além de composições poéticas no livro “A Sociedade dos Poetas Vivos”. É um dos autores da enciclopédia “Medo de Palhaço”, lançado pela editora Évora.

One thought on “Les Revenants – 1ª Temporada (2012)

  • 28/07/2019 em 21:48
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    Saudades dessa série! Cenários lindos, excelente fotografia em tons cinzentos, trilha sonora impecável, tudo envolvendo o expectador no clima do enredo. Apesar do desenvolvimento lento, não entedia em momento algum, pois você simplesmente não consegue parar de assistir e de querer saber mais sobre os mistérios da trama, o que aconteceu com cada personagem que retornou, o que os trouxe de volta. Foi uma pena ter demorado tanto a ser lançada a segunda temporada (a espera foi terrível!) e que tenha ficado abaixo da qualidade da primeira, na minha opinião.
    Com certeza está entre minhas séries mais recomendadas.

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