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O terror parecia um gênero morto na segunda metade da década de 40 e década de 50. Os estúdios da Universal, depois de intensa produção na década de 30 e começo da década de 40, com seus personagens de terror e monstros apresentados em preto-e-branco, com muitas sombras (ainda reflexos das revoluções apresentadas pelo cinema expressionista alemão dos anos 10 e 20), encerrava sua produção ou a limitava a sátiras e gozações (vide Abott e Costello Meet Frankenstein, de 1948). O próprio produtor Val Lewton, representante máximo do terror em preto-e-branco, sutil e com baixo orçamento, não conseguia mais sucesso.

O Vampiro da Noite (1958)
O Vampiro da Noite (1958)

Esta situação era decorrente de alguns fatores: 1 – o cansaço do público perante os filmes de terror insinuado e de monstros antigos, sempre em preto-e-branco; 2 – a insistência dos produtores em afirmar que filmes de terror coloridos não funcionariam; 3 – o envelhecimento (e, lamentavelmente, perda de carisma) dos grandes atores do terror, como Bela Lugosi e Boris Karloff; 4 – a Guerra Fria, que apresentava situações reais de maior terror do que os antigos filmes, além de propiciar uma enxurrada de monstros “novos” no cinema, quer frutos de radiação atômica (provocada por uma guerra nuclear que dizimaria o planeta) ou quer resultantes de invasões extraterrestres (onde os invasores dominadores e maus eram sempre uma referência direta e bastante negativa aos soviéticos).

Quando o gênero parecia irremediavelmente condenado, surge, em 1957, um filme de terror vindo da Inglaterra, produzido por um desconhecido estúdio, Hammer Films, que conseguiu grande sucesso no mercado norte-americano: The Curse of Frankenstein, estrelado pelos até então desconhecidos Peter Cushing (como o Barão Frankenstein) e Christopher Lee (como a criatura). No ano seguinte, já contando com os copyrights da Universal (que distribuiria mundialmente e financiaria metade dos custos da produção dos filmes feitos pela Hammer), Horror of Dracula (no Brasil ficou conhecido como Horror de Drácula ou Vampiro da Noite), outra vez estrelado por Cushing (desta vez como Dr. Van Helsing) e Lee (como Drácula, personagem que marcaria sua vida para sempre), arrebatou um sucesso ainda maior que o filme anterior e recolocou o terror como um dos grandes gêneros cinematográficos do final dos anos 50 e início dos anos 60.

A Maldição de Frankenstein (1957)
A Maldição de Frankenstein (1957)

Qual era o segredo do sucesso destes filmes? Dirigidos pelo excepcional (e subestimado) diretor Terence Fisher e com roteiros do genial Jimmy Sangster (que tinha talento para criar as situações mais aterradoras com os estereótipos mais comuns), eles apresentavam os filmes de terror com uma inédita selvageria, carregando as histórias com bastante violência, cenas com “climas pesados“, muita sensualidade (normalmente atrizes de peitos grandes e pequenos decotes) e, principalmente, cores. Ao contrário do que imaginava os produtores de filmes norte-americanos, as cores poderiam ser utilizadas para criar terror: no início do Horror of Dracula, gotas de sangue caem sobre o nome Drácula escrito no caixão, efeito que provocou muita polêmica na época, com a crítica especializada classificando a cena como de mau gosto e de violência gratuita.

Os tempos também eram outros e a Hammer soube entender as mudanças. Analisemos, por exemplo, o personagem Drácula. O Drácula criado por Bela Lugosi para a Universal dos anos 30 era um personagem que vivia de luz e sombra, situação que Lugosi dava corpo e voz de uma maneira perfeita: ele carregava em si a tortura do morto-vivo que enfrentava o seu destino perverso. Já o Drácula de Lee é de outra natureza: além de ser a cores (o vermelho representa, mais do que nunca, o desejo… e a morte!), o personagem não se interroga sobre seu “terrível” destino, vivendo-o apenas. O mal está na sua própria natureza, bastando-lhe, portanto, apenas vivenciá-lo.

Drácula (1931)
Drácula (1931)

Não foi apenas o personagem Drácula que fez sucesso nas produções da Hammer: Terence Fisher iria dirigir uma série de grandes clássicos do cinema de terror que, infelizmente, não foram bem aceitos pela crítica cinematográfica – acusados, injustamente, de se utilizarem apenas dos estereótipos dos personagens. Assim, obras-primas como O Cão dos Baskervilles (uma das melhores transposições – em clima de terror – para o cinema do clássico conto do personagem Sherlock Holmes, criado por Arthur Conan Doyle, e maravilhosamente interpretado por Cushing), A Górgona (onde a personagem Medusa, a mulher de cobra nos cabelos que transforma todos aqueles que a olham em pedra, é recuperada num espaço tipicamente inglês, ou seja, cheio de névoas, sombras e chuva) e As Duas Faces do Monstro (onde a famosa história do Médico e o Monstro, de Robert Louis Stevenson, ganha uma inusitada visão: o monstro é apresentado com um homem lindo e encanador, além de totalmente amoral), entre outros grandes filmes, ainda hoje não receberam o respeito que merecem.

De qualquer forma, o terror não seria mais o mesmo: estes quatro personagens (Lee, Cushing, Fisher e Sangster) recolocaram o terror como um gênero lucrativo, fizeram a fortuna do estúdio Hammer e foram referência para praticamente toda a produção de terror dos anos 60 e início dos anos 70, quando a produção dos estúdios Hammer entrou em decadência artística e comercial.

O Vampiro da Noite (1958)
O Vampiro da Noite (1958)

Uma das maiores obras inspiradas na “onda” de terror desencadeada pela Hammer foi Psicose, do mestre Alfred Hitchcock – que, declaradamente, aproveitou do sucesso dos filmes de horror da época para recriar pesadíssimo ambiente do Bates Motel e do casarão onde viviam Norman Bates e sua mãe. Apesar de ter sido filmado em preto-e-branco, a selvageria da obra de Hitchcock está mais próxima dos filmes da Hammer do que das antigas produções da Universal.

Psicose (1960)
Psicose (1960)

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1 comentário

  1. Que legal! =)
    É bom adquirir conhecimentos de trechos da história do cinema de Horror!
    Muito boa a matéria!

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