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Fréwaka
Original:Fréwaka
Ano:2024•País:Irlanda
Direção:Aislinn Clarke
Roteiro:Aislinn Clarke
Produção:Dermot Lavery
Elenco:Bríd Ní Neachtain, Clare Monnelly, Aleksandra Bystrzhitskaya, Olga Wehrly, Grace Collender, Mícheál Óg Lane, Oisín Ó Maoileoin, Tara Breathnach, Dorothy Duffy

Às vezes o horror passeia pelos campos, em busca de comunidades isoladas por uma religiosidade particular, com suas tradições peculiares, e sempre envolta em conspiração e mistério. Nessa jornada, ele pode esbarrar solitariamente nos preceitos bizarros de um vilarejo rural da Suécia e na obscuridade do que habita as matas da Nova Inglaterra, assim como ambientes inóspitos da Irlanda. O folk horror de Aislinn Clarke propõe uma reedição dos horrores que circundam doenças mentais, numa abordagem bastante subjetiva, sem oferecer todas as respostas, além de aquecida em fogo brando.

Teve sua première no 77º Festival de Cinema de Locarno, em 9 de agosto de 2024, e depois fez parte do 60º Festival Internacional de Cinema de Chicago, com evidências de uma produção pouco popular, formulada para gostos alternativos. Em sua maioria, apesar de análises escassas, o longa recebeu críticas positivas, enaltecendo a atmosfera proposta e a interpretação de Bríd Ní Neachtain, como uma idosa enferma e a sentinela de um segredo que habita seu subconsciente, atormentado pela degradação psicológica.

Iniciando em 1973, durante as festividades de um casamento simpático e incomum, alguns mascarados com cones de palha levam ao local um bode, carregado de flores. A noiva, isolada nos fundos, levemente bêbada, observa o animal e não é mais vista, deixando por lá apenas a aliança. Nos dias atuais, após o suicídio da mãe, a enfermeira e cuidadora Siubhán (Clare Monnelly), apelidada de Shoo, tem a missão ingrata de limpar o apartamento dela, repleto de símbolos religiosos, e com lembranças de abusos que envolviam orações e queimaduras, contando com o apoio de sua namorada ucraniana grávida Mila (Aleksandra Bystrzhitskaya). Sem disposição para guardar recordações da falecida, Shoo recebe a tarefa de um trabalho temporário de auxílio a Peig (Neachtain), uma senhorinha que se recupera em casa de um derrame.

Um emprego tão ingrato quanto o de Caroline Ellis (Kate Hudson) em A Chave Mestra (The Skeleton Key, 2005), com a diferença que Peig aparenta ser extremamente desagradável, um tanto quanto desconfiada e paranoica, mantendo nos confins de sua morada superstições sobre seres que habitam a parte de baixo, com acesso por uma porta vermelha, com ferradura e pregos contados, que deveria afastar curiosos e o interesse de Lin Shaye por investigar o que há ali. Se a missão já se mostra amarga, os residentes, seja um garoto mascarado, a lojinha de (in)conveniência e a casa funerária, também despertam animosidade, com interlúdios sãos de Mila, tentando cicatrizar as feridas de Shoo com a mãe.

Focado nos embates femininos, enquanto o roteiro de Aislinn goteja sua narrativa, o horror se constrói na transformação gradual de Shoo em Peig, isolando-se da razão ao ser atormentada pela crescente sensação de insegurança. Além das diferenças propostas nas ideologias conflitantes, seja de religião ou língua, o longa se fortalece pelo que não mostra, como as sombras das entidades invisíveis que passeiam pelo subconsciente das mulheres e parecem ser a representação física de traumas do passado. O diálogo com as mitologias locais são breves, apresentadas de maneira indireta, com as simbologias reinando na linguagem utilizada.

Disponível no Reserva Imovision, com o selo Originais Shudder, Fréwaka não permite que o infernauta sinta o solo da narrativa, como se, ao final, restassem dúvidas sobre o que realmente aconteceu. Entre uma absurda facilidade do roteiro, naquelas coincidências disfarçadas de karma, a confusão proposta pelas incertezas pode desagradar o público das narrativas mastigadas. E há uma dose considerável de pretensões, espelhando o cinema elevado de Ari Aster e Robert Eggers, numa tentativa inferior de reutilizar a atmosfera mítica de produções mais ousadas. São esses distanciamentos da terra firme e ausências de um horror mais agressivo que impedem Fréwaka de alcançar níveis mais consistentes, mesmo com o desconforto proposto.

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