Antrum - O Filme Mais Mortal Já Feito
Original:Antrum: The Deadliest Film Ever Made
Ano:2018•País:Canadá Direção:David Amito, Michael Laicini Roteiro:David Amito Produção:David Amito, Michael Laicini Elenco:Nicole Tompkins, Rowan Smyth, Dan Istrate, Circus-Szalewski, Shu Sakimoto, Lucy Rayner, Pierluca ArancioKristel Elling, |
É sempre muito bom falar sobre o Diabo na Sétima Arte. Seja em produções discretamente satanistas ou naquelas que envolvem rituais de invocação e oferenda, ele é uma figura que incomoda e fascina na mesma proporção. Talvez seja por isso que Antrum já pode ser considerada uma produção que merece sua atenção, mas o contexto que a envolve reforça ainda mais isso. Como o desnecessário subtítulo já diz, trata-se de um filme maldito, daqueles que podem levar pessoas curiosas à morte, como já foi mote de muitas obras como o próprio O Chamado (2002) e o longa que o inspirou. Contudo, este vai um pouco além ao explorar o seu contexto amaldiçoado em formato documentário, tanto no começo quanto nos créditos finais – e que, sem dúvida, são as melhores partes do filme inteiro. É provável que se não existisse um Antrum para ser visto, apenas recortes de imagens e as lendas por trás, o resultado poderia ser verdadeiramente aterrorizante.
Filmado em 1979, esse terror com viés experimental tentou alcançar sete festivais em 1983, mas foi rejeitado por todos. No entanto, os curadores de cada evento que tiveram acesso ao filme sofreram mortes estranhas pouco tempo depois de vê-lo. Houve um homem que foi eletrocutado, outro que foi picado por um peixe venenoso, e até uma mulher que teve uma convulsão e que resultou em sua morte. Depois tentaram exibir o filme em um cinema em Budapeste, na Hungria, em 1988, mas pequenas combustões espontâneas surtiram na plateia até incendiar completamente a sessão, ocorrendo a morte de 56 pessoas. Mesmo consciente de sua condição trágica, houve uma nova tentativa de levá-lo aos cinemas em novembro de 1993 em São Francisco. Algo colocado na pipoca levou o público à loucura, em crises de ansiedade e desespero, porém, ao tentar fugir do local, as portas estavam fechadas, gerando brigas e pessoas pisoteadas incluindo uma mulher grávida – o que ela foi fazer nessa sessão??
Tudo isso é apresentado nos oito primeiros minutos de Antrum, na entrevista a produtores e realizadores. O longa então foi considerado perdido durante muitos anos, apenas como uma lenda urbana entre críticos e pesquisadores de ciências ocultas, até encontrarem uma cópia em Connecticut. Assim, surge um letreiro dizendo que o filme será mostrado, e que os realizadores se isentam da responsabilidade pelo que pode acontecer aos que tentarem assisti-lo. Com um marketing promocional inteligente, a película então começa com respeito à época da suposta realização, seja na própria narrativa, nas roupas e na fotografia granulada em tom sépia. Algumas tomadas da mata onde se passará as principais ações, e, logo, aparece um cão deitado, recebendo uma injeção letal, sob a testemunha de uma mãe e seus dois filhos.
Com a morte sentida da cadela Maxine, Oralee (Nicole Tompkins) e o pequeno Nathan (Rowan Smyth) retornam para casa no momento em que o menino questiona se o animal está no Céu. A mãe diz que não por ele ter sido muito mal. O garoto então sonha coisas metafóricas como uma visão da irmã morta e o veículo sendo conduzido sem motorista, além de outras sequências desconexas, até que ele acorda e parte numa missão estranha com a irmã: ir ao Inferno para salvar a alma da cachorrinha. Seguem até uma floresta comumente usada para suicidas, onde, de acordo com as pesquisas que fizeram, seria o local onde Lúcifer teria caído na Terra, carregando um livro demoníaco, entregue por um tal Ike, e que funciona como um guia para alcançar o destino profano.
Chegam a um ponto, aparentemente camuflado na mata, montam uma tenda e iniciam um ritual, com invocação a todos os símbolos religiosos, para, por fim, começarem a cavar, conscientes que terão que passar pelas cinco camadas que compõem o Inferno. É claro que a escavação é apenas simbólica, mas à medida em que encontram uma profundidade maior situações mais grotescas passam a acontecer. Do Nefasto, passando pelo Maleficus, o Demonium, até Incarnatus est Metus e, por fim, Abyssus, a jornada segue acompanhada de visões estranhas, uma tentativa de suicídio, sons de trombeta, uma embarcação aterrorizante, vultos sem rosto e correntes sendo arrastadas do que seria a presença do cão de três cabeças Cérbero.
Quase tudo funciona de uma maneira muito bem feita – o esquilo que aparece em dado momento destoa completamente da sutileza narrativa -, e ganha uma força sobrenatural maior com a revelação de Oralee sobre a real motivação da viagem, mas já é tarde. Nathan já está ainda mais obcecado pela presença satânica, envolto em pesadelos ainda mais sombrios, e crente que em breve encontrará Maxine para um último adeus. Porém, Antrum não se mantém interessante durante toda a projeção, e o roteiro de David Amito, a partir de um conceito dele com Michael Laicini, perde-se de vez ao mostrar um ferro-velho onde dois insanos esquentam suas caças em um forno na carcaça de um totem demoníaco. Apesar do visual servir aos propósitos do filme, logo se evidencia como uma alegoria alternativa da viagem, da quarta camada, ao apresentar vilões de carne e osso, não condizentes com a situação sobrenatural de antes.
Se não fosse esse percalço, que poderia muito bem ter continuado perdido ou sofrido alguma edição, Antrum se revelaria uma grande surpresa. Estava interessante acompanhar a jornada e as mensagens subliminares que despontavam em frames de um segundo com expressões em latim, além do símbolo de Astaroth que aparece mais de cem vezes, em cenas que davam um tom macabro ao filme. Cortes a mais, trechos queimados e fora de sintonia, sequências mal explicadas viriam bem ao projeto, remetendo a outras produções similares como os mencionados Cigarette Burns, de John Carpenter, e o excelente documentário Fury of the Demon (La rage du Démon, 2016), de Fabien Delage.
Ao final, com o retorno do formato documentário, os diretores David Amito e Michael Laicini, ao mostrar um estudo sobre os mistérios do filme, optam por apresentar algumas de suas surpresas, como as imagens sobrepostas e a trilha incômoda. Servem como trívia, mas extrai um pouco da intensidade narrativa por voltar a lembrar que se trata apenas de um filme. No entanto, qual é o propósito de sua realização? Por que os realizadores de 79 resolveram transformar sua obra numa espécie de culto ao demônio? E de que maneira esse filme passou a atormentar quem tentasse vê-lo? São questionamentos que você irá se fazer ao conferir esse curioso filme maldito.
Aliás, se quiser vê-lo (por sua conta e risco), ele está em cartaz no CineFantasy 10 até hoje, dia 13 de setembro. Vale a pena!
Só não entendi pq uma mulher grávida não poderia estar numa sala de um filme de terror.
Não entendi seu questionamento. Poderia explicar?
Oi, Lara! Tudo bem?
Antigamente, filmes considerados muito violentos não eram recomendados para gestantes. Talvez porque as cenas pudessem prejudicar de alguma forma a gestação. No caso, achei estranho o fato do filme ser considerado maldito, ou seja, pessoas que o assistiram morreram em acidentes estranhos, e uma mulher numa fase alta de gestação tenha resolvido vê-lo. Eu imagino que sessões assim só deveriam atrair pessoas curiosas, críticos de cinema, estudiosos e tal. Estranharia também se lá tivessem crianças…
Abs
Essa resenha me fez lembrar de minha mãe me falando que, Grávida de mim, em estágio avançado (mais de trinta semanas), queria ir ao cinema para assistir ao filme O Exorcista e meu velho não a deixou…
Oque ele quis dizer foi, filmes de terror são carregados com suspense e que deixam as pessoas tensas, com a tensão os batimentos aceleram e o corpo recebe descargas de adrenalina, da qual não é saudavel para o bebê, podendo inclusive causar um parto, fazendo o bebê nascer prematuro.
Mais alguma dúvida?