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Krampus: O Senhor do Yule
Original:Krampus: The Yule Lord
Ano:2022•País:EUA
Autor:Gerald Brom•Editora: Darkside Books

Ah, a época do Natal! Momento que as pessoas abrem seus corações e são bondosas, agradecem mais, se doam mais, são mais alegres e caridosas…. mesmo que no restante do ano a coisa seja bem diferente. Quem liga pra pessoa que você extorquiu e ameaçou? É Natal! Tempo de celebrar e perdoar! E quem melhor do que a figura do bom velhinho para representar esse período festivo e trazer presentes, não é mesmo? Entretanto, tais festividades nem sempre foram sobre celebrar o nascimento de Jesus e muito menos eram cristãs.

Assim como diversas outras coisas, os cristãos se apropriaram de festividades pagãs que, originalmente, comemoravam o Yule, ou seja, o solstício de inverno. Nessa comemoração, uma das figuras muito conhecidas é o bode do Yuletide, representando a mudança de estações. Esse bode também era conhecido pelo nome de Krampus. As lendas que o envolviam foram evoluindo e, resumindo, em dado momento uma delas dizia que ele aterrorizava crianças para se certificar que as tradições do Yuletide estavam sendo seguidas. Algumas regiões da Europa ainda celebram Krampus, se vestindo com grandes mantos com chifres, línguas para fora e carregando sinos e sacos. E, sim, em algum momento, até mesmo ele virou parte da festividade cristã que hoje conhecemos como Natal. Enquanto São Nicolau, o Papai Noel, distribui presentes para as crianças que se comportaram, Krampus espanca aquelas que foram malcriadas. Mesmo com essa apropriação, a figura assustadora de Krampus é obscura para muitos de nós, sendo mais conhecida na região Sul do país. E pelos fãs de terror, é claro. Sem mais delongas, o ilustrador e autor Gerald Brom traz de volta os costumes do Yuletide em Krampus: O Senhor do Yule, publicado pela Darkside Books. No início de cada capítulo e no final do livro podemos encontrar também ilustrações do próprio autor.

Jesse é um músico que toca em bares duvidosos, e o que ganha mal dá para sobreviver. É época de Natal, e ele queria muito dar um presente para sua filha, Abigail, e recuperar sua esposa, Linda. Agora, ambas vivem com Dillard, um policial de caráter extremamente duvidoso e violento. Ao voltar para seu trailer após uma noite nada proveitosa financeiramente, Jesse se depara com uma cena impressionante: um enorme homem vestido de Papai Noel correndo, com criaturas em seu encalço. Pareciam demônios, com grandes mantos de pele e chifres. Seguiu-se uma luta impressionante, até que um deles caiu e o grande homem desapareceu, juntamente com o resto do bando demoníaco. Algo atingiu o teto do trailer de Jesse, e era nada mais, nada menos, do que o saco do Papai Noel. Como se as coisas já não estivessem estranhas o suficiente, o saco era mágico, e de lá ele tirou todas as bonecas que sua filha queria. A partir desse dia, seu destino e o de uma figura mítica muito mais antiga e terrível acabam se entrelaçando.

Enquanto Jesse desvenda os segredos do saco mágico, as figuras demoníacas – chamados de Belsnickels – voltam para uma caverna, para seu mestre que está acorrentado. Seu nome é Krampus, e ele deseja se vingar da figura conhecida como Papai Noel custe o que custar. Mas primeiro, precisa de seu saco mágico que fora usurpado pelo homem de barba branca, sem saber que agora está na posse de outra pessoa.

O livro possui, inicialmente, duas tramas: a de Jesse e a de Krampus. Não demora para que ambas virem uma só, entretanto, eles continuam com seus objetivos próprios. O jeito que Brom escolheu para contar essa história é muito interessante, pegando os costumes do Natal que estamos acostumados e misturando-os à mitologia nórdica, com muitos nomes conhecidos – Odin, Loki, Huginn e Muninn. Não espere uma história aterrorizante sobre um demônio que vai comer criancinhas no café da manhã. Krampus é muito mais do que os boatos cristãos que contam sobre ele. É uma força mágica da natureza. E, assim como tal, pode trazer tanto bençãos quanto desgraças.

Toda a trama se passa no período do Natal – digo, Yuletide -, e tudo gira em torno de tais costumes, e de como deturparam uma comemoração pagã. Antigamente, tal comemoração era feita para honrar à terra e pedir fertilidade e abundância no período vindouro, queimando oferendas em tributo aos deuses. Essa antiga tradição e suas origens são descritas na obra, e a entidade chamada Krampus quer seus tempos de glória de volta, bem como sua vingança. É um mergulho em diferentes culturas, apesar de muito sangue derramado. Brom pegou partes de diferentes lendas para dar vida ao enredo, associando a figura de Krampus diretamente aos deuses nórdicos. O autor também subverte a figura do Papai Noel, que não é um velhinho assim tão bom e inocente, no final das contas. Muitas vezes, é até mais cruel do que seu inimigo chifrudo. Também são abordados temas mais mundanos como corrupção, drogas, depressão, entre outros, nos lembrando que mesmo com todos os horrores da realidade, ainda é possível ter alguma magia em meio ao caos.

Os personagens são muito cativantes, mesmo aqueles que mal falam, mas estão sempre ali presentes. As tiradas de humor são feitas na medida certa, sem fazer com que a seriedade da narrativa se perca. Os protagonistas, cada um a seu modo e com suas questões, possuem inúmeras complexidades e aspectos, sendo fácil se identificar com algum deles em algum momento. Os coadjuvantes adicionam o tempero necessário para termos mais ação e tensão, e até mesmo alívio cômico em certos casos, alguns brilhando de forma positiva, enquanto outros são absurdamente – e propositalmente – detestáveis. Krampus é uma figura muito injustiçada, não apenas aqui, mas no modo como é retratado normalmente. Ele apenas honra a natureza e quer que as pessoas lembrem dele e do Yule – talvez com alguns métodos macabros questionáveis e sendo muito feliz ao cometer atos terríveis -, e é descrito apenas como uma figura demoníaca. Ele só é terrível e destroça em pedacinhos quem merece, nada de errado até aí.

Apesar de grandes personalidades, Papai Noel não é uma delas. Ele não é muito desenvolvido, sabemos apenas o básico de sua história. Como o antagonista, ficou um tanto deslocado, e nem é pelo fato de estarmos acostumados com sua figura retratada como bondosa. Esse lado mais impiedoso é uma ótima adição à história, porém, por vezes ele acaba ficando meio deixado de lado, talvez não tenha se encaixado muito bem nisso de mitologia nórdica, talvez o autor julgou que ele não era assim tão relevante a ponto de ser mais aprofundado. Todo o restante da trama tem algum folclore ou lenda por trás, algo de tradições antigas, mas isso não acontece com São Nicolau. Sua parte foi inteiramente inventada e, por isso, talvez dê a sensação de não ter sido plenamente desenvolvida. Mas bom, o Papai Noel também é inventado de qualquer modo, então acaba não sendo um problema tão grande.

De qualquer modo, Krampus: O Senhor do Yule resgata antigos costumes e nos faz viajar por diferentes culturas, tudo com um toque de perversidade e magia ancestral. Uma leitura ideal para as épocas festivas de final de ano. Venha ser terrível com Krampus e fazer parte das animadas festividades do Yuletide!

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