A Janela Secreta
Original:Secret Window
Ano:2004•País:EUA Direção:David Koepp Roteiro:David Koepp, Stephen King Produção:Gavin Polone Elenco:Johnny Depp, Maria Bello, John Turturro, Timothy Hutton, Charles S. Dutton, Len Cariou, Vlasta Vrana, Matt Holland, Elizabeth Marleau, Kyle Allatt, Richard Jutras |
David Koepp é um roteirista que me agrada bastante, justamente por trabalhar com frequência dentro do gênero thriller. Responsável pelos roteiros de, entre outros, Jurassic Park (1993) e sua sequência O Mundo Perdido (1997), Guerra dos Mundos (2005), Homem-Aranha (2002) e O Quarto do Pânico (2001), Koepp também se aventura às vezes na direção, sempre dirigindo roteiros de sua própria autoria. Foi assim com o ótimo Ecos do Além (1999) e o curioso Efeito Dominó (1996). Em A Janela Secreta, o diretor-roteirista adapta o material de Stephen King (o conto Janela Secreta, Jardim Secreto, presente na coletânea Depois da Meia-noite) e executa um bom trabalho, embora seus sérios defeitos no terceiro ato quase comprometam a coisa toda.
A trama envolve o escritor Mort Rainey (Johnny Depp), que vive recluso em uma cabana distante da cidade grande, após ter descoberto que sua esposa Amy (Maria Bello) o traiu com Ted (Timothy Hutton). Suas companhias envolvem basicamente apenas o simpático cachorro cego Chico e eventualmente a senhora Garvey (Joan Heney), que vem para limpar sua casa ocasionalmente. Um dia Rainey acorda com furiosas batidas em sua porta, que provam se tratar de John Shooter (John Turturro), um escritor que acusa Mort de ter plagiado sua história “Sowing Season” e ter arruinado seu final. Exigindo que Mort mude o final da história e republique dando os devidos créditos a Shooter, o homem se mostra cada vez mais ameaçador conforme o filme avança, envolvendo Mort e as pessoas a sua volta num clima de paranoia e medo.
Koepp constrói aqui um produto de acertos e defeitos. O diretor acerta, por exemplo, ao encher o filme de metáforas e pistas visuais, como aquela que mostra uma rachadura tomando completamente o chalé de Rainey após um momento que representa a fissura mental de um personagem, bem como a elegante decisão de iniciar o filme nos apresentando o protagonista através de um espelho e, da mesma forma, filmar uma tomada saindo do espelho ao nos mostrar uma revelação próxima ao desfecho do filme.
Outro ponto forte da trama são as atuações, todas corretas. Johnny Depp está perfeito e parece se divertir à beça em sua construção de personagem que acaba se tornando a alma do filme. Junto com a figurinista Odette Gadoury, Depp constrói Mort Rainey como um homem recém-saído da depressão, desleixado com sua aparência e com sua saúde, vestindo quase sempre um roupão rasgado e utilizando cores predominantemente neutras e desbotadas – seu personagem parece estar sempre mergulhado em seu próprio ambiente recluso, tanto no sentido literal representado pela cabana isolada em que vive, como dentro de sua mente e em sua dificuldade em lidar com outras pessoas, principalmente com mulheres. Já John Turturro encarna com perfeição seu caipira do sul dos Estados Unidos, com um sotaque carregado, mas que soa bem natural, já que ele basicamente interpreta uma caricatura de vilão que funciona muito dentro da narrativa. Maria Bello e Timothy Hutton encarnam os “adúlteros” de maneira igualmente interessante, demonstrando culpa ao mesmo tempo em que buscam retomar suas vidas tentando fazer com que Mort assine os papéis do divórcio, ambos numa composição sóbria e sem exageros de interpretação. Contam ainda pontos para o filme os diálogos crus e humanos que os personagens travam, cheios de ressentimento, raiva e saudade, sentimentos humanos que criam realismo dentro da trama e empatia com aquelas pessoas.
Apesar de todas essas qualidades, Koepp erra a mão em escolher uma trilha sonora (de Philip Glass) de acordes pesados e pouco sutis que causam um estranho paradoxo com a leveza que o filme adota na maior parte da trama, que utiliza vários momentos para criar humor, vindo principalmente do personagem de Depp, o que leva, claro, que o público simpatize com ele.
Ainda, por ser um filme de suspense, o mistério principal fica devendo, sendo ele frouxo e que poderia indicar que se trata de um filme barato. No entanto, para o espectador menos atento e mesmo para aquele que matou a “charada” no meio do filme, A Janela Secreta se constitui como um eficiente exercício de gênero de Koepp, pelo menos na maior parte da projeção.
Como assim frouxo e barato? Não entendi?