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Elvira (2)

Era mais um dia normal no qual estava dando uma olhada na programação de Los Angeles para o período no qual eu estaria por lá. A viagem duraria exatamente uma semana e metade do meu tempo já estava ocupado com atividades acadêmicas e de pesquisa. Mas eu estaria na terra do cinema e durante o período de Dia das Bruxas. Ou seja, eu tinha que tirar proveito (além do acadêmico) desta viagem.

E foi justamente procurando o que fazer entre as idas para a Universidade que meus olhos saltaram de alegria ao descobrir que Elvira, a Rainha das Trevas iria fazer um show em Los Angeles no exato período no qual eu estaria por lá. Eu não podia acreditar. Um show da Elvira!!! Mas o que exatamente ela canta? Quem sabe. O que interessa era estar diante da “dama da noite”, da “garota com enorme… audiência”, aquela que “não era apenas um belo par de seios, mas também um belo par de pernas”, entre tantos outros adjetivos.

Para quem nunca ouviu falar, Elvira é uma personagem criada pela atriz Cassandra Peterson no começo da década de 1980 para apresentar filmes de terror de gostos duvidosos. A mistura de terror, sensualidade e tiradas cômicas fez com que Elvira logo fizesse sucesso, virasse marca registrada e ganhasse um filme em 1989. Filme este que era exibido todos os anos na Globo fazendo dela uma verdadeira rainha da Sessão da Tarde.

Ingresso comprado, me deparei com duas reações. A primeira era das pessoas que não entendiam como eu iria “desperdiçar” uma noite em Los Angeles indo para um show da Elvira. A segunda reação era de pessoas animadíssimas com a possibilidade de ver Elvira ao vivo. Claro, muitos me perguntavam se ela ainda estava viva e se ela iria fazer o show de bengala, já que a dama da noite já passou dos 60. Mas o que eu não podia prever era a verdadeira maratona que foi chegar até Elvira.

TRANSPORTE PÚBLICO E CARONA DE ESTRANHOS

Eu nunca estive em Los Angeles e comprei o ingresso sem saber onde era o show. Ao procurar informações na véspera sobre qual ônibus pegar, me deparei com um mapa bem extenso e onde percebi logo que não existia ônibus direto. Para quem não conhece, Los Angeles é uma cidade muito “espalhada” formada por zonas semelhantes a distritos. Estes ficam lado a lado dando a ideia de unidade.

Elvira (1)

Bom, para chegar até Elvira, eu peguei um metrô, um trem e um ônibus. Eu fiz todo esse percurso em duas horas. E ao chegar ao local próximo do show, ainda descobri que precisava caminhar por cerca de dois quilômetros. Pensei que o melhor seria pegar um táxi, mas não achei nenhum (conseguir táxi em Los Angeles é um verdadeiro inferno) e meu telefone estava “fora da área de cobertura”.

Vi distante um pequeno motel, ao melhor estilo Bates Motel. Percebi que havia uma pessoa na recepção e entrei para pedir ajuda de como poderia conseguir um táxi. Uma mexicana me atendeu, escutou minha história e disse que iria me ajudar. Ela então pediu licença e disse que logo voltaria.

Eu fiquei olhando pela janela o estacionamento do motel e vi que praticamente não existiam hóspedes. Pensei como ali seria um local perfeito para um assassinato e comecei a desconfiar da própria mexicana que me volta dizendo para eu acompanhá-la. Para minha surpresa, ela vai até o carro dela e manda eu entrar no veículo. Pensei que iria ser sequestrado. Mandei inclusive uma mensagem para amigos no Brasil dizendo onde eu estava, o nome do motel, o modelo do carro e se eu não desse sinal em dez minutos eles deveriam avisar ao consulado. É nisso que dá assistir tanto filme de terror…

Para minha alegria, a mexicana não me sequestrou e me deixou na porta do local do show. Respirei feliz por estar vivo, fiz um lanche e fui para a fila. Sim, havia uma fila para ver Elvira. Sempre que eu vou para esses “eventos” eu fico com medo de ser a única pessoa do local.

Conheci por sinal muita gente legal na fila. Enquanto eu esperava, uma fã me informou que se eu comprasse US$ 50 de “produtos” Elvira, eu poderia conhecer a própria para pegar um autógrafo. Fiz uma conversão mental e percebi que se eu pagasse R$ 200 eu poderia conhecê-la. MAS ATENÇÂO, o encontro dava direito a conhecer, pegar um autógrafo, mas SEM FOTOS. Pensei que eu estava super longe do meu hotel e não fazia a menos ideia de como voltar. Tudo isso para um show da Elvira. Então me pareceu uma boa ideia ao menos conhecê-la pessoalmente. Fui até a loja e comprei uma camisa (horrorosa), os peitos dela (para dar de presente para uma amiga que havia pedido) e uma foto (para pegar o autógrafo).

Voltei para a fila, continuei conversando com os fãs e finalmente os portões foram abertos. O show se chamava Elvira’s Asylum. Algo traduzido como O Hospício de Elvira. Consegui um lugar na primeira fila do teatro, que estava bastante cheio.

MÚSICAS E PIADAS

Eis que o show começou pontualmente às 21h. Meus olhos não acreditavam. Diante de mim estava ela, Elvira, a Rainha das Trevas. Com a mesma roupa, os mesmos trejeitos, o mesmo penteado. Tudo igual ao filme de 1989. Quer dizer, um olhar mais apurado mostrava que sim, ela estava mais velha. Mas ninguém parecia se importar com isso.

Mas afinal, o que é o tal show da Elvira? Uma mistura de canções (a maioria desconhecidas e com letras de duplos sentidos, mas bem fáceis). Ou seja, todo mundo pegava o refrão e cantava junto. Entre uma música e outra, Elvira soltava suas pérolas com piadas repletas de humor negro. As brincadeiras iam de Britney Spears até, claro, seus seios, que em determinado momento chegam a cantar em um inusitado dueto com ela.

ENCONTRANDO ELVIRA

Ao final do show, fui para o local marcado para quem comprou os US$ 50 de “produtos” Elvira. E logo a dama da noite chegou, sentou-se em uma cadeira atrás de uma mesa e começou a receber cada um dos “fãs”. Atenciosa, ela chegava a realmente conversar com as pessoas. Mas absolutamente sem fotos. Haviam fiscais em todos os lugares.

Eu pensei o que eu deveria dizer para Elvira? O interessante é que ninguém a tratava por Cassandra. Não, todos estavam lá para ver Elvira. Quando chegou a minha vez, eu fui até ela e soltei a pérola “Oi Elvira, eu vim do Brasil, eu amo você”. Ela adorou, disse que é louca para ir ao Brasil. Inclusive ela contou que quase foi em 2013 ou 2014, mas que a pessoa que contratou seus serviços não honrou o que estava no contrato, não a pagou e ela desistiu. Expliquei que a tradução no Brasil de “dama da noite” ficou como “a rainha das trevas” e ela adorou saber.

Pedi então o autógrafo na foto que havia comprado e soletrei meu nome para vir certo. Ao final, ainda dei um beijo nela. Pena não existir uma foto deste momento. Mas saí de lá bastante feliz. De um show no fim do mundo, no qual eu não conhecia nenhuma música, até que me diverti bastante. E tipo, posso agora zerar minha listas de shows afinal eu posso dizer que já fui para um da Elvira.

Ah, e apenas para constar. Eu descobri na volta que havia um ônibus noturno que me deixou no centro de Los Angeles. Levou duas horas e meia e ainda precisei pegar um metrô para chegar até o meu hotel. Cheguei por volta de 3h30 da manhã. As fotos que ilustram este texto foram tiradas nesta noite tão diferente.

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3 Comentários

  1. CARA QUE INVEJA !!!! NO TEU LUGAR EU TERIA IDO TAMBEM VER ESTA MAGNÍFICA E AUTÊNTICA ESTRELA. ELA É BÁRBARA.

  2. Muito bom seu relato hahahaha, engraçado que quando assisti Elvira eu devia ter uns 7 anos e tive bastante medo, ainda não conseguia me concentrar na parte do busto e na história kkk, pena não ter tirado foto pra eternizar o momento, abs.

  3. Sortudo.
    Eu, como muitos fãs, quero ver a Elvira no Brasil.
    Até achamos que iria dar certo esse ano, mas, não deu…
    Estamos tentando para 2016. Eu sou super fã das duas: da Elvira e da Cassandra Peterson.
    Adorei o filme (1988) quando o vi pela primeira vez na TV, há quase vinte anos. E hoje em dia, tenho várias fotos dela. E o filme, que baixei da internet – em idioma original e com a dublagem clássica.

    Enfim, meu sonho é conhecer essa mulher maravilhosa, e inspiradora.

    Um abraço.

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