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Olhos Diabólicos (1963)

Olhos Diabólicos
Original:La ragazza che sapeva troppo
Ano:1963•País:Itália
Direção:Mario Bava
Roteiro:Mario Bava, Enzo Corbucci, Ennio De Concini, Eliana De Sabata, Mino Guerrini, Franco Prosperi
Produção:Massimo De Rita
Elenco:Letícia Román, John Saxon, Valentina Cortese, Titti Tomaino, Luigi Bonos, Milo Quesada, Robert Buchanan, Marta Melocco, Gustavo De Nardo, Lucia Modugno, Giovanni Di Benedetto

Dos pioneirismos que elevaram Mario Bava ao panteão dos diretores de horror da Europa, uma delas foi com Banho de Sangue (1971), um slasher italiano realizado dez anos antes de Sexta-feira 13 ser lançado e colocou o subgênero em notória evidência, porém poucos se lembram que Bava também “inventou” o gênero gialli, thrillers de mistério e assassinato inspirados na literatura popular da época, com criminosos misteriosos, paranoia e segredos que só são revelados no final.

Bava mostrou estar a frente do seu tempo quando lançou dois filmes na década de sessenta usando estes elementos de roteiro e seu estilo visual com os dois primeiros gialli italianos, o influente Blood and Black Lace (1964) e seu antecessor Olhos Diabólicos (1963), muitos anos antes do gênero se tornar popular com o primeiro filme de Dario Argento, O Pássaro das Plumas de Cristal em 1970. Desnecessário dizer que sem a influência destes dois filmes não teriamos não somente grandes obras de Argento, mas de outros grandes nomes conterrâneos como Lucio Fulci, Sergio Martino, Umberto Lenzi, Pupi Avati, Ruggero Deodato, Michele Soavi, Andrea Bianchi e do próprio filho Lamberto Bava.

Olhos Diabólicos (1963) (1)

O roteiro acompanha a história de Nora (Letecia Roman), uma bela garota que chega dos Estados Unidos para visitar a tia em Roma. A ação já começa logo nos primeiros minutos quando a pessoa sentada ao seu lado no avião é presa pela polícia do aeroporto por contrabandear cigarros e traficar maconha. Passada a emoção inicial, outra mais trágica está por vir: na primeira noite na casa da tia, ela descobre pelo médico Marcello Bassi (John Saxon, A Hora do Pesadelo e Operação Dragão) que ela sofre de um problema cardíaco severo e coloca-se a disposição para ajudar caso alguma emergência aconteça durante a madrugada.

Dito e feito, mais tarde a senhora idosa bate as botas antes que a sobrinha tenha tempo de ligar para o hospital onde Bassi trabalha. Com o telefone da residência com problemas, resolve ir a pé até o hospital. O estado de choque causado por este evento e por um ladrão que rouba sua bolsa faz com que ela desmaie no pátio da igreja próximo da casa, contundindo a cabeça.

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Conforme ela recobra a consciência, ainda de madrugada, aos poucos começa a ver uma mulher gritando e cambaleando pelo pátio vazio. Ela cai revelando que tem uma faca cravada nas costas e, ao perceber um vulto oculto nas sombras, tem a certeza de que acabou de testemunhar um assassinato. Porém uma chuva forte cai na cidade e, ao acordar na manhã seguinte, não há corpo, a chuva lavou o sangue e, obviamente, ninguém acredita no que Nora viu na noite passada, atribuindo as visões ao trauma (físico e psicológico) causado pela morte da tia.

Ela rapidamente se simpatiza com o médico e ambos passam a investigar o que realmente aconteceu, batendo com um caso não solucionado dez anos atrás, de um criminoso que matava suas vítimas conforme a ordem alfabética do sobrenome, até consultar um jornalista que publicava matérias sobre o caso. Ao ficar cada vez mais perto da verdade, ela sente que sua vida corre perigo, pois sua letra é a próxima.

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Olhos Diabólicos tem bastante de Alfred Hitchcock a começar do título original italiano, La ragazza che sapeva troppo ou, traduzindo, A Garota que Sabia Demais. Clara alusão a O Homem que Sabia Demais (versões de 1934 e 1956). As inspirações – ou cópias, como queira – não param por aí: Bava usa de Mcguffins para o roteiro andar – a subtrama sobre cigarros de maconha, as gravações do jornalista, entre outros – e na abertura que remete a Intriga Internacional (1959). A diferença clara está justamente no estilo visual característico do diretor que alterna o estilo obscuro de seus suspenses mais pesados, com a leveza do tom de comédia e até um pouco de romance que a trama trabalha entre o casal de protagonistas formado por Letícia Román e John Saxon, ator importado dos Estados Unidos.

Falando neles, suas atuações refletem uma naturalidade ímpar, incomum nos filmes de Bava, que normalmente trazem personagens fortes com uma força de caráter bem delineado. Os demais do elenco orbitam em volta dos dois, e mesmo o vilão (que só é revelado no final, como todo bom giallo) serve apenas de escada para os dois.

Se existem pontos frágeis estes estão neste contraste pouco sutil entre suspense e humor. Por exemplo, se numa cena a atriz principal teme por sua vida, no take seguinte está passeando despreocupadamente com o médico vivido por Saxon. No começo este “vai e volta” até diverte, mas centralizando as cenas mais intensas no começo e no final, o miolo do filme acaba cansando um pouco. Outro problema está na significativa quantidade de personagens secundários que são pouco desenvolvidos e não levam a lugar algum: a zeladora da vila, o detetive de homicídios, o próprio jornalista que investigou os assassinatos passados…pouco acrescentam à trama.

Olhos Diabólicos (1963) (5)

Olhos Diabólicos é o último filme em preto e branco de Mario Bava e tem duas versões oficiais, a italiana analisada aqui, e a americana que foi picotada pela distribuidora e teve a trilha sonora substituída, o que nos faz preferir a original. Ao final, Olhos Diabólicos sofreu bastante o desgaste do teste do tempo; o próprio diretor não o considerava como um de seus melhores trabalhos, mas mais do que apenas valor histórico por iniciar todo um subgênero, a produção ainda merece ser conhecida por mostrar um lado mais leve e pouco visto de Mario Bava.

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