Jovens Bruxas
Original:The Craft
Ano:1996•País:EUA Direção:Andrew Fleming Roteiro:Andrew Fleming, Peter Filardi Produção:Douglas Wick Elenco:Robin Tunney, Fairuza Balk, Neve Campbell, Rachel True, Skeet Ulrich, Christine Taylor, Breckin Meyer, Nathaniel Marston, Cliff De Young, Assumpta Serna, Helen Shaver |
Com o boom do cinema de horror teen na segunda metade dos anos 90, o gênero atingiu a considerada incômoda adolescência, com muitas produções fazendo sucesso em um padrão básico: elenco mais velho interpretando jovens em tramas envoltas em mistério e sobrenatural. Assim, surgiram franquias como Pânico, Eu Sei o que Vocês Fizeram no Verão Passado, Lenda Urbana, além de filmes como Tentação Fatal, Prova Final, A Maldição de Carrie, A Mão Assassina, Halloween H20, A Noiva de Chucky e tantos outros além de, é claro, Jovens Bruxas. Este último chamou a atenção não apenas pela exploração dessa cartilha, mas também pelo conteúdo levemente fidedigno – mais detalhes abaixo – e pelos elementos de horror envolvidos, tanto que serviu de inspiração para a realização de séries como Charmed e até Buffy, com a participação de uma jovem praticante de bruxaria.
Por ser uma produção com aspecto teen, era de se esperar que sua base tivesse como alicerces relacionamentos fúteis e jovens babacas que só pensam em sexo. Pois foi exatamente isso que o roteiro de Peter Filardi e Andrew Fleming apresentou em cena, tendo como diferencial o interessante contexto “wicca“, estudado à exaustão para que estivesse o mais próximo possível de seus conceitos. Além da pesquisa intensa de Filardi, o longa teve a participação nos sets de uma verdadeira praticante, Pat Devin, que auxiliou não somente nas expressões e na condução dos experimentos como também desenvolveu os encantos vistos em cena, o que trouxe muito mais veracidade para o tratamento do longa.
Com isso, o filme, que custou apenas U$15 milhões de dólares, arrecadou somente no fim de semana de estreia pouco mais de U$6,5, até alcançar, somando todas as estreias, o valor expressivo de U$55 milhões. É uma marca de respeito até hoje, uma vez que o Box Office Mojo ainda o coloca no 11º das produções de bruxaria com maior arrecadação nos cinemas de todos os tempos. Além disso, o filme de Andrew Fleming conquistou boas críticas, ainda que algumas apontassem falhas nos excessivos efeitos especiais e na evidente mensagem feminista, apesar das boas atuações. Com tantos aspectos positivos, por que, então, Jovens Bruxas só foi ganhar uma continuação agora em 2020? Muito se deve ao seu caráter cult, tanto que outros estúdios tentaram resgatar o original até mesmo como reboot, mas foram bastante criticados pelos fãs da obra. O novo Jovens Bruxas praticamente foi feito às escondidas sem muitas imagens de divulgação e trailer até setembro deste ano.
Mas, vamos primeiro voltar à década de 90, deixando para falar sobre o novo filme em um texto vindouro.
O original começa com a mudança de Sarah Bailey (Robin Tunney, de O Zodíaco, 2005) para Los Angeles com seu pai (Cliff De Young) e a madrasta. Ela começa a se adaptar à nova rotina escolar, mas acaba evidenciando alguns poderes e atraindo a atenção de três garotas, que vivem à margem das demais devido a traumas, preconceitos e cicatrizes. Bonnie Harper (Neve Campbell, que faria no mesmo ano Pânico, de Wes Craven) tem as costas marcadas por queimaduras; Rochelle Zimmerman (Rachel True) sofre nas mãos de um grupo de alunas patricinhas; e a líder Nancy Downs (Fairuza Balk, A Ilha do Dr. Moreau, 1996) convive com um padrasto abusivo e vive em situação precária em um trailer. Uma conexão óbvia com Sarah, com dificuldades de adaptação e de lidar com a perda da mãe.
Tendo a aproximação desse quarto elemento do coven, as meninas começam a desenvolver rituais, seja para levitar ou mudar a cor dos cabelos, seja para se vingar daquela que incomoda Rochelle, Laura Lizzie (Christine Taylor, de Contos da Meia-Noite, 1997), como também do rapaz, Chris Hooker (Skeet Ulrich, também de Pânico), que esnobou Sarah para os amigos. Aos poucos, a situação começa a perder o controle com as primeiras vítimas fatais, e o poder sobe à cabeça principalmente de Nancy na busca pela invocação de Manon, conquistado com o aparecimento de vários tubarões e outros animais marinhos mortos na praia, numa das melhores cenas do filme. Inclusive, nos bastidores da produção, a equipe relata que durante o ritual, interpretado mas próximo do que seria um verdadeiro, o mar ficou realmente muito agitado e houve o ataque de morcegos.
Percebendo o descontrole psicológico das amigas, satisfeitas com o poderio conquistado, Sarah resolve sair do grupo. Contudo, não será assim tão fácil, e ela precisará enfrentar as três bruxas em um confronto que envolverá cobras, ilusões e voos pelos cômodos. Para tal, Sarah talvez precise também utilizar seus poderes para se defender e atacar, numa disputa que, de maneira simples, remete ao combate da saudosa animação Fantasia, com o Mickey atuando como o Aprendiz de Feiticeiro, além, claro, de outros confrontos interessantes entre bruxos. O último ato é o que sustenta a produção no gênero horror, fazendo até o público esquecer que são adolescentes, com o ego elevado.
Numa releitura em tempos em que filmes como A Bruxa e franquias como Atividade Paranormal entraram em evidência, ainda assim Jovens Bruxas mantém o mesmo potencial que o elevou ao status de cult. Bem dirigido por Andrew Fleming, que passou a se dedicar a séries de TV, o longa tem momentos divertidos e conduz com seriedade uma temática que teria tudo para cair nas armadilhas dos roteiros juvenis, apoiado por um carismático elenco e curiosos efeitos especiais. Em uma época que o horror carecia de enredos consistentes e autorais, o filme traçou seu próprio caminho com muita maestria, não necessitando realmente de uma continuação – assunto para uma outra oportunidade.
Fraco mas diverte
Tenho muito carinho por esse filme. Já assisti 3 vezes ele, e assistiria uma 4ª, de boa.
O gosto de metade dos anos 90 é muito forte. Nostálgico pra caramba pra quem estava na adolescência ou pré-adolescência quando esse filme saiu.
E o remake, vc pretende ver?
Fugindo um pouco da resenha do filme em si eu tenho uma pergunta, no começo da análise há a expressão “horror teen” e eu já vi o termo “teen slasher” aplicado à Pânico, o que faz estas obras serem tidas como horror teen? Porque ao meu ver muito dos filmes de terror de oitenta, e até slasher como Sexta Feira 13 e Halloween são também teen horror/slasher já que as tramas também são focadas em adolescente e/ou feitas direcionadas a estas demografias, mas o vejo o epititulo “teen” sendo usado pras obras noventista
Oi, Isaura! O “horror teen” se refere mesmo a filmes com adolescentes como protagonistas e, mesmo que Pânico e outros filmes dos anos 90 sejam os mais lembrados, filmes como Halloween, O Massacre da Serra Elétrica, Sexta-Feira 13, Carrie e outros dessas décadas também entram nesse subgênero. Filmes mais recentes, como o It Follows, também. O horror teen tem jovens no elenco (ainda que os atores, em muitos casos, sejam mais velhos do que os personagens que representam) e trata de medos adolescentes (medo das mudanças no corpo, medo da chegada da vida adulta, confusão com a chegada da sexualidade) e, nos anos 70 e 80, tratava muito de moral (o adolescente que transa, morre, principalmente se for mulher). No dia 27/11 vamos lançar um episódio do podcast Falando no Diabo sobre o horror adolescente, se vc quiser ouvir 🙂