Sem Pistas (2002)

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Sem Pistas
Original:Abandon
Ano:2002•País:EUA, Alemanha
Direção:Stephen Gaghan
Roteiro:Stephen Gaghan
Produção:Gary Barber, Roger Birnbaum, Lynda Obst, Edward Zwick
Elenco:Katie Holmes, Benjamin Bratt, Charlie Hunnam, Zooey Deschanel, Fred Ward, Mark Feuerstein, Melanie Lynskey, Philip Bosco, Gabriel Mann, Will McCormack, Gabrielle Union, Tony Goldwyn

Depois de desenvolver com maestria o roteiro de Traffic, de Steven Soderbergh, esperava-se um trabalho melhor de Stephen Gaghan e não o drama-psicológico disfarçado de thriller, Sem Pistas (Abandon, 2002), estrelado pela belíssima e sempre inspirada Katie Holmes (Não Tenha Medo do Escuro, 2011). Além da trama, Gaghan assumiu também a direção do longa – seu trabalho de estreia – e fez de um bom argumento uma produção sonolenta, arrastada além do limite máximo da paciência de qualquer fã da protagonista ou mesmo do autor do roteiro.

Fica praticamente impossível acompanhar os 99 minutos de exibição sem dar uma escapada ao banheiro, cozinha ou até mesmo uma verificada se o cachorro está com água. É aquela típica produção que você se ausenta alguns minutos do sofá, não pede para dar pause e, quando retorna, seu local continua intacto, e não há a menor necessidade de perguntar o que perdeu de importante.

Contrariando o título nacional, Sem Pistas é bastante previsível ao ponto até do menos calejado espectador saber com tranquilidade os segredos da trama: o paradeiro de Embry Larkin (Charlie Hunnam, de Filhos da Esperança) e o motivo de seu sumiço. Aliás, o título teria muito mais sentido se fosse traduzido corretamente para Abandono ou até mesmo Abandonada, mas a boa vontade das distribuidoras vai além de uma simples pesquisa ou consulta ao dicionário.

Katie Burke (Holmes) é uma genial estudante que está prestes a se formar na faculdade. Ela ocupa a maior parte do seu tempo preparando sua tese, estudando durante à madrugada e participando de entrevistas de emprego. Já praticamente encaminhada para um trabalho em Nova Iorque, depois de esboçar todo o seu talento para executivos de uma empresa, o passado volta para assombrá-la quando ela recebe a visita do detetive Wade Handler (Benjamin Bratt, de O Amor nos Tempos do Cólera), que está trabalhando no caso do desaparecimento de Embry Langan (Hunnam) há cerca de dois anos. Com a chegada do detetive, associado ao estresse da vida agitada, Katie passa a ser atormentada por lembranças de seu namoro com Embry, pesadelos e até mesmo começa a vê-lo por toda parte.

Quando ficamos sabendo mais a respeito do passado de Katie e o início do namoro com o rapaz desaparecido, o roteiro fica interessante ao estabelecer uma comparação com O Fantasma da Ópera, de Gaston Leroux: Embry Langan era inteligente e excêntrico. Ele comandava uma Ópera na faculdade, tendo inclusive escolhido Katie como soprano devido ao seu talento musical e também pela atração que sentia pela jovem. Além de mostrar os porões da Ópera aos alunos dizendo que ali se escondia a verdade, depois de seu desaparecimento o local ficou em ruínas e completamente abandonado. Será que as visões de Katie são reais e Embry estaria de volta para resgatar sua amada para que ela cante só para ele?

Com o aperto das investigações, Katie começa a se envolver intimamente com o detetive, enquanto estranha o desaparecimento de um outro estudante, um rapaz que é apaixonado por ela. As visões tornam-se mais concretas, fazendo Katie acreditar numa possível vingança de Embry contra os homens que se aproximam dela. Tudo se resolve nos dez minutos finais no porão da Ópera, com uma revelação surpresa água com açúcar, típica dos melhores Supercines.

A trilha sonora do filme é o que há de melhor: Clint Mansell, que já trabalhou em outros longas como Cisne Negro, O Lutador e Requiem para um Sonho, traz composições atrativas e claras como as do momento em que Katie estuda ou até mesmo na cena da balada – aliás, é o momento Traffic do filme.

Apesar da última cena trazer um bom gancho de suspense, Sem Pistas funciona melhor quando alguém conta a história para você ao invés de acompanhar sua narrativa slow motion. Em outras palavras, a história pode até funcionar, mas a condução destrói qualquer expectativa.

Não é um filme ruim, mas está ano-luz distante dos melhores trabalhos de Katie Holmes e Stephen Gaghan. Espere a exibição em TV aberta e opte por Traffic ou até mesmo por O Dom da Premonição, se o objetivo for apenas prestigiar a beleza da atriz. Valerá mais a pena!

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Marcelo Milici

Professor e crítico de cinema há vinte anos, fundou o site Boca do Inferno, uma das principais referências do gênero fantástico no Brasil. Foi colunista do site Omelete, articulista da revista Amazing e jurado dos festivais Cinefantasy, Espantomania, SP Terror e do sarau da Casa das Rosas. Possui publicações em diversas antologias como “Terra Morta”, Arquivos do Mal”, “Galáxias Ocultas”, “A Hora Morta” e “Insanidade”, além de composições poéticas no livro “A Sociedade dos Poetas Vivos”. É um dos autores da enciclopédia “Medo de Palhaço”, lançado pela editora Évora.

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