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por Luiz Saulo Adami

Clássico é clássico; isto não é retórica, é uma verdade intocável. Para quem acredita que uma refilmagem ou uma continuação de um clássico possa agradar tanto quanto a “matriz“, uma surpresa desagradável: ainda está para ser produzido um filme que consiga este feito. Pior para Dino de Laurentiis, que pensou que isso não passava de superstição. Em 1976, ele armou-se do roteiro escrito por Lorenzo Semple Jr. e foi em busca de seu objetivo: produzir o King Kong (King Kong, 1976), dirigido por John Guillermin para a produção executiva de Jack Grossberg.

Nesta refilmagem, a ação se passa na New York de 1976, com Jessica Lange vivendo Dwan, a bela por quem King Kong se apaixona ao encontrá-la em seus domínios, uma ilha misteriosa e nevoenta conhecida por Skull, na Micronésia. Dwan é encontrada à bordo de um bote, depois de um naufrágio, por exploradores da Companhia Petrox, que vão para Skull atrás de uma possível fonte de petróleo. Na expedição, está o zoólogo Jack Prescott, interpretado por Jeff Bridges, que conhece relatos de que existe um animal pré-histórico que provavelmente habite a ilha.

Skull é habitada por nativos que adoram um gorila, Kong, como se fosse seu deus. Presa pelos nativos, Dwan é oferecida a Kong em um ritual. Prescott e os demais tripulantes do navio saem em sua defesa. Kong é capturado e levado para New York, onde vira atração. Ele foge das correntes e da jaula que o prendem, e levam Dwan consigo. Prescott passa a combater a fera, que vai destruindo tudo que encontra pela frente. Vai com a bela para o topo do edifício World Trade Center. Chegam os helicópteros do exército. Kong os combate até o fim. Abatido, cai do edifício. No chão, o seu coração bate mais forte do que qualquer outro som. Antes de morrer, ele vê Dwan ao seu lado, chorando.

Foram oito meses de filmagens, e os press-releases distribuídos pela assessoria de imprensa da Dino de Laurentiis Corporation falavam sobre um engenhoso monstro mecânico pesando 6,5 toneladas, capaz de cobrir 15 pés com um só passo, controlado eletronicamente por um complexo sistema de válvulas hidráulicas que o possibilita mexer os olhos e lhe dá 16 movimentos independentes para as mãos. O mais famoso destes movimentos é o que lhe permite levantar Dwan com seus imensos dedos. Afirma ainda que foram movimentados mais de 200 profissionais da área cinematográfica, que utilizaram sete sound stages, incluindo o maior de Hollywood, e que viajaram através do Pacífico até Kauai, a mais bela e remota ilha do arquipélago hawaiano, como também em New York, onde a filmagem foi feita em 1976.

Num dos últimos dias na ilha“, prosseguiu o material de divulgação, “a equipe lançou um nevoeiro para se criar a atmosfera misteriosa e assustadora do lar de Kong. Turistas e habitantes na praia de Haneli Bay ficaram impressionados em ver um dia claro e cheio de sol desaparecer no nevoeiro hollywoodiano“. Um dos cenários mais impressionantes do filme é o muro que cerca os domínios de Kong. Foi construído, segundo a assessoria de imprensa, com 47 pés de altura, comprimento que alcançava 500 pés, com duas rampas fortes o bastante para suportar o peso de 300 atores entoando “Kong, Kong, Kong“. Este cenário foi elogiado por Ingmar Bergman. Na sua construção, foram utilizados 8,1 mil troncos de eucalípto, 126 mil jardas de cordas, 150 postes de plástico, 1,35 mil galões de tinta. Levou duas semanas para ser construído, a um custo final de US$ 800 mil. Os efeitos especiais foram criados por Carlo Rambaldi, e Aldo Puccini realizou os desenhos de miniaturas. Para “vestirKing Kong, foi chamado Michael Dino, especializado na preparação de perucas. Das 34 amostras de pelo, a selecionada foi a de cavalo, e a produção importou 4 mil pounds da Argentina. “Para que o pelo tivesse uma cor uniforme, alguns foram pintados. Isso feito, 100 pessoas começaram o trabalho que durou meses. Depois do pelo amarrado em centenas de painéis, cada um destes foi colado num molde de plástico que então cobriu o esqueleto de Kong“, destaca o press-release.

Na opinião de Sylvio Gonçalves, Laurentiis investiu alto na produção, US$ 25 milhões, mas investiu mais ainda “numa publicidade enganosa“, divulgando que um gorila mecânico gigante teria sido usado nas filmagens. O tal gorila – um boneco estático desenhado por Carlo Rambaldi – realmente foi usado numa cena (um similar correu o mundo em apresentações circenses e esteve no Brasil), mas, no resto do filme, o que vemos é o maquilador Rick Baker metido numa fantasia de macaco. O resultado mostrou-se não convincente, e, a despeito de alguns pontos altos, o filme ficou arrastado e com “gosto de cópia“. Mas como todo italiano, Laurentiis insistiu, teimou, bateu pé, até que conseguiu dinheiro para fazer a continuação desta refilmagem.

King Kong 2 (King Kong Lives, 1986), dirigido também por John Guillermin, desta vez com Brian Kerwin, Linda Hamilton, John Ashton, Peter Michael Goetz, Frank Maraden e Alan Sader. Neste filme, o gorila é ressuscitado, e forma uma família, o que, cá para nós, foi forçar muito a barra. “Não respeitam nem mais o velho Kong“, reclama Sylvio Gonçalves, em Cinemin. Com esta produção, King Kong despediu-se melancolicamente dos cinemas, na década de 1980. O que não significa que ele não seria esquecido. Afinal, clássicos nunca morrem. Independente de qualquer versão, continuação ou refilmagem, King Kong é um filme sensível, que oferece inúmeras possibilidades aos roteiristas e realizadores. Estes profissionais sabem, assim como nós, que o público merece respeito. E as grandes ideias, também.

King Kong 2 (1986)

Uma espécie “maquiada” de King Kong foi lançada pelo próprio Schoedsack, Monstro de um Mundo Perdido (Joe Young / Mighty Joe Young, 1949), com efeitos especiais e trucagens mil de Willis O’Brien e Ray Harryhausen, que apresentava uma “nova versão” de Fay Wray: Terry Moore. As técnicas de animação utilizadas eram visivelmente mais sofisticadas do que as de King Kong (1933). O gorila Joe, a exemplo de Kong, botava para quebrar (literalmente!). A conta que o estúdio gastou nas cenas de destruição de mobília deixaram os executivos com a macaca. Além de Moore, estavam no elenco Ben Johnson, Robert Armstrong, Mr. Joseph Young e Frank McHugh.

Monstro de um Mundo Perdido (1949)

Outra “maquiagem” de King Kong e uma mistura de A Bela e a Fera foi lançada por Harmon Jones, diretor de Gorilla at Large (1954), com Cameron Mitchell às voltas com um gorila, atração de um circo, que decide capturar sua namorada. A Noiva de Kentucky, título de lançamento no Brasil, apresentava Rick Baker dentro da fantasia de gorila. No elenco, estavam ainda Anne Bancroft, Lee J. Cobb, Raymond Burr e o novato Lee Marvin.

Nota do autor: Esta breve filmografia de King Kong foi organizada com a colaboração de Tina Rosa, de Brusque (SC), Haroldo Esteves, do Rio de Janeiro e de Jeff Krueger, de Anahein, California (EUA).

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4 Comentários

  1. King Kong 76 , tem a maravilhosa Jessica Lange quase nua c suas pernas q são perfeitas !

  2. A versão de 76, para mim é um clássico gigantesco que marcou minha infância, com imagens que pra época eram surpreendentes.
    Uma produção tosca, para os padrões atuais, mas cinemão pra época.
    Toda platéia lotada vinha abaixo, quando ele mergulhava Dwan na cachoeira.
    Eu tive até o álbum de figurinhas;
    Um filme para funcionar, não tem que obedecer as tais estruturas cinematográficas, receber as bençãos dos críticos, tem que emocionar quem assiste.
    King Kong de Dino de Laurenttis cumpriu seu papel. Ficou eternizado na história.

    1. Amigo Patrick, perfeito seu comentário. “Um filme para funcionar, não tem que obedecer as tais estruturas cinematográficas, receber as bençãos dos críticos, tem que emocionar quem assiste.
      King Kong de Dino de Laurenttis cumpriu seu papel. Ficou eternizado na história.”

      Nada a acrescentar… King Kong 1976 é um filme emocionante.

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