The Following - 2ª Temporada
Original:The Following - 2nd Season
Ano:2014•País:EUA Direção:Marcos Siega, Joshua Butler, Liz Friedlander, Nicole Kassell, Adam Davidson Roteiro:Kevin Williamson, Vincent Angell, Alexi Hawley, Brett Mahoney, Dewayne Darian Jones, Scott Reynolds Produção:Michael Stricks, Rebecca Dameron, Hilton Smith Elenco:Kevin Bacon, Natalie Zea, Shawn Ashmore, Valorie Curry, Sam Underwood, Jessica Stroup, Tiffany Boone, Connie Nielsen, James Purefoy, James McDaniel, Carrie Preston, Valerie Cruz |
Atenção: O texto abaixo contém Spoilers da primeira temporada e de alguns eventos da segunda.
Ano passado Kevin Williamson, conhecido pelos roteiros da cinessérie Pânico, chegou à rede americana de TV Fox com uma proposta ousada: um serial killer inspirado nas obras de Edgar Alan Poe com um nível de inteligência a lá Hannibal Lecter, perseguido por um ex-agente do FBI com um passado problemático. A virada vem quando é rapidamente constatado que o assassino não age sozinho e que possui um culto de seguidores em sua retaguarda, infiltrados em todas as camadas da lei e prontos para agir ante qualquer ordem de seu mentor.
Com pedigree por trás das câmeras e um elenco de peso, houve um burburinho nos primeiros episódios da primeira temporada. A trama dava passos largos e havia um genuíno fator de suspense que sustentava toda a história do assassino Joe Caroll (James Purefoy) e seu passado com o agente Ryan Hardy (Kevin Bacon). A possibilidade de que qualquer um poderia ser sacrificado para manter o ritmo ativo, algumas boas viradas na trama também fizeram lembrar o seriado 24 Horas.
O porém é que com poucos episódios exibidos as coisas já pareciam descambar para uma morosidade que não condizia com a agilidade inicial. Por mais que a primeira temporada apresentasse um final explosivo e um gancho interessante, ficava no ar a impressão de que não havia possibilidades suficientes para que na segunda temporada a trama se desenrolasse.
E, infelizmente, esta acabou se tornando a realidade. Com uma tela em branco para continuar a trama, mas com o passado dos protagonistas já repassado à exaustão, pensar a frente tornou-se um problema. O jogo de gato e rato ganhou dimensões pouco agradáveis e quando as coisas pareciam engrenar, as soluções tornaram-se fáceis demais para provocar a atenção do telespectador. Nunca na história dos seriados de TV foi preciso tanta suspensão de descrença para aceitar o que os roteiristas nos quiseram fazer acreditar.
O roteiro começa exatamente um ano depois da finale da temporada anterior, com a suposta morte de Joe Caroll na explosão do farol. Ryan superou o alcoolismo e seu problema cardíaco (que sequer é citado no decorrer da temporada) e passa seu tempo investigando paralelamente os seguidores remanescentes do culto de Caroll e, inclusive, não acredita que de fato ele tenha morrido. Para esta tarefa ele conta com a ajuda de sua sobrinha, a policial Max Hardy (Jessica Stroup).
No primeiro aniversário de sua morte, um bando, vestindo máscaras de Caroll, ataca diversas pessoas no metrô, deixando apenas uma pessoa viva, a negociadora de arte Lily Gray (Connie Nielsen, Advogado do Diabo). Este é o estopim que coloca os caminhos de Hardy e do FBI novamente em curso de colisão.
É provado conforme a trama avança que na realidade há um outro grupo de assassinos seriais encabeçados pelos gêmeos interpretados por Sam Underwood (que já havia interpretado um assassino em Dexter), que fazem isto com o objetivo de chamar a atenção do próprio Joe Caroll, pois também tem certeza de que ele não morreu. E é claro que James Purefoy aparece para a alegria da galera, só que demora algum tempo para que ressurja até a superfície: ele tenta inclusive segurar seus instintos assassinos por um ano inteiro, contudo assume sua própria natureza e volta para seus novos seguidores e para seus novos planos.
Por mais que haja boa vontade do elenco – Bacon e Purefoy estão até melhores que no ano anterior – o grande problema está na falta de foco da trama. O elemento central da primeira temporada de The Following era o relacionamento mutuamente dependente dos protagonistas, comparável ao Batman e Coringa em A Piada Mortal, mostrando como são, em essência, faces da mesma moeda e que um não pode existir sem o outro.
Na segunda temporada, este elemento de obsessão recíproca é colocado de lado – os protagonistas só interagem nos episódios finais – para inserir um terceiro núcleo estranho na fórmula, os gêmeos psicóticos e a “não tão boazinha assim” Lily Gray, que não funciona por não haver qualquer motivação genuína para existir. Tanto que em vários episódios na segunda metade da temporada, sequer o nome de Gray (que era tão importante no começo) é mencionado.
O fato é que foi preciso uma sequência de desculpas muito da sem vergonha para colocar Caroll e Hardy em rota de colisão novamente e com um novo séquito a reboque. E embora a ideia de um culto religioso obscuro comandado por um tipo como Charles Manson apareça para apimentar mais as coisas – nós aqui de fora sabemos como pessoas com convicções religiosas extremas são perigosas – ela só engrena tardiamente e o novo plano central é obscurecido pela quantidade de situações a resolver causada, novamente, por não haver uma linha exata de qual caminho a seguir.
Com poucas cenas de impacto nos quinze episódios, terminada a temporada com um cliffhanger fraco e com a terceira já confirmada pelo canal Fox permanece o receio de que a criação de Kevin Williamson tenha ainda menos coisas para contar sobre os personagens no ano que vem, orbitando em conflitos forjados e suspense inexistente, sofrendo bastante para capturar a atenção do público ao contrário do que foi na estreia da série.
AVISO SPOILERS: Fui um dos poucos “sobreviventes” que ficou para assistir esta segunda temporada – chame de masoquismo televisivo ou vontade de terminar algo já começado, não importa. A questão é que esta nova temporada foi um pouco melhor que a primeira, mesmo que certos erros primários tenham sido cometidos no decorrer dos episódios (creio que o principal deles foi a reunião de Joe Carrol com aquele culto perdido no meio do mato cujo líder não possuía carisma nenhum para arrebanhar aquelas pessoas vestidas de vermelho – pelo menos em minha opinião). Os gêmeos e Lily Gray foram boas adições, mas que se perderam, tornando-se dispensáveis em boa parte da trama devido à guerrinha particular de Ryan Hardy e Joe Carrol. Outro detalhe negativo foi a volta de Claire nos episódios finais com o desejo de matar seu ex-marido, abandonando tudo e todos para conseguir seu objetivo. Talvez a melhor forma de acompanhar esta série é vendo como uma comédia involuntária (sim, o FBI continua batendo cabeça e servindo de coadjuvante para as investigações do infalível Ryan Hardy) ou procurar por obras melhores, tais como True Detective ou até mesmo as obras de Edgar Allan Poe.