“Sim. Não.” Após inúmeras perguntas, cujas respostas não iam além de uma afirmação ou negação, o Boca do Inferno desistiu de brincar com as canetas e resolveu descobrir a verdadeira história por trás de Charlie, o protagonista do desafio Charlie Charlie. Para isso, a equipe invadiu uma escola em greve na Zona Leste, fria e com aspecto assustador, e foi até a última sala à esquerda com a velha Tábua Ouija para uma tentativa de contato.
Já passava da meia-noite, um vento frio agitava as cortinas e tocava agressivamente os vidros imundos. As carteiras foram afastadas – curiosamente uma delas trazia a inscrição Charlie, Are you there? – para dar espaço para o grupo. Velas acesas, muita concentração. Chamado por diversas vezes, Charlie não se manifestava. Outros espíritos zombeteiros tentavam contato para aproveitar a porta aberta – até mesmo a Annabelle queria conversar mais, falar sobre seu futuro encontro com Chucky. Paciência. Muita paciência. Charlie estava ocupando respondendo aos diversos contatos pelo mundo. Já pensando em desistir, imaginando que o fantasma era popular demais para um diálogo…quando houve uma reação lenta.
Veja abaixo a transcrição da conversa realizada naquela madrugada sinistra. E pense mais de uma vez quando tentar contactá-lo novamente…
Boca do Inferno: Charlie Charlie…você está aí?
Charlie: Sim.
Boca do Inferno: Queremos algo mais do que um sim ou não. Somos do Boca…
Charlie: Conheço vocês.
[Silêncio na equipe. Todos trocaram olhares.]
Boca do Inferno: Para começo de conversa, gostaríamos de saber o que você está achando de toda essa repercussão em torno do seu nome.
Charlie: Adorando. Muitos contatos e possessões.
Boca do Inferno: Você é um demônio ou espírito?
Charlie: Sou o pesadelo de vocês…
Boca do Inferno: Pensamos que fosse um fantasma camarada…
Charlie: [silêncio]
Boca do Inferno: É verdade que você faz parte de uma campanha de marketing do filme A Forca?
Charlie: Não sei que filme é esse. Acha que não exiiiisssto? Use as canetas…
Boca do Inferno: Por que nas escolas? Caderno, canetas…
Charlie: Morri em uma.
Boca do Inferno: Como você morreu?
Charlie: Sem ar.
Boca do Inferno: Enforcado, né? Durante uma brincadeira feita em 2013…
Charlie: Muitas pessoas estão me chamando…
Boca do Inferno: Você é o fantasma do momento! Todos querem falar com você.
Charlie: Até a Sadako está olhando para mim. Quer dizer, quando consigo ver os olhos dela. Mas, ela nunca sai daquele poço…
Boca do Inferno: Você já possuiu alguém?
Charlie: Muitos.
Boca do Inferno: Pode nos contar como foi?
Charlie: Posso mostrar como…querem falar comigo pessoalmente?
Boca do Inferno: Err…não. Temos que ir.
Charlie: Já? Não querem me ver? Estou morrendo de vontade…
Boca do Inferno: Err…você morreu mesmo em 2013? Há um vídeo no youtube de 2008…
Charlie: 2013. Havia a brincadeira antes. Sou o verdadeiro.
Boca do Inferno: Começou na República Dominicana…depois disseram que você era mexicano. De onde você é?
Charlie: Todos os lugares…quer sentir como é estar morto?
Boca do Inferno: Bo..bom a co..conversa fo..foi boa. Ma..mas temos que ir. Está tarde.
Charlie: Querem fazer o verdadeiro desafio?
Boca do Inferno: Não!
Charlie: Estão com medo?
Boca do Inferno: Sim!
Charlie: Parece que a caneta está bem movimentada para o sim e não. Vou até aí para conversarmos melhor…
Boca do Inferno: Adeus, Charlie!
Rapidamente, a equipe correu em direção à porta da sala de aula e alcançou o corredor. Um vento gelado parecia empurrá-los de volta para o local, como se fosse um abraço da Morte. Logo, estariam novamente no carro, assustados pela experiência realizada. O silêncio os acompanhou durante todo o percurso de volta.
Ainda não consigo acreditar nessa história.