![]() O Ritual
Original:The Ritual
Ano:2025•País:EUA, Índia Direção:David Midell Roteiro:David Midell, Enrico Natale Produção:Ross Kagan Marks, Enrico Natale, Andrew Stevens, Mitchell Welch Elenco:Al Pacino, Dan Stevens, Ashley Greene, Abigail Cowen, Patrick Fabian, Patricia Heaton, Maria Camila Giraldo, Meadow Williams, Courtney Rae Allen, Enrico Natale, Liann Pattison, Ritchie Montgomery |
Uma moça presa a uma cama, proferindo absurdos como o de citar algum parente morto de um dos presentes, com a pele castigada por feridas e acne, proferindo bobagens com uma voz grave, enquanto dois padres, um mais experiente e outro mais jovem e cético, realizam rituais de exorcismo…é a base de um argumento sem novidades desde a década de 70. É tão trivial quanto o título – lembrei de cabeça de pelo menos três filmes – e tão estereotipado quanto a composição do personagem de Al Pacino, seguindo a linha Russell Crowe ou Anthony Hopkins dos últimos anos, do sotaque à barriga avantajada, dos cabelos desgrenhados à expressão insana e uma leve corcunda. Não se sabe como o argumento de Enrico Natale provocou o roteiro de David Midell, nem como onze estúdios resolveram se associar à realização; assim como a Paris Filmes acreditar no potencial “tela grande” desse filme.
O trailer e o marketing da produção dizem que se trata do exorcismo que serviu de inspiração para o clássico O Exorcista, além do letreiro, no começo e no fim, informar que esse foi o processo mais documentado da história americana – eu acrescentaria que também é o conceito mais repetido do subgênero possessão da Sétima Arte. Para tal, o longa se passa em Earling, Iowa, em um 1928 retratado por um carro antigo visto em cena, alguém com boina e o aparelho de telefone da época. Sem tempo para contexto, o enredo já coloca no palco o pároco da Igreja de São José, o padre Joseph Steiger (Dan Stevens, de Cuckoo: O Medo Chama, 2024), sendo designado pelo bispo Edwards (Patrick Fabian) a acompanhar o experiente exorcista Theophilus Riesinger (Pacino) na realização de um exorcismo na jovem Emma Schmidt (Abigail Cowen), com vários distúrbios psicológicos registrados por psiquiatras.
Por razões que você somente saberá mais tarde, Steiger não acredita na possessão da garota, imaginando que talvez ela precisasse de acompanhamento médico. Ainda assim, ele acompanha o padre, com o auxílio de duas freiras, incluindo a Irmã Rose (Ashley Greene, de Criatura Voraz, 2025), na imposição da Madre Superiora (Patricia Heaton), e são apresentados sete rituais de exorcismos – há mais que isso, mas eles pararam de ser contados a partir de então -, sem qualquer novidade. Contorcionismo, feridas pelo corpo, atitudes agressivas e vômitos verdes são parte dos registros que o padre fez.
Em dado momento, Steiger expressa com irritabilidade que precisa de informação. Não só ele. Sabemos poucos sobre Emma para nos importarmos com ela; não entendemos o ceticismo do padre jovem e nem a convicção do experiente. Como a Igreja passou a acreditar que os rituais serviriam a alguma coisa? Por que foi escolhido aquele local para o exorcismo? O Ritual já coloca o espectador como testemunha das ações de exorcismo e não traz nem sequer a base de compreensão dos rituais: basta amarrar alguém na cama, ler alguns salmos e trechos do Evangelho, pedir orações e gritar a todo momento que precisa saber o nome do demônio que a está possuindo.
Se a trama convencional não traz interesse, a direção de David Midell contribui significativamente para a repulsa do público. Sem usar tripé ou qualquer apoio, parece que o filme inteiro foi filmado com uma câmera no ombro de alguém que não consegue se concentrar no que está vendo em cena. Tremedeiras, cortes rápidos, como se retratasse a invasão à Normândia na chegada à Omaha Beach em O Resgate de Soldado Ryan, o filme é quase um found footage sem registros encontrados. A câmera chacoalha tanto que em uma cena de um aparente terremoto, fiquei com sérias dúvidas se aquilo estava mesmo acontecendo ou somente as paredes estavam abrindo rachaduras.
Por fim, O Ritual segue o ritual das produções do subgênero possessão demoníaca, sem esquecer do vômito verde e do contorcionismo. Se tivesse sido feito em 1928, talvez pudesse justificar a realização, mas como é uma produção recente, é o tipo de exorcismo que não vale a pena acompanhar.