4.7
(12)

Helstrom - 1ª Temporada
Original:Helstrom
Ano:2020•País:EUA
Direção:Sanford Bookstaver, Anders Engström, Cherie Nowlan, Jim O'Hanlon, Michael Offer, Daina Reid, Bill Roe, Amanda Row, Kevin Tancharoen, Jovanka Vuckovic
Roteiro:Gary Friedrich, John Romita Sr., Roy Thomas, Herb Trimpe, Paul Zbyszewski, Mark Leitner, Sheila Wilson, Matt Morgan, Ian Sobel, Maggie Bandur, Blair Butler, Marcus Dalzine, Amanda Segel
Produção:Paul Zbyszewski, Maggie Bandur, Blair Butler, Marcus Dalzine, Jeph Loeb, Joe Quesada, Vail Romeyn, Amanda Segel, Karim Zreik, Ian Sobel, Matt McInnis, Wendy Willming, Matt Morgan, Diana Reid
Elenco:Tom Austen, Sydney Lemmon, Elizabeth Marvel, Ariana Guerra, June Carryl, Robert Wisdom, Alain Uy, Daniel Cudmore, Trevor Roberts, Erica Tremblay, Nolan Hupp, David Meunier,Deborah Van Valkenburgh

Com o horror em alta nos Estados Unidos a partir da década de 50, as editoras começaram a explorar mais o gênero e fugir um pouco do tema “super heróis salvando o dia”. A Marvel, claro, foi uma delas, fazendo um estrondoso sucesso com a série Tumba do Drácula. Graças a isso, expandiram ainda mais o gênero, criando títulos já conhecidos de filmes, como Lobisomem, A Múmia, Frankenstein e, investindo ainda mais pesado, vieram também com nomes novos, sendo Motoqueiro Fantasma um deles, onde Daimon Hellstrom faz sua primeira aparição.

Com o êxito das publicações de horror, Stan Lee sugeriu uma série onde Satanás fosse o protagonista e, após algumas conversas com o editor, ficou decidido que focariam no filho de satã. Daimon era conhecido por essa característica, e logo ganhou sua revista solo, intitulada Filho de Satã.  Nela, ele e sua irmã Satana são filhos do Diabo com uma mortal, e foram treinados pelo pai nas artes ocultas, liberando seu potencial infernal. Os irmãos acabaram se separando, com Satana abraçando suas origens, enquanto Daimon se agarrava ao seu lado mortal.

A plataforma de streaming Hulu decidiu se aventurar no lado “horror”, sem estar de fato ligada ao Universo Cinematográfico Marvel, e lançou Helstrom (sim, com um “l” só), adaptando à risca algumas partes da narrativa dos quadrinhos. A série fazia parte de um projeto da Hulu, denominado Adventure Into Fear, que contaria com produções como Motoqueiro Fantasma. Infelizmente, o projeto inteiro foi cancelado, e ficamos apenas com a primeira e única temporada dos irmãos Helstrom como a provavelmente última adaptação de personagens sombrios dos quadrinhos.

Começamos com uma família aflita, afirmando que seu filho está possuído pelo demônio e precisam imediatamente de um exorcista, que por acaso é justamente Daimon (Tom Austen), apesar de não ser padre, e sim um professor de Ética. Chegando lá, ele percebe que aquele caso não é de possessão, apenas de fingimento, e acaba com isso rapidamente dando uma leve mostra de seus poderes incomuns e uma breve lição de moral. Ao sair da casa, é repreendido por sua parceira, Gabriella Rossetti (Ariana Guerra), uma aspirante a freira do Vaticano, que pretende desvendar os mistérios da família Helstrom.

Tal curiosidade se deve ao fato de que tanto ele quanto sua irmã, Ana (Sydney Lemmon), além de possuírem curiosos poderes, são filhos de um conhecido Serial Killer e de uma mulher que está a décadas em uma instituição psiquiátrica, alegando dividir seu corpo com um demônio.

A trama gira em torno de Daimon, criado por Louise Hastings (June Carryl), diretora da instituição onde sua mãe, Victoria (Elizabeth Marvel) está internada, e sofre diariamente por não conseguir exorcizar o demônio que habita em sua mãe, porém, nunca desiste de tentar salvá-la. Diferentemente de Ana, que foi levada por seu pai assassino e nunca mais manteve contato com Victoria ou o irmão, virando uma elegante negociante de relíquias, utilizando seus dons demoníacos para localizar milionários pervertidos e, posteriormente, matá-los.

Já no começo, uma série de eventos estranhos acaba por juntar novamente os irmãos Helstrom, que claramente tem muitas mágoas e assuntos mal resolvidos entre si. O tom é sempre sombrio, obscuro e pesado, como costuma acontecer em produções que abordam exorcismo e demônios. Temos todos os elementos de possessão, sem nada novo a acrescentar nesse quesito. O que difere a trama é esse drama familiar totalmente centrado, sem subtramas ou dispersões, e o fato de que um dos familiares é um poderoso demônio que pretende levar seus filhos híbridos para o inferno, causando uma verdadeira trilha de sangue e caos por onde passa.

Ao contrário dos dois primeiros episódios, os seguintes parecem um pouco arrastados, sem grandes acontecimentos além de possessões demoníacas a todo instante, com o clímax demorando a acontecer, o que faz com que o espectador perca um pouco do interesse na linha narrativa. Porém, são nesses episódios mais parados que o passado dos irmãos vai sendo mostrado pouco a pouco, elucidando o motivo do rancor e desprezo de Ana pela mãe, que acaba sendo um dos arcos mais bem desenvolvidos, e do sofrimento de Daimon, abordando questões psicológicas e como o ambiente familiar nos afeta.

O maior problema dos episódios sem grandes emoções é a química – ou falta dela – de Gabriella e Daimon. A todo momento forçam uma interação desnecessária entre eles, e isso acaba se tornando a parte mais monótona e incômoda de toda a série.

Apesar de usar muitos elementos encontrados nos quadrinhos (coisa muito elogiada pelos fãs), não é necessário ter um conhecimento prévio de sua mitologia para entender o que acontece, tudo é explicado ali mesmo.

As atuações de Tom Austen e Sydney Lemmon são frias, e não de maneira negativa. A interpretação deles combina perfeitamente com todo o cenário apresentado. Daimon e Ana não se veem a anos, há um passado macabro entre eles, e mesmo nos olhares podemos notar o quanto isso os distanciou.

Enquanto Tom é fisicamente parecido com o Filho de Satã dos quadrinhos, Sydney pode não ter a aparência da Satana original, mas possui o mesmo olhar penetrante, humor sarcástico e expressões faciais carregadas de ódio reprimido. Porém, o destaque vai para Elizabeth Marvel, que se mostra um monstro da atuação. A mudança de quando está possuída e do momento que volta a ser apenas Victoria é perceptível nos mínimos detalhes, mesmo com a atriz calada. A sutileza de cada movimento, os trejeitos, o modo como mexe a cabeça, que olha para os filhos…sempre dá para saber se é Victoria ou o demônio que está ali antes mesmo que algum diálogo aconteça. Quando acontece, o modo que ela encarna a personagem possuída é sinistramente satisfatório.

Em sua estreia, a série – que já teve pouquíssima divulgação – teve baixo índice de audiência e foi muito condenada por não ser “assustadora o suficiente” pelos críticos, mas essa nunca foi a intenção do showrunner Paul Zbyszewski. O propósito nunca foi ter jump scares e monstros bizarros, e sim abordar a inevitabilidade e dualidade de nossas escolhas, segundo Paul. Temos possessões demoníacas com frequência, mortes e um clima perpetuamente tenso. Poderia, sim, ter elementos mais criativos, e pode não ser uma obra prima do terror, mas é uma produção até que bem aceitável para o gênero e para o que se propôs.

No final das contas, temos um vislumbre direto do todo poderoso demônio, pai de Daimon e Ana, deixando um gancho muitíssimo interessante. Infelizmente, nunca saberemos o que aconteceu. Helstrom foi cancelada após sua primeira temporada.

A primeira temporada de Helstrom está disponível no serviço de streaming Hulu.

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