A 11ª edição do Festival Boca do Inferno, que aconteceu entre os dias 17 e 20 de outubro, no Shuffle Bar, em São Paulo, foi um sucesso de público, com sala cheia em todas as sete mostras competitivas e a mostra de curtas convidados. Para além de agradecer a quem compareceu pra assistir, lembramos que esse festival não seria possível sem os curadores, o trabalho de legendagem, as artes, os expositores e o Shuffle, que nos recebeu tão bem!
E não podemos nos esquecer, é claro, do júri! É hora de conhecer quem são os curtas vencedores e as menções honrosas de cada mostra, escolhidos tanto pelo júri especializado como pelo júri popular. Vamos a eles, junto com as justificativas de cada grupo de jurados:
MOSTRA SCI-FI
Jurados: Cauê Petito, Jey Carrillo e Karina Marchi
Filme Vencedor: Sincopado (Sincopat), de Pol Diggler (Espanha, 2023)
Sejam mazelas ou maravilhas, a especulação do futuro é inerente ao Sci-fi. Entre filmes que olham para a existência de organismos espaciais fora da Terra e outros que observam a existência de organismos artificiais conscientes existindo entre nós, “Sincopado”, o vencedor da mostra Sci-Fi da XI edição do Festival Boca do Inferno, especula um futuro imediato enquanto acompanhamos os efeitos que uma nova e intrigante tecnologia causa em sua protagonista, Ona (Núria Florensa). O filme de Pol Diggler utiliza o tempo limitado e imediato para passear, com bom humor, por diversas emoções que vão desde tensão, agonia e horror até uma amarga sensação de aceitação. Com uma montagem enérgica, auxiliada por trilha sonora original contagiante, o espanhol “Sincopado” é uma viagem engraçada, agoniante e assustadora – olhando para o capitalismo e a ganância de grandes corporações no processo. Em determinado momento do filme, a protagonista diz que “A ficção científica é apenas ficção até que a ciência a torne real”. “Sincopado” nos diz de forma criativa que isso nem sempre significa uma coisa boa.
Menção Honrosa: O Espaço na Terra (Il Spazio Sulla Terra), de Massimo Bulgarelli (Itália, 2023)
Campeão de nossos corações, o italiano “O Espaço na Terra”, que leva o prêmio de Menção Honrosa da mostra Sci-Fi da XI edição do Festival Boca do Inferno, utiliza como inspiração a infame transmissão de rádio feita em 1938 pelo cineasta e gênio Orson Welles, adaptada de “Guerra dos Mundos”, de H. G. Wells, que causou pânico generalizado nas pessoas da época. Com clara inspiração em filmes sci-fi dos anos 50, o filme de Massimo Bulgarelli vai muito além de um mero exercício estilístico de replicação e homenagem, utilizando de poucas locações e atmosfera charmosa para então contar uma história quase spielberguiana sobre família, esperança, medo e solidão.
Júri popular:
Vencedor: Sincopado (Sincopat), de Pol Diggler (Espanha, 2023)
Menção Honrosa: Os Refugiados (Los Refugiados), de Alejandro Hoces Guillen (Espanha, 2023)
MOSTRA SUSPENSE
Jurados: Cristian Verardi, Marcelo Milici e Paula Febbe
Filme Vencedor: Arapuca, de Joel Caetano (Brasil, 2023)
“Arapuca” tem a sensibilidade de inserir no universo do horror temas delicados e incômodos como decrepitude do corpo, senilidade, homofobia e traumas familiares, sem cair nas facilidades do cinema de exploração. Ele consegue extrair uma atmosfera de suspense e terror de uma situação familiar.
Menção Honrosa: Semeando, Florescendo e Frutificando (Seeding, Blossoming, Fruiting), de Junsong Ling (China, 2023)
Perturbador, o filme tem algumas cenas que não vamos esquecer durante um bom tempo (talvez nunca). Original, bem produzido, bem dirigido, bonito e com um roteiro competente, que faz prender a respiração em diversos momentos.
Júri popular:
Vencedor: Arapuca, de Joel Caetano (Brasil, 2023)
Menção Honrosa: Até que a Morte nos Separe (Finché morte non ci separi), de Michele Martino (Itália, 2024)
MOSTRA ANIMAÇÃO
Jurados: Filippo Pitanga, Mari Dertoni e Gabi Larocca
Filme Vencedor: A Árvore (El Árbol), de Guillermo Arias Fernández (Chile, 2022)
A Árvore se destaca em sua técnica que mistura stop motion com live action e também a fusão entre horror e drama romântico que levam a uma atmosfera notável no cenário do cinema de gênero da produção de vanguarda latino-americana atual.
Menção Honrosa: Coelhinho (Bunnyhood), de Mansi Maheshwari (Reino Unido, 2024)
Coelhinho tem uma das atmosferas mais perturbadoras dentre os curtas, bastante coerência na animação com a narrativa surrealista e caótica.
Júri popular:
Vencedor: Coelhinho (Bunnyhood), de Mansi Maheshwari (Reino Unido, 2024)
Menção Honrosa: O Fantástico Pós-Vida (com Hector Plasma), de Artur de Toledo Risi Bombonati, Daniel Furlan Peixoto, Matheus Humberto Sehnem Funari, Rodrigo Lobato Toporcov (Brasil, 2024)
MOSTRA TERRIR
Jurados: Maitê Mendonça, Oswaldo Marchi e Queops Negronski
Filme Vencedor: Fideuá, de Fran Gas (Espanha, 2023)
Fideuá é o filme escolhido, pois reúne todos os requisitos do terrir. Mescla o terror com o humor de forma equilibrada. Seus personagens são exagerados e funcionam muito bem como uma espécie de crítica. Além disso, o curta brinca com clichês do horror por meio de uma trama simples, acessível e macabra.
Menção Honrosa: O Mirmecologista (Il Mirmecologo), de Ajad Noor (Itália, 2024)
De um lado, um pesquisador dedicado preso a uma mesa e do outro, dois assassinos em série que intentam fazer do pobre cidadão a sua próxima vítima, que, entre súplicas, explica insistentemente o por que de não poder se tornar um cadáver naquela altura da sua vida, ao mesmo tempo em que os dois captores discutem os seus próprios dilemas. Bem executado, com elenco excelente e trilha sonora impecável, O Mirmecologista equilibra à perfeição a surreal situação apresentada, deixando-nos tensos ao mesmo tempo em que sorrimos.
Júri popular:
Vencedor: Fideuá, de Fran Gas (Espanha, 2023)
Menção Honrosa: Farol Alto, de Bruno Bimbati (Brasil, 2023)
MOSTRA HORROR
Jurados: Dane Taranha, Dri Cecchi e Ricardo Ghiorzi
Filme Vencedor: Final Girl, de Pavel Korotkikh (Rússia, 2024)
Final Girl traz uma abordagem inventiva e subversiva do slasher, brincando com as convenções do gênero enquanto constrói tensão e visual marcantes. Com reviravoltas inteligentes e uma protagonista interessante, o curta reinventa a “final girl” em um horror visceral e estilizado.
Menção Honrosa: Vão das Almas, de Edileuza Penha de Souza, Santiago Dellape (Brasil, 2023)
Vão das Almas evoca o folclore brasileiro ao trazer o Saci e a Matinta Pereira para um universo quilombola autêntico. Misturando misticismo, realidade e horror, o filme captura o imaginário popular e valoriza as tradições da comunidade Kalunga, criando uma atmosfera de suspense que intensifica o impacto das lendas e destaca sua força cultural e simbólica.
Júri popular:
Vencedor: Debaixo da Cama (No Bajes de la Cama), de Hector Garcia (Espanha, 2024)
Menção Honrosa: Vão das Almas, de Edileuza Penha de Souza, Santiago Dellape (Brasil, 2023)
MOSTRA FANTASIA
Jurados: Arthur Eloi, Rafael Arinelli e Daniel Medeiros
Filme Vencedor: Implacável (Juggernaut), de Daniele Ricci, Emanuele Ricci (Itália, 2023)
Implacável nos proporciona um ambiente solitário; no entanto, evoca uma certa esperança ao utilizar cores mais saturadas para destacar a força e persistência do personagem principal. Com uma narrativa linear, desperta curiosidade em relação aos próximos passos que o protagonista dará. Trata-se de um conto de fantasia medieval sombrio, muito competente na direção, fotografia e estrutura. Possui uma produção sólida e um ritmo consistente. Um destaque vai para a atuação do protagonista, que transmite suas preocupações e anseios apenas com o olhar e esforço.
Menção Honrosa: Eco (Echo), de Charly Delporte (França, 2023)
Eco destaca-se pela dinâmica e fluidez da narrativa, que mantém o espectador preso nas reviravoltas da sua trama.
Júri popular:
Vencedor: Implacável (Juggernaut), de Daniele Ricci, Emanuele Ricci (Itália, 2023)
Menção Honrosa: Umbilina e Sua Grande Rival, de Marlom Meirelles Nascimento (Brasil, 2024)
MOSTRA DIRETORAS
Juradas: Carissa Vieira, Tati Regis e Yasmine Evaristo
Filme vencedor: Balzaquianas, de Ales de Lara, Karen Furbino, Michelle Rodrigues (Brasil, 2024)
O prêmio vai para Balzaquianas por conta da sua reflexão sobre o envelhecimento feminino e a capacidade de reinvenção da mulher. Um tema profundo e importante de ser falado nos dias de hoje. Tudo isso com uma direção de arte marcante, com uma paleta de cores vibrante e uma protagonista cativante.
Menção honrosa: Noz Pecã, de Aline Gutierres (Brasil, 2024)
Reconhecemos Noz Pecã como menção honrosa não só pela força da narrativa que abraça a complexidade da experiência feminina de forma natural em uma ambientação de época, mas, também, destacamos a atuação sensível da protagonista interpretada por Jéssica Teixeira e todo o trabalho de direção de arte cuidadoso que torna tudo mais poético e atraente.
Júri popular:
Vencedor: Petrififcada, de Renata Weinberger, Iuri Bermudes (Brasil, 2024)
Menção honrosa: Balzaquianas, de Ales de Lara, Karen Furbino, Michelle Rodrigues (Brasil, 2024)
O Boca do Inferno agradece a todos os realizadores que inscreveram seus filmes nessa edição do festival. Esperamos vê-los novamente em futuras edições!