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Um Jantar Sangrento (1987)

Um Jantar Sangrento
Original:Blood Diner
Ano:1987•País:EUA
Direção:Jackie Kong
Roteiro:Michael Sonye
Produção:Jimmy Maslon
Elenco:Rick Burks, Carl Crew, Roger Dauer, LaNette La France, Lisa Elaina, Max Morris, Roxanne Cybelle, Sir Lamont Rodeheaver, Dino Lee, The Luv Johnsons

“Todas as mutilações, desmembramentos e rituais canibais vistas neste filme foram executadas por profissionais, não tentem fazer isto em casa…” – Aviso inicial do filme

De toda a minha pequena e humilde coleção de filmes trash, tem uma fita da qual possuo um carinho especial. Além de ter todos os elementos clássicos deste tipo de filme, como nudez gratuita e sangue em profusão, ela possui uma das séries de personagens mais esquisitos que eu já vi além de ser muito, mas muito surreal. O filme do qual estou falando é Um Jantar Sangrento, produção de 1987, anunciado extra-oficialmente como uma continuação direta do filme Banquete de Sangue,de 1963 (a continuação oficial só saiu mesmo em 2002 com o inferior Blood Feast 2: All U Can Eat). Mas, apesar de algumas semelhanças no plot e algo no DNA que o lembra, está mais para uma espécie de homenagem ou sátira que, no fim das contas, pouco tem a ver com a produção de Herschell Gordon Lewis.

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O mais importante é que Um Jantar Sangrento é um filme politicamente incorreto, bem humorado na medida do possível e rodado em um ritmo doido, que, assim como o roteiro, é quase psicodélico.
A história começa com dois irmãos que brincam tranquilamente na sala de sua casa enquanto sua mãe sai para fazer umas compras deixando-os a sós. Neste momento o rádio anuncia que um perigoso maníaco acusado de assassinato está a solta com um cutelo em uma mão e seus testículos (!!!) na outra, e o narrador fala para as pessoas não saírem de casa e este tipo de coisa.

Sem nenhuma cerimônia o tal assassino aparece justamente na casa dos meninos, mas, para a surpresa de todos, o homem é o tio deles, chamado Anwar Namtut (Drew Godderis, o equivalente ao Fuad Ramsés, de Blood Feast). Antes de a casa ser cercada pelos policiais, Anwar dá dois amuletos lumarianos (hein?) para os sobrinhos e pede para que não se esqueçam de seus ensinamentos e prestem cultos a uma tal deusa Sheetar, depois Anwar sai e morre baleado pelos policiais.

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Passados vinte anos, os irmãos invadem o cemitério, desenterram e removem o cérebro de seu tio, agora um cadáver decomposto, não sem antes matar o guardinha do cemitério com um golpe de pá na cabeça, golpe este que foi tão forte que fez com que seus olhos saltassem das órbitas literalmente, na primeira das inúmeras situações bizarras e cômicas do filme. Então, de posse do cérebro de Anwar, os rapazes fazem um ritual que traz seu tio de volta à vida para se comunicar com ele – o que eu não disse é que seu tio agora é um cérebro falante com dois olhos dentro de uma jarra. .hahaha, é hilário…

O nome dos irmãos são Michael (Rick Burks) e George (Carl Crew, A Vida Secreta de Jeffrey Dahmer) – eles são donos do mais famoso e frequentado restaurante da cidade, o Tutman (Namtut ao contrário, sacou?), que faz sucesso devido aos seus “ingredientes secretos“, tão misteriosos quanto a carne usada nos hambúrgueres das grandes redes de fast-food, mas o espectador já sabe de antemão que se trata de carne humana e outras coisinhas nojentas que não colocaríamos habitualmente no nosso cardápio.

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Então a mando de seu tio Anwar, a dupla terá de trazer a deusa Sheetar de volta à vida em um ritual que deverá conter um banquete com órgãos internos de mulheres vadias e culminando no sacrifício de uma virgem (idem também a Banquete de Sangue). Mas antes de qualquer coisa eles devem “montar” um corpo para Sheetar, através de pedaços de várias garotas diferentes.

Enquanto isso a polícia está perplexa com o crime cometido contra o guarda do cemitério, portanto o nervoso e psicótico chefe de polícia, Miller (Max Morris), designa o galã-com-pinta-de-conquistador Mark Shepard (Roger Dauer) para investigar este e os futuros assassinatos, porém ele terá a ajuda da parceira linha dura Sheba Jackson (LaNette La France), com a qual terá problemas para até para conviver, quanto mais para tentar dar uma esticadinha depois do serviço, hehehe…

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Bem, então basicamente este é o roteiro e não existe quase nenhuma reviravolta surpreendente ou revelação bombástica, mas neste meio aparece mais um personagem interessante: lá pelas tantas entra em cena o dono enciumado do restaurante concorrente, que tem um boneco de pano falante! Na realidade não é exatamente o boneco que fala, mas o homem é um ventríloquo meio doido que conversa com ele como se estivesse vivo! E quando você pensa que as coisas não poderiam ficar mais esquisitas, eis que surge uma trama paralela sem pé nem cabeça onde George desafia um lutador profissional simpatizante por Hitler para um combate de luta livre!

Canibalismo, magia negra e muito sangue jorrando são as fórmulas que a diretora Jackie Kong (que dirigiu outra pérola, The Being, em 1983) aplica para envolver o espectador, contudo, verdade seja dita, Um Jantar Sangrento não é um filme de terror. Quando uma produção como esta deixa de ser um filme de terror cujo humor está na picaretagem, na pobreza da produção ou nos detalhes involuntários (ou mesmo na soma de todas as alternativas anteriores) e passa a ser assumidamente uma comédia escrachada com elementos de terror, a direção deveria ser um pouco mais cuidadosa na condução da história escrita por Michael Sonye.

Não que este roteiro precisasse fazer algum sentido até porque o público que tentar achar algum nexo no que está assistindo vai ficar maluco, todavia o filme acaba se tornando,em certo ponto, uma série de gags de humor negro isoladas, sendo que nem todas as “piadas” funcionam como deveriam – algumas delas são brilhantes e flertam com o nonsense de Monty Python, enquanto outras são tão idiotas quanto o Zorra Total.

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As situações que são apresentadas são absurdas demais para se fazer uma associação com a vida real, como o fiscal do imposto de renda que entra na cozinha e vira prato especial como se fosse desenho animado; a mulher que fica literalmente com cara de pastel (fritada em gordura quente) e o motoqueiro que se recusa a morrer atropelado – isso dá um tom a mais a tosquice do filme! Entretanto o que mais pode atrair o pessoal que gosta do cinema marginal são os atores e suas personagens incrivelmente exageradas e divertidas: já começa pelo cérebro falante de Anwar; como se uma ideia dessa já não fosse surreal o suficiente, George é uma besta quadrada sádica que adora luta livre e Mark é uma mistura do detetive Riggs de Máquina Mortífera com o Tony Manero, de Os Embalos de Sábado à Noite. Isso pra não falar do boneco falante do dono do restaurante concorrente que é um show de bizarrices à parte… Os atores são ruins propositadamente, mas ao menos estão nitidamente se divertindo fazendo toda essa porcaria -, e isso é um grande ponto positivo para eles.

Claro que um filme como este não ficaria completo sem uma boa dose de sacanagem e mulher pelada, pois Jackie Kong mostra gratuitamente diversos pares de peitos e até um nu completo frontal para a alegria da garotada com os hormônios mais aflorados, hehehe… Também tem muitas falas que foram propositalmente redubladas, o figurino parece ter saído direto de Flashdance e uma trilha sonora péssima que completam o espetáculo.

Portanto se você curte o chamado cinema classe “BB” (abreviação de “Blood’n’Boobs” ou, traduzindo, “Sangue e Peitos“) e não liga muito para alguns desvirtuamentos dos valores morais – motivo pelo qual Um Jantar Sangrento foi banido ou picotado em algumas partes do mundo – este é um “prato cheio“! Procure pelo VHS nacional velho e mofado da Odessa Home Video (com a estampa “Trash Movie”, para o caso de você se confundir), ou no DVD pelado importado da Lion’s Gate… Só não fique para a sobremesa, ela pode ser você…

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