4.8
(14)
A Companhia dos Lobos (1984)
“Os uivos da floresta chamam por você.”
A Companhia dos Lobos
Original:The Company of Wolves
Ano:1984•País:UK
Direção:Neil Jordan
Roteiro:Neil Jordan, Angela Carter
Produção:Chris Brown
Elenco:Sarah Patterson, Angela Lansbury, David Warner, Graham Crowden, Brian Glover, Kathryn Pogson, Stephen Rea, Tusse Silberg, Micha Bergese, Georgia Slowe

Uma menina, uma história para dormir. O cenário familiar da infância. E contida nos lobos estão as forças do mal que irão triunfar sem um final feliz. Mas este não é um conto de fadas. É aqui que a lenda termina e começa a sobrevivência, mas os sonhos infantis não prometem o final feliz. A criança não é um adulto e o lobo não é humano. Este é o mundo sombrio que há entre as páginas dos contos de fadas. Negá-lo é matar a criança que existe na alma. Entrar nele é matar os sonhos de infância. A Companhia dos Lobos é a companhia que temos, mesmo em nossos sonhos.

Uma jornada visual e onírica, cheia de simbolismo. Um dos melhores filmes de horror/fantasia da década de oitenta. Com roteiro inspirado na fábula Chapeuzinho Vermelho, o longa narra de forma simbólica os desejos, a culpa e as dúvidas surgidas na adolescência. Pesadelos e realidade se misturam, sempre tendo como ponto em comum os lobisomens. Seriam estes lobos, que rasgam os peitos dos homens e devoram garotinhas, o sexo? O filme é aberto a diversas interpretações e cada detalhe tem um significado, o vermelho do sangue é o mesmo vermelho do desejo?

A Companhia dos Lobos (1984) (2)

O irlandês Neil Jordan (de Entrevista com Vampiro e Traídos pelo Desejo) realiza seu primeiro grande filme, que abocanhou prêmios merecidos por todo canto do mundo onde foi exibido. O cineasta também assina o roteiro, adaptando o conto da britânica Ângela Carter, presente no livro The Bloody Chamber. O grande mérito da trama é não ter apenas transformado uma fábula infantil em uma história de horror. O enredo se constrói de forma desconexa e perturbadora num novo universo, fascinante e alegórico.

Outra grande virtude de A Companhia dos Lobos é o visual exuberante. Os cenários, propositalmente artificiais, criam uma atmosfera de sonho/pesadelo (vale lembrar aqui que por limitações financeiras o filme foi quase todo rodado em estúdio). A fotografia, carregada de detalhes em vermelho, soma-se aos ótimos efeitos visuais e de maquiagem. O filme ainda inova na transformação dos lobisomens: ao invés de lentamente crescerem unhas, dentes e pêlos, os lobos rasgam violentamente o peito de seus hospedeiros.

O elenco é encabeçado pela desconhecida Sarah Patterson, como a Chapeuzinho Rosaleen (curioso que, entre os poucos papéis que interpretou no cinema está uma Branca de Neve, numa produção musical de 1987). O elenco conta ainda com a presença do talentoso Stephen Rea (ator preferido de Jordan, presente em Traídos Pelo Desejo, Entrevista Com Vampiro, Nó na Garganta, entre outros) e a participação especial de Terence Stamp (o Chanceler Valorum, de Guerra nas Estrelas: A Ameaça Fantasma), como o diabo.

A Companhia dos Lobos (1984) (3)

Finalizando, a lúdica e marcante trilha sonora composta por George Fenton afina estreitamente com o visual barroco e a abordagem subjetiva do roteiro. O resultado é um filme de horror pouco convencional, um saboroso exercício para a mente e para os olhos.

Como já foi afirmado no texto, A Companhia dos Lobos é uma obra que possibilita diversas interpretações. Estes últimos parágrafos dão algumas dicas, em forma de SPOILERS, de possíveis leituras dos personagens e acontecimentos. Como foi dito antes, o filme é uma releitura do conto Chapeuzinho vermelho. Todos os elementos da fábula são apresentados no filme de Jordan: o Lobo Mau substituído pelo lobisomem, a Chapeuzinho representada por Rosaleen (a garota realmente usa uma roupa de lã com touca vermelha), os morangos silvestres, a vovó e o caçador. Até mesmo o diálogo mais famoso entre a Chapeuzinho e lobo fantasiado de vovó está presente: para que esses olhos tão grandes? pergunta a pobre Rosaleen. O Lobisomem, prestes a devorá-la, responde: Para te ver melhor.

A Companhia dos Lobos (1984) (5)

O despertar sexual da adolescente Rosaleen parece ser o eixo dos acontecimentos. A avó Grannie (Angela Lansbury) representaria a família tradicional repressora, que tenta afastar a jovem de seus impulsos sexuais. Logo no início do filme, a velha conta uma história fantástica sobre homens maus e sedutores, com sobrancelhas grossas que se encontram. Ainda define os homens como lobos peludos por dentro. A figura dos lobisomens pode representar o sexo ou o desejo sexual (daí ele literalmente saírem de dentro dos homens). O sexo é então associado à natureza animal, ou irracional do ser humano (o lobo que cada um carrega dentro de si, tanto homens quanto mulheres). Os detalhes em vermelho representariam a paixão ou o pecado.

Premiações:

Festival de Cinema Fantástico de Avoriaz (França, 1985) – vencedor do Prêmio Especial do Júri e indicado para o Grande Prêmio (o vencedor foi O Exterminador do Futuro).

Bafta – British Academy of Film and Television Arts Awards (Inglaterra, 1985) – indicado aos prêmios de Melhor Maquiagem, Melhor Produção/Direção de Arte e Melhores Efeitos Visuais.

Fantafestival (Itália, 1985) – menção especial para o diretor Neil Jordan.

A Companhia dos Lobos (1984) (4)

Fantasporto (Portugal, 1985) – vencedor dos prêmios Escolha da Crítica, Escolha do Público, Melhores Efeitos Especiais e Melhor Filme.

London Critics Circle Film Awards (Inglaterra, 1985) – diretor do ano: Neil Jordan.

Sitges – Catalonian International Film Festival (Espanha, 1985) – Melhor Filme, Melhores Efeitos Especiais e Prêmio da Crítica Internacional.

O que você achou disso?

Clique nas estrelas

Média da classificação 4.8 / 5. Número de votos: 14

Nenhum voto até agora! Seja o primeiro a avaliar este post.

9 Comentários

  1. Ótimo filme, assistir ele quando tinha 16 anos em 2008. Depois q assistir eu me senti estranho por algums dias…pensativo….

  2. Obrigado por me apresentarem este filme, o site como sempre está de parabéns. Filme visualmente lindo, roteiro fantástico. Nota 10!

  3. EM PRIMEIRO LUGAR; ACHEI O FILME ESPETACULAR. FILMES ANTIGOS TEM UM Q DE LEGAL QUE SÓ OS APRECIADORES DO GÊNERO RETRÔ SABEM O QUE QUERO DIZER. EM SEGUNDO LUGAR; ESTE FILME É PROVA DE QUE NÃO É PRECISO MIL EFEITOS DE COMPUTADOR PARA UM FILME SER BOM E TE PRENDER A ATENÇÃO ATÉ O FIM. E EM TERCEIRO LUGAR; SOU FÃ INCONDICIONAL DESTE SITE. ATRAVÉS DELE ENCONTREI E CONHECI MUITOS FILMES INTERESSANTES QUE EU ATÉ NEM IMAGINAVA QUE EXISTIAM. EU DIRIA QUE ESTE SITE SE TORNOU MEU DICIONÁRIO PESSOAL PARA INFORMAÇÕES E SUGESTÕES DE FILMES . PARABENS A TODOS ENVOLVIDOS COM ESTE SITE QUE É ,NO MÍNIMO ,ESPETACULAR.

  4. outro dvd que não comprei , amargamente arrependido..

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *