Avatar: um elefante branco ou um dos maiores sucessos do cinema?

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Um retorno à Pandora, em meados do século XX. Não para falar ainda sobre O Caminho das Águas, mas para resgatar um dos maiores sucessos de bilheteria de James Cameron, ao lado do fenômeno Titanic, True Lies, O Exterminador do Futuro 2 – O Julgamento Final e Aliens, O Resgate. Mais do que os prêmios conquistados e todo o universo desenvolvido – e que serviu de inspiração para livros, jogos e até parque temático -, Avatar é um acontecimento cinematográfico. Apresentou uma tecnologia 3D em alta definição que reinventou o cinema como espaço de absoluto entretenimento, propondo uma aventura de ficção científica em um mundo de criaturas fantásticas, em efeitos impressionantes. Não foi unânime no gosto popular, tendo aqueles que o enxergaram como um elefante branco, ignorando seus feitos e efeitos.

O primeiro tratamento do enredo foi escrito em 1994, com inspiração de Cameron em clássicas literaturas de ficção científica. Ele pretendia iniciar a produção antes de Titanic, entre 1996 e 1997, mas sentiu que os efeitos tecnológicos da época ainda não eram suficientes para a construção de sua proposta, mesmo tendo em mãos valores acima dos US$100 milhões. Voltou ao projeto em 2006, finalizando o roteiro para iniciar a pré-produção e desenvolvendo uma linguagem (com o apoio do linguista Dr. Paul Frommer) e cultura próprias para seus alienígenas, para acentuar o grau de realismo desse novo mundo. O design dos Na’vi, com o apoio do experiente Stan Winston, sua forma de expressão e rituais, além da personalidade de cada um deles, contribuíram para enriquecer a produção em cada detalhe.

Com um sistema próprio de realidade 3D, fazendo uso da “simulcam” na mistura entre CGI e atores reais, James Cameron iniciou a fotografia principal no começo de 2007, com um orçamento final em mais de US$230 milhões, além de US$150 só para o marketing. Até seu lançamento, em 2009, o longa ficou por bastante tempo em pós-produção, com o trabalho de efeitos visuais a cargo da Weta Digital, precisando desenvolver um sistema de computação especializado, intitulado Gaia, para servir de arquivamento do material produzido. Todo o esforço de criação – que inclui trilha sonora e captura de movimentos dos atores – deve ser enaltecido em seu resultado final, conquistando avaliações positivas e um tremendo sucesso de bilheteria – em apenas 19 dias, o filme já tinha alcançado a marca de US$ 1 bilhão, quebrando recordes de visualização e interesse. Vinte dias depois, já estava em US$2,5 bilhões, o que mostra a força das criaturas azuis e a capacidade de Cameron de criar sucessos.

Além dos aspectos técnicos, Avatar também traz uma importante mensagem sobre preservação ambiental, já iniciando em seus letreiros iniciais, quando diz que em 2154 todos os recursos naturais do Planeta Terra foram esgotados, necessitando de viagens interplanetárias para busca de materiais orgânicos e minerais essenciais, como o “unobtanium“, em abundância em Pandora, uma lua do sistema estelar Alpha Centauri. O lugar possui fauna e flora próprias, e é habitado por uma raça de criaturas humanoides inteligentes e guerreiras chamadas Na’vi, com mais de três metros de altura e pele azulada. Uma vez estabelecidos no local, com instalações e laboratórios, os humanos desenvolvem uma tecnologia de transferência de consciência para versões dos alienígenas criadas por cientistas, os tais avatares, como uma maneira de estudar seu habitat, costumes e a língua.

O ex-fuzileiro naval e tetraplégico Jake Sully (Sam Worthington) é enviado ao local para substituir o irmão gêmeo falecido, pois os avatares estabelecem identificação até física com seus usuários, pela combinação de DNA, não permitindo a substituição. Contrariando os interesses da Dra. Grace Augustine (a sempre ótima Sigourney Weaver), que possui seu próprio avatar e considera Jake inadequado para a tarefa, o rapaz embarca na aventura, superando as dificuldades de locomoção, com a observação do Coronel Miles Quaritch (Stephen Lang), que lhe promete “devolver as pernas“, e do cientista Parker Selfridge (Giovanni Ribisi). Após um incidente, Jake fica perdido nas matas de Pandora, precisando sobreviver aos animais vorazes do local com a ajuda da Na’vi Neytiri (Zoe Saldana), que, nessas facilidades do roteiro, entende inglês.

Logo Jake é levado à comunidade principal e conhece outros seres, como a líder espiritual e mãe de Neytiri, Mo’at (CCH Pounder), e o guerreiro Tsu’tey (Laz Alonso). Acreditando que a divindade Eywa tenha aceitado Jake, pelo modo com alguns seres como espécies de água-viva flutuantes se aproximaram dele, Mo’at permite que Neytiri ensine tudo sobre o povo e seus costumes a Jake, sem saber que ele leva seus aprendizados para os humanos prepararem planos para adquirir o minério valioso, concentrado na sagrada Árvore das Almas. Ele aprende a cavalgar nas criaturas aladas e a caçar, conquistando cada vez mais a confiança dos Na’vi. Sem a paciência necessária para um acordo de paz, o Coronel Miles irá preparar uma investida militar contra os seres e a gigantesca árvore em que habitam, e Jake terá que mostrar seu valor ao subir no dragão Toruk, numa batalha que envolverá as criaturas das florestas e robôs comandados por soldados, com armas poderosas.

O que mais impressiona em Avatar são os detalhes na construção de um mundo fantástico. E são vários os elementos interessantes, como a conexão entre os seres, através do cabelo, a vegetação peculiar com iluminação noturna e todo o universo de cores, sons e movimento. Cameron usa as cores para expressar tanto a energia positiva dos seres em sua rotina como o momento de perda e morte; elas também adquirem importância na religiosidade dos Na’vi, na conexão com a natureza, mostrando o quanto o cuidado adequado traz os benefícios que o Homem às vezes não dá o devido valor.

Com sua força narrativa de uma fábula futurista, Avatar propiciou o nascimento de um universo que não tinha como não se expandir. A partir de seu sucesso, Cameron já anunciou que faria continuações e que até personagens falecidos retornariam, explorando mais uma vez os avançados efeitos especiais e toda a cultura e mitologia desenvolvidas. Avatar: O Caminho das Águas já está em cartaz nos cinemas nacionais, desafiando um mundo pós-pandemia e de popularização dos streamings. Se os seres azuis novamente atrairão multidões aos cinemas e serão capazes de conquistar o público, são dúvidas que iremos saber nas próximas semanas, quando Pandora novamente voltar ao mapa dos lugares a serem visitados na Sétima Arte!

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Marcelo Milici

Professor e crítico de cinema há vinte anos, fundou o site Boca do Inferno, uma das principais referências do gênero fantástico no Brasil. Foi colunista do site Omelete, articulista da revista Amazing e jurado dos festivais Cinefantasy, Espantomania, SP Terror e do sarau da Casa das Rosas. Possui publicações em diversas antologias como “Terra Morta”, Arquivos do Mal”, “Galáxias Ocultas”, “A Hora Morta” e “Insanidade”, além de composições poéticas no livro “A Sociedade dos Poetas Vivos”. É um dos autores da enciclopédia “Medo de Palhaço”, lançado pela editora Évora.

2 thoughts on “Avatar: um elefante branco ou um dos maiores sucessos do cinema?

  • 20/12/2022 em 15:19
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    Eu assisti a este filme apenas uma vez. Sinceramente achei muito cansativo.

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  • 18/12/2022 em 19:29
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    Apesar de suas boas intenções, é um filme que não vai muito além do mito do bom selvagem e da figura do grande salvador branco. Se bem que, pensando que se trata de um grande blockbuster, não dá para se esperar algo que exija demais do seu público. Ainda assim, assisti-lo em Imax e 3D foi um espetáculo bem divertido!

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