![]() A Libertação
Original:The Deliverance
Ano:2024•País:EUA Direção:Lee Daniels Roteiro:David Coggeshall, Elijah Bynum Produção:Lee Daniels, Todd Crites, Jackson Nguyen, Tucker Tooley, Pamela Oas Williams Elenco:Andra Day, Glenn Close, Aunjanue Ellis-Taylor, Mo'Nique, Demi Singleton, Aunjanue Ellis-Taylor, Omar Epps, Miss Lawrence |
Depois que O Exorcista, de William Friedkin, foi lançado em 1973, o cinema de terror nunca mais foi o mesmo. Desde então, de tempos em tempos somos surpreendidos por mais um filme sobre possessão demoníaca – um mais genérico que o outro. Meninas falando com vozes grossas, contorcionismos e levitação tornaram-se fórmulas repetidas à exaustão por diretores do mundo todo, na tentativa de replicar o sucesso de Friedkin – algo que jamais se concretizou.
Houve, sim, alguns acertos, como o regular Possessão (2012), que trouxe uma visão do judaísmo sobre o tema. Em 2024, foi a vez de conhecermos uma interpretação protestante do exorcismo – ou melhor, da libertação.
Ebony Jackson (Andra Day) é uma mãe solo que, em busca de um recomeço, muda-se com a família para uma casa nova. Problemas financeiros, alcoolismo e a recente separação do pai de seus filhos, são algumas das dificuldades que ela tenta superar. Sua mãe, Alberta (Glenn Close), que luta contra o câncer e se converteu recentemente ao cristianismo, também se junta à família.
Logo após a mudança, eventos estranhos começam a acontecer envolvendo seus filhos: Nate (Caleb McLaughlin), o mais velho; Shante (Demi Singleton); e, principalmente, Dre (Anthony B. Jenkins), o caçula, que passa a ter contato com uma entidade paranormal chamada “Tre“. O comportamento das crianças chama a atenção de Cynthia (Mo’Nique), uma assistente social do Serviço de Proteção à Criança, que suspeita de uma possível recaída de Ebony no alcoolismo, colocando a segurança de todos em risco. Sob a ameaça de perder a guarda dos filhos, Ebony, com a ajuda da reverenda Bernice James (Aunjanue Ellis-Taylor), terá de enfrentar, literalmente, seus demônios para manter sua família unida – e viva.
Lee Daniels, conhecido pelo aclamado Precious (2009), mostrou que, como diretor de terror, é um excelente diretor de melodramas. A primeira parte do filme se concentra quase inteiramente nos dramas familiares liderados por Ebony, o que funciona até certo ponto. Porém, na sequência final, o longa se rende às velhas fórmulas já conhecidas, tornando-se mais um exemplar genérico do subgênero. Com um diretor de prestígio, um elenco de peso e a proposta interessante de explorar o tema sob a ótica de outra tradição religiosa, A Libertação tinha tudo para se destacar entre os inúmeros filmes de exorcismo existentes, mas peca ao se escorar nas mesmas fórmulas desgastadas.
Assim como o clássico de 1973, A Libertação também foi inspirado em eventos reais. O roteiro é baseado na história de Latoya Ammons e seus três filhos, que, supostamente, foram possuídos por demônios após se mudarem para uma casa de aluguel em Gary, Indiana (EUA), em 2011. Assim como no filme, havia suspeitas de que tudo estivesse relacionado à saúde mental da mãe. No entanto, alguns relatos reforçam a teoria de possessão demoníaca, como os de profissionais de saúde que acompanharam o caso e afirmaram ter presenciado comportamentos inexplicáveis – incluindo um dos filhos rosnando e revirando os olhos, e outro sendo arremessado contra a parede sem que ninguém o tocasse.
Como era de se esperar, algumas adaptações foram feitas para a ficção. Se no filme Ebony conta com a ajuda da reverenda Bernice para conduzir o ritual de libertação, na vida real, Latoya foi exorcizada três vezes por um padre católico.
A Libertação funciona melhor como drama familiar do que como filme de exorcismo. Apesar de falhar no quesito terror ao recorrer, desnecessariamente, a clichês já explorados à exaustão, consegue entreter e conta com atuações notáveis. O filme está disponível na plataforma de streaming Netflix.