Querido Papai Noel
Original:Dear Santa
Ano:2024•País:EUA Direção:Bobby Farrelly Roteiro: Ricky Blitt, Peter Farrelly, Dan Ewen Produção: Bobby Farrelly, Peter Farrelly, Jeremy Kramer Elenco:Jack Black, Robert Timothy Smith, Keegan-Michael Key, Brianne Howey, Hayes MacArthur, Post Malone, P.J. Byrne, Jaden Carson Baker |
Com uma premissa um tanto quanto subversiva, Querido Papai Noel (Dear Santa), de 2024, traz Jack Black no papel do caramunhão, é dirigido por Bobby Farrelly (de Quem vai ficar com Mary e Eu, eu mesmo e Irene). O longa-metragem aborda o clima natalino em família de uma forma diferente e conta a história do pequeno Liam Turner, que escreve uma carta ao Papai Noel. No entanto, devido a um erro ortográfico causado por sua dislexia, a criança acaba endereçando-a para Satã, que passa a perturbá-lo no intuito de convencê-lo a fazer um contrato com ele, em troca de sua alma.
Esse pretenso “horror só para baixinhos” é um filme, a priori, muito corajoso – mas fracassa no intuito de ser polêmico tematicamente – de modo que, nem mesmo os mais religiosos vão se incomodar em atacá-lo. Isso porque o maior problema do longa, que conta com uma participação pouco memorável do Post Malone, é a oscilação do tom e a falta de ousadia em assumir qual será o gênero dominante da produção: comédia, horror ou terrir. Nessa indefinição, o resultado acaba sendo uma miscelânia de péssimas ideias, que ora parecem ser dramáticas demais, pesadas demais, e ora acabam em piadas genéricas típicas dos filmes pastelões da sessão da tarde. Por outro lado, o argumento do filme é uma sacada muito boa, assim como uma parte das piadas (se você considera que está vendo uma comédia natalina, é claro).
O elenco infantil é muito bom em convencer o público de que aquelas são crianças que sofrem bullying e fazem parte de um grupo excluído da escola. Também há personagens mais caricatos, como o professor de literatura e os valentões da escola. Já os pais do personagem principal não convencem como um casal em crise, principalmente a Brianne Howey como Molly Turner, mãe de Liam. Jack Black, por sua vez, aparenta estar completamente desconfortável no papel do diabo, mas continua sendo engraçado, como é de se esperar, além de trazer a sua atuação cativante de costume. Poderia-se esperar uma profundidade maior do desenvolvimento de seu personagem – principalmente pensando no que acontece com ele no terceiro ato – mas a atuação de Black não explora uma vertente mais dramática ou melancólica.
Assim como o restante do filme, o drama familiar, que é central para a trama, não consegue encontrar o seu lugar: em alguns momentos, os dilemas são levados a sério demais, explorando pontos super traumáticos da vida em família, e em outros o tom destoa bastante e vai para uma comédia besteirol. Com isso, o potencial da história em ser mais mórbida, é perdido – e nesse sentido, explorar esse lado mais sombrio, mesclando com as típicas piadas ácidas que já existem, poderia ser uma alternativa para alinhar o tom da produção.
Da mesma forma, o visual do diabo poderia ser um pouco mais dark, assim como a paleta de cores do filme, que é muito saturada e estática, e poderia intercalar os momentos de mais tensão com cores mais frias, e cenas com cores quentes, remetendo dessa forma aos tradicionais filmes natalinos.
Além disso, não é todo dia que Jack Black interpreta o diabo, e como tal, o personagem poderia ter mais cenas de ação que brincassem com os esteriótipos e poderes que ele tem para fazer maldades. E se a falta de perversidade da entidade é um problema do filme – no terceiro ato, isso é ainda mais problemático: a conclusão é uma verdadeira dramatização genérica forçada, que retira todo e qualquer potencial destrutivo do demônio, inserindo-o em uma jornada do herói que não foi construída ao longo do filme.
Em resumo, Dear Santa poderia ser um marco entre os filmes do gênero natalino e do terrir, mas carece de muita coisa: horror, bons momentos de seu personagem principal com o demônio, um tom um pouco mais definido e, quem sabe, soturno – trabalhando bem com os diversos sentimentos que podem ser despertados pela data comemorativa. Apesar de continuar funcionando bem enquanto entretenimento e filme natalino familiar, o longa-metragem traz uma moral da história extremamente romantizada e fantasiosa sobre como funcionam os traumas e como as pessoas podem se redimir e mudar, reforçando uma lógica dicotômica de bem e mal – certamente um ensinamento completamente equivocado do mundo que as crianças não deveriam aprender.