Zornit, produção nacional baseada em conto de Stephen King

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Dificilmente o fã de filmes de terror não admira o trabalho do escritor Stephen King. Além de uma carreira literária de sucesso, muitas de suas publicações ganharam adaptações de sucesso no cinema. Agora imagine um estudante de cinema, e que é super fã das obras de King, ter o privilégio de dirigir seu primeiro curta justamente com um roteiro baseado no trabalho de King. É o caso de Marcello Trigo e seu curta Zornit.

Algum desavisado pode até achar que este estudante de cinema simplesmente pegou um livro ou conto de Stephen King e decidiu fazer sua versão por conta própria sem ter a devida permissão do mestre do horror. Este tipo de situação é muito semelhante inclusive em longas como nas continuações de Colheita Maldita, que estampam em destaque em cima do cartaz a informação de que trata-se de um filme baseado na obra de Stephen King.

Quanto Marcello pagou pelos direitos da obra de King? Apenas um dólar. Foi justamente em uma aula que Trigo ouviu falar do projeto Dollar Babies, que oferece a possibilidade de comprar os direitos de um conto de Stephen King por apenas um dólar. O interessado assina um contrato e envia a nota de dólar junto no envelope para um endereço localizado no estado norte-americano do Maine.

Imagine como estava o meu coração quando escrevi a carta. Depois de assinado o contrato, recebi a aprovação do site para fazer o seu filme. Eles  não analisam o projeto, mas perguntam o motivo de desejar fazer o filme. Após a aprovação, você tem um ano para produzir”, explica Marcello. Apesar da facilidade de conseguir permissão, existem duas clausulas muito importantes no contrato. A primeira diz que é proibido fazer dinheiro com o filme, exceto se ganhar prêmios por ele. É proibido vender ingressos ou comercializar o filme, assim como vender camisetas ou itens referentes ao filme.

A segunda clausula é referente ao nome de Stephen King poder figurar apenas em entrevistas sobre o filme e no cartaz junto com os demais técnicos, sem qualquer destaque. “Não posso escrever “De Stephen King… Zornit e nem fazer isso no trailer, por exemplo. Isso garante que o diretor faça um filme que vá ter méritos próprios independente do autor do conto original”, completa Marcello.

A escolha de Marcello veio através do bizarro e misterioso título The Ballad of the Flexible Bullet, que no Brasil foi traduzido como A Balada do Projétil Flexível e consta na coletânea Tripulação de Esqueletos. “Acho que a questão de como uma bala podia ser flexível pesou e isso me instigou a procurar o material em português”, explica Marcello. O conto narra a história de um escritor, nos anos 1960, que teria encontrado um duende morando em sua máquina de escrever. Este duende se chamava Fornit, e espalhava um pó mágico sobre a máquina para que o escritor Reg Thorpe escrevesse mais e melhor.

No conto, o escritor tem uma esposa, Jane, que sofre vendo a lenta descida do marido pela garganta da loucura. Reg acha que o governo está atrás do seu duende da sorte. A história é toda narrada pelo ponto de vista do editor que publicava os livros de Reg sendo contada em meio a um churrasco, muitos anos depois da morte do escritor.

Como o contrato permite alterações no roteiro, Marcello decidiu fazer alguns ajustes na agora então história dele. “Essa parte me permite afirmar que o filme, hoje, é mais roteiro meu do que o conto dele, já que adaptei e modifiquei bastante a história”, explica Marcello. A começar pela troca do monstro, que não é mais um duende, mas uma espécie de alien, desenhado por Afonso Reis. O próprio nome do duende, Fornit, mudou para Zornit. No entanto, Marcello decidiu por manter o mote central: escritor-encontra-criatura-de-outro-mundo-e-enlouquece.

Agora o duende era um alien, e isso me deu a ideia de escrever o curta como se fosse um episódio do antigo seriado Além da Imaginação. Eu sempre quis escrever e dirigir um episódio desse que é para mim um dos ícones da TV e do gênero sci-fi e horror. Isso ainda me facilitou outro fator, o uso de efeitos especiais retrôs, porque na época de Além da Imaginação eles não dispunham dos mesmos recursos de hoje”, completa Marcello sobre as escolhas estilísticas do seu curta.

A estréia de Zornit não poderia ter sido melhor. A primeira exibição aconteceu em pleno Halloween, em um evento promovido pelo coletivo Clube do Medo, em Recife. O curta já está confirmado outras mostras na agenda como o Janela Internacional de Cinema do Recife, numa sessão especial dedicada às produções de horror, e o Primeiro Festival de Cinema de Carpina. “E sigo inscrevendo em todos os lugares que eu puder pelos próximos dois anos. A recepção foi ótima, pois haviam, assim como eu, jovens realizadores com fome de trabalhar o gênero horror, e conversamos sobre as dificuldades de se fazer um filme assim”, completa Marcello.

Confira o trailer:

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Filipe Falcão

Jornalista formado e Doutor em Comunicação. Fã de filmes de terror, pesquisa academicamente o gênero desde 2006. Autor dos livros Fronteiras do Medo e A Aceleração do Medo e co-autor do livro Medo de Palhaço.

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