3.8
(4)

Reveillon Maldito
Original:New Year's Evil
Ano:1980•País:EUA
Direção:Emmett Alston
Roteiro:Emmett Alston, Leonard Neubauer
Produção:Menahem Golan, Yoram Globus
Elenco:Alicia Dhanifu, Anita Crane, Chris Wallace, Grant Cramer, Jeannie Anderson, Jed Mills, John Alderman, John London, Jon Greene, Kip Niven, Louisa Moritz, Roz Kelly, Taaffe O'Connell, Teri Copley, Wendy-Sue Rosloff

Depois que Michael Myers deu a facada inicial em seu filme de estreia, em 1978, outros feriados e datas comemorativas passaram a servir de interesse para mentes perturbadas e assassinos em série. Ainda que Wes Craven tenha mostrado uma data de aniversário com um final trágico em 1972, a data comemorativa ficou simbolizada entre os slashers através de Aniversário Sangrento (Bloody Birthday, 1980) e até Feliz Aniversário para Mim (Happy Birthday To Me, 1981). As sextas-feiras 13, todo mundo já sabe, ficaram sob o comando de Jason Voorhees; o Dia dos Namorados é lembrado pelos atos sangrentos cometidos pelo mineiro Harry Warden; o Natal foi comemorado numa série de filmes, tendo no nome Ricky Caldwell o seu anfitrião…até o Dia de Ação de Graças seria manchado de sangue, embora mais tarde, no trash ThanXgiving, de 2006.

Já a comemoração de Ano-Novo seria simbolizada por duas produções do gênero: pelo fraquinho Bloody New Year (1987) e pelo slasher New Year’s Evil, de 1980, lançado no Brasil em VHS pela Globo Vídeo, com o título Reveillon Maldito numa capinha que lembrava o cult Laranja Mecânica, de Stanley Kubrick.

Dirigido por Emmett Alston – que depois faria o trash scifi DemonWarp, várias produções com temática ninja até encerrar a carreira em 1990 -, a partir de um roteiro de sua autoria em parceria de Leonard Neubauer (em seu último filme), Reveillon Maldito é, provavelmente, o slasher que mais respira a fase na qual está situada – a transição anos 70 para os anos 80 – de toda os filmes mencionados acima. Foi a época em que o Punk Rock (dos Sex Pistols, por exemplo) era confundido com um som mais estilizado chamado New Wave, a qual se enquadra The Runaways, Talking Heads, Dead Boys, entre outros. Essa confusão entre os dois estilos musicais não existia na aparência – como hoje em dia, acontece entre os emos e coloridos. Os jovens da época usavam roupas que evidenciavam seu desejo por rebeldia, com jaquetas de couro, cabelos estranhos e um uso exagerado de maquiagem. Ainda existiam as gangues de moto espelhadas nos Hell Angels, embora em grupos cada vez mais reduzidos. Cada um desses aspectos são facilmente identificados no longa, o que torna a experiência em assistir ao filme numa viagem interessante à década de oitenta.

Como todo slasher que se preze, este também tem o seu assassinato antes dos créditos. Antes de encontrar sua chefe, Yvonne (Alicia Dhanifu) é surpreendida por mãos vestindo luvas pretas – estilo giallo – que a esfaqueiam com um canivete. O rosto de seu algoz não é mostrado, mas não espere surpresas pois o filme evidencia o autor alguns minutos depois. Na cena seguinte, o espectador conhece a ícone punk rock e apresentadora de um programa de música e contato com o público – uma espécie de programa de rádio com imagens – Diane Sullivan (Roz Kelly, que chegou a fazer parte da série As Panteras, mas depois sumiu de circulação) e seu filho, o perturbado Derek Sullivan (Grant Cramer, que fez o Dan em A Noite dos Mortos-Vivos, de 1968; depois Palhaços Assassinos do Espaço Sideral, de 1988; e vários outros. Ainda está na ativa), que tenta anunciar para a mãe que conseguiu um papel numa série de TV, mas é completamente ignorado.

Com seu rosto exageradamente maquiado, Diane inicia o programa nessa data comemorativa de ano-novo. Como os Estados Unidos tem 4 fusos continentais, ela pretende comemorar a virada quatro vezes, com o programa no ar, respondendo as perguntas do público. No entanto, ela recebe um telefonema estranho, onde um homem que se denomina “Evil” (ou o “Mal” em pessoa) pretende cometer assassinatos a cada vez que o relógio indicar meia-noite em algum local. Ele coloca a culpa dos crimes nela e ainda diz que pretende matar pessoas próximas a ela, incluindo a própria no ato final , o que causa um desespero na apresentadora, que logo aciona a polícia exigindo proteção.

Ainda com a desconfiança do sargento Greene (Jon Greene, que também foi um policial em outro slasher da época, Don’t Answer the Phone!), o assassino, com o rosto à mostra, comete o primeiro crime “da virada“. Ele entra escondido num hospital psiquiátrico, seduz uma enfermeira, e quando o relógio aponta meia-noite da hora-leste, ele a esfaqueia, gravando seus gritos de dor num pequeno gravador para mais tarde exibi-lo por telefone à apresentadora. Sem pistas do possível assassino, a polícia percebe que está nas mãos de um serial killer frio e calculista, sabendo apenas quando será o próximo crime.

Enquanto “Evil” se prepara para cometer um outro assassinato – o modus operandi é apresentado por completo, incluindo as trapalhadas do criminoso, que chega a se meter com uma gangue de motoqueiros depois que atropela um -, o longa deixa evidente a confusão mental de Derek, que começa a usar uma meia sobre a cabeça e a se drogar devido à ausência da mãe, mais preocupada com seu futuro artístico. O filme também intercala cenas do show de punk rock que acontece ao vivo durante a exibição do programa, com a maioria das canções compostas pelo músico Clifford White.

Apesar de seguir a fórmula slasher, o longa peca pelos assassinatos offscreen e sem ousadia – se o assassino conhecesse o vizinho de Crystal Lake poderia ser diferente -, além de ser extremamente óbvio (por mais que tente esconder as motivações do psicopata, fica fácil adivinhar sua identidade) e arrastado. Até mesmo as atitudes bisonhas e azaradas do matador chegam a impressionar pela má-sorte e jamais causam tensão no espectador. E ainda deixa a dúvida: por que assassinou Yvonne se o horário não tinha relação alguma com o Ano-Novo? Seria interessante se o roteiro tentasse surpreender e o assassino fosse outro – algo como Ricky Caldwell fez em Natal Sangrento 2.

Para piorar, nenhum personagem é carismático ou interessante – talvez, o Derek, por sua complexidade? -, fazendo com que o público jamais se importe com os atos do assassino. Como Diane é uma péssima mãe e extremamente orgulhosa, a cada momento cresce um desejo no espectador que ela seja esquartejada no ato final das formas mais grotescas possíveis para servir de exemplo para aqueles que assistem ao seu programa.

Reveillon Maldito foi produzido pela Cannon films, responsável por pérolas como Mestres do Universo, filmes do Chuck Norris e diversas continuações de Desejo de Matar. Fica evidente que se trata de uma produção feita com poucos recursos, numa fotografia feia e suja sem propósito, típica do início dos anos 80. É o tipo de filme que se fosse feito hoje em dia seria disputado por diversas distribuidoras com títulos ainda mais improváveis do que o escolhido.

Por sua data de realização, num quadro real do início da fase de ouro dos slashers, Reveillon Maldito merece uma recomendação, ainda que sutil. Trata-se de uma produção envolta em clichês, envelhecida – merecia até um remake -, mas bastante curiosa e cult entre os fãs do gênero. O filme nunca teve uma continuação, embora tenha deixado um final aberto para um Reveillon Maldito 2. Provavelmente, o Ano-Novo ainda não teve um assassino que o simbolize…

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4 Comentários

  1. Não entendo porque esse filme é tão injustiçado, ele segue uma abordagem muito diferente dos slashers da época e até presenciamos o ponto de vista do assassino por boa parte do filme. Inclusive o filme apresenta uma mensagem feminista que poderia atrair o público da geração Z/Tik Tok/Twitter que gosta de exaltar essas coisas, detesto esse tipo de mensagem em filmes (pelo menos em filmes modernos) mas se é para esse slasher ser mais reconhecido eu até aceito que ele possa ser descoberto pelo público por causa de sua mensagem feminista.

  2. Esse filme merecia um remake digno, talvez Feliz Aniversário pra Mim também, mas ele é um dos meus slashers favoritos, então acho que o original já basta.

  3. quero vê muito esse filme , pois gosto muito dos slashers dos anos 80..

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