4.2
(6)

The Possession of Michael King (2014)

A Possessão do Mal
Original:The Possession of Michael King
Ano:2014•País:EUA
Direção:David Jung
Roteiro:David Jung, Tedi Sarafian
Produção:Paul Brooks
Elenco:Shane Johnson, Ella Anderson, Cara Pifko, Krystal Alvarez, Tomas Arana, Luke Baines, Dale Dickey, Cullen Douglas, Michael Ray Escamilla

(o texto a seguir pode conter Spoilers)

Comprovar que o sobrenatural não existe. Este é o perigoso propósito do documentário rodado pelo cético Michael King. O cineasta decide superar o trauma causado pelo recente falecimento da esposa mergulhando em um universo obscuro e desconhecido de cartomantes, demonologistas, médiuns e necromantes. Não satisfeito em desafiar o oculto e registrar tudo em imagens, ele decide utilizar o próprio corpo como ferramenta de pesquisa em uma sequência de rituais para atrair entidades demoníacas, nas quais obviamente não acredita.

Não é porque não acredita em mim que eu não existo – já dizia você-sabe-quem em algum outro filme do qual não me recordo o nome. O protagonista de The Possession of Michael King não crê em Deus ou no Diabo – na verdade já era um descrente assumido quando se declarava o cara mais sortudo do mundo: bem sucedido, casado com a linda Samantha (Cara Pifko), pai de uma adorável garotinha, dono de Fishbone, um belo e muito bem tratado labrador. Contudo, após a morte trágica de Samantha em um atropelamento, a sua obsessiva ausência de fé coloca em perigo o que resta de sua família – a pequena Ellie (Ella Anderson, de O Recomeço, 2011) e Beth (Julie McNiven, da série Supernatural), sua irmã.

The Possession of Michael King (2014) (1)

Mas o atraente (e aterrorizante) plot não sustenta o interesse do espectador nos 80 e poucos minutos de exibição, ainda que tecnicamente existam poucos problemas no longa-metragem escrito e dirigido pelo americano David Jung. O resultado está quase dentro do aceitável, quando consideramos a pouca experiência do diretor e os custo de produção quase-independente. Ressalto, quase aceitavel, pois o debut de Jung falha exatamente onde este tipo de produção costuma se destacar: na originalidade.

É fato que reciclar velhos conceitos não é lá nenhum grande pecado, no entanto é certo também que nestes casos o risco inerente de ultrapassar os limites “tênues” das chamadas influências, referências ou homenagens é muito alto. Neste sentido, The Possession of Michael King se destaca de maneira negativa e desperdiça um pacote de boas ideias como o não-ouse-jamais-brincar-com-o-diabo, o embate entre o racional e a superstição, os limites da sanidade…

The Possession of Michael King (2014) (3)

O roteiro de Jung (adaptado de uma história escrita em parceria com Tedi Sarafin) prepara, ameaça, promete, mas não cumpre. Pelo contrário, a trama segue o caminho do lugar comum. Após um primeiro ato razoável (no qual o protagonista visita, e delicadamente debocha de diferentes especialistas no sobrenatural), os atos seguintes narram uma possessão light e desanimadora, com o horror atenuado pela fotografia muito iluminada. Tudo bem que existem alguns momentos que destoam de maneira positiva, como a agulha espetada na ponta do dedo, a insinuação de um estupro incestuoso ou a pequena dosagem de gore quando Michael desenha com uma faca um pentagrama no peito. Mas o roteiro irregular falha em outros pontos, como por exemplo no clichê do cãozinho da família sendo assassinado ou no desfecho, quando o protagonista luta contra a possessão e é levado ao ato capital – impossível não lembrar do clássico do gênero O Exorcista (lembrança que por sua vez nos leva a inevitável e ultrajante comparação entre as duas produções).

A sensação dèjá vu torna-se ainda mais latente graças a famigerada estética found footage adotada pelos realizadores do longa – cabe aqui uma constatação: parece uma tendência quase obrigatória que produções do gênero adotem a estética do falso documentário, como se o tom documental agregasse uma verossimilhança maior a trama. O problema é que além da fórmula estar desgastada, novamente surge a quase inconsciente comparação com outros filmes bem mais interessantes, como Atividade Paranormal e REC.

Já as alterações psicológicas e comportamentais sofridas pelo protagonista Michael King – interpretado com alguma dedicação por Shane Johnson – também não convencem muito. E como quase não existe empatia, o espectador acaba não compartilhando o seu sofrimento pela perda da esposa ou o seu temor quando começa a ser possuído. Este distanciamento impede que espectador abra concessões e “participe” da trama, tornando todo o desenvolvimento do enredo muito artificial.

The Possession of Michael King (2014)

Como se não bastasse, o título do filme segue a linha, ou faz referência, ao sucesso O Exorcismo de Emily Rose. Nos últimos anos tivemos uma dezena de produções de qualidade duvidosa que utilizaram a mesma equação na construção do título: The Haunting Of Molly Hartley, The Haunting Of Helena, The Haunting of Toby Jugg, The Haunting of Morella, The Possession Of David O’Riley

Enfim, apesar da premissa instigante, a execução é cheia de clichês e muito raramente assustadora. Fica aqui o conselho (o de sempre): fuja dos adjetivos elogiosos da embalagem do BluRay importado (…dos Criadores de Atividade Paranormal, fascinante, aterrorizador…), pois pouquíssimo se aproveita do insípido The Possession of Michael King.

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Média da classificação 4.2 / 5. Número de votos: 6

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4 Comentários

  1. Não consigo definir se gostei ou não do filme, poque eu achei muito interessante até o início de fato da possessão, principalmente os rituais que foram bem explorados e bem articulados.
    Depois disso…já vimos em outros vários filmes. Fico pensando: que vergonha deve ter sentido o diretor e o protagonista ao ver o resultado final do filme.
    O filme poderia explorar muito mais a questão de como outras religiões, rituais satânicos tratam as questões sobrenaturais.

  2. “possessão light e desanimadora” rs essa foi boa..”light” ,concordo!Mas tão coerente com a realidade do cético em questão.Desanimadora!?Nem tanto.
    Concordo que é difícil encontrar genuinidade em obra qualquer,mas aliás,é difícil encontrar originalidade até nas ideias?!É muito difícil ter até um pensamento original, da mesma maneira que é difícil encontrar uma crítica original.Todas tão cheias de clichês.Interessante o que disse C,S Lewis,se encaixa em muito com crítica moderna:
    “A visão moderna, a meu ver, envolve uma falsa concepção de crescimento. Somos acusados de retardamento porque não perdemos um gosto que tínhamos na infância. Mas, na verdade, o retardamento consiste não em recusar-se a perder as coisas antigas, mas sim em não aceitar coisas novas.”
    O filme é bom sim. Um dos melhores dessa leva duvidosa.Vale apena conferir.

  3. “possessão light e desanimadora” rs essa foi boa..”light” ,concordo!Mas tão coerente com a realidade do cético em questão.Desanimadora!?Nem tanto.
    Concordo que é difícil encontrar genuinidade em obra qualquer,mas aliás,é difícil encontrar originalidade até nas ideias?!É muito difícil ter até um pensamento original, da mesma maneira que é difícil encontrar uma crítica original.Todas tão cheias de clichês.Interessante o que disse C,S Lewis,se encaixa em muito com crítica moderna:
    “A visão moderna, a meu ver, envolve uma falsa concepção de crescimento. Somos acusados de retardamento porque não perdemos um gosto que tínhamos na infância. Mas, na verdade, o retardamento consiste não em recusar-se a perder as coisas antigas, mas sim em não aceitar coisas novas.”
    O

  4. Assisti e concordo com a critica, filme razoável para não dizer ruim. A premissa da história é muito boa, se soubesse ser bem aproveitada daria um ótimo filme. Porém a forma como o filme foi executado não nos da medo ou interesse de ver como ele ira acabar, e quando acaba não ajuda. Se puder passe longe.

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