Donald Pleasence, muito além de Dr. Loomis!

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Halloween (1978) (8)

“Eu realmente não sei quantos filmes eu já fiz e eu não vejo isto como uma corrida que eu necessariamente queira ganhar. Nem é o tipo de corrida que eu queira parar de correr”

Limitar a carreira do ator britânico Donald Pleasence ao seu papel de Dr. Loomis na franquia Halloween seria minimizar e ignorar a importância deste cidadão do mundo para com a sétima arte. Logicamente que com este seu papel mais conhecido no gênero tornou-se um “imortal“, mas é importante conhecer todos os passos deste talento que defendeu com tanta categoria tantos personagens memoráveis em atuações fantásticas.

Donald Pleasence nasceu no dia 3 de outubro de 1919 em Nottinghamshire na Inglaterra, filho de Thomas Stanley e Alice Pleasence. Sendo o mais jovem de dois filhos de um trabalhador das ferrovias, Pleasence saiu da escola um ano antes de se formar para perseguir o sonho de infância de se tornar um ator. Conseguiu ser aceito na Academia Real de Arte Dramática, entretanto não conseguiu prosseguir, pois não ganhou uma bolsa que cobrisse as despesas com os estudos e despesas do dia a dia. Depois de trabalhar por um ano e meio como gerente de uma estação ferroviária, Pleasence foi transferido para Jersey, onde compôs seu primeiro papel no teatro.

Halloween (1978) (4)

Fez sua estreia em maio de 1939 interpretando Hareton Earnshaw em uma adaptação de O Morro dos Ventos Uivantes e foi sucesso imediato: continuaria com a carreira ascendente durante os próximos anos – um período em que faria sua estreia em Londres em junho de 1942 em uma adaptação de Shakespeare, entretanto um evento que abalou a vida de muitos naquela época surpreendeu Pleasence também: a Segunda Grande Guerra.

Pleasence, que sempre foi um pacifista, passou um tempo relutante, mas decidiu se alistar na Força Aérea Britânica. A tragédia parecia eminente quando seu avião foi abatido sobre a França e ele se tornou um prisioneiro de guerra dos nazistas, sendo torturado física e psicologicamente pelos guardas, enquanto aguardava o fim da guerra com esperança. Este dia chegou em 1946, quando foi resgatado e dispensado com a patente de tenente. Enquanto os demais soldados como ele se recuperaram em casa, para Pleasence a única forma que encontrou para se libertar dos horrores da guerra foi voltar ao trabalho.

Donald Pleasence (2)

Retornando aos palcos quase que imediatamente não teve muitas dificuldades em encontrar papéis. Depois de passar algum tempo no Teatro de Birminghan, ele se juntou à prestigiosa Bristol Old Vic Company e foi para Nova York onde estrelou junto com Laurence Olivier e Vivian Leigh, Cesar e Cleópatra, no Ziegfield Theatre em dezembro de 1951.

Com bastante prestigio nos palcos, Pleasence retorna a Londres e, após algumas temporadas nos palcos, na metade da década de 50, decide mudar de mídia. O público da televisão e do cinema logo conheceriam aquele a quem os críticos se refeririam como “o homem com o olho hipnótico“.

Na telona, o início de Pleasence foi em The Beachcomber (1955) sem receber muita atenção por ter apenas uma pequena participação. Continuou a trabalhar em diversos filmes durante o final da década, entre eles, o drama Look Back in Anger (1959), com Richard Burton, mas passaria a se dedicar mais novamente ao teatro onde começaria a ser reconhecido nos dois lados do Atlântico.

Donald Pleasence (3)

Em 27 de abril de 1960, Pleasence estreou a peça The Caretaker, no Arts Theatre Club, em Londres, que não foi nada menos do que um sucesso absoluto. The Caretaker permaneceu 14 semanas em cartaz em Londres quando foi para a Broadway, onde foram realizadas 165 apresentações, todas com excelente público. Pleasence recebeu enorme reconhecimento tanto na Inglaterra quanto nos Estados unidos, recebendo da Associação dos Críticos Britânicos o prêmio de melhor performance do ano (1960) e uma indicação ao prêmio Tony (a primeira de quatro, nunca ganhou). A peça foi adaptada para o cinema por Clive Donner em 1964 lançada com o título The Guest. O sucesso do filme não foi tão grandioso como nos palcos, mas um outro filme do mesmo ano se tornaria eventualmente um clássico.

O filme era Fugindo do Inferno, co-estrelado por Steve McQueen, James Garner, Richard Attenborough, Charles Bronson e James Coburn, sendo o seu primeiro grande filme em Hollywood, colocando-o definitivamente em evidência entre os produtores do circuito. Seu papel foi realista o suficiente para colocá-lo em filmes de bom orçamento durante o restante da década, incluindo A Maior História de Todos os Tempos, Nas trilhas da Aventura (ambos de 1965), Viagem Fantástica (1966), A Noite dos Generais (1967), Ernst Stavro Blofeld, o eterno nêmesis vilanesco de James Bond em Com 007 Só Se Vive Duas Vezes (1967) e Will Penny (1968). Também se deve citar sua interpretação neurótica no filme Armadilha do Destino (1966), dirigido por Roman Polanski, porém era um filme de orçamento minúsculo e feito na Europa. Cada um destes filmes demonstrou a performance ímpar deste ator, no entanto os palcos reservavam um sucesso ainda maior.

Donald Pleasence (1)

Pleasence topou encenar a peça The Man in the Glass Booth (1967), que o fez levar sua terceira indicação ao Tony e este seria seu último grande sucesso teatral, pois pelo restante de sua carreira Donald Pleasence se entregaria ao cinema e a televisão.

Continuou fazendo filmes de alto orçamento nos anos 70 em Hollywood como The Black Windmil (1974), Hearts of the West (1975) e O Último Magnata (1976), mas seu nome a partir deste momento estaria altamente associado à dimensão do horror. Durante toda esta década ele passou a estrelar diversos filmes B de baixo orçamento e/ou produções obscuras, as quais incluem O Metrô da Morte (1972), From Beyond the Grave , Testemunha da Loucura (ambos de 1973), Estranhas Mutações (1974), O Filho do Demônio (1975) e Trama Sinistra (1977), este último com Peter Cushing. A maioria destes filmes era apenas para “pegar o cheque” e como não recusou estar em nenhum deles não dá para não encontrar a ironia quando um papel em que quase desistiu se tornou o seu maior reconhecimento pessoal. Este filme era Halloween.

Phenomena (1985) (1)

O ano era 1978 e um jovem diretor chamado John Carpenter perguntou se Pleasence queria figurar no elenco de seu próximo filme com orçamento de 300 mil dólares chamado Halloween. O relutante Preasence finalmente aceitou o papel depois que uma de suas filhas disse que gostou muito do filme anterior de Carpenter, ASSALTO A 13ª DP (1976). Pleasence fez o papel do atormentado psiquiatra Dr. Loomis por um cachê de 20 mil dólares e o resto é história… O filme não apenas colocou Pleasence como um ícone do cinema de horror como fez dele a imagem que jamais se apagaria.

Apesar do sucesso de Halloween e dos próximos filmes da parceria Carpenter/Pleasence, Fuga de Nova Iorque e Halloween II (ambos de 1981), ele não conseguiu mais se situar entre nenhum sucesso comercial, ficando até o fim durante quase toda a década de 80 em papéis em filmes de baixo orçamento, que oscilaram entre excelentes (Phenomena e Segredos Nucleares), esquecíveis (O Senhor das Águias e Terror em Devonsville) e bagaceiras (A Rainha Guerreira). Quando questionado sobre porque pegava tantos papéis assim, Pleasence dizia que era para sustentar seu estilo de vida “gastão“, entretanto seu bom amigo John Carpenter admitiu depois que Pleasence, até o fim da vida, “… estava se sentindo mal fazendo tantos filmes ruins. Isto realmente o incomodava“. Pleasence fechou a década com outro de Carpenter, O Príncipe das Sombras (1987), duas adaptações de Edgar Allan Poe, Nascido das Trevas (1988) e Enterrado Vivo (1990) e múltiplos filmes italianos. Também voltaria ao papel de Dr. Loomis em Halloween 4: O Retorno de Michael Myers (1988) e Halloween 5: A Vingança de Michael Myers (1989). Estes filmes marcaram o retorno de Pleasence à série desde 1981, porém apesar de serem bem sucedidos não tiveram a mesma intensidade dos dois primeiros.

Príncipe das Sombras (1987) (5)

Nos anos 90, a idade pesou para o ator e consequentemente o ritmo diminuiu. Estrelou o filme American Rickshaw (1990), do diretor Sergio Martino, com Mitch Gaylord e a sátira Neblina e Sombras (1992) de Woody Allen. Em 1993 fez o suspense medieval Entre a Luz e as Trevas, contudo os holofotes da época para Pleasence estavam apontados para o revival da peça The Caretaker em Londres no ano de 1991. Seu último papel no cinema seria mais uma vez encarnando Dr. Loomis em Halloween 6: A Última Vingança (1995) (seu papel anterior no filme Fatal Frames só seria lançado nos cinemas em 1996).

Pleasence, que ficou deliciado com o roteiro original escrito por Daniel Farrands anunciou que seria a melhor das sequências, todavia não viveu para ver o decepcionante resultado. Faleceu no dia 2 de fevereiro de 1995 aos 75 anos na sua casa em St. Paul de Vence, França, enquanto se recuperava de uma cirurgia no coração, deixando sua quarta esposa e cinco filhas. O corpo de Pleasence nos deixou, mas estará para sempre imortalizado em todos os seus papéis e no coração dos fãs por toda parte.

CURIOSIDADES

– A personificação de Pleasence para Ernst Stavro Blofeld em Com 007 Só Se Vive Duas Vezes serviu de influência para o personagem Dr. Evil nos três filmes da série de comédia Austin Powers;

Vozes do Além (1973) (7)

– Teve lições de locução enquanto era criança;

– Foi escolhido originalmente para o papel de Blair no filme de Carpenter O Enigma de Outro Mundo (1982), mas não pegou devido a conflitos de agenda, o papel ficou com o ator Wilford Brimley;

– Quando Moustapha Akkad perguntou para Donald Pleasence quantas sequências de Halloween ele planejava fazer, Donald respondeu: “Eu vou parar só no vinte e dois!“;

– Além do Dr. Loomis na série Halloween, Pleasence interpretou outros dois Loomis, um em O Grande Sequestro (1972) e outro em O Príncipe das Sombras (1987);

– Foi o único ator de Fugindo do Inferno que realmente foi prisioneiro de guerra. Quando ofereceu “consultoria” para o diretor John Sturges, o mesmo polidamente pediu que mantivesse suas “opiniões” para ele mesmo. Mais tarde quando outro ator informou ao diretor que Pleasence realmente foi um oficial capturado na segunda guerra, Sturges pediu auxilio técnico e histórico ao ator dali em diante;

Halloween 2 (1981) (3)

– Foi indicado ao Saturn Award de melhor ator em 1981 por sua interpretação em Halloween II;

– Costumava brincar com amigos e família que antes de Halloween sair, era sempre escalado para viver vilões e tipos psicóticos, nunca tendo a chance de interpretar um herói ou personagem bonzinho. No entanto depois de seu retrato heróico, no estilo Van Helsing, de Dr. Loomis, aconteceu o problema oposto, onde eram oferecidos apenas papéis de mocinhos para ele.

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Gabriel Paixão

Colaborador e fã de bagaceiras de gosto duvidoso. Um Floydiano de carteirinha que tem em casa estantes repletas de vinis riscados e VHS's embolorados. Co-autor do livro Medo de Palhaço, produz as Horreviews e Fevericídios no Canal do Inferno!

2 thoughts on “Donald Pleasence, muito além de Dr. Loomis!

  • 10/09/2016 em 12:22
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    Grande donald pleasence um ator completo fez também uma comédia dupla explosiva com bud Spencer e terence hill outros grandes atores que admiro Parabéns pela homenagem

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