Nascido Jacob Kurtzberg em 28 de agosto de 1917, Jack Kirby começou sua carreira nos quadrinhos ainda na década de 30, assinando diversos trabalhos genéricos sem muita relevância até que em 1940, junto de seu amigo e frequente colaborador Joe Simon, criou o Capitão América para a Timely Comics, que viria a se tornar a Marvel anos mais tarde. Nos anos 40, Kirby também criou diversos personagens para a National Comicis, editora que viria a se tornar a DC Comics, até servir no exército americano durante a Segunda Grande Guerra.
Em outubro de 1950, Kirby uniu-se novamente ao parceiro Joe Simon para criar uma antologia de terror chamada Black Magic para a Prize Publications. A dupla seguiu criando histórias macabras envolvendo fantasmas, assassinato, aberrações e bruxaria até a edição 33 da revista, lançada em dezembro de 1954. A genialidade de Kirby, aliada à criatividade de Simon, à frente de Black Magic de destacou de tal maneira que a edição de número 29 foi utilizada para estabelecer os parâmetros do Comics Code devido ao seu conteúdo considerado subversivo demais para a época.
Black Magic foi cancelada em novembro de 1961 após onze anos de publicação ininterrupta. Durante os anos em que Kirby deixou de trabalhar para a Marvel devido a discordâncias sobre o método de pagamento de direitos autorais e devolução de originais, o artista migrou para a DC Comics, que republicou algumas histórias de Black Magic no formato encadernado entre 1973 e 1974. The Simon & Kirby Library reuniu estas narrativas de horror do rei dos quadrinhos junto de seu eterno parceiro em uma edição gigante publicada pela Titan Books em 2014.
Durante a década de 50, Kirby ainda trabalhou em edições esporádicas das antologias de horror da DC Comics, House of Mistery, House of Secrets e Tales of Unexpected, além das antologias Black Cat Mistery e Black Cat Mystic da Harvey Comics. Em 1958, Kirby começou a trabalhar como freelancer para a Atlas, em vias de se tornar a Marvel Comics, estreando nas páginas de Strange Worlds #1, com histórias de ficção científica envolvendo criaturas de outras dimensões e seres de outros planetas em dezembro de 1958.
Kirby ilustrou diversas histórias de ficção científica e fantasia sobrenatural para Tales of Suspense, Tales to Astonish, Strange Worlds, Strange Tales e Journey Into Mistery. Muitas destas histórias foram escritas por Stan Lee, outro grande parceiro criativo de Kirby, e envolviam monstros gigantes com nomes engraçados e onomatopéicos como Lo-karr, Grottu, Gargantua, Fing Fang Foon e Groot, o monstro de madeira que tempos depois passou a integrar a superequipe Guardiões da Galáxia, em uma versão bem diferente daquela concebida por Lee e Kirby.
Anos depois, Lee e Kirby deram origem ao universo Marvel com a criação do Quarteto Fantástico em novembro de 1961. As primeiras edições da equipe de super-heróis ainda apresentavam monstros gigantes e nomes engraçados que Kirby foi abandonando aos poucos enquanto buscava criar conceitos cada vez mais inovadores e brilhantes em uma infinita galeria de super-heróis coloridos. Kirby se tornou um dos artistas mais prolíficos dos quadrinhos, chegando a produzir de 4 a 5 páginas por dia no auge de sua carreira.
No final dos anos 60, após diversas brigas com a Marvel por divergências contratuais, Kirby voltou para a DC Comics onde criou diversos conceitos de ficção científica, entre eles o Quarto Mundo, OMAC e Kamandi, onde seus monstros sempre marcaram presença, seja na forma dos terríveis parademônios de Darkseid ou nas criaturas híbridas de humanos e animais pós-apocalípticos de Kamandi, mas sua maior criação dentro do gênero horror chegou às bancas americanas apenas em agosto de 1972 nas páginas de The Demon #01 como Etrigan, O Demônio.
O demônio rimador de Kirby foi um grande sucesso, misturando horror e super-heróis em uma história cheia de misticismo com elementos arturianos. O artista, descontente com seu trabalho após o cancelamento de The Fourth World, não imaginava que The Demon vendesse tanto e não ficou satisfeito quando a DC Comics pediu que ele preparasse 16 edições. Kirby estava mais interessado em criar histórias de ficção científica elaboradas e carregadas de mitologia, achando que o horror não tinha mais nada a lhe oferecer criativamente. Esse foi o começo do fim de namoro entre o artista e a DC Comics.
De volta à Marvel por um breve período, Kirby criou os Celestiais, Devil Dinossaur e trabalhou em uma adaptação para os quadrinhos do filme 2001: Uma Odisséia no Espaço, até 1979, quando cansado da vida de freelancer, o artista conseguiu um emprego como concept designer para a Hannh-Barbera onde criou designs para, entre outras animações, Thundarr, O Bárbaro, cheia de criaturas bizarras em um futuro pós-apocalíptico.
Nos anos 80 e começo dos anos 90, Jack Kirby trabalhou em esporádicos títulos menores de super-heróis e continuou produzindo até falecer em 6 de fevereiro de 1994 devido a uma parada cardíaca, deixando um legado inestimável para a nona arte. Suas obras permanecem sendo revisitadas e admiradas até hoje. Seus designs e o dinamismo e energia que imprimia a suas páginas mudaram a maneira de se fazer quadrinhos com seus enquadramentos que explodiam nas páginas de seus super-heróis, mas Kirby foi muito mais do que aventureiros coloridos e marcou também, ainda que muitas vezes se esqueçam disso, as histórias em quadrinhos de horror.
Kirby era um mestre, não importava o gênero. Acho que melhor que ele só o Will Eisner.
Também acho o Esiner melhor. Kirby era mais popular, trabalhava com super-heróis, mas Eisner criava narrativas mais humanas com roteiro e artes excepcionais! Dois gênios que fazem muita falta nos quadrinhos hoje…