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Se você se aventura pela internet desde os anos 2000 ou começo de 2010, você deve saber o que são lendas urbanas. Apesar de este termo ser usado muito antes de a internet que conhecemos hoje surgir, os fóruns online e redes sociais definitivamente as popularizaram entre o público jovem. Basicamente, as lendas urbanas são histórias assustadoras do gênero folclore. Antigamente, eram passadas oralmente em encontros como acampamentos, e agora estão presentes em vários tipos de mídia e em diferentes formatos.

Você já deve ter ouvido falar de algumas lendas urbanas brasileiras, como a Loira do Banheiro, o Homem do Saco, a brincadeira do compasso, o Bradador, entre outras. Mundialmente falando, temos o Pé-Grande, a Área 51, Slenderman, Bloodymary e muuuitas outras.

Porém, no Brasil, a maior parte das lendas urbanas contadas são nacionais ou ocidentais. Apesar disso, países asiáticos como Japão, Coreia, Malásia, Tailândia e mais possuem lendas urbanas de arrepiar.

O Boca do Inferno bateu um papo com Luiza Akemi, fundadora do canal no YouTube ‘Cafezinho Investigativo’. A publicitária, de 28 anos, reside em Brasília e conta com mais de 400 mil inscritos em seu canal, onde narra lendas urbanas asiáticas e também casos criminais que aconteceram no continente.

Confira a entrevista na íntegra:

Boca do Inferno: O YouTube possui muitos canais brasileiros que contam lendas urbanas, especialmente nacionais e que se originaram no ocidente. Assim, o Cafezinho Investigativo se diferencia por contar lendas urbanas asiáticas. Como esta ideia surgiu?

Akemi: Na verdade, o Cafezinho Investigativo começou como um quadro no meu outro canal, Luiza Akemi. Eu já criava vídeos sobre meu intercâmbio de um ano na Coreia do Sul e, no Halloween de 2021, resolvi fazer uma maratona de vídeos temáticos, fugindo um pouco do que eu costumava postar. Entre esses vídeos, incluí lendas urbanas e casos criminais históricos da Coreia. Para minha surpresa, eles fizeram MUITO sucesso, e o público começou a pedir que esse tipo de conteúdo se tornasse fixo no canal.

Acho que o que fez esse quadro estourar foi o fato de eu trazer casos menos conhecidos ou que eram difíceis de encontrar em português. Isso me deu a ideia de expandir o foco de “casos criminais coreanos” para “casos criminais na Ásia” como um todo, porque existem muitas histórias intrigantes e pouco reportadas no Brasil.

Uma das coisas que me ajudou muito nesse processo foi o meu intercâmbio. Fiz amizade com pessoas de vários países asiáticos—coreanos, indonésios, vietnamitas, chineses—e também tenho uma mãe fluente em japonês. Então, várias vezes, pedi ajuda para traduzir textos e encontrar fontes que não estavam disponíveis em inglês ou português. Esse sempre foi um dos meus maiores diferenciais: conseguir acessar informações mais detalhadas direto de fontes asiáticas.

Com o tempo, percebi que esse tipo de conteúdo tinha um público muito específico e apaixonado, e que misturá-lo com os outros vídeos de viagem e beauty estava deixando o canal meio bagunçado. Foi aí que decidi criar um canal só para o Cafezinho Investigativo, dando a ele uma identidade própria. E essa foi, sem dúvida, uma das melhores decisões que já tomei!

Boca do Inferno: Muitas pessoas passaram a conhecer lendas urbanas na infância, seja por que algum irmão mais velho quis a amedrontar com histórias macabras ou por ter encontrado lendas na internet. Quando você era criança, havia alguma lenda urbana que te deixava acordada a noite?

Akemi: Eu cresci em uma família com muitos familiares espíritas e budistas, então, quando criança, cogitei a possibilidade de espíritos serem reais. Por isso, nem precisava ir atrás de lendas urbanas pra ficar com medo—minha imaginação já fazia todo o trabalho sozinha, rs.

Mas preciso admitir que O Chamado me marcou muito. Foi o primeiro filme de terror que eu vi, e a cena da Samara saindo da TV ficou na minha cabeça por anos. Eu evitava olhar pra tela da TV desligada no escuro, só por precaução… vai que, né?

O Chamado (2002)

Boca do Inferno: Sabemos que o Japão é popularmente conhecido por possuir histórias macabras, que arrepiam pessoas do mundo todo. Na sua opinião, as lendas urbanas japonesas são realmente as mais assustadoras da Ásia? E qual a lenda urbana do país mais te assusta?

Akemi: Pois é, sempre achei curioso como o Japão tem tanta lenda urbana macabra! Toda vez que eu pesquiso pra escrever um roteiro, sempre tem mais lenda japonesa—e, sinceramente, acho que são as mais assustadoras mesmo.

Agora, as lendas que mais me assustam são as que envolvem coisas do dia a dia. Tipo a do Red Room, sobre um pop-up assombrado que aparece do nada na tela do computador. Eu passo o dia inteiro no PC, muitas vezes até de madrugada, então né… prefiro nem pensar muito nisso kakaka.

Boca do Inferno: Por qual razão você acredita que o Japão tem uma cultura de lendas sombrias tão aflorada?

Akemi: Acho que o Japão tem essa cultura de lendas urbanas tão forte porque sempre teve uma relação muito próxima com o sobrenatural. Desde os yokai (criaturas folclóricas) até os yūrei (espíritos vingativos), essas histórias fazem parte da tradição japonesa há séculos e foram sendo adaptadas com o tempo. Mesmo hoje, com a internet e a tecnologia, novas lendas continuam surgindo por meio de creepypastas do 2Chan, só que adaptadas à nova realidade.

Além disso, o jeito que o Japão faz terror é muito único. Em vez de focar só em sustos e violência explícita, o horror japonês trabalha muito com tensão psicológica, silêncios incômodos e imagens que ficam na sua cabeça por dias. Pra mim, um terror sutil é muito mais eficiente.

Boca do Inferno: Durante o seu intercâmbio na Coreia do Sul, você passou a conhecer alguma lenda urbana coreana que até então desconhecia? Qual?

Akemi: Nossa, pra falar a verdade, durante o intercâmbio eu não lembro de ter descoberto nenhuma lenda nova… A única coisa que me assustava de verdade era a minha professora de coreano intensivo e as 200 palavras de vocabulário que eu precisava aprender por dia.

Ah, mentira! Foi essa mesma professora que me contou sobre a lenda de escrever nomes com caneta vermelha. Segundo a crença, escrever o nome de alguém em vermelho é um grande azar, porque no passado era assim que se registravam os nomes de pessoas falecidas. Então, se você escreve o nome de alguém vivo com essa cor, é como se estivesse desejando a morte dela.

Boca do Inferno: Quando você faz as suas pesquisas para contar as lendas urbanas no Cafezinho Investigativo, quais fontes costuma usar? Ex: livros, jornais asiáticos, vídeos no YouTube etc.

Akemi: Quando faço minhas pesquisas para o Cafezinho Investigativo, eu geralmente salvo vídeos, podcasts e posts que encontro casualmente em uma pasta chamada “conteúdo pro canal“. Depois, eu assisto ou leio pra ver do que se trata e, se for interessante, começo a procurar mais informações em inglês, em fontes confiáveis como o The New York Times, BBC e The Guardian, por exemplo. Essas fontes me ajudam a confirmar os detalhes principais da história.

Aí, depois, vou mais a fundo e procuro por mais informações e fotos na língua nativa do caso. Se for algo japonês, eu geralmente uso o Yahoo Japão e peço pros meus familiares me ajudarem na tradução. Quando o caso é coreano, eu vou atrás no Naver e até tento me virar para traduzir sozinha. Para outros idiomas, acabo usando o Google Tradutor, mas só pra achar imagens ou detalhes mais específicos, como datas e nomes. Não me baseio só no tradutor, prefiro sempre verificar as fontes em inglês primeiro.

Boca do Inferno: De todas as lendas urbanas que você já contou em seu canal, qual você considera a que mais causa arrepios?

Akemi: Acho lenda que foi uma que eu postei recentemente, sobre a “BONECA VIVA” mais AMALDIÇOADA DO JAPÃO, conhecida como a “Annabelle Japonesa“. Eu achei muito assustadora porque, supostamente, é uma história real. O mais estranho é que existem vários vídeos e fotos dessa boneca, e enquanto eu estava editando o vídeo, confesso que fiquei com um certo medinho.

Boca do Inferno: Os seus vídeos de lendas urbanas asiáticas (assim como os de crime) fazem muito sucesso. Quais dicas você daria para criadores de conteúdo que gostariam de começar a narrar lendas urbanas, para que seus vídeos comecem a gerar resultados e engajamento? Há algum segredo por trás das suas narrações que gera tantos fãs?

Akemi: Minha dica para quem quer criar conteúdo sobre lendas urbanas é colocar sua personalidade no conteúdo. Qualquer um pode ir lá no Google e pesquisar sobre a história, então, por que a pessoa vai passar 15-20 minutos te ouvindo? Eu gosto de dar meu toque, escrevendo minhas próprias versões das lendas e criando uma narrativa mais envolvente. Por exemplo, todo mundo conhece a história da Kuchisake-onna, mas eu adoro começar o vídeo criando um cenário onde você, meu inscrito, está encontrando a Kuchisake-onna. E, claro, coloco meu humor, porque lenda urbana é lenda urbana, né? Não precisa ser tão sério.

Já com os casos de crimes reais, a abordagem é totalmente diferente. Eu faço muita pesquisa, e trato de forma mais séria, porque são casos reais. Mas nas lendas urbanas, dá pra soltar a criatividade, se divertir com a história e prender mais a atenção do povo.

Boca do Inferno: Em suas palavras, qual é a importância das lendas urbanas na cultura popular asiática?

Akemi: Eu acho que as lendas urbanas são parte da cultura. Muitas delas são super antigas e acabam refletindo os medos, crenças e até os costumes das sociedades. Elas nos ajudam a entender melhor o povo de onde elas vêm. Por exemplo, a lenda do Cheonyeo Gwisin, o fantasma virgem na Coreia, fala sobre o espírito de uma jovem que morre antes de se casar. Isso reflete a pressão tradicional sobre as mulheres para cumprirem certos papéis sociais, como casar e ter filhos, e como uma vida interrompida pode gerar dor e vingança.

Boca do Inferno: Por fim, nos recomende uma lenda urbana asiática pouco conhecida mas que vale muito a pena ser lida/ouvida!

Akemi: Infelizmente, muitas pessoas não conhecem muito sobre os países do Sudeste Asiático, e isso inclui as lendas urbanas dessa região. São lendas super interessantes, mas pouco conhecidas fora da Ásia. Eu sugiro algumas que eu já cobri no canal:

  • Pontianak: Uma lenda da Malásia e Indonésia. A Pontianak é o espírito de uma mulher que morre durante o parto ou de forma trágica, e ela aparece como uma mulher bonita, mas na verdade é um espírito vingativo que ataca homens.
  • Krasue: Vinda da Tailândia e Camboja, a Krasue é uma mulher que, à noite, se transforma em um espírito com a cabeça flutuante e os órgãos internos expostos, saindo em busca de sangue e carne.
  • Pocong: Da Indonésia, a lenda da Pocong fala do espírito de um defunto que não foi devidamente enterrado. Com o corpo amarrado e envolto em um sudário, o espírito sai do túmulo saltando, em busca de vingança.

Eu já fiz vídeos sobre essas lendas no canal, mas eles estão com a qualidade bem ruim, porque são mais antigos hehe. Mas ainda assim, vale a pena dar uma olhada!

Para conferir o canal de Akemi e maratonar lendas urbanas asiáticas, basta clicar aqui.

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