![]() A Máquina do Tempo
Original:LOLA
Ano:2022•País:Irlanda, UK Direção:Andrew Legge Roteiro:Andrew Legge, Angeli Macfarlane Produção:Alan Maher, John Wallace Elenco:Emma Appleton, Stefanie Martini, Theodora Brabazon Legge, Francesca Brabazon Legge, Eva O'Brien, Rory Fleck Byrne, Aaron Monaghan, Cha Cha Seigne, Shaun Boylan, Lorcan Cranitch, Ian Toner, Serena Brabazon, Ayvianna Snow, Nick Dunning |
Lola é o nome de uma máquina do tempo que capta sinais de transmissões de TV vindas do futuro. As irmãs Thom (Emma Appleton) e Mars (Stefanie Martini), vivem em 1938 e, unidas por um deslumbramento do que descobrem, passam a registrar suas experimentações e vivências, e se questionam: será que é egoísta manter isso apenas entre nós?
O filme além de ser todo em preto e branco, o diretor Andrew Legge faz sua estreia utilizando da estratégia do “found footage”, algo comum em filmes de horror, dessa vez explorando esse sci-fi dramático. Com apenas 80 minutos de duração, explora muito mais o tom emocional do tema apresentado do que a tecnologia e desdobramentos científicos.
As irmãs registram o seu dia-a-dia e suas descobertas, indagando sobre como nós temos o poder de criar e desfazer uma história. Conceitos conhecidos sobre como escolhas que parecem pequenas podem criar grandes mudanças e consequências para nossos caminhos. Um exemplo disso no filme é quando elas têm acesso às transmissões do futuro e sempre encontram David Bowie como um ícone da música. Mas após certos desdobramentos, Bowie não é famoso, dando lugar a um outro músico que não chega aos seus pés.
Thom é a irmã mais “mão na massa”. Ela é o cérebro por trás da máquina e descobre que consegue ter acesso à notícias sobre a guerra que acontece logo no dia seguinte do que está ouvindo. Isso faz com que ela e Mars se tornem anonimamente “Angel of Portobello”, passando informações ao exército para evitar mortes e ataques por parte dos nazistas.
Claramente, como todo filme de guerra, o anonimato dura pouco. O soldado Sebastian (Rory Fleck-Byrne), ao descobrir e investigar as irmãs, propõe uma parceria oficial e acaba participando ativamente das atividades. Tão ativamente que acaba se apaixonando por Mars, o que ocasiona atritos entre as irmãs durante o longa.
Com a mudança da dinâmica das irmãs, vemos a mudança do futuro em virtude de suas decisões. A partir da metade do longa começam os questionamentos morais e éticos sobre escolhas e consequências. Vemos as personagens em conflitos internos, com os clichês do tropos do perigo de “brincar de Deus” e como a justiça é difícil residir num âmbito individualista.
Para além da perspectiva de futuro, o longa tenta mesclar a possibilidade de consertar o passado. Porém conforme nos aproximamos do final, a história se perde em conceitos não explorados. Apesar de bem intencionado, parece não fazer muito sentido enquanto se preocupa muito com o drama. O que torna muitos momentos repetitivos e concomitantemente rasos.
Infelizmente o roteiro se escora em muitos clichês que não se conectam bem. Com personagens esquecíveis, até a própria estética “found footage” se torna cansativa. É muito ambicioso com suas questões técnicas, mas torna-se uma decepção como produto final.
Um docu-ficção retrô em que para quem espera muito da parte sci-fi pode sair frustrado. Apesar de suas inconsistências no roteiro, mal aproveita a própria máquina/invenção que dá título ao filme. Isso também dá um senso de ritmo estranho que pode desviar a atenção, ou nem mesmo prendê-la desde o começo.
O filme ainda traz uma reflexão importante de como uma sociedade sob o autoritarismo é impactada e influenciada em todas as suas vertentes. Mostra o quanto “é difícil vencer” e que o extremismo pode se esgueirar sorrateiramente na vida de uma população que parece se preocupar, mas acredita estar distante e imune de suas garras. Um aviso sobre ser bem intencionado muitas vezes não é o suficiente, deve-se ter cuidado com a ingenuidade, algo muito presente nas protagonistas para humanizá-las e sintonizá-las correntemente com o tom dramático apresentado.
Lola é um filme tecnicamente bonito e criativo, podendo ser uma boa pedida aos fãs de filmes de guerra e dramas familiares. Seus 80 minutos mostram um talento inegável do diretor Andrew Legge, apesar das atuações de seu casting não serem muito impressionantes. O diretor também dirigiu e escreveu um curta-metragem no mesmo estilo chamado The Chronoscope (2009) com a mesma premissa, porém olhando para o passado. O filme está chegando hoje aos cinemas brasileiros.