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Juntos
Original:Together
Ano:2025•País:EUA, Austrália
Direção:Michael Shanks
Roteiro:Michael Shanks
Produção:Dave Franco, Alison Brie, Mike Cowap, Andrew Mittman, Erik Feig, Max Silva, Julia Hammer, Timothy Headington
Elenco:Dave Franco, Alison Brie, Damon Herriman, Mia Morrissey, Karl Richmond, Jack Kenny

por Gabi Santos (@a.gabi.santos)

Não é de hoje que o horror corporal é utilizado para abordar temas que consomem internamente o ser humano, sejam traumas ou relações que o corroem aos poucos. Em Juntos, que marca a estreia de Michael Shanks na direção e no roteiro de um longa-metragem, o
subtexto é a codependência e perda de identidade.

No longa, Tim (Dave Franco) e Millie (Alison Brie) são um casal que, apesar de muitos anos juntos, vivem uma relação cada vez mais fria e distante. Quando Millie recebe uma proposta de emprego, eles se mudam para o interior em busca de um novo começo. Isolados de amigos e familiares, as fissuras do relacionamento se tornam mais evidentes, especialmente quando eventos estranhos e perturbadores começam a acontecer, testando os limites da conexão entre eles.

A química entre Alison Brie e Dave Franco, que são um casal na vida real, entrega naturalidade a toda a intimidade e ressentimento presentes na relação. Tim e Millie iniciam com um silêncio carregado, travando uma guerra silenciosa na relação, mas passam a ter conflitos mais intensos, e a intimidade entre os atores é fundamental para tornar esses sentimentos críveis, até mesmo quando há ausência de diálogos, transformando o espectador em um voyeur involuntário.

Michael Shanks demonstra segurança e conduz a narrativa com um bom ritmo, deixando o desconforto físico e emocional crescer de forma gradual. Seu senso visual mistura o grotesco e o biológico. A dinâmica já sensível de Tim e Millie é transformada em um horror palpável, quando o diretor explora enquadramentos fechados que nos colocam presos juntos do casal e planos abertos para reforçar o senso de isolamento. Shanks também usa e abusa da luz baixa e áreas sombreadas para gerar desconforto e reforçar o clima de desgaste emocional, o que deixa o espectador mais atento ao que não está sendo mostrado.

Os efeitos práticos são um grande acerto e trazem a fisicalidade necessária, algo que o CGI não alcança. Apesar disso, mesmo perceptível quando utilizado, o uso de computação gráfica não compromete o resultado. Mas, ao contrário de A Substância, filme com o qual as
comparações têm sido frequentes e, de certa forma, inevitáveis, Juntos peca ao recuar nos momentos em que poderia abraçar de vez o repulsivo, gerando frustração em espectadores que buscavam a ousadia tão característica do horror corporal. Essa escolha pode estar
associada à tentativa de reduzir a classificação etária, e não seria surpresa se, no futuro, surgirem versões alternativas com cenas excluídas.

Apesar de não estar presente nos materiais de divulgação, o roteiro faz bastante uso de humor ácido, que é bem dosado na narrativa e dialoga com o absurdo de certas situações. No entanto, o roteiro também apresenta fragilidades mais evidentes, como a repetição de
explicações sobre os mesmos elementos, o que tira a oportunidade do espectador de preencher lacunas e montar o quebra-cabeça por conta própria. E é no terceiro ato que o filme tropeça de forma mais grave, com a necessidade de detalhar excessivamente a mitologia daquele universo, esvaziando o impacto e o estranhamento por um excesso de informações apresentadas sem sentido e que não se sustentam com a mesma força da atmosfera construída até então.

Juntos tem seus méritos, mas, assim como seus protagonistas, hesita em se entregar, por completo, à visceralidade que o subgênero exige.

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