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Ghoul
Original:Ghoul
Ano:2015•País:República Tcheca, Ucrânia
Direção:Petr Jákl
Roteiro:Petr Jákl, Petr Bok
Produção:Petr Jákl
Elenco:Jennifer Armour, Alina Golovlyova, Jeremy Isabella, Paul S. Tracey, Inna Belikova, Vlamidir Nevedrov, Yuriy Zabrodskyj, Dmytro Bazayev, Anatoli Groshevoy

Entre as lendas investigadas por documentaristas de ocasião e que ajudaram a consolidar o estilo “found footage” como opção barata para cineastas pagarem suas contas, uma ou outra acaba passando batido na época de sua realização. Pela abundância do subgênero, com um formato amplamente explorado pelo cinema de horror, segmentos em antologias e temáticas diversas, é até compreensível essa ignorância: ora, nesses cenários de florestas sombrias e câmeras tremidas, você acaba optando pelos mais bem conceituados, aqueles que tendem a ser recomendados pelo público em geral. Ghoul fazia parte desse balaio até eu esbarrar nele na busca por uma outra produção. Será que tê-lo deixado de lado foi sorte ou oportunidade perdida?

Ainda que siga a fórmula raiz, o contexto é até interessante e assustador. Ghoul tem como pano de fundo o monstro soviético conhecido como Andrei Chikatilo, que, entre 1978 e 1990, assassinou cinquenta e duas mulheres e crianças, mutilando-as e estuprando-as, o que lhe deu apelidos como “o Açougueiro de Rostov“, “o Estripador de Rostov” e “o Estripador Vermelho“. O modo como conduziu os crimes e a liberdade em realizá-los, pela incompetência dos órgãos de investigação da época, tornou seu caso bastante conhecido, e Chikatilo é até hoje um dos maiores assassinos em séries de todos os tempos. Foi executado em 1994, depois de um longo julgamento e tentativas de apelação da defesa, apresentando ao júri um perfil psicológico problemático. Rumores indicam que algumas de suas vítimas tenham tido partes do corpo devoradas, um prato cheio – sem trocadilhos – para uma equipe de filmagem que visa um estudo sobre “Canibais do Século 20“.

Jenny (Jennifer Armour), Ryan (Paul S. Tracey) e Ethan (Jeremy Isabella) estão pesquisando o mapa da fome mundial, especificamente sobre os anos 1932 e 1933, na época conhecida como Grande Fome ou Holodomor, quando Joseph Stalin teria provocado comunidades da Ucrânia a ações de canibalismo pela sobrevivência. Também há interesse em entrevistar um canibal assumido, Boris Glaskov (Yuriy Zabrodskyj), que quase foi condenado pelo assassinato de um colega se o corpo tivesse sido encontrado. Segundo o professor Dmitro Antonov (Dmytro Bazayev), sob hipnose Boris assumiu que devorou sua vítima por influência de uma força sobrenatural.

Em Kiev, o guia Valeriy (Vlamidir Nevedrov) faz a ponte até Boris, que aparece brevemente apenas para entregar as chaves de sua moradia numa região isolada, onde supostamente teria ocorrido o encontro sobrenatural e o canibalismo, prometendo ceder a entrevista mais tarde. Os documentaristas levam a tradutora Katarina (Alina Golovlyova) e ainda contam com a psíquica Inna (Inna Belikova) até o ambiente rural, no vilarejo de Yablochnoye. O local decrépito externamente os conduz a uma residência simples onde chama a atenção uma mesa, funcionando como uma espécie de tábua ouija, com palavras e letras esculpidas na madeira.

O clima agradável de bebidas e conversa terá mudanças drásticas na manhã seguinte, depois que realizam um ritual de comunicação com os mortos. Valeriy terá desaparecido, câmeras colocadas nos ambientes revelarão ocorrências que eles sequer lembram de ter presenciado, como aconteceu em Bruxa de Blair 2: O Livro das Sombras (2000), e Inna ainda trará uma sentença sobrenatural sobre não quebrar o copo usado na comunicação e a impossibilidade de ir embora. Problemas no gerador, comportamento suspeitos e possessão irão ampliar a sensação de insegurança, ainda mais quando dois do grupo irá aparecer com feridas no corpo, similar às das vítimas de Chikatilo.

Se a atmosfera é adequada para o horror proposto – uma casa isolada por uma mata densa e distante, um sótão assustador e um gato preto que ora aparece inteiro, ora mutilado -, o contexto bagunçado atrapalha a compreensão do infernauta. O roteiro de Petr Jákl e Petr Bok explora tudo o que a fórmula já mostrou antes, adaptando para o que tem em mãos, sem cuidar acertadamente dos detalhes. E irrita pelos próprios americanos que, mesmo com diversas evidências, continuam insistindo que aquilo é combinado, demorando para entender o desespero da situação. Em dado momento, eles entendem que a assombração que ronda o local quer que eles cavem em dado lugar: um deles faz tudo o que foi pedido até, de repente, resolver enfrentar a ameaça. Por que teve todo o trabalho de seguir a orientação da entidade, se ao final, após ter cavado e tudo mais, desistiu de atendê-la?

Há equívocos dentro da trama em relação ao problema da comunicação. Às vezes, eles precisam de auxílio da tradutora; em outros momentos, esquecem de pedir ajuda como se tivessem aptos a entender o que foi dito. Eles descobrem uma filmagem estranha no sótão e esquecem de verificar a câmera de ambiente para saber como ela foi até lá; as datas das filmagens alternam sem razão aparente; e as gravações antigas seguem um óbvio roteiro found footage para deixar tudo explicadinho: ainda que os registros tenham sido enterrados, não houve investigação no local?

Para quem já cansou do formato, Ghoul será apenas mais uma correria pela mata com alguém gritando o nome de um desaparecido. Não espere nada além de clichês e roteiro repleto de facilitações, e tenha em consciência que se trata de um found footage raiz, mas com um contexto curioso, a única razão para mantê-lo na superfície, distante de outros exemplares que deveriam permanecer enterrados em túneis mal iluminados.

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