3.4
(5)

A Morte lhe Cai Bem
Original:Death Becomes Her
Ano:1992•País:EUA
Direção:Robert Zemeckis
Roteiro:David Koepp, Martin Donovan
Produção:Steve Starkey, Robert Zemeckis
Elenco:Meryl Streep, Bruce Willis, Goldie Hawn, Isabella Rossellini, Ian Ogilvy, Adam Storke, Nancy Fish, Alaina Reed-Hall, Michelle Johnson, Mary Ellen Trainor, William Frankfather, John Ingle, Clement von Franckenstein

Os limites entre a comédia e o horror estão tensionados nesta obra icônica dos anos 90 em uma trama satírica sobre a busca pela beleza e juventude eternas que reúne Meryl Streep, Goldie Hawn e Bruce Willis (sim, ele mesmo). Dirigida pelo inventivo Robert Zemeckis (De Volta para o Futuro e Forrest Gump – O Contador de Histórias), o longa-metragem A Morte Lhe Cai Bem (no original, Death Becomes Her) traz efeitos visuais inovadores para a época, insere boas piadas em momentos que deveriam ser tensos e mostra um lado sombrio e assustador na fixação hollywoodiana pela aparência física.

Na narrativa, Madeline Ashton, uma atriz no auge do seu talento e beleza, reencontra uma velha conhecida durante uma de suas apresentações em um musical estilo Broadway, a tediosa e obcecada Helen Sharp. No entanto, tudo muda quando a artista é apresentada ao noivo da amiga, o aspirante a cirurgião plástico de sucesso, Ernest Menville, que imediatamente se vê encantado por Madeline e acaba casando-se com ela. Abandonada e com ódio pela ex-amiga, Helen entra numa espiral de loucura e busca pela vingança.

Sete anos depois, ela reaparece completamente renovada para finalmente colocar o seu plano em prática e atrair Madeline para uma emboscada. No entanto, tudo vai por água abaixo quando a atriz faz uso de uma poção que promete a beleza eterna. A partir daí, uma série de acontecimentos absurdos une as duas mulheres, que agora lutam para conservarem a sua vitalidade às custas do sofrimento e submissão do patético Ernest.

Uma constante na sociedade capitalista é a fixação com a autoimagem. Das mil e uma aplicações de botox até a estética mais naturalista – ao longo dos anos, as tendências mudam, mas a obsessão permanece. A obra, apesar de não ser autoconsciente ao ponto de perceber as nuances dessas dinâmica social tendo em vista que ela é produto de um momento histórico específico, ironiza de uma forma inteligente essa busca infinita, usando recursos do universo do horror corporal e do suspense para chocar e deixar o espectador tenso.

O excelente desempenho do elenco faz com que o interesse pela história não seja perdido. A dinâmica do trio Meryl Streep, Goldie Hawn e Bruce Willis é muito fluida, rendendo bons momentos de estranhamento perante o inusitado. Além disso, o elenco suporta muito bem o tom do filme, que é de humor na maior parte do tempo, mesmo com a inserção de elementos do horror.

Pescoços torcidos, pernas quebradas, estômago com buraco de bala e peles deterioradas são imagens que marcam e contrastam com a expectativa das mulheres protagonistas, surpreendendo o público, que, assim como elas, compra essa idealização da beleza. Ao contrário disso, ambas são dadas como mortas e partem numa jornada em busca de conservarem os seus corpos, mesmo que elas tenham que usar a mão de obra do Ernest e muita tinta à base de óleo para reparar os danos.

Com cenas muito bem dirigidas e com o uso de efeitos visuais surpreendentemente bons para a época, os cadáveres ambulantes veem o seu sonho se tornar um pesadelo, mas nunca perdem a pose e a vaidade. Zemeckis aposta no caricato para mostrar a verdadeira face da busca incansável das personagens por um padrão estético e ridicularizar os símbolos hollywoodianos que as rodeiam.

Por outro lado, a obsessão de Helen em vingar-se de Madeleine é deixada de lado sem muitos motivos em certo ponto da narrativa: elas se tornam parceiras sem que os conflitos desenvolvidos no primeiro ato sejam resolvidos. Consequentemente, quando o filme muda o foco para a poção e suas consequências, o roteiro perde um pouco da sua força e não aproveita as boas oportunidades de gerar mais embates entre as duas.

Assim como a dupla de protagonistas mulheres, a obra não envelheceu muito bem quanto poderia. A ironia na representação de pessoas fora do padrão, por exemplo, não seria muito bem compreendida atualmente, rendendo talvez alguns cancelamentos. Porém, não é por esse motivo que o filme tem menos mérito. Seja como forma pura de entretenimento ou como crítica social, o fato é que, ao não se levar tão a sério, o filme é mais bem-sucedido do que o esperado. Ao mesclar cenas que causam agonia e risos ao mesmo tempo, colocar Bruce Willis para interpretar um homem fraco de meia-idade frustrado profissionalmente, e ser fúnebre na medida certa, A Morte lhe Cai Bem se tornou um clássico da sessão da tarde para maiores de 18 anos que gostam de filmes de horror.

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