Trem Fantasma
Original:Dark Ride
Ano:2006•País:EUA Direção:Craig Singer Roteiro:Robert Dean Klein, Craig Singer Produção:Daniel Bickel, Chris M. Williams Elenco:Jamie-Lynn Sigler, Patrick Renna, David Clayton Rogers, Alex Solowitz, Andrea Bogart, Jennifer Tisdale, Brittney Coyle |
Como dizia o Danny Glover na série Máquina Mortífera, “Estou ficando velho para essas coisas…”. Sabiam que quando eu vi as fotos e o trailer de Trem Fantasma eu até me emocionei? Sabiam que quando eu vi a primeira meia hora do filme eu até acreditei que ele tivesse futuro? Sabiam que até agora eu me acho um idiota por causa das duas frases anteriores? Isso porque Trem Fantasma, apesar das fotos muito legais que você provavelmente vai encontrar na internet, é apenas mais um filme slasher como centenas de outros, nem mais violento nem mais interessante. Até aí, tudo bem; para quem curte de tudo um pouco, há diversos slasher movies divertidos, mesmo os mais ruinzinhos. Não é o caso aqui: Trem Fantasma raramente diverte e tem aquele ar de “piada repetida” (que você já sabe de cor, mas escuta novamente só pra não perder o amigo e depois ainda capricha na risada amarela).
No começo, até pensei que esta produção barata dirigida por Craig Singer (e escrita a quatro mãos com Robert Dean Klein) fosse uma homenagem ao clássico dos anos 80 Pague para Entrar, Reze para Sair, de Tobe Hooper, já que a história é praticamente a mesma. Em ambos, inclusive, o desenvolvimento da trama é lento na primeira parte, com muitos diálogos e “construção de clima” antes das mortes começarem. Pena que onde Hooper mostrou-se um bom diretor, o novato Singer derrapa feio. E isso que o filme até começa bem, com duas crianças, irmãs gêmeas, indo fazer um passeio num trem-fantasma supercool chamado “Dark Ride“. No interior do brinquedo, ambas são mortas e esquartejadas por um maníaco – o que pega o espectador de surpresa, pois matar crianças não é comum no cinema de horror moderno.
Uma década se passa, o assassino é preso num sanatório e o “Dark Ride” é fechado. A partir de então, o roteiro conta a história de cinco jovens que vão fazer uma longa viagem de van até Nova Orleans, aproveitando um feriadão na escola. O motorista, Jim (Alex Solowitz), é um maconheiro que parece o Anthony Michael Hall, aquele loirinho que aparecia nas comédias românticas dos anos 80. Tem também o típico cara legal, Steve (David Rogers); o feioso cinéfilo Bill (Patrick Renna), que passa o tempo citando filmes; e duas meninas xaropes, Cathy (Jamie-Lynn DiScala) e Liz (Jennifer Tisdale). No caminho, o grupo ainda pega uma caroneira maluquinha, Jen (a gostosa Andrea Bogart), o que por alguns minutos me lembrou o desastroso A Casa dos 1000 Corpos, de Rob Zombie.
Depois de uns 40 minutos de bla-bla-bla, uma ridícula cena num posto de gasolina e alguns momentos exageradamente cômicos (inicialmente, pensei até que a intenção era fazer uma sátira ao gênero, e não um terror sério), os jovens resolvem fazer um desvio no curso da viagem (não!!! não!!!!!!) e visitar um parque de diversões desativado, o mesmo onde existe o tal “Dark Ride”, claro. O brinquedo vai ser reinaugurado em alguns dias, mas eles não pretendem esperar; burros como umas portas, os seis adolescentes invadem o trem-fantasma e resolvem passar a noite lá dentro, porque, você sabe, é tãoooooo emocionante ficar à toda dentro de um trem-fantasma.
Logo, acontece aquilo mesmo que você está esperando: eles começam a se separar em grupinhos. Jim sai para transar com a caroneira maluca (e tarada), que sobrevive tempo suficiente para pelo menos mostrar os peitos; Cathy aplica um trote em Steve, que fica furioso e sai fazendo beicinho; os outros ficam perambulando pra lá e pra cá. Um mau negócio, já que o tal assassino psicopata que atacou anos antes acabou de fugir do manicômio. E, obviamente, foi buscar abrigo no velho trem-fantasma!!! Fala a verdade: pode algo ser mais clichê?
O diretor Singer até tem seus momentos inspirados, estilo “Quero ser Eli Roth”, principalmente numa piada violenta e extremamente sexista: enquanto Jen faz um boquete em Jim, o assassino aparece de mansinho e decepa a cabeça da moça, que fica pendurada no bilau do cara; nem precisa dizer que ele, todo emocionado, nem percebe que aquele boquete aparentemente tão gostoso está sendo feito por uma cabeça cortada!!! hahahaha. No geral, entretanto, Trem Fantasma fica muito abaixo da média. A história, se é que existe, é ridícula. Os personagens passam o filme inteiro falando bobagem ou andando no escuro, sem fazer uma única ação inteligente. E algumas cenas parecem mais comédia do que horror (como o ridículo flashback mostrando como o psicopata escapou do manicômio). Para piorar, as mortes são quase todas off-screen, com exceção da melhor cena do filme inteiro, quando um guarda de segurança tem a cabeça cortada ao meio com um facão e as metades caem uma para cada lado (nada de CGI, é efeito à moda antiga mesmo!).
O que parece é que o cineasta gastou toda a criatividade no visual do assassino: um gigante demente, que usa uma máscara com cara de criança. De resto, é tudo a lenga-lenga de sempre. Até o nome do matador, Jonah, parece querer lembrar “Jason”!!! Quando você trabalha com um enredo tão batido, o mínimo que pode fazer é tentar divertir o espectador. Nem isso Singer consegue fazer. A edição é péssima, abusando de repetidos takes dos monstrinhos e cenários do trem-fantasma (tudo bem que o cenário é ótimo, mas não precisa mostrá-lo a cada 30 segundos). E o ritmo é tão pesado quanto um elefante equilibrando-se sobre uma bigorna: demora uma eternidade para acontecer alguma coisa. Apesar de raramente surpreender (como quando mata por primeiro o personagem que todos pensam ser o herói), o diretor parece indeciso entre fazer terror sério ou sátira – e alguns atores, como Alex Solowitz e Andrea Bogart, certamente pensam que estão trabalhando numa comédia.
Mas Trem Fantasma explode mesmo, como a bomba que é, quando apela para um final-surpresa dos mais bisonhos, estilo “adorei Jogos Mortais”. Quem resistir às gargalhadas com tal revelação, provavelmente vai ficar morrendo de vontade de quebrar o DVD em 30 pedaços, o que pode ser extremamente prejudicial, ainda mais se ele for alugado. No fim, o filme parece um verdadeiro passeio no Trem Fantasma de algum parque de diversões fuleiro: não dá medo e, 10 minutos depois, você já esquece de tudo que viu.
A única boa cena é ainda uma cópia de uma cena de Vampiros de John Carpenter, a do cara partido no meio. De resto, é bondade demais essas duas estrelas da avaliação. Um dos piores filmes que já vi. Sem graça, sem talento, ruim de doer.
É ruim mesmo esse filme uhauha a ÚNICA parte que presta é realmente a morte do guarda.