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The Returned
Original:The Returned
Ano:2015•País:EUA
Direção:Jennifer Getzinger, Charles Martin, Deran Sarafian, Stephen Williams, Keith Gordon, Vincenzo Natali
Roteiro:Fabien Adda, Robin Campillo, Emmanuel Carrère, Carlton Cuse, Fabrice Gobert, Catherine Hoffmann, Nicolas Peufaillit, Brigitte Tijou
Produção:Justis Greene, Heather Meehan
Elenco:Kevin Alejandro, Agnes Bruckner, India Ennenga, Mark Pellegrino, Sandrine Holt, Sophie Lowe, Jeremy Sisto, Mary Elizabeth Winstead, Tandi Wright, Carl Lumbly

Além dos mortos, que o gênero fantástico ensinou o caminho de volta, os produtos que fazem sucesso fora da América do Norte também retornam. São os famigerados remakes, a comprovação cinematográfica que obras bem feitas devem ser preservadas. Como os americanos não apreciam a leitura de legendas e nem querem saber de dublagem, tudo o que faz sucesso distante de seus domínios acaba ganhando uma versão americana. A série The Returned, cuja primeira temporada se encontra disponível na Netflix, é altamente inspirada na produção francesa Les Revenants, de Fabrice Gobert.

A versão em língua inglesa teve a responsabilidade de Carlton Cuse, um nome por trás de diversas séries de sucesso como Lost (2004-2010), The Strain (2014-2017) e Motel Bates (2013-2017). Apesar dos bons resultados com essas séries, The Returned foi uma gigantesca pisada de bola, seja pelo fato de sua condição quase que inteiramente cópia carbono ou por não ter conseguido prender a atenção do público de maneira que garantisse uma segunda temporada. Assim, aqueles que arriscarem acompanhá-la visando uma comparação com o original terão uma gigantesca decepção ao saber que a série foi cancelada, encerrando seu conteúdo de maneira abrupta, sem um fim. Se tivessem também copiado o final francês, evitariam um desastre maior do que a destruição da barragem, que simplesmente não chegou a acontecer!

Os primeiros quatro capítulos basicamente copiam a versão francesa, incluindo diálogos e posicionamentos de câmera. Conferir uma série após a outra faz você ter a sensação de perda de tempo, como se estivesse assistindo a uma versão com alteração apenas de elenco de uma peça de teatro. Como na original, esta começa com o acidente de ônibus, onde acompanhamos a morte de várias crianças, da professora e do motorista, com a queda do veículo por um penhasco. Anos depois, enquanto as famílias planejam um memorial para as vítimas, a jovem Camille Winship (interpretada por India Ennenga) retorna para casa completamente desorientada, para surpresa de seus familiares, incluindo sua irmã gêmea Lena (Sophie Lowe).

Além dela, outros retornam na mesma configuração original: Simon (Mat Vairo), que morreu no dia de seu casamento em um possível suicídio quando descobriu que a amada estava grávida; Adam (Rhys Ward) – o Serge da versão francesa -, um assassino de mulheres, que costuma esfaqueá-las e devorar seu intestino; Helen (Michelle Forbes) – a Viviane do original -, morta há mais de trinta anos com a enchente e que ocasionou o suicídio do marido; e o pequeno Victor (Dylan Kingwell), garoto com poderes estranhos e que tem grande relação com o retorno.

Todos eles – e outros que se revelarão no decorrer da série – retornam para complicar a vida dos vivos, mostrando que a morte pode ser o melhor caminho. É o caso de Simon, que chega para atrapalhar a ex Rowan (a sempre carismática Mary Elizabeth Winstead) – na versão francesa, Adèle -, agora em um relacionamento concreto com o xerife Tommy (Kevin Alejandro). Como na original, ele balançará a garota, fazendo-a acreditar que se trata de um anjo que retornou para resgatar sua felicidade. Diferente da original, algumas cenas em flashback mostram as visões de Rowan com o fantasma de Simon, pedindo que ela se mate para encontrá-lo.

Também tem importantes alterações as ações de Victor. Na refilmagem, é mostrado que esta é a terceira vez que ele retorna, sempre ocasionando tragédias e mortes, com seu olhar congelado e silencioso. Em uma cena que não existe na francesa, ele usa seus poderes para assustar a policial Nikki (Agnes Bruckner), preocupado com suas investigações sobre o passado e a possibilidade de perder o contato com sua fada Julie (Sandrine Holt). Esta começa a acreditar que também voltou dos mortos, já que tem consciência de que nunca teve realmente uma vida depois de ter sido atacada por Adam.

Como no original, Adam também entra em conflito com o irmão Tony (Aaron Douglas), dono do bar, depois que descobre que morreu vítima de uma atitude drástica dele para evitar novos assassinatos. Nessa grande leva de personagens, vale destacar o personagem de Jeremy Sisto, Peter, que teve grande influência na morte de Victor no passado e que foi amante da mãe de Camille antes dela partir (outro detalhe novo na refilmagem). Ele terá que disputá-la com o ex, Jack (Mark Pellegrino), que aproveita o retorno para se aproximar da esposa. Como parte de seu sofrimento pela perda da filha, ele acabou se envolvendo com a garçonete Lucy (Leah Gibson), que no remake demostra ser uma vigarista em sua vidência através do sexo – um poder que ela irá realmente adquirir ao ser atacada por Adam e retornar.

Enquanto Helen pensa em novamente destruir a barragem para inundar a cidade, devido a sua atitude destrutiva apresentada em flashback, os demais continuam sem saber como agir, principalmente quando os mortos tendem a voltar mesmo depois de uma nova morte. Aparentemente, todos têm uma missão a cumprir nesse retorno, bastando apenas tentar descobrir suas reais intenções, mesmo sem o complemento da série.

Diferente de Les Revenants, há um esforço imenso para tentar explicar cada detalhe para o público. Algumas ideias são repetidas para que o espectador já consiga imaginar suas consequências, fazendo muitas vezes uso do flashback. No entanto, o detalhe mais assustador da série original foi deixado de lado: o retorno dos mortos para buscar aqueles que ousaram voltar, em silhuetas macabras, é o que afasta seu conteúdo de um dramalhão e traz o tom macabro que o espectador almeja. Talvez isso fizesse parte da proposta para uma segunda temporada, mas como a série foi cancelada sem explicações o público terá que se contentar em ver um produto até a metade, jamais sabendo quais as pretensões dos realizadores.

Se existe algo que motive uma conferida, pode-se apontar o elenco de rostos conhecidos do gênero (a única razão que me fez assistir aos dez episódios). É sempre bom rever Sisto, Winstead, Pellegrino e Bruckner em cena, mesmo que você não saiba como seus personagens irão terminar. Com uma boa produção e direção de Vincenzo Natali, entre outros, The Returned teria potencial para uma nova temporada ou até mesmo para um filme que completasse o conteúdo, mas, pelo visto, dependerá da imaginação do espectador encerrar esse passeio imprevisto dos mortos.

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