“O milagre da relação erótica masculina é o de uma total confiança e abandono endereçados somente ao prazer, sem qualquer dever, compromisso ou coerção.” – Francisco Alberoni
Creio que seja quase impossível filosofar sobre vampirismo sem falar em sexo, prazeres, orgias, e sonhos fantasmagóricos, afinal um assunto tão complexo deverá por força encarnar na sua essência uma apologia direta ao culto do erotismo, Onde a estética de um belo corpo, jovem e saudável, pode ser fonte inesgotável de prazer e vida!
O vampirismo caracteriza-se basicamente por um perfil aristocrata de personalidade e segundo J. Gordon Melton, que estudou profundamente por mais de trinta anos seguidos sobre o assunto, no prefácio “O que é um vampiro“, do famoso “Livro dos Vampiros“, temos as seguintes palavras:
“A definição comum, nos dicionários, serve como referência para a investigação: vampiro é um cadáver reavivado que levanta do túmulo para sugar o sangue dos vivos e assim reter a aparência da vida”.
Somente nesta ideia central já se evoca a horrenda imagem de um corpo morto em estado hipnótico ou de alucinação, reavivado por um poder diabólico direcionado contra o princípio das eternas leis naturais de vida e morte dentro do monismo da natureza!
É exatamente aí que prevalece a força indestrutível do mito como encarnação de um antigo horror endêmico herdado pelo inconsciente coletivo, à civilização moderna e contemporânea.
As primeiras hordas de seres humanos primitivos, habitantes de cavernas, não tinham um conhecimento científico-biológico sobre a função do sangue no corpo vivo. Eles observaram porém, que quando um animal perdia sangue, a vida também abandonava o corpo…
O mesmo se dava com o ente humano e em muitos casos, o sangue humano foi bebido no intuito de “transferir a vida” do semelhante ao corpo do que havia ingerido o sangue, num macabro ritual onde a violência e o crime foram atos decisivos num combate.
O sangue simboliza de alguma forma o “espírito” dos animais, a própria vida animada na criatura viva, e no homem este significado transfigurou sua própria imagem a um universo mítico, ilustrado por ritos e crenças das mais variadas naturezas.
O vampirismo nasceu já de alguma forma exatamente quando um homem primitivo bebia o sangue de seu inimigo acreditando herdar do mesmo toda a vida, coragem e ferocidade! Bebia-se o sangue em um ritual de triunfo e rigozijo em comunhão ou numa orgia, num deleite que causava prazer acima de tudo por vencer o rival que antes era uma ameaça, disputando o direito de gozar as fêmeas da ordem primeva, as mulheres agrupadas em submissão absoluta!
Neste período da pré-história da humanidade, já se traçava um perfil marcante e fundamental do culto do vampirismo, ou seja, beber sangue numa volúpia selvagem e irracional, abusando do próprio instinto!
A carne humana também podia ser comida num ritual antropofágico de primitivo canibalismo. Daí também se pode extrair num paralelo, o mito do lobisomem, um monstro que come carne humana!
O alemão Hans Staden descreveu situações desta natureza, há quatrocentos e cinquenta anos e muito próximo de nós, aqui mesmo no Brasil, no seio de tribos indígenas primitivas. Sua obra publicada por volta de 1557 em Marburg, na Alemanha, tinha o seguinte título que chegava a ser extravagante:
“Descrição verdadeira de um país de selvagens nus, ferozes e canibais, situado no Novo Mundo, América, desconhecido da terra de Hessem antes e depois do nascimento de Cristo”.
Porém, as alusões mais antigas a respeito de tais práticas como beber sangue humano ou comer carne humana remontam a milênios da história natural. Mas estes “estranhos” modos de comportamento humano só puderam ser estudados nos últimos duzentos anos de avanço científico, através das duas catedras, rainhas absolutas do verdadeiro conhecimento humano, a psicanálise ou psicologia, e a antropofagia. Através do estudo aprofundado de certas tribos indígenas ou de negros, puderam-se compreender de alguma forma como estes grupos comportam-se e como comportava-se o homem de sessenta mil anos atrás. Os ritos e as práticas religiosas variam em abundância os aspectos principais, porém, tem um só elo em comum, ou seja, a plena consciência da temida morte!
A morte entra em cena como uma das principais personagens da odisseia do vampirismo, não como mito de ficção, mas uma amarga e dura realidade a tudo que vive! Posso fazer um trocadilho de palavras chaves para ilustrar a base do mito do vampirismo: vida-morte – vida através do sangue – morte ao perder sangue…
Revendo a mitologia judaica, encontrei um nome que muito significou para mim e para a própria história do vampirismo. A rainha das trevas, o lado oculto da lua, Lilith, a filha legítima de Satã e a primeira esposa de Adão! Lilith!…
Lilith será sempre a mais bela das belas, a mais fogosa, a mulher mais deliciosa do mundo, o símbolo absoluto do prazer, o cheiro mais excitante que é o cheiro característico que exala-se abaixo do ventre feminino, o cheiro do mel almiscarado, o cheiro da mulher! Lilith é a mãe primeva dos vampiros e espectros malignos. Lilith foi também esposa de Caim, que logo tornou-se o primeiro assassino que derramou o sangue do próprio irmão, tornando-se também uma espécie de vampiro errante, répobro maldito.
Com o surgimento de Lilith, o vampirismo ganha a sensualidade e a conotação sexual que faltava para completar a grandeza de um mito tão forte dentro da cultura humana, ou seja, sem sexo o vampirismo não teria atrativo suficiente para sobreviver dentro das civilizações do mundo.
Os mitos, assim como as crenças em seres que alimentam-se de sangue emergem de vários povos de todo o mundo e em várias épocas da história da civilização. Na Grécia, por exemplo, encontramos citações significativas de vampiros com nomes como “Empusai“, “Mormolykiai“, “Lamiai” e “Strige“.
Este último nome, “Strige“, significa uma sinistra referência a uma enorme coruja que habitava torres. Este ser tornou-se um monstro noturno equiparado a uma Lilith que atacava somente criancinhas para beber o sangue.
“Lamiai” deriva de “Lamia“, uma belíssima rainha da Líbia que foi seduzida por Zeus. A mulher deste, Hera, num ataque de ódio e ciúmes castigou Lamia transformando-a num monstro hediondo condenada a habitar cavernas e beber também sangue de crianças como alimento.
Vários fatores caracterizam estes monstros sugadores de sangue e um dos pontos mais significativos é que a maioria dos vampiros são seres noturnos, que habitam nas trevas, seres que repelem a luz do sol.
O cinema e a literatura ilustrou bastante este universo vampírico, por isso sabemos de antemão que “luz do sol“, “alho“, “crucifixo” e “água benta“, afugentam os vampiros. Queria, porém, desviar o curso natural destas informações, ou melhor, acrescentar costumes de comportamentos sociais com hábitos que muito caracterizam alguns indivíduos como vampiros!
Em relação aos últimos dois mil anos de história por exemplo, vemos a vitória do Cristianismo em todo o Ocidente, onde reina ainda uma fé um tanto ultrapassada para a nossa época. Porém, observei o seguinte: que o símbolo do Cristianismo, a “cruz” ou o “crucifixo“, demonstra uma vitória e afirmação absoluta sobre qualquer “vampiro” ou “demônio“, que repele o símbolo devido “ao poder de Cristo pregado em uma cruz!“.
Espantosa observação, onde um vampiro passa a ser um “fruto mítico do próprio Cristianismo” para ser apontado como a própria encarnação do mal, um demônio, que representa a oposição a todo o “bem Cristão“. Desta forma, toda vez que se mostra um crucifixo a um vampiro, simbolicamente o Cristianismo se afirma como o “sumo bem“, regado às vezes com “água benta” ou “óleo benzido” por estúpidos crentes.
Tudo nos leva a crer que somente Cristo e a doutrina pregada pelos seus seguidores é que pode salvar o mundo, o que é de fato também um mito sem a mínima sombra de dúvidas.
Com essa gigantesca inversão de valores, sempre a religião Cristã sai ganhando campo, às vezes sobre os mitos mais importantes da humanidade, e assim boa parte da literatura sobre vampiros é de alguma forma fruto deste Cristianismo avassalador que tudo quer dominar para fortalecer a fé. Porém, o mito do vampiro é muito mais antigo que a religião Cristã, ele já pode ser identificado em mitologias pagãs de vários povos do passado, entre gregos, judeus, romanos, orientais, e vários agrupamentos de povos indígenas e de negros, que já falavam de alguma forma sobre “monstros ou cadáveres sugadores de sangue“…
Um traço interessante que observei num vampiro moderno são as duas forças pagãs de divindades mitológicas que podem caracterizar esta figura curiosa e incomum.
Nietzsche, o filósofo da cultura, identificou duas forças dentro da alma do Homem, uma ele chamou de “Apolínea“, a outra ele chamou de “Dionízica“. Em sua obra “A origem da tragédia“, este complexo e aprofundado estudo pode ser melhor compreendido ao reservarmos obrigatoriamente ou por simples prazer, algum tempo para a leitura desta obra singular.
O perfil “apolíneo” de um vampiro está muito além à regra de um homem comum, ao contrário, ultrapassa este num radicalismo seguido à risca! A postura aristocrata e nobre de um vampiro distingue-se das outras pessoas comuns, seu porte físico, seus traços de rosto, seus olhos, mãos, cabelos, tudo em se tratando de corpo é de porte elevado e misterioso.
Um gosto por arte e acabamento estético dão aquele toque “diferente” na casa ou castelo de um vampiro. Pinturas do romantismo, referências ao helenismo greco-romano em artes, colunas e pilares de sustentação em estilos jônicos-dóricos-coríntios, cortinas vermelhas simbolizando paixões, gosto por profundas leituras de livros raros de autores célebres, prazer absoluto no culto ao conhecimento, ao estudo pontificado, meditado, a transformação nas palavras em argumentos filosóficos e referências de literatura ou poesia nas conversações.
Esta postura e este gosto pelo belo que todo vampiro aspira são a manifestação de cunho apolíneo em graus elevados de poder! Tudo que embeleza a vida, ofereça conforto absoluto e segurança, grandeza de cultura, por detrás de todas estas manifestações à luz apolínea, a força e o poder de Apolo como exemplo de equilíbrio permanente. O traço “dionízico” de um vampiro também é explicitamente visível no gosto por sexo, por orgias e paixões desenfreadas, busca incessante de companhia para os prazeres, o desejo ardente de sedução, os beijos de fogo, a fúria cega na busca eterna de noivas, e por fim, a conquista de uma só musa bela, sensual, nobre, submissa, verdadeira nos encantos doces de um belo corpo harmonioso, jovem, muito jovem e cheia de vida e calor para fundir-se no deleite supremo do gozo e da vampirização absoluta!
Apolíneo e dionízico, dois traços marcantes na alma de um vampiro identificando estas curiosas personalidades com seus respectivos gostos e aspirações muito além do homem comum. Este, condenado a errar até a morte num raciocínio senso-comum que o limita e reduz seu campo de conhecimento e compreensão do mundo e civilização.
Mas espantoso mesmo é o traço lúgubre do vampirismo que aparentemente está em contradição com o que acabei de descrever, mas aí é interessante notar que o vampiro é um ser que resiste à ação do tempo e às transformações sociais. Se seu castelo está em ruínas devido às guerras e à corrente dos séculos, resistiram porém estas ruínas impondo-se ainda, com o perfil radical de uma raça dominadora que impôs um dia na linha do tempo a marca da sua maneira de ser no mundo!
Vlad Tepes hoje é apenas uma referência histórica para fortalecer um personagem de literatura, mas os castelos que habitou no tempo em que reinou, as ruínas que emergem do alto dos rochedos são ainda uma realidade visível a quem visitar a Romênia nos dias de hoje!
Já falei sobre Vlad Tepes Dracul em um outro escrito mais específico onde pudemos rever algumas maneiras “diferentes” de se fazer justiça no mundo, e como seria gratificante ver esta justiça “Draculesca” se abater radicalmente sobre todos estes bandidos marginais que barbarizam as sociedades modernas, estes assaltantes, estes ladrões violentos, estes anti-helenicos por natureza, esta choldra de inúteis serem todos, torturados com fogo, empalados com estacas pontiagudas com mais de dois metros de comprimento, ou serem esquartejados vivos, esfolados e cozidos em enormes panelas de ferro!
Lembremos dos relatos medievais escritos por Ambrosiu Huber em 1499 na cidade alemã de Nuremberg, onde Drácula, o calamitoso, espalhava o terror da sua lenda com as atitudes reais e ferrenhas de uma justiça horripilante e assustadora, mas que funcionava de verdade!
Drácula é a manifestação absoluta do mito do vampirismo, é o vampiro por excelência, o símbolo superior que jamais será destruído, pois é a própria força da vida eterna conquistada! Não existe meio termo, ou se cultua Drácula ou odeia este mito como o diabo odeia a cruz, ou se identifica com Drácula ou será apenas mais um perdido no meio da massa humana dos grandes aglomerados em número!
Que símbolo mais ousado e másculo do que a imagem do vampiro criado por Bram Stoker?
Por certo o dandy da Irlanda não imaginaria a proporção que ganhou o seu personagem do romance publicado em 1897, uma das obras mais horripilantes escritas em língua inglesa, o livro “Drácula” vem sendo lido e relido a todo instante no mundo todo por adolescentes e adultos! Eu mesmo confesso que li o livro nos meus gloriosos dezesseis anos de idade pela primeira vez e de lá para cá já reli de oito a dez vezes mais ou menos!
Todo homem que sonha com as mais belas jovens cheirando água de flores, que sonha com as virgens impossíveis, ideal helênico de beleza clássica feminina, o sonho perdido com um número considerado de ninfas, todas estas fantasias oriundas de uma mente esclarecida e bem resolvida em questões de prazer, tem na imagem do vampiro a realização plena destes desejos reprimidos e sufocados pela falsa moral, tem no vampiro a transferência e a canalização direta dos próprios anseios eróticos que sufocam os moralistas ingênuos e as beatas frígidas castradas por preconceitos medíocres impostos por gente que no fundo é inimiga da vida e do prazer.
Um vampiro é uma espécie de “super-homem” que Zaratustra tanto falou, porém não é o “super-homem” em sua plenitude, pois é um ser diferente no perfil do comportamento e da personalidade que classifica-o como “um super-homem misterioso“.
Muitos de nós, cultuadores do vampirismo e da feitiçaria, magos, bruxos, ocultistas, goticistas e dandys, identificamo-nos com o perfil de um vampiro exatamente porque este personagem é a projeção absoluta de tudo aquilo que gostaríamos de ser! Acreditando nessa filosofia, vamos na medida que adquirimos conhecimento das verdades, tornando-nos espécies raras de vampiros!
O vampirismo passa a ser uma maneira exótica de pensar e agir num mundo repleto de riquezas e prazeres diversos que precisam serem conquistados, afinal chega o grande momento na vida onde temos que decidir por nossos gostos e desejos e só no universo do vampirismo estaremos plenamente realizados, e vingados de todo o mal que a realidade comum nos tem feito todos estes anos!
“Juventude eterna” e “poder sobre os outros“, somente aqui um reino e harém aos nossos pés como “bon vivants” que somos, passaríamos o nosso tempo desfrutando prazeres que somente os vampiros podem gozar!
A transgressão ao pensamento dominante cristão de “fraternidade“, “perdão“, “piedade“, “igualdade social” e todas estas mentiras convencionais na moderna civilização, prevalecerá na filosofia do culto ao vampirismo como a rebeldia aristocrata por excelência!
Nelson Liano Jr., em sua célebre obra “Manual Prático do Vampirismo“, traça um perfil bastante singular sobre a filosofia do vampirismo. Quando estudei este livro, imediatamente classifiquei-o como um dos melhores trabalhos já escritos sobre um assunto tão complexo. Ali o autor abordou a essência do vampirismo de uma maneira perfeita em linguagem histórica e poética aprofundando neste obscuro universo onde orgias com ninfetas em rituais e sabás são realizações comuns aos neófitos iniciados.
As fantasias sexuais são os impulsos que precisamos para renascermos outra vez, mais humanos e mais saciados dos nossos desejos, que é a coisa mais importante da vida. “Só o prazer e a juventude valem a pena nesta vida“, ensinou-nos também o genial escritor irlandês Oscar Wilde.
Nestes rituais secretos, escondidos, pois tudo que é escondido é mais gostoso de fazer, ali o vinho era também um símbolo de comunhão, mas antes mesmo do vinho, o sangue humano era uma bebida ideal!
Mas a verdadeira maldição pode estar em um sangue sujo, contaminado com infecção venérea, sífilis ou HIV por exemplo, desta forma, o líquido mais precioso que existe pode oferecer uma morte eterna àquele que ingerir tal beberagem!
Atualmente uma orgia vampiresca é coisa raríssima de ocorrer, e o sangue é substituído por vinho quando ocorre tais deleites, onde os mais ousados se entregam aos prazeres…
O próprio Cristo em sua ceia com os apóstolos realizou na última noite um ritual fantástico de vampirismo simbólico, dando seu próprio sangue, substituindo por vinho em uma taça, aos doze apóstolos escolhidos para compartilhar do interessante ritual!
“Tomai e bebei todos vós, este é o meu sangue, o sangue da nova e eterna aliança, que será derramado por mim, por vós e por todos os homens, para o perdão dos pecados, faço isso para celebrar a minha memória!“. Aqui, nestas profundas palavras, o iniciado Jesus Cristo realiza um ritual pacto, onde o sangue está presente para ser bebido… Seu corpo que é simbolizado por um pão, será devorado também pelos apóstolos, numa comunhão, onde nos lembra simbolicamente um ritual de antropofagia que remonta há mais de 60 mil anos, onde se celebrava um culto primitivo ao redor do fogo! A mística da “Santa Ceia“, pintada por Leonardo da Vinci na parede de um grande refeitório do Mosteiro de Santa Maria Delle Grazie, em Milão na Itália, entre os anos de 1495 e 1498, expressa um verdadeiro clima de agitação ao revelar a Jesus que um dos que ali estavam iria traí-lo! O sal derramado na mesa é o símbolo desta traição…
O vinho tem a cor do sangue e o misticismo que remonta às próprias mitologias pagãs. Baco é o deus do vinho, logo a embriaguês, a dança e o prazer, são a glorificação da própria vida. Ingerir vinho (sangue simbólico) é reviver ou ressuscitar do tédio, que é uma espécie de morte psicológica, é embriagar-se de vida!…
Por todos os lugares que passei, com todos os homens que conversei, encontrei neles um desejo ardente por possuir deliciosas ninfas e mulheres sensuais, fogosas, fartas, delicadamente doces, selvagemente perversas! Em todos vi a frustração, a impotência perante o harém perfeito que é o mundo e a diversidade da realidade. Em todos estes homens, os mesmos queixumes, as mesmas fraquezas, as mesmas taras, os mesmos desejos de serem mais viris, os que mais gozam com um maior número de mulheres possíveis, todos tarados, todos sonhando com orgias impossíveis, nenhum exemplo prático, concreto, como um verdadeiro Sade ou Byron, nenhum Sultão, nenhum Casanova, nenhum César, nenhum Napoleão, nenhum Drácula! Todos bem abaixo do verdadeiro papel de homem!
Toda orgia, por mais ou menos requintada que seja, pertence ao culto do vampirismo, aos que vivificam esta maneira de ser e de agir no mundo. Só os vampiros são capazes de se realizarem plenamente porque fazem do prazer e da juventude um culto supremo.
Os homens comuns praticam sexo apenas e pronto, por ali se resumem as suas aspirações. Não vão além de um gozo comum e natural que também foi um presente da natureza. Estes impõem-se, como somente eles que fossem os eleitos, sendo que todo o reino da natureza é regido por esta força natural! Ou seja, “nada de novo debaixo do sol“. Mas quando mergulhamos na ilusão ou realidade do culto do vampirismo, abrimos novos campos para o prazer sexual e estético, então é revelado a nós de uma maneira muito especial que o prazer e o sexo são uma prática sagrada e milenar, que a fantasia abre os caminhos para multiplicarmos este tesouro que a natureza nos deu. Então, através da estética, ficamos mais exigentes até depararmos de fato com o “belo“, a beleza humana em si mesma.
Só se torna vampiro quando se descobre de fato o que é belo, então vem a necessidade apurada da grande conquista, da sedução vampírica, da posse física daquilo que de fato é vida!
Existem casos de mulheres mais velhas apaixonarem-se por garotos mancebos. Estas espécies de “vampiras” não buscam mais do que gozar o pleno vigor físico e a jovialidade dos mancebos de forma absoluta! E tudo elas fazem em matéria de sexo, iniciando estes jovens às verdadeiras loucuras eróticas onde a regra é o sexo livre, para a sorte absoluta dos eleitos por “Vênus“.
Teoricamente, o vampirismo se apresenta por mais de mil maneiras diferentes de interpretação, desde aquele goticismo sinistro e fantasmagórico até as mais excitantes maneiras e modos de erotismo e masoquismo, onde os neófitos atingem orgasmos através de dor e tortura. Tudo de mais profundo e criativo do imaginário humano compõe o cenário do vampirismo.
O célebre e genial Graça Aranha fez algumas importantes observações a respeito do medo no ser humano, em sua dissertação sobre “A função psychica do terror“. Ele nos relata o seguinte:
“Não é somente por uma manifestação physica retrógrada que o terror reside no homem, é também pelo retrocesso à alma antiga dos antepassados, reação em que a cultura adquirida se esvai, como a luz solar no mistério da infalível noite. Esse retrocesso à sub-consciência se acentua na vida coletiva, nas sociedades humanas, em que o estado de aglomeração faz despertar os instintos selvagens dos antropóides e homens primitivos que viviam em tribos. Outra causa do medo é a dor, antes do sofrimento moral, a dor física agindo nos centros nervosos do animal determinando o pavor do desconhecido e no homem cria o sentimento da morte.”
A imagem sinistra de um vampiro desperta nos homens este medo antigo pelo desconhecido, pelo ser excêntrico que o ameaça por diferentes formas transfiguradas no seio da escuridão.
O vampiro tradicional das páginas da literatura é o ser mais horripilante que pode existir, nas palavras, nos gestos, na imagem e no perfil, o vampiro equivale à mil homens em força e inteligência!
O vampiro sabe das verdades, conhece os tesouros do mundo, o valor do que é belo, o valor da beleza em si, por isso arrisca, por isso sai todas as noites à luta por uma presa de pele de seda e ventre aveludado, aspira o perfume ideal a sua tara ancestral e precisa gozar até o êxtase, sugando o sangue do pescoço ou pulsos da vítima. Aqui, como todos sabem, é uma espécie de símbolo esta mordida vampiresca que no fundo representa sempre uma selvagem relação sexual.
O que são as orgias depravadas dos filmes pornográficos senão a plena realização de instintos vampirescos de cunho perverso e escarnecedor?
As estrelas desses filmes, escolhidas a dedo, são a encarnação da própria beleza em si mesma, e o que é belo, arrebata sem piedade, então por alguns instantes nos vemos diante das forças primitivas da natureza auxiliada pela perversão dos que estão atuando por detrás dos bastidores!
Mito ou realidade, o vampirismo é esta força indestrutível de sedução, saque, posse, busca, conquista, realização e vitória sobre a morte, e só se vence a morte vivendo a vida intensamente, sem trégua e sem demonstrar fraqueza, avançando sempre em busca de um ideal.
Todo misticismo e poesia do culto do vampirismo deve ser preservado e apreciado cada vez mais como fonte de vida eterna e para enriquecer o nosso conhecimento e as nossas fantasias que são as armas que temos para destruir os nossos inimigos e o próprio tédio que se converte em spleem quando esmorecemos o nosso espírito criador.
Sinceramente nunca gostei de vampiros sempre achei meio sem graça, só uma opinião. O único que gostei foi o Nosferatu apesar de ser baseado no Drácula.