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Os slashers encontraram sua melhor ambientação nos acampamentos. Ainda que o termo dê a designação para um subgênero com um assassino em perseguição a um grupo de pessoas em qualquer lugar, foi em Crystal Lake e no Acampamento Arawak que ele se desenvolveu de maneira mais sangrenta e característica. Assim, é de se louvar que a franquia American Horror Story tenha reservado a nona temporada para referenciar o estilo e a ambientação, conduzindo as ações para um ano ainda mais que especial, 1984. Os criadores, Ryan Murphy e Brad Falchuk, anunciaram em 2019 o quanto se espelhariam em Sexta-Feira 13, Halloween e A Hora do Pesadelo, sem se esquivar de mortes violentas e do sangue em profusão.

American Horror Story 1984 teve sua estreia em 18 de setembro de 2019, com o episódio “Camp Redwood“, dirigido por Bradley Buecker. Começa com um massacre ocorrido em 1970 no acampamento Redwood, quando três monitores prestes a se relacionar são brutalmente assassinados, com a câmera se distanciando para mostrar uma trilha de corpos. Em 1984, quatro amigos de uma academia estão prestes a assumir um emprego como monitores do fatídico acampamento em sua reabertura: Montana (Billie Lourd), Xavier (Cody Fern), Chet (Gus Kenworthy) e Ray (DeRon Horton) não precisam de muito esforço para convencer a novata Brooke Thompson (Emma Roberts), principalmente depois que ela é atacada em casa pelo assassino em série conhecido como “Perseguidor da Noite” (Night Stalker), o famoso Richard Ramirez (Zach Villa), que apareceu com a interpretação de outro ator em Hotel.

Depois de acidentalmente atropelar o jovem Jonas (Lou Taylor Pucci) na estrada, o grupo chega ao local e são recebidos pelo diretor de atividades Trevor (Matthew Morrison), a enfermeira Rita (Angelica Ross), a cozinheira Bertie (Tara Karsian) e a gerente Margaret Booth (Leslie Grossman), que apresenta os dormitórios já anunciando que na manhã seguinte as crianças virão para curtir o acampamento. Como em Sexta-Feira 13, eles contam a tragédia que aconteceu em 1970, quando o jardineiro apelidado de Sr. Jingles (John Carroll Lynch, que já interpretou John Wayne Gacy e o palhaço Twisty em outras temporadas) cometeu uma série de assassinatos até ser preso.

Com a chegada do Perseguidor da Noite e a fuga de Sr. Jingles da instituição psiquiátrica, Redwood é aterrorizada por dois assassinos em série, principalmente nos quatro primeiros episódios todos ambientados em uma única noite, com uma atmosfera bem anos 80 e ao estilo slasher. Alguns elementos sobrenaturais são gradualmente apresentados como a insistência de Jonas em voltar a viver, depois de ser assassinado várias vezes, e a adoração a Satanás, nos rituais de Richard Ramirez. Perseguição, correrias, mortes brutais, armadilhas na floresta e os vários confrontos dos dois assassinos “oficiais” – há outros que aos poucos vão se revelando – tornam a primeira metade da temporada em um nível absoluto de perfeição, com chances de rivalizar com Roanoke como as melhores temporadas de American Horror Story.

Contudo, a temporada continua com o episódio “Red Dawn“, concluindo as ações na terrível noite de assassinato e violência. Acontece então um ponto de virada no enredo, com a prisão de Brooke, a revelação da natureza cruel de Margaret e a saída do acampamento de Sr. Jingles e do Perseguidor, depois de morrerem e voltarem com a fumaça preta do ritual. Todos os mortos da primeira parte retornam como fantasmas “físicos” do acampamento como Jonas, chegando ao ponto de Ray ter relações com Brooke. Assim, Redwood se mostra amaldiçoado pelas vítimas e por quem quer que tenha o azar de morrer ali.

Para ampliar a mudança de cenário, as ações saltam para 1989 – não deveria ser somente em 84, tendo alguns flashbacks? -, com a condenação rápida à morte de Brooke. Curiosamente, o próprio Richard Ramirez foi preso em 1985, condenado em 89 e ficou aguardando o cumprimento da sentença até morrer de câncer em 2013! Mas para o enredo de American Horror Story, a jovem é condenada e executada numa diferença de quatro anos, sem o devido cuidado na aplicação da injeção letal, tanto que Rita, que na verdade roubou a identidade da verdadeira enfermeira, conseguiu encontrar um meio de libertar a garota para lhe dar a chance de uma nova vida. Mas, ao saber que Margaret, depois de ter comprado outros ambientes macabros, havia decidido reabrir Redwood com apresentações musicais incluindo Billy Idol, ela decide retornar para se vingar.

Sr. Jingles, que descobriu que na verdade não assassinou ninguém em 1970 e até constituiu família no final dos anos 80, é obrigado a retornar para o acampamento, depois que sua esposa foi encontrada morta. Claro que o Perseguidor da Noite também voltará, assim como os fantasmas dos monitores, agora assassinos locais. Dois novos personagens entram para o final da temporada: “a mulher de brancoLavinia Richter (Lily Rabe), mãe de Sr. Jingles, e o assassino de estrada Bruce (Dylan McDermott, retornando à série), criando um certo incômodo para Brooke e Rita. Todos irão se confrontar no acampamento sangrento, um local maldito para monitores e visitantes.

Bem bagunçada e menos interessante, a segunda parte da temporada não se decide entre slasher e vingança sobrenatural. Com os personagens retornando dos mortos o tempo todo, há pouca razão para se importar com o destino deles. E há pouca relação com o real na utilização de Richard Ramirez como assassino do acampamento, uma vez que seu destino está bem distante do que realmente aconteceu com ele. Se era para trabalhar com a ficção, podiam ter encontrado um outro vilão ao invés de usar um que já tem sua história inteira conhecida.

Além de não ser ambientada somente em 84 como se esperava, a temporada ainda comete outros deslizes como o final ruim de Margaret – como podem ser fantasmas tão burro assim na execução? E por que não fizeram um plantão para evitar o retorno dela, uma vez que ela também é uma ameaça pra eles? – e o de Brooke, com uma inexplicável sobrevida e uma conexão absurda com o filho de Sr. Jingles, Bobby (Finn Wittrock), aparecendo nos dias atuais. Também não se explica como Brooke teve pouca mudança física, sendo que ela já devia ter mais de cinquenta anos no final.

A temporada também marcou a exibição do Episódio 100, em 23 de outubro de 2019, sem nada de especial acontecendo como comemoração, além da exibição de uma foto de Briarcliff, o hospital de Asylum. Deve-se enaltecer os aspectos técnicos, a excelente trilha sonora que acompanha boa parte dos episódios e as referências ao cinema oitentista com a cena do salto da água por Jason Voorhees e até A Morte Pede Carona.

Com apenas indicações e nenhum prêmio de relevância, AHS 84 foi a primeira temporada a não contar com Evan Peters ou Sarah Paulson, e nem ter um nome de peso no elenco como Kathy Bates. Se houve destaque para alguém do elenco, pode-se dizer que Emma Roberts roubou os holofotes para sua atuação variando de final girl para uma personagem vingativa. É provável que a série tivesse uma avaliação melhor se mantivesse o ritmo do começo da temporada, ainda que envolta em clichês do estilo. Foi a intenção de voltar a ser American Horror Story, com personagens peculiares e idas e vindas, que condenou a temporada a um produto divertido, mas, como boa parte do subgênero, esquecível.

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