Pieta
Original:Pieta
Ano:2012•País:Coreia do Sul Direção:Ki-duk Kim Roteiro:Ki-duk Kim Produção:Kim Soon-Mo Elenco:Min-soo Jo, Jung-Jin Lee, Ki-Hong Woo, Eunjin Kang, Jae-ryong Cho, Myeong-ja Lee, Jun-seok Heo, Se-in Kwon, Mun-su Song |
Kim Ki-duk é um diretor polêmico e divide as pessoas. Muitos o amam e idolatram, outros o odeiam. Mas, vamos começar essa análise de cima do muro, que parece um bom lugar para se estar antes de qualquer decisão.
Primeiro ponto, Kim não é do cinema de horror. Muito pelo contrário, sua área sempre foi o drama. Conforme citado na crítica de Bedevilled (2010), o trabalho deste diretor se baseia em alegorias, ou seja, ele não trabalha com “personagens pessoas”, que você pode encontrar na rua, no seu cotidiano, e nem com “criaturas fantásticas”, que já assumem logo de cara a posição “não humanas”. Ele trabalha com sentimentos transpostos em pessoas. Assim, seus personagens não são simples personagens, eles são a personificação de emoções e sentimentos humanos.
Você deve estar pensando “hum… isso tem cara de coisa que não deve dar muito certo…”. pois é, às vezes não dá mesmo (como em Time – O amor contra a passagem do tempo (2006)) e outras funciona muitíssimo bem, obrigada! (como em A Casa Vazia (2004)). O funcionar ou não funcionar bem é variante de acordo com a temática do filme e desenrolar da trama. Em Time (2006) a história se inicia como algo tão audacioso e complexo, e acaba se tornando um vazio total. Já em A Casa Vazia (2004) algo extremamente simples é levado ao extremo absurdo, mas os sentimentos abordados são tão reais e palpáveis, que a trama se torna bem possível.
Pieta foi o antepenúltimo filme de Kim, sendo que os dois últimos ainda não foram lançados. Por tratar de emoções fortes, seus filmes sempre mantêm uma áurea pesada, mas em Pietá isso vai além, com uma pegada pulsante de violência extrema.
A trama acompanha Lee Kang-do (Lee Jung-jim), que trabalha para agiotas fazendo a cobrança das dívidas: se as pessoas não tem como pagar, tudo bem! Ele resolve as coisas rapidinho quebrando uma parte do seu corpo ou cortando-a fora, assim você recebe seguro de acidente de trabalho e pode pagar sua dívida. Olha que prático! Partindo dessa premissa, já podemos imaginar o belíssimo ambiente deste filme: oficinas escuras, pessoas muito pobres e debilitadas, injustiça social, solidão e muita amargura.
Lee é uma pessoa muito solitária e extremamente violenta, e tudo isso se deve ao seus traumas de infância. Ele não tem família, foi abandonado, o que resultou no que é hoje. Mas, de repente, aparece uma mulher, Jang Min-su (Jo Min-su), afirmando ser sua mãe, que está arrependida por tê-lo deixado e que, a partir de agora, quer cuidar e ficar com ele. Obviamente, ele não recebe muito bem esta notícia, mas, com o tempo, começa a amar esta mulher como sua mãe, e depender dela profundamente. E ai começam os problemas. O homem forte e violento, que não tinha nada a perder, e não via mal nenhum em acabar com a vida das pessoas, já que sua vida era uma bela merda, passa a ter um ponto fraco, alguém que quer proteger, começando a sentir-se culpado.
Óbvio que tudo isso não parece terminar bem, mas independente do final, ou pormenores da trama, Pieta é um filme bem construído. Sua fotografia é belíssima e sua narrativa é extremamente chocante. Sabe aqueles filmes que dá ojeriza ao assistir? Pois bem, é isso o que se sente. Aquele tipo de filme para se ver só uma vez. E a sensação de repulsa não é gerada apenas pelas cenas de violência extrema, mas pela pressão psicológica do ambiente. É tenso.
Muitas pessoas criticaram negativamente este filme, por achar que ele força demais a barra, tanto na violência, quanto no excesso de drama (até as expressões corporais dos atores são muito exageradas em certos pontos). Vide a capa do filme. Cópia de Michelangelo? Drama puro e exagero sem tamanho.
Compreendo as críticas e concordo com muitas delas – realmente, é muito exagero dramático abordado. Poderia ser mais contido? Infelizmente, não. Mas por que, meu deus? Porque esse é o estilo de Kim. As pessoas se surpreenderam, pois em filmes anteriores ele não costuma utilizar ultra violência e lidava com temas mais “leves”, como relacionamentos amorosos de casais. Entretanto, a coisa mudou de figura por aqui. Agora ele fala sobre uma relação de amor muito mais profunda, a de família, a de mãe para filho, que todos sabemos ser bem mais complexo (vide Psicose (1960), Amor só de Mãe (2002)). Ele precisava do drama excessivo e da ultraviolência porque é isso o que essa relação representa alegoricamente: amor sem precedentes = exagero.
Resumindo a história, Pieta é um filme para se ver apenas uma vez, e para amá-lo, ou odiá-lo. Assista e descubra para qual time você joga.
A melhor crítica que li de Pieta! Muito melhor que o pessimismo disfarçado de “crítica” de um tal escritor do Omelete. Parabéns Luana!
Perfeita sua observação! Acabei de ver o filme, corri (infelizmente) para o Omelete e me deparei com uma “pseudo-crítica” que mais parecia um ataque de revolta de alguém que não gostou do filme (e se sentiu injuriado por este ter sido premiado em Veneza) do que alguém que o analisasse friamente do ponto de vista estético etc. e tal.
Um dos melhores filmes que vi em 2015. Concordo plenamente com a crítica.
Grande filme. Gosto muito dele…